Dark Souls - A Novelização

Capítulo 2 - O Demônio do Asilo


Após descer a escadaria, ele se viu em uma sala escura e úmida, com limo vazando por entre os tijolos rachados da câmara, e uma Fogueira brilhava no canto, e outro portal que levava á um corredor, iluminado pela luz solar. Após respirar profundamente por causa da adrenalina causada pela fuga do Demônio do Asilo, ele descansou um pouco na Fogueira, e seus ossos feridos pelo golpe do demônio se remendaram. Após isso, ele se pôs de pé e atravessou o portal.

A primeira coisa que percebeu ao passar por este foi que o lugar era um corredor ao céu aberto. A segunda foi que alguém estava mirando nele com um arco, puxando a corda já armada com uma flecha.

Instantaneamente, seus instintos tomaram conta, ele rolou quando a flecha veio, e ela zuniu enquanto passava por cima do morto-vivo que rolara. Ao erguer os olhos, ele viu que quem atirara fora outro morto-vivo, só que ele estava Vazio, e com intenções obviamente maliciosas, ao contrário daqueles que tinha encontrado antes. Seu arco curto era uma vantagem enorme sobre o morto-vivo que empunhava o cabo de espada, tanto que o máximo que este podia fazer era desviar-se de suas flechas, rolando de um lado para o outro, até que não estivesse mais em condições de se esquivar.

Porém, o morto-vivo com a espada viu um esconderijo, numa específica parte do lado esquerdo do corredor. Outro portal que levava á uma escura e úmida sala, bem melhor do ar puro e cheio de flechas daquele corredor.

Sem hesitar, ele rolou para dentro daquele portal, esquivando-se de uma última flecha, que bateu no chão onde ele antes estava com força o suficiente para enterrar a ponta na pedra calcária e rachada do corredor.

Lá dentro, o morto-vivo olhou ao redor desesperadamente, procurando por qualquer coisa que pudesse servir de auxílio. Havia um cadáver recostado na parede, sentado, e ele parecia segurar algo. Algo largo.

O morto-vivo piscou. Seria possível que ele tivesse coisas realmente úteis, que o ajudassem á escapar daquele lugar?

Caminhou para perto do cadáver, e ao examiná-lo, viu que carregava um velho escudo de tábuas. Analisou o escudo, e concluiu que era robusto o suficiente para lhe dar uma defesa confiável, e não era realmente pesado. Claro, não era nada de metal, mas na situação onde estava qualquer coisa era melhor do que o que ele carregava.

Ele saiu de seu esconderijo, e de cara, foi recepcionado por um projétil afiado atirado em sua direção. Ele rapidamente ergueu o escudo, e a flecha bateu em seu escudo, e a ponta da flecha ficou visível para o morto-vivo. Mas o escudo bloqueara a flecha. E isso era o importante.

Ele avançou até o outro morto-vivo, que hesitou ao perceber o escudo do adversário. Disparou mais uma flecha, mas o escudo também absorveu o impacto daquele projétil.

Em pânico bestial, o morto-vivo disparou uma última flecha – também bloqueada – antes de se lançar num largo portal e subir aquelas escadarias. Ele esperava que, ficando no topo da escadaria, ficaria numa posição vantajosa para flechar o outro morto-vivo.

O outro morto-vivo o seguiu, e por pouco evitou uma flecha, e ele olhou para o lado, e viu outro cadáver. Este segurava um bastão rústico de madeira robusta, com o cabo envolto em tiras de couro. Ele largou o cabo de espada e pegou o largo porrete para substituir aquela sua miserável arma.

O morto-vivo opositor deu mais uma flechada, que foi bloqueada pelo escudo. O morto-vivo com o porrete saltou no ar, e com um brutal golpe meteoro, atingiu a cabeça do morto-vivo arqueiro, rachando o seu crânio e fazendo uma reentrância em sua cabeça.

Instantaneamente, o morto-vivo Vazio desabou pesadamente nos degraus da escadaria, morto.

