Os passos de Carmen eram rápidos e decididos em minha frente. Subia as escadas um pouco a minha frente, a mochila em um dos ombros, a saia mostrando-me mais do que deveria e os longos cabelos em tom cobre quase cobrindo a fina blusa de algodão.

— Vai continuar assim? – indaguei novamente com um meio sorriso na boca.

A garota suspirou e respondeu assim que chegamos no corredor de meu apartamento.

— Sim.

Foi tudo o que disse antes de atravessarmos o corredor vazio. Paramos em frente a minha porta, era quase um costume ter Carmen comigo todas as noites, quando não tinha sua companhia era como se algo faltasse.

A menina batia o pé de maneira impaciente no assoalho enquanto eu procurava a chave em minha pasta cheia de papéis. Soltei um suspiro de alívio quando a encontrei e logo encaixei na porta.

— Sid! Nossa! Quanto tempo!

Quando percebi Carmen corria até meu vizinho de cabelos tingidos – agora de vermelho – e piercingspelo rosto. E no momento que vi minha garota rodear a cintura dele em um abraço, uma sensação esquisita e esmagadora tomou meu peito.

— Carmen? O que faz aqui? – indagou Sid que logo em seguida encarou-me – Fala aí, Jake – cumprimentou-me.

Dei um aceno leve de mão.

— Sid – foi tudo o que disse.

Mas Carmen logo começou a tagarelar.

— Como você está? Tem falado com Tyler? Soube que ele foi preso; isso é verdade? Mas e Bett? Conseguiu casar-se com o caminhoneiro? – perguntava alegre e gesticulando. Nem parecia a menina emburrada de minutos atrás.

— Estão todos bem. Tyler está solto e Bett não casou-se, infelizmente.

— Ah – abaixou a cabeça triste – Mas e você? Está bem?

Por um segundo pude vê-la jogar-me um olhar, talvez notando-me finalmente ali. Bom, no fundo eu sabia que ela fazia aquilo propositalmente.

— Estou bem, Carmen. Mas o que faz aqui? – indagou o punk.

— Estou com Jake, estamos juntos.

Eu pensei que fosse desmaiar, felizmente não aconteceu, ela não deveria sair por aí contando que estávamos “juntos”. Sid jogou-me um olhar e assentiu como se isso não fosse importante. Por fim abaixou-se um pouco para perguntar algo no ouvido de Carmen, ela apenas meneou negativamente com a cabeça e terminaram a conversa com mais um abraço que irritou-me a níveis extremos.

Despediu-se e veio até mim.

— Vai abrir a porta ou não? – perguntou, voltando a sua irritação inicial.

Meneei a cabeça suspirando e abri a porta, qual ela logo atravessou. A vi jogar a mochila ao lado do sofá depois sentar-se no mesmo.

Sem conter-me perguntei:

— O que ele cochichou em seu ouvido?

— Nada.

— Como assim nada? – indaguei colocando a pasta sobre a mesa indo até ela.

A garota fitava a televisão desligada, como se nossa conversa não fosse importante.

— Já disse: Nada.

— Não me irrite, Carmen.

Finalmente ela fitou-me.

— Não me irrite você, Jake. Sabe muito bem pelo que estamos passando.

Não contive o riso sarcástico.

— O que estamos passando? – perguntei-a.

Ela levantou-se e parou em minha frente de braços cruzados.

— Me assuma.

— Não posso.

Revirou os olhos indo para o quarto, a segui.

— Pode sim – disse por fim – Eu o assumi para o Sid.

— Foi errado da sua parte, não pode fazer isso.

— Posso sim! E vou!

Jogou-se na cama abraçando o travesseiro. Suspirei mais uma vez, essas mudanças repentinas no humor da garota estavam me matando, não tinha mais pique para aguentar isso há muito tempo. Talvez fosse impressão minha, mas ela comportava-se pior do que uma adolescente normal.

— Já tivemos essa conversa, Carmen. E pare de birra, está começando a me irritar seriamente.

