Sentada confortavelmente na minha poltrona do avião, olhei para a janela observando Vitória pela última vez em muito tempo. Conectei meus fones de ouvidos no celular abrindo o aplicativo de músicas offline e logo senti meus ouvidos sendo preenchidos pelos primeiros acordes de “As Quatro Estações” de Vivaldi, relaxando todo meu corpo.

Acomodei minha cabeça na poltrona do avião e observei as nuvens parecendo um cobertor branquinho macio e felpudo. Minha mente começou a viajar montando passos de uma coreografia nunca dançada para a música de Vivaldi.

Enquanto a música ia rolando, passos e mais passos iam se formando em minha cabeça e eu batucava meus dedos no ritmo da música.

Nota mental para Estela: refazer essa dança no estúdio.



Parei de criar a dança quando a aeromoça passou distribuindo lanches.

Comida é comida! Pena que são só uns biscoitinhos bregas que eles dão…



[...]



Mal cheguei no aeroporto de Guarulhos e já desativei o modo avião do meu celular sendo invadida por milhares e milhares de mensagens, principalmente da minha mãe e do meu pai.

Mãe (11:12):“Filha, avise quando chegar em Guarulhos! Não se esqueça de nos mandar o número do seu voo para Paris e de lá para Coréia! Beijos, amamos você, já estamos com saudades! ❤️”

Mãe (11:34): “Tomara que esteja tudo bem e que tenha dado tudo certo… Estou nervosa… Se cuida minha estrelinha! ❤️”



Digitei rapidamente uma mensagem para eles dizendo que havia chegado bem e que deveria esperar duas horas no aeroporto para pegar o voo 2647 com direção a Paris.

Logo depois fui ver as mensagens das meninas da minha antiga escola de dança.

Gorduda (10:58): “Olha só gente! A vaca da Estela viajou mesmo!”

Jujuba (10:59): “Nossa! Que água doce! Nem avisa pras amigas, peranha!”

Amandita (11:00): “O quê?? A mascote viajou? Como assim não fiquei sabendo de nada?”

Amandita (11:01): “Estela volte aqui agora e me explica que história é essa de todo mundo saber antes de mim?! ”

Gorduda (11:02): “Você não é importante, migs, só aceita! ”

Jujuba (11:02): “KKKKKKKKK #CONCORDO ”

Amandita (11:02): “Olha aqui água doce! Não sou espelho pra tá refletindo lixo, Teté me ama mais que vocês duas!”

Comecei a gargalhar no meio do aeroporto atraindo a atenção de muita gente, principalmente de uma velha gorda mal encarada. Como a grande pessoa madura e adulta que sou, mandei língua pra velha que empinou o nariz de bruxa dela virando a cabeça pra o outro lado.

Ouvi uma risadinha do meu lado e me virei encontrando um garoto gatinho me encarando rindo.

Pode rir, migo, sei que sou arrasadora mesmo! Só não olha muito se não cansa a minha beleza!

Discretamente (só que não) tirei uma foto do gatinho, que não parecia ter mais que 20 anos e mandei pras meninas com a legenda:

“Pra que eu vou gostar de vocês horrorosas se eu tenho um gato desses do meu lado? ”

Logo vieram mais mensagens das doidas dizendo que iriam fazer um feitiço pra trocar de lugar comigo e essas coisas que só gente louca como elas fazem.

Vi mensagens do Marco e do Iago, meus patetinhas, perguntando se eu cheguei bem e como tava o Toty. Toty para quem não sabe é o meu gato lindo, maravilhoso, arrasadore, perfeito, que nesse exato momento estava descansando sedado na gaiola dele.



Mandei mensagens respondendo a todos que estava bem e que teria que esperar mais duas horas no aeroporto de São Paulo. Peguei meu carrinho com as malas e Toty, andando até uma mesa de lanchonete do aeroporto pedindo um chá gelado de pêssego e um pão de queijo para a atendente simpática da lanchonete. Depois fui no Starbucks que eu descobri no aeroporto comprar um capuccino.

Abri o Instagram vendo alguns vídeos de maquiagem, outros de dança. Tirei uma foto minha no aeroporto, postando no insta com a legenda:

“Que os ventos me guiem e que a Coreia se prepare pq a arrasadora está chegando!”