O que restara olhou para o próprio porrete, maravilhado e surpreso. Não era de metal, não tinha ponta ou lâmina, mas era surpreendentemente eficiente. Era fácil curar uma laceração ou corte. Mas o que o inimigo faria caso seus ossos se partissem no meio da luta? Ossos quebrados também se curavam, mas demoravam. E uma vez que eles fossem quebrados no meio de um combate, o oponente estava praticamente condenado á morte.

Ele analisou melhor o cadáver, e percebeu que ele tinha uma corda amarrada na cintura. Provavelmente para guardar o porrete, considerando as alças na corda.

Ele subiu a escadaria, e se viu diante de um grande portal, mas este, ao contrário dos outros, estava barrado por uma grossa névoa cinza que impedia que fosse possível ver o que estava do outro lado.

O morto-vivo atravessou a névoa, sentindo uma onda de frio momentânea, que logo passou ao cruzá-la completamente. A névoa se dissipou, permitindo uma livre passagem de ida e volta pelo arco de pedra.

Ele estava no segundo andar do Abrigo Morto Vivo, considerando que a Fogueira do pátio gramado era visível da mureta á sua frente.

Após observá-la um pouco, ele decidiu explorar aquele andar. Não era nada grande, pelo menos aquela parte. A ala esquerda não tinha nada, exceto por um cadáver no topo de uma escadaria inacessível por causa de seus degraus, que tinham ruído. A ala direita tinha duas escadarias, uma que levava para baixo, e outra que levava para cima.

Decidiu visitar a que levava para cima, para ter uma visão melhor do asilo, sendo que estaria numa posição privilegiada.

Assim que começou á subir, percebeu um vulto que tremeu no topo da escadaria e começou á rolar em sua direção. Com reflexos sobre-humanos, o morto-vivo rolou para o lado e caindo de costas nos degraus da escada de baixo, evitando a imensa esfera metálica que fora empurrada para esmagá-lo. Ela bateu contra a parede oposta e a demoliu, abrindo um grande rombo nela e fazendo um estrondo particularmente audível.

O morto-vivo se pôs de pé novamente, e franziu a testa. Queria saber quem fizera aquela “brincadeira” com ele. E iria retribuir a gentileza á essa pessoa.

Ele subiu ambas as escadarias, ignorando o buraco aberto pela esfera metálica, e deparou-se com outro morto-vivo trajado apenas de tanga e uma faixa que passava pelo seu ombro, e desta vez, este estava armado com uma espada velha, quebrada e gasta, embora ainda fosse afiada e pontuda.

Eles se analisaram por poucos momentos, antes que o morto-vivo se lançasse sobre ele, grunhindo com uma voz vagamente humana. O seu ataque foi bloqueado pelo morto-vivo de porrete graças ao escudo, e o golpe partiu algumas das flechas cravadas no escudo. O morto-vivo contra-atacou, golpeando com o porrete uma, duas, três vezes na cabeça do adversário, derrubando-o no chão, onde foi finalizado, tendo a sua cabeça quebrada com um brutal golpe do porrete.

Após recuperar-se da adrenalina da batalha, ele olhou para frente e percebeu que havia uma porta gradeada com uma tranca. Tentou empurrá-la e puxá-la, sem resultado algum. Enfim, desistiu. Talvez existisse uma chave em algum lugar.

Ele desceu a escadaria, e só então reparou no buraco aberto pela bola de metal. Levava á um lugar escuro, em vez de algum lugar com luz. Então, aquele lugar devia ser uma câmara secreta!

O morto-vivo adiantou-se até o buraco, e ele viu que o lugar era escuro e úmido, assim como várias outras salas daquele forte. Porém, tinha uma coisa muito diferente naquela sala, além do buraco enorme na parede. Havia um quadrado de luz no teto, não diferente do que tinha em sua cela. E prostrado justamente em baixo daquele quadrado de luz, havia um cavaleiro deitado sobre uma pilha de escombros. Ao olhá-lo, o morto-vivo percebeu que era o mesmo cavaleiro que o salvara. O mesmo cavaleiro que tinha praticamente lhe dado a chave á liberdade.