Ela virou-se sentando-se na cama.

— Não é birra! – choramingou – Por acaso é errado te amar e te querer só pra mim? Eu odeio aquelas vadias do colégio! Me diga a verdade, já se envolveu com garotas de minha idade antes, não?

Aproximei-me dela sentando na cama.

— Claro que não. Nunca.

— Não está mentindo? Não vai me abandonar, não é? – indagou entre recentes lágrimas.

Meneei a cabeça a estendendo meus braços, onde ela logo se aconchegou.

— Nunca a abandonaria.

— Passaria por cima de qualquer coisa para ficarmos juntos?

Suas órbes procuraram pelas minhas.

— Talvez sim, Carmen.

— Partiria comigo?

Suspirei diante desta pergunta, ela tem estado bem presente em nossas “discussões” e talvez fosse por eu não respondê-la propriamente que discutíamos. Acho que já estava na hora de dizer a verdade.

— Sim, Carmen, partiria com você. Você só me precisa dizer a direção e eu iria onde seu dedo apontasse.

Ela levantou seu rosto um tanto fora de ar, encarava-me abismada. Era a resposta que queria, não? Então por que agia assim? Mas logo a surpresa se desfez, abaixou a face.

— E se… – seu olhar perdeu-se pelo quarto – … eu tivesse um segredo? Uma coisa muito ruim e feia; você entenderia?

Apertei-a mais em meus braços.

— Eu a entenderia como entendo agora.

Segurei-a pelo queixo fazendo-a fitar-me. Perscrutei a bela face ao meu alcance, os olhos verdes ainda lacrimejados, a boca de lábios cheios um tanto avermelhada pelas mordidas que ela tinha costume de dar.

— Você fala tanto sobre deixar com que você entre aqui – coloquei minha mão sobre meu coração pulsante – Mas você nunca deixa-me entrar aqui – toquei-lhe sua mente com os dedos.

A senti sem palavras por alguns segundos, parecia desnorteada, fitando-me e ao mesmo tempo não me vendo. Por fim ela assentiu me abraçando.

— Dê-me tempo e… coragem – sussurrou.

— Eu tenho todo o tempo do mundo.

— Mas eu não, Jake. Eu não tenho – falou encarando-me profundamente nos olhos.

Nada disse, apenas a beijei, inicialmente leve e romântico. Sua face entre minhas mãos, o corpo curvilíneo e morno encostando-se mais ao meu. Já sabia o que seguiria este beijo e eu ansiava.

Tê-la virou um vício, um pecado mortal, um delicioso pecado. Nunca pensei que uma adolescente me satisfaria de tal maneira, que seria tão sensual e ao mesmo tempo inocente. Era a medida certa para me enlouquecer, com todos aqueles gemidos contidos e arranhões.

A despi de maneira rápida, queria prová-la mais do que nunca e os olhos de minha garota dizia o mesmo; ela necessitava-me. O corpo nu arfava, a pele clara e macia ao meu alcance, os cabelos espalhados pela cama, tudo nela chamava-me.

Abriu as pernas numa súplica muda, pedia por mais um pedaço do Céu, pois eu sabia que ela sentia o êxtase quando estávamos juntos. Ajeitei-me entre as coxas pálidas enterrando-me na cavidade úmida e apertada. Vi os olhos verdes rolarem e os quadris se remexerem em prazer.

Lambi seus lábios, o superior e inferior como numa degustação enquanto remetia lentamente contra seu corpo quente. Meu cotovelo apoiado ao lado de sua cabeça para assim poder vê-la melhor, vê-la enquanto era feita minha, sabia que enlouqueceria com a lentidão de meu amor, mas era uma maneira de punição.

— Mais forte, Jake – gemeu rodando as pernas em torno de meu quadril – Mais rápido.

Sorri de canto e aumentei a velocidade das investidas fazendo-a gemer com a boca aberta e olhos fechados, as unhas fincadas em meu ombro.

— Assim? – perguntei entre um grunhido prazer.

