Dangerous

O Conselho do Homem Morto


Apenas Ressler e eu fomos ao enterro de Daniel. Nem sei por que eu fui, pra começo de conversa. Ele tinha feito tantas coisas erradas... Coisas que não davam para ignorar. Mas... Algo em mim me fez ir.
Donald só foi, obviamente, por minha causa. Ele detestava Daniel, pois sabia quão ferida eu fiquei por causa dele. Mas, contrariando muitas opiniões, lá estava ele, ao meu lado, enquanto o caixão de Daniel era baixado para dentro da terra.
Briguei comigo mesma por chorar, e quando escondi o rosto no ombro de Ress, ele disse que tudo estava bem, que não havia nada de errado.
—Você se importa por que é humana, Jen, e tem sentimentos. –Sussurrou.
Voltamos para o apartamento dele em silêncio. Eu sabia que fazia um tempo que tínhamos que conversar sobre nossos apartamentos. Ambos morávamos em lugares diferentes, mas ou estávamos em um apartamento ou em outro, como um revezamento. A conversa tinha sido adiada de novo.
—Se importa se eu deitar um pouco?-Perguntei, soltando o cabelo.
—Não, claro que não. Ah, aqui. –Pegou algo na bancada e entregou pra mim. –Acho que mandaram errado, mas é pra você.
—Tá.
Fui pro quarto, já acostumada com o apartamento de Donald como se fosse o meu. Parei no caminho, fechando a porta. A letra no envelope era de Daniel. Por que ele me mandaria uma carta, mas no endereço de Ressler?
Entrei no banheiro e tranquei a porta, não querendo que ele lesse. Uma carta de Daniel era tudo o que Ress não iria querer.
Respirei fundo, me sentando contra a parede. Daria uma chance ao meu antigo amigo e leria, ou atiraria a carta no lixo?
Resolvi ler.
“Jen,
Eu sei que não quer nem ouvir falar de mim, que está furiosa e tudo mais, mas eu... Preciso que leia isso. Se essa carta está nas suas mãos agora, estou morto. A entreguei para alguém de confiança, e pedi que fosse entregue no endereço do seu namorado, mas com o seu nome. Se fosse para o seu apartamento, creio que seria interceptada.
NÃO CONFIE EM RAYMOND REDDINGTON. Foi ele quem matou nossa equipe. Ele me obrigou a ajudar, e jurou que não a machucaria. Pensei que seria deixado em paz, mas sabia que ele ia se livrar de mim em algum momento. Por isso fugi depois de ajudá-lo. Quando soube que ele estava muito próximo de você, tive que voltar imediatamente. Ele não quer ajudá-la, só quer ficar de olho em você, para garantir que não saiba de nada.
Sei que vocês têm alguma coisa envolvendo passado, eu não sei o que é. Talvez seja verdade, mas ele pode estar mentindo pra você. Se tem algo que esse cara sabe fazer, é manipular e mentir. NÃO CONFIE NELE. Reddington vai matá-la se você souber demais.
Talvez você não acredite em mim, por causa de tudo, mas é a verdade. Reddington queria se livrar da nossa equipe, por que o caçamos. Não sei por que ele quis te manter viva, Jen, mas sei que ele não hesitaria em te matar. Tome cuidado, por favor. E não o enfrente. Ele é perigoso.
Daniel Vidar.”
Terminei a carta, sem saber em quem acreditar. Reddington era capaz de matar minha equipe. Mas... Ele teria coragem de mentir na minha cara? Claro que sim. Ele era um dos criminosos mais procurados do mundo. Maldito Reddington.
Por que outro motivo ele me perguntaria se eu me importava se Daniel vivia ou morria? Ele sabia sobre a equipe Dangerous, e nos achava muito inconvenientes quando o caçávamos. Certamente ia querer se livrar e nós. Mas então por que não me matou? A história de ter cuidado de mim por quatro anos era real, então?
Me levantei, pensando se devia me livrar da carta, então parei. Ouvi o barulho de algo pesado caído no chão.
Destranquei a porta do banheiro e parei na porta.
—Ressler?-Chamei. Sem resposta. Deixei a carta no quarto dele e fui pra cozinha. –Ress?
Donald estava caído ao lado da mesa, de bruços. Parecia respirar, mas estava completamente apagado. Me abaixei pra alcança-lo, quando alguém me puxou para trás, enfiando um pano no meu rosto.
A escuridão me engoliu.
***
Estava deitada num chão frio, de lado, e com as mãos algemadas em frente ao corpo. Abri os olhos, vendo apenas o escuro. Uma luz ascendeu. Eu estava num galpão vazio. Me obriguei a sentar e olhar em volta. Não havia ninguém ali.