Ele caminhou até o cavaleiro, que virou a cabeça fracamente para olhá-lo. A sua armadura estava toda rachada e amassada, e em algumas partes estava completamente destruída, e pedaços de osso e sangue podiam ser vistos saindo dessa parte da armadura. O seu escudo estava muito danificado, e sua espada estava cheia de avarias. Julgando pela aparência refinada das armas e da armadura, ele deveria ser de Astora.

O cavaleiro o encarou através do visor, e falou:

–... Ei, você... Você não é Vazio, é?

O morto-vivo ficou surpreso, mas chacoalhou a cabeça em negativa, olhando o cavaleiro com curiosidade. Ele não conversara com alguém há muito tempo, tanto que não tinha tanto certeza se sua voz era mais a mesma. Aliás, como era a sua voz?

– Graças aos deuses... Já estou acabado, temo que... Eu morra logo, e então vou perder minha sanidade... Eu quero te perguntar algo... Você e eu, ambos somos morto-vivos... Escute-me, por favor?

O morto-vivo respondeu, com uma voz grave e falha, como alguém que não falou por muito tempo, pois foi justamente isso que aconteceu:

– Sim.

–... Infelizmente, eu falhei na minha missão... Mas talvez você possa manter a tocha acesa... Tem um velho ditado na minha família... “Tu que és morto-vivo és escolhido... Em vosso êxodo do Asilo Morto-Vivo, farás peregrinação á terra dos Lordes Antigos... Quando tu tocares o Sino do Despertar, o destino dos morto-vivos serás conhecido”... Bem, agora você sabe... E eu posso morrer com esperança no meu coração... Ah, e só mais uma coisa... Aqui, tome isto.

O cavaleiro levou a mão esquerda á uma pequena mochila de pano amarrada em seu cinto, e de lá, ele retirou um conjunto de cinco frascos, cheios de um líquido dourado que brilhava levemente. O morto-vivo os pegou e os prendeu na corda em sua cintura.

– Um Frasco de Estus, um favorito entre os morto-vivos... Ah, e isto...

Ele pegou uma chave da mesma mochila. Uma antiga chave de bronze. O morto-vivo a pegou e a guardou na mochila.

– Obrigado. – Ele disse gravemente, olhando para o cavaleiro.

–... Agora eu devo dizer adeus... Eu odiaria te machucar após a minha morte... Então vá agora...

O morto-vivo assentiu. Ele compreendia o que o homem sentia. Estava perto de morrer, e sua mente estava sofrendo com a loucura iminente de se tornar um morto-vivo Vazio, nada mais do que um zumbi sem mente e assassino.

Ele se virou e caminhou para fora da câmara, e escutou atrás de si o cavaleiro dizer tranquilamente:

–... E obrigado...

Então, escutou o barulho de metal atravessando carne, e então mais nada.

Ele não olhou para trás.

Dessa vez, ele desceu as escadas, e em silêncio. Queria ver o que tinha lá em baixo, e o que viu foi uma porta gradeada, e através dela, ele viu o pátio com a primeira Fogueira que vira. E então percebeu que aquela era a porta gradeada que vira inicialmente, que estava trancada pelo lado de fora!

Ele abriu o ferrolho e empurrou a porta, que rangeu ao ser aberta. Ele caminhou até a Fogueira e descansou um pouco, meditando sobre a situação.

O ditado da família daquele cavaleiro... Ele dissera aquilo, querendo que ele tocasse os Sinos do Despertar? E o que eram aqueles sinos, de fato? E qual era a importância do destino dos morto-vivos? Como os encontraria?

Eram várias as perguntas em sua mente, mas ele decidiu adiar a resposta á elas para quando tivesse tempo. O que importava agora era fugir daquela prisão.