Ela assentiu afobada com a sensação.

— Isso, s-sim… assim! Oh!

Numa última arremetida parei os movimentos, Carmen abriu os olhos e encarou-me. Indagou-me mudamente o porquê, contudo não dei-a tempo de verbalizar nada, nos virei na cama.

Fitei seu corpo sobre o meu, o encaixe ainda nos mantendo juntos, minha carne dentro de si. Umedeci meus lábios segurando-a pelos quadris movendo-a lentamente, a garota tombou a cabeça pro lado gemendo baixinho.

— Faça do seu jeito – proferi excitado.

Carmen sorriu e apoiou-se em meu peito, logo mordeu o lábio inferior e pôs-se a mover os quadris fazendo com que o atrito entre nossos sexos fosse delicioso. Fechei os olhos e experimentei a sensação quente e gostosa que vinha daquilo.

O experimento inicial logo tornou-se uma fricção rápida e descontrolada, o corpo dela estava praticamente colado ao meu enquanto movia-se num serpenteio veloz e forte. Sua boca quase na minha, fitava aquela cena com afinco enquanto sentia pontadas em meu baixo-ventre num aviso de que estava em meu limite.

Beijei-a de maneira molhada, muita língua e toques, seus dentes prenderam meu lábio inferior e pude jurar que ela sorriu no ato. Minhas mãos foram até os seios pequenos e firmes, os apalpei e desci ainda mais para os quadris onde a ajudei nos movimentos.

Eu estava no meu limite, porém Carmen ainda parecia íntegra, aguentaria cavalgar por muito tempo adiante e não queria deixá-la insatisfeita. Procurei pelo nosso encaixe enquanto minha destra acalmava seus quadris, deixando-os num movimento mais lento. Toquei-a no clítoris com destreza sentindo seu corpo estremecer e a garota arfar.

Era uma bela visão; os cabelos longos um tanto desarrumados, a face rubra, os olhos fechados e a boca minimamente aberta imitindo sons prazerosos. Poderia ficar horas naquela sensação, fitando-a, comigo dentro de seu calor, mas ela logo explodiria de tesão, juntamente de mim.

E tão clichê quanto seria, gozamos juntos. Seu corpo deitou sobre o meu enquanto ainda tremia minimamente pelo recém-orgasmo, acariciei-lhe as costas nuas ainda sentindo meu corpo elétrico por despejar-me dentro dela.

Mirava o teto ao mesmo tempo que tinha o corpo febril de Carmen sobre o meu. Não queria indagar-me sobre o que seria pra frente e o quão errado eu estava em usufruir de um corpo jovem deste. Haviam dois Jakes dentro de mim; um o certo, o íntegro, qual dizia para correr o mais longe possível, pois a menina me traria sérios problemas, embora o outro; um Jake já derrotado por Carmen, submisso e levado pelas sensações, um completo viciado que pedia em desespero por mais dela. Muito mais.

A senti escorrer pro lado na cama, virei o rosto para mirá-la e não poderia estar mais linda que agora.

— Sid me perguntou se eu ainda vendia entorpecentes, eu disse que não. Foi só isso.

Assenti cansado, minhas pálpebras pareciam fechar-se sem meu consentimento.

— Tudo bem, Carmen, já foi. Me desculpe por qualquer coisa.

— Me perdoe por mais cedo, sinto ciúmes em demasia.

Negativei com a cabeça fechando os olhos.

— Não se preocupe com isso.

— Eu te amo, Jake.

Abri os olhos para vê-la e pela primeira vez as três palavras borbulharam em minha mente e não consegui segurá-las na ponta de minha língua.

— Eu te amo, pequena Carmen.

Carmen

Diferente de meus últimos dias, este era quente, ainda quente mesmo com a brisa gelada ao meu redor. Caminhava finalmente leve e feliz pela calçada de meu bairro, as casas brancas e bem ornamentadas ao meu redor agora faziam sentindo numa bela vista.

