Sinto como se estivesse sido atropelada por um caminhão. Meu rosto está amassado contra o travesseiro. Vejo que a cortina está aberta e a janela está salpicada de pingos de chuva,mas não está chovendo.
Um borrão da noite passada passa por minha mente. Uau. É só o que tenho para dizer.
Viro-me para o outro lado e vejo Kyle olhando para mim. Seus olhos estão tão verdes e lindos. Seu cabelo vermelho tem um contraste que eu adoro no travesseiro branco. Fecho os olhos e sorrio preguiçosamente enquanto ele me puxa para perto dele e beija meu nariz.
–Bom dia.
–Bom dia. - ele diz com a voz rouca de quem dormiu pouco.
–Você perdeu a hora de ir para a faculdade? - pergunto de olhos ainda fechados. Não faço a mínima ideia de que horas sejam.
–Sim. Na verdade nós fomos dormir quase na hora de eu ter que acordar.
Abro os olhos e sorrio para ele.
–Obrigada por ter cuidado de mim ontem.
–Eu sempre vou cuidar de você.
Os lábios de Kyle tocam os meus suavemente e eu suspiro.
–Te amo. - digo.
–Eu também.
Sua mão está acariciando meu rosto. Eu a pego e entrelaço na minha.
–Você ainda está chateado comigo? - pergunto.
–Não.
–Você sabe que eu não te trocaria por ninguém,não sabe?
Kyle suspira.
–Podemos não falar disso?
Concordo com a cabeça. Talvez seja mesmo o melhor a fazer, não falar sobre o assunto.
–Estou dolorida. - digo e sorrio de lado quando vejo um sorriso se alargando no rosto de Kyle.
–E eu estou com fome.
–Vou fazer um café pra gente. - digo me sentando e colocando o blusão de moletom que Kyle vestira em mim na noite passada.
Levanto-me da cama e prendo os cabelos em um rabo de cavalo alto. Saio do quarto e vou para o banheiro. Abro a porta e acendo a luz. Arregalo meus olhos quando vejo marcas arroxeadas em minhas coxas. A forma perfeita dos lábios de Kyle estão nelas. Tiro a blusa de moletom e minha boca se escancara ao ver as marcas que ele deixou em mim. São... muitas! E incrivelmente roxas. Meus seios estavam marcados,meu pescoço e até mesmo minha barriga.
A porta do banheiro se abre e os olhos de Kyle pairam sobre meu corpo nu. Coloco a blusa novamente e viro-me para olhá-lo.
–Por que me marcou desse jeito?
Ele entra cauteloso dentro do banheiro.
–Você está com raiva? - ele pergunta.
Franzo o cenho.
–Não eu só... não entendo porque você me marcou toda. Parece que eu dormi com um vampiro.
Kyle dá risada e se aproxima de mim. Seus braços se fecham ao meu redor e ele diz:
–Te marquei pra você se lembrar de mim.
Olho para ele e o afasto.
–Ou me marcou para que alguém pudesse ver que sou sua?
Olho para ele desafiadoramente. De repente estou com raiva sim. Eu estava completamente marcada e eu voltaria para a academia de ballet na semana que vem. Não podia aparecer com essas marcas no meu corpo.
Kyle respira fundo e dá de ombros. Reviro os olhos exasperada.
–Não acredito que fez isso para marcar seu território em mim. Como se eu fosse encontrar Matt em algum lugar! Quem sabe você não tira umas fotos e mostra pra ele?
Vou até a pia e pego a escova de dente. Coloco o creme dental com listras roxas e começo a escovar os dentes. Vejo os olhos de Kyle me olhando pelo reflexo do espelho e não olho para ele. Estou brava sim. Aquilo é um absurdo. Eu o amava, ele me tinha de corpo e alma, não havia necessidade de me marcar. Não por tal motivo.
Enxaguo a boca e faço bochecho. Lavo o rosto com a água gelada e seco na toalha branca e grossa de rosto.
Faço menção para sair do banheiro mas Kyle bloqueia meu espaço. Olho para seu rosto e cruzo os braços em frente ao meu corpo.
–O que foi? - pergunto.
–Você está mesmo brava, não está? - Kyle estreita os olhos.