Ele voltou á subir as duas escadarias, e usando a chave que ganhara do cavaleiro, destrancou a porta de grades e a abriu. Detrás da porta, havia um grande corredor que levava á luz. O morto-vivo seguiu o corredor, até que alcançou uma área aberta, com uma mureta de pedras rachadas. No horizonte, era possível ver várias montanhas com neve em seus topos e passagens íngremes correndo entre elas. O sol pálido era parcialmente bloqueado pelas nuvens opressivas, e aquilo tudo fazia o cenário parecer magnífico, e ao mesmo tempo, melancólico.

O morto-vivo poderia apreciar aquela visão por muito tempo, não fosse pelos dois morto-vivos vazios que entraram naquela área através de uma pequena, mas robusta ponte que conectava aquele pátio com outro. Esses dois morto-vivos empunhavam espadas quebras e gastas como aquela do morto-vivo que protegia a escada, e foram tão fáceis de despachar quanto ele.

O primeiro adiantou-se em um salto e tentou um violento golpe, que foi afastado pelo escudo rústico de tábuas, e então contra-atacado com um golpe brutal no pescoço do morto-vivo opositor, quebrando-o e o matando.

O outro veio mais devagar, mas atacou subitamente e surpreendente, com uma descarga de golpes insanamente rápidos, tanto que um deles riscou o peito do morto-vivo de porrete e verteu sangue do corte.

Este recuou após o primeiro golpe, e aguardou a onda de furiosos golpes acabar, onde o morto-vivo Vazio arfou para se recuperar. No que ele arfou, o morto-vivo de porrete o chutou na barriga, o fazendo recuar, e então foi derrubado no chão por um golpe de bastão na lateral da cabeça, e finalizado por três pisadas brutais na cabeça pela parte do morto vivo de porrete.

E uma flecha passou zunindo pelo seu nariz.

Ele virou a cabeça subitamente, e encarou o morto-vivo Vazio de arco. Ele estava no outro pátio, de lado de um grande portal com névoa e na frente de um portal comum que levava á uma sala iluminada por uma tocha, julgando pela luz que vinha de lá.

O morto-vivo ergueu o escudo e correu até o arqueiro, que tentou uma flechada que foi defendida pelo escudo de tábuas. Ele se virou para fugir, mas o morto-vivo de porrete não lhe deu perdão. Ergueu o porrete e bateu-lhe violentamente com o porrete nas costelas, estilhaçando-as, e então recuou o porrete só para bater com ainda mais força, quebrando as costelas do opositor completamente e fazendo os ossos destruídos rasgar os órgãos internos e matar o morto-vivo em questão.

Ele olhou para o portal com névoa e para a sala á frente, e decidiu ir para a sala á frente.

Ao entrar lá, percebeu um morto-vivo que guardava uma porta gradeada, e ao contrário dos outros, ele estava muito mais armado do que os outros. Tinha uma espada longa, um escudo de ferro rachado, uma armadura de ferro antigo que cobria o seu peito e ombros, um saiote de couro rasgado, e velhas sandálias de pano rasgado. Também traziam um capacete de ferro com proteções para os ouvidos e pescoço. Obviamente, era um soldado. Um soldado morto-vivo.

O morto-vivo de porrete analisou o espadachim, que também o encarou, antes de ambos soltarem roucos gritos de guerra e se lançarem um contra o outro.

O soldado correu com o escudo erguido e levou a sua espada para trás, e o morto-vivo de porrete pulou para o lado quando o soldado tentou apunhalá-lo com a espada. O morto-vivo golpeou com o porrete na cabeça do soldado, rachando o seu já avariado capacete e fazendo-o grunhir de dor. Ele se virou golpeando com sua espada, abrindo um corte na barriga do morto-vivo. Ele rangeu os dentes de dor, mas reagiu com um chute na barriga, o forçando a recuar, antes de golpear a boca do espadachim violentamente, quebrando a sua mandíbula e fazendo-a ficar meio caída em seu rosto.