Sorri de canto e lembrei da noite passada. “Sim, Carmen, eu partiria com você.” Será que ele sabe o poder disto sobre mim? Será que ele já sabe a sentença que assinou? Suspirei feliz lembrando-me de outros detalhes.

“Eu te amo, pequena Carmen.” Como ele tem a audácia de dizer tais palavras e logo em seguida adormecer? Queria matar-me? Ferir-me? Bom, na verdade, ele fez-me a garota mais feliz da América.

Ao acordarmos no dia seguinte, como era sábado, ele não teria aulas, ficamos parte do dia juntos no apartamento, como já havia tornado-se rotina. Algumas coisas minhas residiam lá e não tinha vontade de daquele lugar sair.

Meus pensamentos felizes foram por terra ao encarar minha casa. Era final da tarde, mamãe com certeza estaria por lá. Torci para que James não estivesse, não queria vê-lo.

Comandei minhas pernas até a porta, adentrei a mesma com o coração apertado. Encarei o hallvazio, porém ouvi vozes vindo da sala.

Isso, Jeremy! – deduzi ser minha mãe – Parabéns, muito bem, querido.

Fui até o cômodo por apenas saber que Jeremy estava ali, necessitava vê-lo; a única pessoa nessa casa que merecia e reconhecia meu amor.

No momento que apareci na entrada da ampla sala ambos fitaram-me. O menino abriu um sorriso do tamanho do mundo e correu até mim, abaixei-me para abraçá-lo.

— Car! Você voltou! – dizia com os bracinhos ao meu redor.

Afastei-o para encarar a bela e harmoniosa face. Os cabelos da mesma cor dos meus, o nariz afilado e boca pequena – talvez essa parte tenha puxado do maldito do James. Pelo menos a maioria das características eram parecidas com as minhas, mesmo que pouco.

— Eu voltei, não? – sorri para ele – Como eu disse que faria.

Meu irmãozinho assentiu rindo e abraçou-me novamente.

— Finalmente achou o rumo de casa, Carmen – ao ouvir a voz de minha mãe fitei-a – Bom saber que está viva.

Levantei-me e a respondi:

— Não haja como se se importasse.

— Não me importo, você sabe. Já é bem grandinha, sabe o que faz e com quem faz – moveu-se pela sala em sua vestimenta toda branca e intacta – Você é mesmo igualzinho seu pai, aquele estrume de-

— Não fale assim dele! Você não tem o direito! – a interrompi com raiva.

Vi as órbes castanhas de dona Susie pegarem fogo.

— É a verdade, Carmen. Seu pai era um zé-ninguém, um sonhador, um artista bobo e medíocre, exatamente como você – apontou para mim – Odeio ter de vê-la e lembrar dele em cada detalhe seu, você é praticamente a imagem refletida dele.

Se eu já não estivesse tão ferida, poderia jurar que lágrimas rolariam de meus olhos, contudo isso não aconteceu. Susie já não tinha mais esse poder sobre mim, seu ódio contra minha pessoa era fraco e sem sentido pra mim. Quem odeia o próprio filho por ele lembrar o pai? Lembrando que eu era fruto de uma relação consentida.

— Não se preocupe, estou indo embora aos poucos dessa casa, em breve sumirei de vez.

— Você vai embora, Car? – olhei para baixo ao meu lado onde Jeremy segurava minha mão com afinco.

Fiquei sem palavras, fitei minha mãe e depois meu irmão.

— Não, Jeremy, ainda não – respondi.

Dona Susie empinou o nariz e olhou para o lado.

— Vou pegar algumas coisas e já partirei, não se preocupe mamãe, não irei entrar mais em seu campo de visão – falei e virei-me em direção à escada.

Minha mão ainda segurava a de Jeremy, qual fitava-me apreensivo.

— Quer me ajudar? – perguntei subindo as escadas. O menino assentiu sorrindo.

Adentramos meu quarto e fui até meu guarda-roupa, tirei a mochila de meus ombros e procurei por peças de frio.

