Betty arrumava umas coisas quando a campainha tocou. Quase caiu para trás, ao abrir a porta e dar de cara com nada menos que a mãe de seu namorado.

—Dona Margarida?

—Olá, Beatriz! –disse a senhora olhando de baixo para cima, enquanto tira os óculos de sol. –Não vai convidar para entrar?

—Sim, claro. Entre. –disse Betty, sorrindo. –Sente-se.

—Não precisa se incomodar, serei breve. Tenho uma proposta de negócio que vai lhe interessar!

—Negócio? Bem, então seria melhor que conversássemos no escritório do senhor Liñarez ou quem sabe na Terramoda?

—Não, porque é particular.

—Então, por favor, sente-se. Sinta-se à vontade, dona Margarida. Deseja uma água, um suco, quem sabe um tinto.

—Não será necessário! Serei direta, Beatriz.

—Pode me chamar de Betty.

—Quanto quer para deixar meu filho em paz?

—O quê?

—O que ouviu! Vejo que é de situação humilde e embora digam que é trabalhadora e inteligente. Segundo soube, tem muitas qualidades e Armando deve ter se encantado por alguma delas e sei que apesar de todo esforço, é de outra classe e sem dúvida, estar com meu filho é a grande oportunidade de sua vida.

—Não entendo o que quer dizer, se pensa que....

—Ainda não terminei! Armando nunca teve contato com pessoas, assim, nunca teve que trabalhar na vida. E acho bom que queira construir algo, como esta empresa, deve ser ideia sua e de seus amigos, mas temos outros planos queremos que volte a ocupar seu posto na empresa da família e queremos que se case com Marcela, uma menina de ouro com quem foi criado.

Betty abaixou a cabeça, obviamente conhecia a tal mulher de quem falava.

—Se conhecesse Marcelinha me entenderia: ela é bonita, tem porte, elegância, sobrenome. Uma dama perfeita para meu filho. É inteligente também, nossa gerente de pontos de venda, faz um trabalho brilhante. Talvez não seja tão inteligente como você, mas é o que queremos para meu filho.

—Não posso... entender já pensou que Armando já é um adulto e que sabe o que quer? E pelo que me disse não quer se casar com tal moça.

Margarida riu debochado.

—Armando quer curtir a vida, acha-se ainda muito jovem par assumir compromissos. A verdade é que gosta de curtir a vida, sabe, é mulherengo ou não sabe?

—Sei.

—Por isso, quanto quer para deixá-lo e dizer a ele que volte para onde pertence? Tenho aqui um cheque e dólares.

—Não entende, senhora? Amo armando e estamos em um relacionamento!

—Sei como é! Armando gosta de novidade e você é... deve ter seus encantos. –disse, olhando-a, não podia ver o que Armando havia visto em tal moça. Ela estava ainda mais feia que no dia da inauguração, já que estava com um de seus vestidos largos e ultrapassados e o cabelo estava desgrenhado.

Betty estava chocada, não conseguia mover-se ou esboçar nenhuma reação, nunca pensou que alguém lhe faria uma proposta dessas.

Neste momento, Júlia entrou na sala.

—Betty, está falando sozinha? Ah, senhora Mendoza! Que satisfação tê-la aqui conosco. Por que não disse que teríamos visita, Betty? Teria feito um café, bolo e arepas deliciosas.

—Não será necessário, senhora, já estou de saída. Já falei com sua filha que precisava. Aqui está o cheque (escreve um valor e assina) e ainda tenho dólares, caso creia que não é suficiente. Pode mudar de vida, ter tudo que quer, inclusive -diz olhando-a- mudar de look, fazer o necessário.

Margarida saiu altiva como entrou, Betty ainda parada, não podia acreditar no que ouvia.

—O que esta senhora queria?

—Acabar com minha vida! -disse Betty correndo para seu quarto, chorando.

—_____________-

Havia combinado de ir para a casa de Armando, mas não teve coragem. Tampouco quis descer para comer.

—Betty, Don Armando ligou.

—Mãe, você disse que eu estava gripada? Não contou a ele que a mãe dele veio aqui, não é?

—Não porque me pediu. Mas não me contou o que esta senhora veio fazer aqui e porque deixou este cheque!

—Mãe, por favor não me pergunte nada. Preciso pensar.

—Está bem! Mas pensa bem, não vai fazer besteira e saiba que estou aqui para o que precisar.

