Dangerous

Missão Rio de Janeiro


—Como assim, Reddington sumiu?-Perguntei.

—Ele... Mandou uma mensagem, dizendo “Aproveitem as férias” e... Sumiu. –Keen respondeu, parecendo levemente perdida. –Não conseguimos localizá-lo, e ele não está em casa.

—Isso que dá negociar com bandido. Onde ele pode ter se enfiado?

—Em qualquer lugar do mundo. –Ressler comentou. –Só vamos achá-lo se ele quiser ser achado.

—Que maravilha. –Suspirei e me inclinei para trás, me apoiando com as mãos, estava sentada em cima de uma mesa, sei lá de quem. –Posso ter esperanças de que ele está morto?

—Não. –Meera respondeu. –Reddington com certeza está por aí, rindo por conseguir escapar de nós.

—A mensagem, foi enviada de onde?

—Paquistão. Mas Reddington com certeza não está lá. Ele é esperto demais para se deixar ser pego se não quiser.

—Bom, vamos seguir o conselho dele e tirar férias.

—Encontrei!-Aram gritou, olhando para a tela de um computador. –Vocês não vão acreditar. –Me aproximei, cruzando os braços.

—Facebook?

—É. Acidentalmente Reddington apareceu num selfie feito por garotas brasileiras.

—Sabe onde a foto foi tirada?-Meera perguntou.

—Favela da Rocinha, Rio de Janeiro. Me espantei um pouco, pela condição do lugar, e... Bom, temos problemas. É a maior favela do Brasil. Têm 143, 72 hectares. Além de conter mais de 24. 543 domicílios. Encontrar Reddington lá não será fácil.

—O que ele faz numa favela?

—Reddington conhece todo tipo de criminoso. –Comecei. –Com certeza deve conhecer algum traficante de lá, ou algo assim. Ou deve achar que nunca o encontraríamos lá.

—Agora temos que ir atrás dele.

***

Um problema era certo: os traficantes. Eram eles quem comandavam a favela, e se não queriam nem autoridades brasileiras por lá, imagine o FBI. Tínhamos que encontrar Reddington, e sair o mais rápido possível, sem levantar suspeita. Se fôssemos descobertos, eles nos matariam.

—A primeira coisa, temos que nos disfarçar. –Comecei, enquanto Keen e Ressler entravam no quarto de hotel onde estávamos. –Ninguém, nem autoridades brasileiras, pode saber que estamos aqui.

—Acho que precisamos entrar em contato com a polícia do Rio. –Keen disse, olhando para Ressler, então pra mim. –Não podemos iniciar uma missão aqui sem avisar ninguém.

—Eles não nos querem aqui, e nós não os queremos na nossa missão. Eles vão apenas atrapalhar. Polícia nenhuma se iguala ao FBI.

—Os traficantes serão um problema.

—Eles não respeitam a polícia, de que vai adiantar pedirmos ajuda?

—Se entrarmos naquela favela, sozinhos, vamos ser metralhados. –Ressler disse. –Seja sensata, Mhoritz, não podemos fazer isso.

—Nós invadimos a base da Conrad!

—Isso não é a Conrad. Isso é a Favela da Rocinha!-Suspirei.

—Essa é nossa missão. Não vamos meter mais ninguém nela. Vamos entrar, procurar Reddington, e sair rapidamente do país. Entenderam?

—Quem disse que você está no comando?

—Eu disse. Ou tem outro plano?

—É dois contra um, vai mesmo arriscar?-Olhei de um para o outro, então joguei as mãos pra cima.

—Façam o que quiserem! Mas não vai dar certo, sei que não.

Mais tarde, nos juntamos com o Comandante Cruz, responsável pelo BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) do Rio de Janeiro. Cooper havia entrado em contato com eles, e armado o encontro. Eu, é claro, fui contra, mas ninguém me escutava, então, tudo o que eu fiz foi ficar de braços cruzados, esperando a merda acontecer.

—Então o amigo de vocês está na Rocinha. –Cruz disse, ele era grande e devia ter uns quarenta anos, não me inspirava confiança. –Se é rico está morto. –Keen arregalou os olhos. –Vocês querem invadir?

—Invadir geraria uma resposta violenta dos traficantes, não?-Perguntei.

—Sim, sim. Tiros para todos os lados. –Foi o que eu imaginei. Xinguei em inglês, sabendo que ele não podia me entender. Por sorte, alguns de nós falavam português. –Mas não vejo outra opção. –Se virou para o segundo no comando. –Preparem os caveirões! Vamos invadir a favela!