— Jeremy, o que acha de me dar uma coisa sua? – virei-me para fitá-lo – Assim posso lembrar-me sempre de você.

— Qualquer coisa?

Sorri para ele.

— De preferência pequena.

Meu irmão assentiu pensando e logo saiu correndo de meu quarto para o seu. Ri e voltei-me para as peças de roupa. Pus ali duas calças jeans, uma jaqueta, blusas de manga entre outras coisas. Fechava a mochila sobre a cama absorta em pensamentos quando ouço uma leve batida na porta aberta, viro-me para fiar quem quer que fosse e ali encaro o demônio.

Estava sério, as órbes castanhas me mirando sem piedade, minha primeira reação foi me encolher e abaixar a cabeça, contudo, dessa vez, segurei-me para não fazê-lo. O encarei de volta, o que o fez arquear as sobrancelhas.

Umedeceu os lábios antes de indagar:

— Quem é ele?

Franzi meu cenho negativando com a cabeça.

— Me diga quem é ele, Carmen – dessa vez não indagou, pediu.

Finalmente entendi ao que ele se referia.

— Não há ninguém, James.

Riu debochado meneando a cabeça e adentrou o quarto em seu tamanho. Engoli em seco e pus minhas mãos na frente de meu corpo.

— Sei que há alguém, posso ver nesses seus olhos de bambi. Está apaixonada.

Não contendo-me com a proximidade, abaixei a cabeça e afastei dois passos para trás.

— Não há ninguém, já falei.

Mais uma vez o homem riu, passou por mim e ficou atrás de meu corpo, não me tocava, mas o sentia perto, a repulsa em meu corpo era enorme.

— Me diga – balbuciou em meu ouvido – o nome do bastardo.

Fechei meus olhos com força e tentei controlar minha respiração.

— Não há n-ninguém… e-eu apenas-

— Não minta! – segurou meus ombros e virou na direção do grande espelho, qual estava acoplado na porta de meu guarda-roupa. Segurou meu rosto e me fitou através de lá. Senti um arrepio me tomar ao vê-lo atrás de mim – Agora diga, olhando em meus olhos que não há ninguém.

O mirei por breves segundos antes de mentir.

— Não há ninguém – falei pausadamente.

Ele riu e suas duas mãos que estavam em meus ombros foram para meu pescoço. Os dedos eram frios e cálidos, sentia nojo do toque, qual não era forte, mas sim simbólico. Ele sorria enquanto brincava com minha mente distorcida.

— Sei que há um homem, Carmen, não precisa mentir. Sinto o cheiro dele em você – soltou as mãos de meu pescoço e inspirou o local, fazendo-me amolecer em ódio e medo – Pra falar a verdade, não me importa os outros. Sabe por quê? – me virou, fazendo-me olhá-lo cara a cara – Porque eu fui seu primeiro.

Com tais palavras não consegui conter o lacrimejar de meus olhos. Ele sabia que me machucava, que eu o temia e mesmo assim, fazia de tudo para atormentar-me. James nada mais era que um sádico que adorava estar por cima em todas as situações. Mas eu não necessitava mais estar aqui, nunca mais! Tenho Jake e o amor dele, isso me basta, isto me fortalece.

Trinquei meus dentes e o empurrei com ódio e força.

— Nunca mais me toque, seu imundo – proferi entredentes – Seus dias de me atormentar acabaram. Não sou mais uma criança inofensiva e indefesa. Sei que não posso provar o que você fez comigo, mas acredite, eu posso matá-lo. Sim, eu estou com alguém e ele se chama Tyler, – menti raivosa – um traficante e fui burra de não contá-lo o que você fez comigo, pois quando eu contar, prepare-se, seu caixão estará o esperando, juntamente da bala de prata, seu monstro repugnante.

Nunca vi James daquele jeito, o homem estava abismado, encarava-me um tanto espantado. Pois nunca antes tive coragem de enfrentá-lo, nem com um mísero olhar e quando o fazia, minha segunda reação era fugir, correr, coisa que o atiçava ainda mais.