Respondi alguns comentários na foto e dei uma olhada no perfil oficial do BTS, stalkeei um pouco muito bastante eles até a hora do embarque com direção a Paris.

Eu (13:25): “Estou embarcando agora pra Paris, chegarei lá em mais ou menos 11 horas! Amo muito vocês estou com saudades! (Menos da Clara kkkkkkkkk)”

Clara (13:26): “Também te amo Teté, faça uma boa viagem e tomara que o avião caia, linda! Kkkkkkk ”

Mãe (13:26): “Que isso Clara! Credo! Para já com isso! Boa sorte estrelinha! Amamos você! ”

Pai (13:26): “Acho que você deveria ter feito o curso de natação quando eu te mandei, vai que… nunca se sabe, né? Ah é, baleia não se afoga!”

Clara (13:27): “BOA PAI! KKKKKKKKKKKKKKK ”

Mãe (13:27): “Andreas! Para agora você também!”

Pai (13:28): “Eu?! Não fiz nada! ”

Eu (13:27): “Obrigada pela parte que me toca pai, mas sei que você não viveria sem mim, sou importante demais pra deixar vocês sozinhos. Bem, tenho que ir! Beijos amo vocês, mandem um beijo pra os meninos! ❤️”

Empurrei meu carrinho até a parte de despachar as malas e logo em seguida fui com Toty e minha bolsa para o portão de embarque. Entrei no avião tranquilamente até perceber que o garoto gatinho que estava do meu lado na poltrona.

— Olha só! A garota de cabelos azuis!

— Er… Olá! — sorri pra ele meio estranha por não conhecer ele.

Começamos a conversar, digo, ele tentando puxar assunto comigo e eu dando respostas monossilábicas para ele. Descobri que ele era um pisciano de 1,83m e que estava indo pra Paris seguir seu sonho, estudar música e se tornar um grande violinista. Achei interessante isso, porém não me manifestei muito, vai que pega intimidade?

Não queremos isso, meu bem!

Tive que fingir um sono no meio da conversa pra ele parar de falar e coloquei meus inseparáveis fones de ouvido. Me virei pra o lado da janela e adormeci na poltrona com o fino cobertor do avião e Toty aos meus pés.

[...]

Cheguei em Paris por volta de 4:00 da manhã, horário local, resolvi não ligar para os meus pais por causa do horário, deveria ser uma da madrugada lá, apenas mandei uma mensagem avisando que estava bem e que iria pra um hotel barato perto do aeroporto dormir um pouco já que o meu voo pra Seul só sairia às 21:40 horário local. Fui até um caixa eletrônico e tirei um pouco de dinheiro para pagar o transporte.

Peguei minhas malas e saí carregando até o lado de fora do aeroporto pedindo em inglês para o taxista me levar para um hotel perto do aeroporto. Fui observando a cidade luz e me apaixonando a cada esquina que passava. Me lembrei do Rio de Janeiro, já que boa parte da cidade fora construída nos padrões parisienses da época.

Chegamos na frente de uma pequena pousada charmosa chamada “La petite fille”.

— How much it taked, sir? — (quanto é preciso, senhor?) Perguntei ao taxista.

— €$ 45,53…

Que roubo! Taxista miserável! Nem uma água ele ofereceu!

Desci do táxi após pagar e esperei que ele descesse também para pegar as minhas malas, mas não… o infeliz apenas apertou um botão no painel abrindo o porta malas e mandou eu tirar as minhas coisas de lá rápido.



Olha aqui seu… Respira, Estela, respira… Ignore esse filho de uma boa mãe e pegue suas coisas.

Respirei fundo e peguei minhas coisas, sem dar tchau nenhum para o maldito, entrei na pousada pedindo um quarto para a senhorinha que estava atrás do balcão. Ela me estendeu a chave após um bando de papelada que eu tive que assinar e eu fui para o quarto com um empregado da pousada levando minhas coisas.

Agradeço quando ele colocou as malas ao lado da cama e saiu do quarto. Me joguei na cama dormindo logo em seguida.