—Ele disse invadir?-Ressler perguntou, se virando pra mim. –Ele quer invadir a favela?

—É. - Respondi. –Foi uma ótima ideia pedir ajuda do BOPE. Parabéns, Ressler.

Quando os tais caveirões começaram a entrar na Rocinha, um som alto soou, algo como um foguete, então a troca de tiros começou. Eu estava quase surtando de raiva, meu plano era ruim? O que dizer desse de invadir a favela fazendo escândalo?

Peguei “emprestado” uma das armas que foram levadas, um fuzil Colt M4A1 e tentei sair de perto da zona mais perigosa, onde os policiais do BOPE estavam.

—Aonde você vai?-Ressler perguntou, me seguindo, ele estava também com uma Colt M4A1.

—Fazer as coisas do meu jeito.

—Jenna...

—Não. –Olhei pra ele, parando de correr. –Já escutei seu plano e ele não vai dar certo. Vamos ficar horas atirando e recebendo tiros. Reddington pode estar em qualquer lugar. É loucura ficar aqui e esperar! Vou atrás dele, e você não vai me impedir.

—Você é... –Mas ele não terminou a frase, pois fomos puxados pra fora da rua, para um pequeno espaço entre as casas. Uma moto passou em alta velocidade, atirando para todos os lados.

Apontei a arma na direção de quem havia nos puxado, Ressler fez o mesmo, mas era apenas um garoto negro e magro, que estava desarmado.

—Não atirem, por favor. –Pediu.

—Quem é você?

—Pedro. O que estão fazendo lá fora? Querem ser mortos?

—Estamos procurando por uma pessoa. –Peguei meu celular, procurando uma foto de Reddington. –Você viu esse homem?

—Sim, sim! Ele me deu dez pratas só porque peguei o chapéu dele que tinha caído. –Ressler e eu trocamos um olhar rápido.

—E onde ele está agora? Você sabe?

—Os Chefões o levaram. –Quando viu que não tínhamos entendido, o menino começou a explicar. -São os traficantes, eles mandam por aqui.

—Sabe pra onde o levaram?

—Código vermelho!-Ressler gritou, começando a atirar. Me virei, atirando também, e ficando na frente de Pedro. Os dois homens que haviam investido contra nós caíram mortos. Respirei fundo e sorri.

—Pra quem me corrigiu, você está usando muito meu código.

—Você... Fique quieta. –Me virei para o menino brasileiro.

—Sabe ou não para onde o levaram?

—Sei. –Respondeu, pela primeira vez, reparei que ele usava uma camisa do time de futebol do Brasil. –Eu vi. Perguntei por que estavam o levando, mas ele disse que era melhor eu correr. Aí eu corri.

—Te dou dez dólares se dizer como chegar lá.

—Não sei o que são dólares, mas se for dinheiro, aceito. Sigam-me. - E começou a correr. Bufei e segui o menino. Ressler correu para me acompanhar.

—Acha que ele está falando a verdade?-Sussurrou.

—Não sei. –Respondi no mesmo tom.

—E se ele estiver do lado dos traficantes?

—Vamos ter que arriscar.

Pedro nos guiou pelo labirinto que era a favela com facilidade. Em alguns momentos trocamos tiros com alguns “piões” (como disse o menino) dos traficantes, e em outros tivemos que nos esconder, mas seguimos em frente. Agradeci por ter bom condicionamento físico, ou teria desistido depois de subir três escadas com un quarenta degraus cada. Ressler parecia estar resistido bem.

A troca de tiro do BOPE e dos traficantes ainda não havia acabado, continuou sem interrupções, me perguntei de onde vinha tanta munição para os dois lados.

—Aqui. –Pedro chamou, se escondendo atrás de uma caçamba de lixo. Ressler e eu me abaixamos ao lado dele. –Tão vendo aquele galpão lá?-Fizemos que sim. –O amigo de vocês tá lá.

—Ok. Agora acho melhor você correr. Ah. –Peguei dez dólares no bolso de trás. –Troque por real.

—Valeu, tia!-Sorriu e saiu correndo. Quando me virei para Ressler, ele estava falando com Keen no celular. Guardou o aparelho no bolso assim que terminou.

—Disse onde estamos?

—Sim. –Respondeu. –Vamos mesmo fazer isso?

—Não precisa vir se não quiser. Não estou te pedindo isso.

—E vai entrar aí sozinha?-Dei de ombros.

—Se for preciso... Sozinha e desarmada.

