Do lado de fora do quarto, a recepção está vazia, os corredores estão vazios e silenciosos. Olho para Matt que diz:
–Quer comer alguma coisa? Me falaram que vende um bolo de morango bem gostoso.
Fico olhando para ele em silêncio por um instante e sem falar nada, saio andando em sua frente, arrastando o suporte de soro comigo até o elevador.
***
A lanchonete do hospital é no andar debaixo, onde há mais quartos de internação. Chegando lá, o ambiente está silencioso, há apenas quatro pessoas sentadas em duas mesinhas redondas e vermelhas. O cheiro de café é embriagante e faz meu estômago roncar, apesar de eu ter comido há menos de meia hora atrás. Atrás de uma vitrine de bolos e pães iluminada com luzinhas de LED, há uma moça morena de meia idade que sorri para mim. Eu forço um sorriso e sento-me em uma mesinha ao lado da janela grande de vidro do ambiente. Consigo ver algumas árvores altas iluminadas por uma luz verde.
–Você quer comer alguma coisa?
–Um bolo está bom. - não olho para Matt.
Vejo de soslaio ele hesitante olhando para mim e depois se afasta indo até a vitrine convidativa.
Tento respirar fundo e não ter um surto psicológico. Não sei o porquê diabos Matt quer falar comigo e, com o estresse que estou sentindo, sou capaz de avançar na cara dele.
Fico olhando o céu negro do lado de fora e os coqueiros altos iluminados até que ouço um prato sendo colocado a minha frente. Olho para o bolo de massa branca recheado com creme e pedaços de morango. Parece muito bom e minha boca se enche d'água. Matt se senta na cadeira de frente para mim com um prato do mesmo bolo á sua frente e me olha. O encaro sem tocar no meu pedaço e observo ele cortar um pedaço do seu e levar até a boca. Ele fecha os olhos, saboreando-o e depois os abre lentamente olhando para mim. Sua boca está pálida e seca.
–Você não vai comer?
–O que você quer? - pergunto.
Matt suspira.
–Pedir desculpas.
–Pelo que exatamente? Por ter me batido ou por ter quase me matado?
–Ei, a culpa não foi minha. Não totalmente. Bateram no meu carro e o destruíram.
–Você acha que eu devo sentir pena de você? - pergunto friamente.
Matt encosta suas costas no encosto da cadeira e diz:
–Olha estou tentando fazer o certo, tá legal? Me desculpe por ter batido em você. Eu... Não pensei direito e não foi certo, apesar de você ter me batido. - ele coça a barba e continua - E, me desculpe por te enfiar nessa também. Eu...- Matt para e apoia os cotovelos em cima da mesa, segura sua cabeça com as mãos e respira fundo.
Fico olhando para ele em silêncio. Aquela situação toda é tão estranha e ele de fato parece arrependido.
–Eu achei que você tinha morrido. Você... Deu um grito horrível que pra mim foi mais alto do que a própria batida. - Matt olha para o meu rosto e eu me sinto corar. Olho para minhas pernas. - Você desmaiou na hora e não acordava e tudo o que eu podia pensar era que você tinha morrido e que eu que merecia morrer.
Sinto meus olhos arderem e pisco rapidamente para as lágrimas não saírem.
–Me desculpe. - ele sussurra.
Olho para ele com meus olhos marejados.
–Por que você é assim? Por que me trata desse jeito? Por que foi tão grosso?
–Quer mesmo saber?
–Sim. - meu tom de voz é baixo, porém firme.
Ele assente e respira fundo.
–Porque eu...
–Matt.
Matt e eu olhamos para o lado e então vimos Ash de touca branca olhando para nós dois. Ele está vestindo uma blusa de manga cumprida de lã preta e uma calça jeans cinza escuro.
–E aí cara? Achei que você não podia mais voltar.
–Pois é,mas eu voltei. Deixei a Christine em casa e voltei. -Ash olha para mim. - Como está, Alice?
Forço um sorriso.
–Bem, eu acho.
Ash assente e olha para Matt. Vejo os dois trocarem um olhar de cumplicidade que não entendo.
–É... Eu provavelmente devo voltar pro quarto. - digo me levantando rápido demais.
Sinto minha visão escurecer um pouco e me seguro na mesa.
–Você está bem? - Ash se aproxima de mim.
Pisco algumas vezes e olho para o chão.
–Estou, só levantei muito rápido. Obrigada. - forço novamente um sorriso para Ash.
Olho para Matt que também está de pé ao lado da sua cadeira olhando para mim.
–Tchau,Matthew. - digo.
Ele parece desconfortável, mas responde:
–Tchau.
Ash dá um passo para o lado para eu passar e eu saio andando. Paro quando ouço Matt chamar meu nome. Olho para trás.
–Seu bolo. - ele aponta para o bolo intocado no pratinho.
Dou de ombros.
–Pode comer.
Me viro novamente e saio andando até o elevador mais próximo. Aperto o botão redondo e metálico e a porta se abre. Entro no elevador e aperto para subir para o andar de cima. Quando as portas se fecham, sinto meus ombros relaxarem visivelmente.