–Estou sim. Você sabe que nunca liguei de você deixar marcas em mim, mas não desse jeito. Se não fosse para marcar seu território em cima de mim, você sabe que eu nãoia reclamar. - olho para seu rosto firmemente e acrescento -Qual vai ser o próximo passo? Fazer xixi em cima de mim?
Kyle me olha pasmo e juro que pude ver uma sutil sombra de um sorriso no canto de seus lábios. Juro que se ele começar a rir, vou perder a paciência.
Saio do banheiro e vou para a cozinha. Abro a geladeira e pego o pó de café. Ligo a cafeteira e começo a pegar ingredientes para os ovos mexidos. Pego uma maçã verde para comer enquanto isso. Um trovão alto faz com que eu me assuste e olhe para a grande janela de vidro da sala. O céu está escuro, as nuvens carregadas e feias pintada de um cinza incrivelmente escuro.
Volto minha atenção para os ovos e vejo pelo canto do olho Kyle indo até a janela. Olho para ele e admiro sua quase nudez. Ele está apenas de cueca box preta olhando pela janela grande. Meu coração chega a disparar. Ele é realmente lindo. Mas tenho que ignorar este fato pois estou realmente irritada com ele. Me marcar apenas para mostrar para Matt que ele estava comigo era absurdo.
Volto a quebrar os ovos na frigideira antiaderente e começo a prepará-los adicionando queijo, presunto, salame e alguna temperos derivados da salsa.
Termino de comer minha maçã e o café fica pronto.
Pego duas canecas e encho até a metade com o café preto fervendo. Bebo um gole do meu e viro-me para o balcão. Kyle está sentado na banqueta do lado da sala me olhando. Seu peito nu me distrai e eu olho para baixo tentando não ficar vermelha por ele estar de tal maneira me olhando.
Estendo a caneca para ele e ele agradece em um tom de voz baixo. Não respondo e volto-me para o fogão. Apago o fogo e divido em grande quantidade o ovo mexido em dois pratos.
Coloco um prato em frente a Kyle e me sento com o meu prato em cima do balcão de granito preto. Pego e dou uma garfada. Está bem saboroso. Talvez seja o melhor ovo mexido que eu já comera, ou talvez seja a fome.
–Está ótimo. - Kyle elogia.
–Obrigada. -não olho para ele.
–Você vai mesmo me ignorar o resto do café da manhã?
Largo o garfo no prato e olho para ele. Os olhos verdes estão me encarando com intensidade.
–Eu não gostei do que você fez.
–Pareceu gostar ontem a noite.
Levanto-me da banqueta exasperada e digo:
–Não aja como um babaca, tudo bem Kyle? O mínimo que você deveria fazer era pedir desculpas.
Saio da cozinha e vou para meu quarto e bato a porta atrás de mim. Não acredito que ele esteja agindo assim. Vou até a janela e fico olhando para a avenida tentando me acalmar. Estou com os braços cruzados olhando as nuvens carregadas que estão começando a mandar a chuva. Os pingos começam a bater violentamente contra o vidro, com barulhos agudos, como se pedras estivessem sendo jogadas contra a janela.
Sinto as mãos de Kyle em meu ombro e fecho os olhos. Estou tendo um ataque nervoso e juro que se ele disser alguma coisa errada, vou acabar chorando.
–Ei, olha pra mim.
Viro-me para olhá-lo. Seus olhos verdes me encaram e sua mão acaricia minha bochecha lentamente.
–Desculpa. Eu não devia ter feito isso. Mas, não foi só por isso. Gosto de te olhar e ver marcas que eu deixei em você.
–Contanto que você não me marque para mostrar para o Matt que você é meu dono ou algo absurdo do tipo, está tudo bem.
Ele sorri de lado e me puxa para perto de seu peito nu. Sua pele está quente e eu fecho meus olhos. Suas mãos estão nas minhas costas acariciando-as suavemente para cima e para baixo.
Acho absurda a atração física que sinto por Kyle. É como se ele não pudesse me olhar, me acariciar do modo mais inocente que meus batimentos se aceleravam. Gostava de ter contato com seu corpo constantemente. Era viciante.

TRILHA SONORA DO CAPÍTULO
THE XX - SHELTER
THE XX - INTRO
THE NEIGHBOURHOOD - BABY CAME HOME.