Largo o celular em cima do pequeno sofá e olho para Kyle adormecido na cama. Ele é maravilhoso comigo, não sei o que faria sem ele. Volto para a cama e me aninho perto dele novamente.
Ainda dormindo, ele passa o braço ao meu redor, trazendo-me para perto de seu peito. Fecho os olhos e fico imóvel; o calor de seu corpo passando para o meu. Espero conseguir dormir um pouco mais antes de encarar um voo longo até Ohio.
***
Desperto novamente com uma trilha de beijos de Kyle em minha bochecha, minha testa, minhas pálpebras, têmporas e todo o rosto. Me sinto extremamente exausta e com vontade de voltar a dormir. Por tal motivo, resmungo ao ser acordada, mesmo que seja do modo carinhoso de Kyle.
—Vamos lá, boneca. São oito da manhã, precisamos embarcar as nove e meia.
Gemo e trago o cobertor até minha cabeça.
—Eu nunca vi uma pessoa gostar tanto de dormir, é sério.
—Estou cansada. - resmungo com a cabeça coberta.
—Você poderá dormir no avião.
As mãos de Kyle puxam o cobertor para baixo. Olho para ele com os olhos semicerrados e sonolentos. Minhas sobrancelhas estão unidas e provavelmente estou com um bico, emburrada. Os olhos de Kyle se enrugam um pouco quando ele sorri e diz:
—Prometo que deixarei você dormir o voo inteiro.
—Melhor mesmo.
Ele me dá um selinho e eu suspiro.
—Já arrumei sua mala. Só tome um banho e vamos.
Kyle sai da cama e eu o observo ir até sua mala para arrumá-la. Ele está mais do que decidido em sair dali. Não posso culpá-lo por estar louco para tirar os pés de um lugar onde não foi bem recebido.
Sento-me na cama, com sono, e fico olhando para o garoto de cabelos vermelhos. Ele parece distraído e não percebe que estou analisando cuidadosamente cada traço seu. Ele está vestindo uma blusa de manga comprida branca, calça jeans preta e seu All Star preto desbotado de sempre.
***
Depois de sair do banheiro coberto de vapor pela água quente, dou uma última olhada em meu quarto. Kyle está sentado na minha cama, ele olha para mim enquanto, triste, observo o papel de parede branco com flores azuis.
—Você está bem? - ouço-o dizer.
—Não muito. - olho para meus pés. - Mas vou ficar.
Vou até minha mala e coloco a roupa que estava vestindo antes dentro dela. Enquanto fecho o zíper, Kyle se levanta da cama se pondo ao meu lado e segura minha mão. Olho para ele e espero que ele diga alguma coisa:
—Se você quiser ficar...
—Não quero. - apresso-me a dizer e desvio o olhar de seus olhos verdes intensos. - Só... queria que as coisas tivessem sido diferentes. Só isso.
Suas mãos estão segurando meu rosto com tanta suavidade, como se eu fosse uma boneca frágil de porcelana e fosse quebrar.
—Eu... Vou falar com Sean. - digo e tiro as mãos dele com suavidade do meu rosto. As seguro nas minhas por um instante e saio do quarto dando as costas para ele.
No corredor, vejo a porta do quarto de Sean entreaberta. Coloco minha cabeça pela brecha e vejo meu irmão encostado em travesseiros conversando baixinho com sua namorada líder de torcida. Ele olha para mim e parece surpreso ao me ver ali.
—Ei, você está aí.
Abro mais a porta do quarto para entrar. Tilly, que estaca deitada com os pés apoiados na parede, senta-se e olha para mim me dando um sorriso murcho que eu retribuo de mesma maneira.
—Posso falar com você? - pergunto para Sean.
—Claro que sim.
—A sós? - olho para Tilly.
Ela se levanta da cama e diz para Sean:
—Vou ir preparar algumas panquecas para comermos.
Meu irmão assente e sorri como encorajamento. Ela passa do meu lado e eu sorrio para ela. Quando ouço a porta do quarto se abrindo e fechando logo depois, vou para a cama de Sean e me sento.
—Como você está? - ele pergunta.
—Sinceramente? - pergunto. - Nada bem. Estou uma merda.
Sei que ele pode ver meu desânimo em meu rosto e em minha voz.
—Sinto muito por... Evan. Ele estava chapado, você sabe...
—Não quero falar sobre Evan, Sean. Só quero me despedir porque estou indo para Ohio com Kyle.
—Então você vai mesmo? Ele meio que... estava bem explosivo ontem.
—Eu não o culpo. - dou de ombros. - Você reagiria da mesma forma com Tilly, tenho certeza.
—Não estou criticando. - Sean apressa-se a dizer.
—Que bom, pois você não tem esse direito.
Ficamos nos encarando silenciosamente por um momento
—Só... me prometa que se cuidará e não demorará para nos vermos de novo.
—Claro que prometo. Em breve é o Natal e o seu aniversário!
Concordo com a cabeça e dou um abraço apertado em meu irmão.
—Eu te amo. - digo e fecho os olhos, pois sinto-os arder.
—Eu também te amo. - as mãos de Sean acariciam minhas costas para cima e para baixo.
***
No andar debaixo, meu pai estava de braços cruzados perto da porta no hall de entrada. Ele parecia cansado. Por debaixo da lente de seu óculos retangular, havia olheiras de um roxo forte. Meu pai vestia um suéter verde alga, uma calça de sarja bege e sapatos marrons. Quando parei em frente a ele, ouvindo Kyle descendo com as malas na escada. Me sinto aliviada quando ele estende os braços para mim, em sinal para que eu o abrace. É o que eu faço. Abraço meu pai fortemente, minha cabeça em seu peito.
—Se cuide. - é só o que ele diz.
Olho para os olhos de meu pai e digo num tom de voz baixo:
—Venha me visitar, você sabe que sempre será bem vindo na minha casa, pai.
Repelo a vontade forte de cair no choro. Não queria começar a ter um ataque novamente. Meu pai analisa meus olhos marejados e o meu esforço para manter as lágrimas dentro deles enquanto pisco rapidamente. Sinto Kyle atrás de mim.
—Claro que sim. Assim que surgir uma oportunidade.
Sorrio de lado e dou outro abraço nele. Aproveito para sussurrar em seu ouvido para que apenas ele ouça.
—Me desculpe, não queria que nada disso tivesse acontecido.
Sinto as mãos do meu pai acariciarem meus braços e ele me afastar dele. Ele olha para o meu rosto e balança a cabeça:
—Não se preocupe com isso, tudo bem? Tenham uma boa viajem. - ele olha para Kyle atrás de mim.
Kyle faz um breve maneio com a cabeça e olha para mim.
—O táxi já está lá fora.
Concordo com a cabeça.
—Tchau, pai.
—Tchau, querida.
Olho para a cozinha e vejo minha mãe parada nos olhando de braços cruzados. Sinto uma bile subindo por minha garganta e meus olhos arderem ainda mais. Engulo em seco quando a vejo dar as costas para mim, para nós.
Tenho vontade de gritar.
A porta já está aberta, Kyle está em frente a ela segurando as malas. Viro-me para olhá-lo. Ele vê meus olhos marejados e eu olho para baixo rapidamente.
Passo por Kyle e nós descemos o gramado da frente da grande casa estilo vitoriana em direção ao portão automático.