—Quem quer que seja, não faça showzinhos, já fui sequestrada mais vezes do que possa imaginar. –Avisei. Um homem saiu das sombras. –Eu podia jurar que você estava morto.
—Esse é seu erro. Soube que toda sua equipe está morta. Diria que é uma pena... Mas considerando que me caçaram...
Esse era Louis Carman, um cara que a Dangerous caçou. Mas como ele havia “morrido”, o deixamos de lado.
—Como fez isso?-Perguntei.
—Tive a ajuda de Raymond Reddington para forjar minha morte. Claro que isso me custou uma grana, mas pelo menos estou vivo.
—Não por muito tempo. Quando eu me soltar...
—Você não vai se soltar. Não entendeu? Vou matá-la. –Novidade.
—Vai? Então faça isso logo.
—Com todo prazer. –Apontou a arma pra mim.
—Carman, não ouse. –Alguém disse, se aproximando. Quando saiu das sombras... Bem, isso me surpreendeu mais do que Louis “ressuscitando”. Reddington.
—Raymond? O que você...
—Você nunca foi discreto. Deixa uma série de pistas, como migalhas de João e Maria.
—Nunca me meti nos seus negócios, não se meta nos meus.
—Não posso deixá-lo matar Jenna.
—E por quê?
—Assuntos pessoais. –Ergueu a arma, eu estava tão chocada em vê-lo ali que nem havia visto que ele segurava uma. –Jure que não irá matá-la ou machucá-la. Posso atirar em você se não o fizer. –Carman estremeceu e largou a arma.
—Juro que não vou matar ou ferir Jenna Mhortiz. –Olhou pra mim, com raiva, então para Red, meio temeroso. –Pronto.
—Bom, muito bom. Só tem um problema.
—Que... Problema?
—Não acredito em você, nem um pouco.
—O que? Raymond, eu...
Red atirou, acertando Louis no peito. Recuei enquanto o homem caia morto. Red guardou a arma e se aproximou.
—Sai de perto de mim. –Mandei, me afastando. –Eu sei o que você fez!
—Só vou solta-la.
Pegou uma chave no bolso de Louis e abriu as algemas. Me levantei num pulo, indo em direção a porta. Red, não sei como, me obrigou a parar. Tentei me soltar dele, mas, por incrível que pareça, ele era forte. Alguma coisa afiada acertou meu pescoço, então o mundo começou a girar.
Tropecei e caí para trás, Red me fez sentar, ainda me segurando. Tonta, tive que me encostar nele e lutar para deixar os olhos abertos.
—O que você fez?-Sussurrei. –Você... Me envenenou?
—Não. É apenas um calmante. Não preciso que atire em mim.
—Você... Matou Daniel... E os outros. Luke, Paul... Ivan. Por quê?
—Jenna...
—Vai... Me matar também?
—Claro que não. –Manchas escuras encheram minha visão.
—O que... Tá acontecendo?
—Vai ficar tudo bem.
Então o mundo escureceu de vez.
***
Quando eu acordei, ainda estava tonta, e agora enjoada. O mundo ainda girava, mas devagar. Ainda assim era uma sensação horrível.
—Jenna?-Virei a cabeça devagar, Keen se aproximou. Estávamos em um quarto de hospital. –Como se sente?
—Reddington me drogou. Eu... –Me sentei, então tentei levantar, sem conseguir.
—Jenna, você tem que ficar deitada.
—Ele matou todos eles.
—Eles quem?
—Minha equipe. Foi Reddington. Ele fez isso. –Me levantei, mas acabei caindo. Elizabeth tentou me levantar, mas eu era mais pesada do que ela esperava. –Eu... Vou matá-lo. Ele fez tudo isso, e ainda...
—Jenna, por favor, fique... –O celular dela tocou. –Só um minuto. Alô? Ah. Onde você está? Sim, ela está bem. E com muita raiva. –Olhou pra mim rapidamente e então desviou o olhar. Abaixou a voz. –O que fez? Ela disse que... O que? Não, você não pode fazer isso. Reddington... –Bufou. –Desligou na minha cara.
—O que ele queria?
—Disse que vai sumir por um tempo. Acho que está... Preocupado com a sua reação. –Me ajudou a levantar. A tontura e o enjôo diminuíram. –É verdade? Sobre... Sua equipe?
—É. Ele os matou. Só não sei por que não fez o mesmo comigo.
—Jen!-Ressler entrou correndo e me abraçou. Tinha um curativo na têmpora direita, onde Louis devia tê-lo acertado. –Você está bem?
—Sim, estou.
Infelizmente... Era mentira.