—Você é louca. –Revirei os olhos e me levantei, Ressler me puxou pra baixo, quase me fazendo cair em cima dele.

—O que você...

—Shh. Olha. –Espiei por trás da caçamba, dois homens passaram em volta do galpão, então sumiram da nossa linha de visão. –Com certeza estão cuidando para que ninguém entre e nem saia.

—Posso lidar com eles.

—Não vai sozinha. –Olhei pra ele, desafiadora.

—Vai me amarrar e me arrastar pra fora dessa favela pelos cabelos?

—Não. Vou com você.

—Não disse que era loucura?

—Quer ir até lá ou não?

—Vamos.

Me levantei, junto com Ressler e seguimos para o galpão. Os dois homens retornaram e nos viram perto da porta. Atiramos antes que eles sequer pensassem em reagir.

Reddington estava amarrado em uma cadeira quando entramos, e, para minha não surpresa, ele parecia bem tranquilo e indiferente. Não sei o que esperava, afinal, o cara era um criminoso procurado, além de ser tão perigoso quanto uma cobra e um tubarão.

—Feliz em nos ver?-Perguntei, desamarrando-o.

—Se um dia eu ficar feliz em ver o agente Ressler, por favor, me dê um tiro. –Ri. O motivo da piada não parecia contente.

—Vamos.

—Atrás de vocês. –Me virei rapidamente, pronta pra atirar. Consegui fazê-lo antes que o homem atirasse em Ressler.

—Temos que ir. –Donald disse. –Agora. Lembra do caminho de volta?-Fiz que não.

—Não podemos simplesmente ir. Quem me colocou aqui está na minha lista.

—Traficantes da favela?-Perguntei. –E você veio justamente pra cá?

—Você disse sobre a lista pra gente?-Esse foi Ressler. –Não disse que diria apenas à Keen?-Reddington apontou pra porta. Elizabeth entrou, o rosto sujo e com sangue nas roupas.

—Você está bem?

—Sim. –Respondeu. –O sangue não é meu. Estão todos bem?

—Estaremos quando dermos o fora.

—Então vamos.

A descida foi difícil, o galpão ficava no ponto mais alto da favela, e foi difícil chegar lá embaixo. Eu estava começando a me cansar, mas não disse nada. Quando finalmente encontramos o resto da equipe que o FBI tinha mandando (inclusive Meera) e o BOPE, começou a chover de leve. Havia alguns corpos pela rua. Um deles chamou minha atenção. Uma criança, ou melhor, um menino. Ao chegar mais perto, pude reconhecer. Pedro. Fechei a mão em volta da arma, indignada. Se encontrasse o responsável pela bala que matou o garoto, atiraria na cabeça do infeliz.

—Vamos vazar!-Cruz gritou.

—Não terminamos ainda. –Reddington avisou, olhando Comandante com um pouco de desprezo. –Mas você e sua equipe não são mais necessários.

—Ah, não?

—O FBI pode cuidar disso. –Avisei. –Obrigada pela... Ajuda. –Acenei. –Sigam em paz. –Cruz olhou pra mim, de modo feio, então seguiu com o resto de seu batalhão pra fora da favela.

—Qual é o plano?-Meera perguntou, eu meio que fiquei surpresa por vê-la ali também, era fácil esquecer que ela tinha vindo da CIA.

—Temos criminosos da lista pra pegar.

—Os homens que me sequestraram. –Reddington disse, andando até o corpo de Pedro. Por um momento pareceu triste, então se virou, a expressão mudando.

—Não podemos esquecer de que você pra cá de boa vontade. –Ressler disse, se sentando na calçada, me joguei ao lado dele.

—Claro, claro, fui eu quem me amarrou naquele galpão.

—Mandei uma equipe nossa subir atrás dos traficantes. –Meera disse, olhando em volta.

—E o que fazemos aqui?-Perguntei, recarregando a arma. –Estamos perdendo a ação.

—Ressler e você já fizeram o suficiente. –Revirei os olhos.

—Então acabou?-Keen perguntou. –Podemos ir embora agora?-Olhei pra ela, que verificava o celular, com certeza estava preocupada com o marido. Era por essas e outras que eu não me envolvia com ninguém. Se fosse para ser grudenta e precisar ficar o tempo todo com alguém, eu ia surtar.

—Podemos. –Reddington respondeu. –E você pode voltar ao Tom. –A agente revirou os olhos e entrou em um dos carros.

Estendi a mão para Ressler, que me puxou pra levantar, então sorri.

—Fazemos uma boa dupla. –Foi tudo o que eu disse, e o deixei para trás.