Dark Cloud
Capitulo X
Um passeio. Tetsuya queria dar um passeio.
Eu estava totalmente incrédulo, ele tinha acordado novamente com febre e mesmo assim estava ali de pé ao lado da minha cama me chamando para dar um passeio.
- Eu quero ficar em casa – reclamei.
- Vamos, Mana! – chamou me balançando e depois se jogando em cima de mim e cutucando meu rosto.
- Eu não quero – tentei tirar a sua mão do meu rosto, mas a tentativa foi falha.
- Você virá comigo. Querendo ou não. Agora levanta, minha mãe está nos esperando! – disse me sacudindo.
- Sua mãe vai? – perguntei alarmado.
- Não, eu queria ver se você levantava se eu dissesse isso. Vamos, Mana! – me puxou de vez, me derrubando da cama com ele junto.
- Ah Tetsu! O que você fez? – falei atordoado tentando me levantar, mas ele estava em cima de mim.
- Tetsu? – perguntou com ar de riso.
- Esquece. Eu vou voltar para a cama – disse ficando de pé e me jogando de qualquer jeito lá, deitando com a barriga para baixo.
Mas Tetsuya não gosta de perder. Ele jamais perderia.
- Tudo bem, que tal a gente brincar aqui primeiro e depois a gente vai brincar lá fora? – ele disse deitando em cima de mim devagar.
Eu conhecia aquele movimento.
- Você está doente, Kurokumo – repliquei.
- Kurokumo? Fazia já duas semanas que você não me chamava assim, gostei mais de Tetsu – falou chateado. – E eu não estou tão doente assim.
- Você está queimando de febre – tentei repreendê-lo, mas ele estava passando as mãos nas minhas costas, acariciando tão devagar e leve que fazia-me sentir arrepios, minha voz acabou falhando no final.
Beijou meu pescoço levemente antes de prosseguir.
- Estou sempre febre. Eu sou hot, Mana – riu no meu ouvido.
- Pare com isso, eu vou ao parque com... – minha voz ficou no ar quando ele chupou meu pescoço e desceu as mãos para minha barriga. Era tentação demais para qualquer pessoa.
- Não quero mais o parque, deixa pra depois... Eu quero você agora Mana. E eu tenho tudo o que quero, não é? – riu e senti seu hálito fresco no meu pescoço e em seguida mordeu o lóbulo da minha orelha.
- Mas eu estou com sono – reclamei.
- Você está excitado! – desmentiu.
Bem, ele estava certo. Não é que eu não queria fazer aquilo com ele, o problema é que ele estava queimando, e eu não achava que fosse bom para ele algo desse tipo.
Levantou-se e virou meu corpo, logo voltou a deitar-se sob mim e beijou-me, com o proposito de não me deixar discutir mais.
Não que eu fosse. Afinal, ele havia ganhado.
Como sempre.
E desta forma, mais tarde lá estávamos nós, naquele parque de diversões.
Tetsuya não queria ir a nenhum brinquedo, só queria ficar andando por todos os lados. O que me deixou a pensar se ele estaria procurando alguém
- Esperando alguém? – perguntei tentando esconder minha real curiosidade e fingindo não estar tão interessado na resposta.
- Não – respondeu. – Por quê?
- Porque a gente está rodando a uma hora e você não quis ir em nenhum brinquedo – disse dando de ombros.
- É claro que não, eu não posso Mana. Estou doente, lembra? – disse com um pouco de sarcasmo.
Uma raiva brotou na minha barriga, mas tentei contê-la.
- Você não estava doente hoje mais cedo – comentei, sem conter muito minha raiva. – Afinal, se sabe que está doente demais para andar nos brinquedos, porque está aqui, para começar?
Ele olhou para mim um pouco impressionado.
- Meu Deus, você está com raiva. De verdade, raiva de verdade! – disse rindo, como se não acreditasse.
- Pare com isso. Não é engraçado. Eu falei mil vezes para a gente ficar em casa, agora você diz que está doente? – perguntei não contendo mais minha ira.
- Ok, ok. Acalme-se Mana. Desde que eu pensei em vir aqui, eu nunca pensei em andar em alguma dessas coisas. Eu só... Queria... Ver uma ultima vez... Mana, eu estou tonto – disse as ultimas palavras segurando em mim com força.
Era assim, esse tipo de coisa estava virando normal desde o dia que fui ao cemitério com minha mãe.
Ele tinha sentido uma tontura e depois desmaiado. E a mãe dele não o deixou sair da cama durante um dia inteiro. Como ela conseguiu contrariar ele? Ainda é um mistério para mim. Eu precisava aprender com ela como fazer isso.
Segurei-o com força, dando-lhe apoio até um banco, onde sentamos e ele deitou a cabeça no meu ombro, respirando fundo.
- Eu não quero morrer, Mana – sussurrou com dificuldade. – Não agora. Eu não quero morrer.
- Você não vai morrer, Tetsu. Acalme-se, é só uma tontura – tentei acalmá-lo com alguns tapinhas leves no ombro. Eu não era bom nesse tipo de coisa.
- Eu não quero – repetiu com a voz fraca. – Eu quero ficar com você. Eu quero envelhecer com você.
- Se você não quer, a morte vai ter que entender não é? Ninguém pode com você – tentei rir, mas minha garganta estava seca.
- É diferente. É tão diferente Mana – disse e um ar de sorriso apareceu brevemente em sua voz e depois sumiu. – Eu digo que não quero morrer, mas ela continua se aproximando... Cada vez mais rápido.
- Não vamos falar sobre isso, ok? – tentei. – Você só vai ficar pior. Vamos ver... O que acha de quando a gente chegar em casa ir ver um filme?
- Qual casa, a minha ou a sua? – perguntou rindo levemente, seu corpo estremecendo.
- A minha – disse sem jeito.
- Você falou como se a gente morasse junto – disse satisfeito.
- A gente praticamente mora junto, só que em duas casas – eu tentei me defender.
- Eu gostei disso. Mas a gente não vai chegar a morar exatamente junto, não é? Eu vou morrer antes. Mana, me prometa uma coisa – disse de repente com um tom de urgência.
- O que? Eu prometo, seja o que for – perguntei tentando acalmar seu corpo, que tremia.
- Cuida da minha mãe quando eu partir? – pediu.
- É claro. Nem precisava pedir que eu prometesse – disse tentando parecer casual.
- Eu te amo tanto Mana, eu não quero lhe deixar – soluçou.
- Você não vai me deixar, nunca. Agora vamos, vamos para minha casa... – disse ajudando-o a levantar-se.
No caminho inteiro até minha casa, Tetsuya ficou em silencio, soluçando e tremendo. Eu já havia visto ele fragilizado, como naquele vez na enfermaria. Mas nunca como dessa vez. Parecia que todas as máscaras que ele mantinha, tinham desmoronado. Todas de uma só vez.
Só o que sobrou foi aquele Tetsuya que deixava que eu o guiasse até um lugar aquecido.
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