Dona Júlia não entendia, mas sabia que algo estava acontecendo, algo muito sério e tinha a ver com a mãe de Armando.

—Preciso ajudar minha filhinha.

Armando por outro lado, não entendia porque Betty nunca estava quando ligava e havia pedido dispensa no trabalho.

—Não sei, don Armando, mas ela não está.

—Dona Júlia, o que está acontecendo, por que Betty está assim comigo?

—Assim como?

—Betty está assim desde depois do desfile. Não é possível, dona júlia.

—Meu filho, vou tentar falar com ela.

—Por favor, dona Júlia. Vou à Ecomoda, hoje temos uma daquelas pesadas reuniões e depois passo na sua casa. Espero que ela possa me receber.

Dona Júlia desligou nervosa, não entendia o que estava acontecendo, mas sabia que estava acontecendo e tinha a ver com a mãe daquele homem, precisava saber.

Com a cabeça perturbada pela rejeição de Betty, Armando foi até Ecomoda. Era mais uma renião daquelas, nas quais as qualidades de Daniel seriam exaltadas perante todos, sobretudo por seus pais e Marcela, que estava de volta com um leve bronzeado. Tudo como antes. A balança tendia favorável para Daniel. O que chamava atenção eram os altos gastos que Ecomoda estava tendo com todos os desfiles e contratação de super-modelos e despesas de representatividade.

—Hahaha! Me surpreende, Armando que aponte bobagens como esta.

—Não são bobagens! Ecomoda aumentou em ... –para pegar a calculadora, faz os cálculos, refaz para chegar a uma conclusão. –Ecomoda aumentou em 35% seus gastos da coleção passada para esta. A que se deve tudo isso?

—Surpreendentemente aprendeu a fazer contas, Armandinho! –aplausos –Olha, parabéns! –riu, fazendo rir também Olarte e Gutiérrez. –Realmente, tivemos um aumento considerável. Mas isto se deve que estamos investindo pesado na promoção da marca no exterior e contratando modelos de fato profissionais, além de tecidos de primeira qualidade, como queria Hugo, não é verdade?

—Sim, pois não trabalho com qualquer coisa. Sou a luz, a magia.

—Já chega, Hugo! De verdade enão esperam que eu faça um desfile a cada dois meses desse porte e não gaste, por favor, senhores!

—Em contraponto –disse Olarte, coçando o nariz –Estão entrando muitas receitas de todas as partes.

—Que receitas?

—O que Olarte quer dizer é a parceria que estamos firmando com o Fashion, a agência de Rachel Watts e abrindo caminho para novos talentos.

—Sobre isso, queria falar –disse Hugo –Goste que a empresa procure talentos escondidos, mas não entendo que tenham que terceirizar as modelos.

—Terceirizar? -perguntou Roberto.

—Sim, pois...

—Hugo! Quantas vezes tenho que lhe explicar? -perguntou Daniel nervoso.

—Me explique o que é isso de terceirizar. –quis saber Roberto.

—É simples faz parte de nossa parceria com a ex-modelo Rachel Watts. Lembram-se dela.

—Sim, claro.

Daniel começou a explicar de seu jeito, de modo a engabelar Roberto. Já Armando iria protestar, mas em sua mente ficavam dando voltas o que o delegado Thompson havia lhe dito. Não podia ainda acreditar que Ecomoda estivesse envolvida em algo assim, talvez estivesse Daniel sendo enganado também, mas sem dúvida a modelo estava envolvida. Por outro lado, Marcela parecia bem melhor do que quando foi viajar e a princípio não se aproximou dele, além de um cordial cumprimento. Mas após conversar com sua mãe, estava novamente sorridente para ele. Mas até aí tudo normal, o que não estava normal era que Mário estava estranhamente defendendo as contas de Daniel e os gastos e muito mais ainda a rotatividade de jovens modelos. Algo estranho estava acontecendo, pois Mário sempre se colocou de seu lado contra Daniel.

Com o fim da reunião, Margarida convidou Armando, Marcela e Daniel para um jantar em sua casa.

—E não aceito um não como resposta. Sabe que amanhã é o desfile e no dia seguinte viajaremos, Não quero desculpas.

—Está bem, mamãe.

—E por favor, no jantar, nada de comentários sobre a empresa, temos coisas muito mais interessantes para falar.