— Nunca mais chegue perto de mim, nunca mais – continuei – Cansei! Meu corpo não é seu brinquedo, você já destruiu coisas demais e sim, partirei logo, graças ao bom Deus e nunca mais terei de ver sua face imunda.

James comprimiu os lábios em raiva, as narinas dilatadas, as mãos fecharam-se em punho. No exato momento que levantou a mão para mim, Jeremy apareceu risonho no quarto, alheio ao que acontecia. Suspirei aliviada.

— Car, toma! – estendeu-me um carrinho em miniatura – É seu, pra sempre lembrar de mim.

Peguei a pequena miniatura do Mustang vermelho, sorri minimamente.

— Achei que fosse seu preferido – sibilei abalada.

— Sim, é. Mas agora é seu, pra sempre me lembrar.

Fitei Jeremy e depois James, quem saiu irado dali. Soltei o ar de meus pulmões e agachei na altura de meu irmãozinho.

— Obrigada, Jery – o abracei, depois o mirei – Eu amei o presente. Mas espere – levantei-me e olhei ao redor de meu quarto – Tenho de dá-lo algo também.

Avistei sobre a penteadeira dois bonequinhos de gesso, um era o Elvis e o outro a Marilyn Monroe, eram pequenos, lembro que os comprei uma vez num parque de diversões, logo lembrei que guardava fotos deste dia. Abri a gaveta da cômoda e achei duas fotos onde estavam eu e Jeremy, umas das pouquíssimas fotos que tínhamos juntos. Estávamos sentados num banco de madeira, Jeremy era um pouco mais novo. Em uma nós dois sorríamos e na outra apenas ele; o entreguei a qual nós dois sorríamos, para assim, ele lembrar-me sempre feliz.

— Jeremy, você é bem grandinho e já me entende, ok? – falei o entregando também os bonecos em gesso – Car precisa partir por… – segurei as estúpidas lágrimas – algum tempo. Talvez eu venha lhe visitar antes, tudo bem? Apenas peço que… peço que não se esqueça de mim e ache que estou lhe abandonando. Não é nada disso, ok? – tentei sorrir – Eu vinha aqui apenas por sua causa, mas agora há alguém com a Car e mesmo ela te amando muito, ela precisa encontrar seu caminho.

E sem minha permissão malditas lágrimas escorreram. Meu irmão fazia bico de choro.

— Você vai embora mesmo? Mas disse que não ia…

— Um dia voltarei e te livrarei dessa casa. Espere por mim, tudo bem? Você espera?

— Aham.

Sorri acariciando-lhe os cabelos.

— Nunca se esqueça dessa conversa, não se esqueça de mim, porque eu não vou me esquecer de você e de seus lindos olhos, das vezes que brincamos e dormimos juntos por causa do bicho papão – eu já chorava em demasia – E quando eu voltar vou lhe contar tudo o que aconteceu, tudo que me fez partir, entendeu?

— Entendi.

Ri afastando as lágrimas.

— Mas agora me abrace.

Ele rodeou seus bracinhos ao meu redor e suspirei cansada, ao mesmo tempo aliviada.

— Te amo, Car – afastou-se de mim – Um montão assim – abriu os braços mostrando o quanto era.

— Também te amo, um montão!

Rimos e logo me recompus, coloquei a mochila sobre meu ombro e disse por último:

— Esconda a foto, entendido, Jeremy? Eles tentarão fazer com que você me odeie, mas os ignore. Guarde a foto e os bonecos que lhe dei. Guardarei seu carrinho com muito carinho.

Ele assentiu e me abraçou pela cintura.

— Vou te esperar, Car.

Com muito esforço saí dali e desci as escadas, dei um último olhar para o topo dos degraus onde Jeremy me acenava triste, mas com um sorriso nos lábios.

— Tchau, Car.

— Até mais, Jery.

E sem mais delongas fechei a porta atrás de mim, assim selando meu futuro.