O morto-vivo, enfurecido, tentou apunhalá-lo novamente. O escudo absorveu a maior parte do impacto do golpe, mas a pontuda lâmina atravessou a madeira e espetou-lhe o tórax, ferindo-o um pouco.

Afastou o soldado com um golpe do seu bastão, e então o golpeou com brutalidade com o porrete, o deixando de joelhos, e ele finalmente foi morto quando o morto-vivo golpeou-lhe a cabeça mais duas vezes, abrindo seu crânio e deixando o cérebro acinzentando e meio morto á mostra.

O soldado caiu no chão, imóvel, e o morto-vivo agarrou um frasco de Estus e, trêmulo, o destampou e tomou o líquido viscoso e dourado. Tinha um sabor indescritível... Mas bom. Muito bom, além de aconchegante.

O líquido mágico correu pelo seu organismo, e ele cobriu os seus ferimentos com uma camada dourada, que logo se solidificou em carne, tudo em questão de meros segundos. Ele emitiu uma momentânea e pálida luz amarela, antes de voltar ao normal.

A sensação era boa, e gostara. Então ele deu as costas ao morto-vivo e voltou ao portal enevoado, finalmente o atravessando.

Dessa vez, pareceu que a névoa não se desfez depois que ele passou. Pelo contrário, pareceu ficar muito mais espessa, quase que sólida. O morto-vivo quase deu um passe em falso, pois estava em uma pequena plataforma de pedra.

Ele deu dois cuidadosos passos para frente e olhou para baixo com curiosidade, e o que viu lhe assustou. O demônio do asilo o encarava com pura raiva, empunhando a maça. Porém, ele parecia surpreso, sem saber como reagir á aquilo.

O morto-vivo se recompôs mais rápido, e decidiu:

“Bem, não vou ficar parado aqui esperando ele vir me pegar”.

E então ele saltou, erguendo o porrete. Se encontrar o seu inimigo numa pequena plataforma já era surpreendente, vê-lo pulando dos céus em sua direção certamente era muito mais aos olhos do Demônio do Asilo. Antes que sequer processasse o que estava acontecendo, o morto-vivo caiu sobre a cabeça do demônio, golpeando-lhe com o bastão.

Ele rugiu em uma mistura de raiva e dor extremas, quando o porrete rachou-lhe o crânio. O morto-vivo pulou de sua cabeça para o chão, caindo de pé com surpreendente graça. O gigantesco demônio balançou a cabeça algumas vezes antes de voltar olhar o morto-vivo, que já lhe golpeava a coxa com o porrete.

Antes, com a espada quebrada, só podia causar pequenos cortes. Agora, o bastão afundava na pele e carne do estranho ser e atingia seus ossos ou causava rupturas em sua carne, das quais vazavam sangue. O demônio ergueu sua imensa maça e bateu no chão com esta, mas o morto-vivo recuou cuidadosamente, enquanto o demônio raspava o chão com seu instrumento de dor.

O morto-vivo correu até ele novamente e lhe golpeou, fazendo um estranho corte na pele rugosa e carne dura do demônio, fazendo verter sangue. Em agonia e raiva, o demônio rugiu e golpeou horizontalmente.

Vendo que não podia desviar por causa de sua posição, o morto-vivo ergueu o escudo e se preparou ao impacto, que foi extremamente brutal. Ao ser atingido, seus dentes rangeram e seu escudo rachou, e atingiu suas costas contra um pilar que tremeu ao ser atingido.

O morto-vivo caiu de joelhos, mas rapidamente se pôs de pé, com o corpo inteiro ardendo com dor. Ele desviou do golpe esmagador do demônio, e correu e se lançou num ataque voador, e ele sentiu o joelho da criatura rachar sobre o seu porrete quando a atingiu. Ela rugiu, e chutou-o com seus pés deformados, o jogando longe.

Ao se erguer, o morto-vivo destampou outro frasco de Estus e bebeu o conteúdo deste, curando as suas feridas e remendando os ossos danificados. Ele correu até o demônio e rolou por entre as pernas dele, desviando-se de um golpe vertical deste. Ele atingiu a cauda da criatura com brutalidade, fazendo o demônio saltar no ar, flutuando por alguns instantes graças ás suas asas e esmagar qualquer coisa que estivesse no chão, logo abaixo de si.

O morto-vivo já tinha recuado e atacado novamente, na famosa estratégia de “bater-e-correr”. O demônio estava ficando cada vez mais enfraquecido, e seus golpes estavam ficando cada vez mais lentos e fracos. O morto-vivo quebrou-lhe o fêmur com um golpe de seu porrete, e por fim, o Demônio do Asilo urrou em agonia, e desabou no chão. A gigantesca montanha de carne se contorceu por alguns momentos, antes que o morto-vivo quebrasse o crânio da criatura com seu porrete. E enfim, ela se tornou imóvel.

A névoa da porta pela qual tinha entrado finalmente se dissipou, e as portas de ferro que levavam ao pátio com a Fogueira se abriram sozinhas.

O morto-vivo arfou triunfante, e começou á examinar a criatura. Não achara nada de notável na criatura, e não conseguia erguer a maça dela. Porém, ele achou algo na maça, presa no anel de ferro no final do cabo. Nesse anel, havia uma grande chave de ferro, grande para padrões humanos, pequena para o padrão daquele demônio.

Ele guardou o bastão na corda em sua cintura e o escudo em suas costas e, carregando a chave, ele caminhou até a porta de madeira e aço que bloqueava a sua liberdade. Ele andou até lá, trêmulo, e então encaixou a gigantesca chave na fechadura e girou-a, destrancando a porta. E então empurrou a porta com toda a sua força, e após alguns segundos de resistência, porta finalmente cedeu e abriu-se, revelando o mundo exterior.

Tomado por euforia, o morto-vivo soltou um rouco grito de alegria e correu para fora do Asilo.

O lado de fora do asilo era um monte gramado com algumas ruínas aqui e ali, e uma estradinha de pedras negras que levava ao topo do lugar.

Ele andou pelo monte, respirando o ar relativamente puro daquele monte, e sentindo a suave grama acariciar os seus pés. Ele explorou as ruínas, e achou um cadáver que carregava um estranho fogo branco em suas mãos.

Estranhando aquele fogo branco que fluía devagar, o morto-vivo levou a mão ao fogo cuidadosamente, e descobriu que não queimava. Não, esse fogo parecia estranhamente frio e... Comunicativo? Dava para ouvir sussurros vindos do fogo.

Ele fechou a mão, e o fogo desapareceu em uma pequena explosão de partículas brancas, e o morto-vivo sentiu algo estranho em seu corpo, como se uma presença tivesse entrado em si. Não sabia se isso era algo bom ou ruim.

Ele continuou explorando as ruínas, só que desta vez do outro lado do monte. E achou um ninho com alguns ovos, e ao se aproximar, escutou um corvo grasnar, e então uma voz infantil dizer:

– Você! Você!

O morto-vivo estancou e olhou ao redor, agarrando o cabo de seu porrete.

– Me traga calor. Traga-me algo macio.

Depois disso, a voz parou. Ele supôs que deveria colocar algo macio ou quente naquele ninho, sendo que a voz só veio quando chegou lá perto. Porém, não podia confirmar nada, já que não tinha nada do tipo.

Ele saiu das modestas ruínas e subiu ao topo do monte.

O morto-vivo olhou as montanhas no fundo. Olhou para o abismo adiante de si, e viu que não havia jeito fácil de escapar dali.

Porém, subitamente, um vulto subiu de debaixo a sua posição no monte. Um corvo gigantesco emergiu adiante de si, abrindo as asas e as garras em seus pés. O morto-vivo tentou reagir, mas ele foi capturado no espaço de tempo no qual ele mexia a mão para pegar o porrete e o escudo, e então as garras do corvo envolveram os seus ombros, e ele foi carregado até os céus, raptado pelo gigantesco pássaro negro.