Percebi algo errado assim que entrei na base, naquela manhã. Todo mundo parecia nervoso e agitado, além de muitos estarem andando de lá pra cá sem parar. Alguns falavam em telefones rapidamente, impossibilitando qualquer informação de sair quando me aproximei.

Encontrei Meera no meio daquela bagunça e fui até ela.

—O que está acontecendo?-Perguntei.

—Cooper desapareceu. Achamos que foi sequestrado.

Sequestrado?

—Sim.

—Caramba, isso é ruim.

—Com certeza. –E saiu, pegando o celular e mandando ordens para todos os lados.

Fui até a sala de Ressler, ele falava ao celular, também, e digitava alguma coisa no computador. Esperei ele terminar a conversa para me manifestar.

—Todo mundo está surtando.

—O diretor assistente desapareceu, Jenna, o que esperava?-Perguntou, sem parar de digitar.

—Precisam de alguém nas ruas?

—Por enquanto não.

—Ok. Quem está no comando agora?

—Meera. Ela quem está ajeitando tudo agora. –Cruzei as pernas, pensando.

—Acha que quem sequestrou Cooper?

—Como é que eu vou saber?

­-Preciso de alguém nas ruas. –Meera disse, colocando apenas a cabeça pra dentro da sala. –Jenna.

—Pode deixar. –Murmurei, me levantando.

—Você vai sozinha?-Ressler perguntou, Meera deu de ombros e saiu.

—Qual o problema agora? Com medo de que eu atire na cabeça de alguém?

—Pra falar a verdade... Sim. –Revirei os olhos.

—Então vem comigo.

Meera queria que verificássemos a casa de Cooper. A família dele tinha sido transferida e estava sobre proteção do FBI. Ressler e eu entramos na casa. Eu, com a mão na arma do tempo todo.

Fiz um gesto, pedindo que Ressler verificasse o segundo andar, enquanto eu vasculhava o primeiro. O agente acenou com a cabeça e subiu as escadas, sacando a arma.

Não havia ninguém no andar de baixo. Não achei nada suspeito, então parei. Havia um pedaço de charuto caído na lareira, que no momento estava apagada. Me aproximei, mexendo no achado com a ponta da arma. O símbolo dourado no charuto era familiar. Era da mesma marca de charutos que Reddington usava.

—Filho da mãe. –Murmurei. –Sabia que uma hora ia bobear.

—O segundo andar está limpo. –Ressler avisou, aparecendo atrás de mim. –Achou alguma coisa?

—Na verdade... Achei sim. E também achei um suspeito.

—Onde?

—Bem aqui. –Apontei para a lareira. Ressler franziu o cenho.

—Como assim?

—Vem aqui. –Se aproximou. –Está vendo esse charuto? É da mesma marca de Reddington usa. Cooper não fuma, então temos um problema aqui.

—Acha que Reddington teve algo com o sequestro?

—Se eu acho? Eu tenho certeza. Vamos, temos que achar Raymond e arrancar respostas. –Me levantei, colocando a arma no coldre. Quando estava quase na porta principal, a mesma abriu com violência e três homens entraram. Me joguei para a sala, puxando Ressler comigo. –Mas que merda!

A troca de tiros começou. Eu estava mirando na cabeça, mas era difícil acertar tendo que me esconder ao mesmo tempo. Os caras não eram burros, e tinham armas grandes e pesadas. Quando esgotei minha munição, assim como Ressler, montei um plano.

—Tudo bem, nos rendemos!-Gritei. Os tiros pararam. Joguei minha arma para o corredor, ela deslizou e bateu na parede. Arranquei a arma das mãos de Ressler, fazendo o mesmo. Ele olhou pra mim como se eu fosse louca. –Apenas faça o que eu fizer. -Me levantei, as mãos erguidas, e segui para o corredor. Os três atiradores se aproximaram. As armas apontadas para nossas cabeças. –Não atirem, faremos o que vocês mandarem.

—Pro chão!-Um deles gritou, olhei pra Ressler e me abaixei.

Antes que meus joelhos tocassem no piso, eu me impulsionei pra frente, agarrando o atirador que estava na minha frente. Ele caiu em cima de outro, e Ressler avançou no terceiro, acertando um belo soco nele. Peguei a arma do primeiro que derrubei e apontei pra ele.

—Pra quem vocês trabalham?-Perguntei. Os dois que estavam conscientes trocaram um olhar breve, que eu conhecia bem. –Não!

Em perfeita sincronia, ambos morderam uma pílula de cianureto, morrendo em segundos. Chutei o corpo do atirador perto de mim e xinguei em todas as línguas que conhecia.

—É bom tirar a pílula daquele ali antes que ele acorde e se mate também. –Avisei.

Deixei a arma de lado e vasculhei o bolso dos dois homens, não havia nada em nenhum deles. O terceiro também não tinha nenhum objeto consigo. Me afastei, esperando Ressler terminar de falar ao telefone.

—Como sabia o que eles iam fazer?-Perguntou.

—Por que eu já estive em várias situações assim. Felizmente não precisei usar a maldita pílula. –Ressler olhou pra mim, atentamente.

—Teria coragem de se matar?

—É isso ou ser torturada. É assim que funciona.

Tivemos que esperar uma equipe chegar, antes de sairmos. Ressler ficou, mas eu não podia, tinha algo urgente para fazer.

—Cadê o Reddington?-Perguntei.

—Na sua sala de treinamento. –Meera respondeu.

—Obrigada.

Cruzei o corredor, pegando a arma e entrando na sala. Reddington estava lá, sentando, falando ao telefone, desligou assim que me viu.

—Algum problema, Mhoritz?-Perguntou. Encostei a arma na cabeça dele, ele nem se abalou.

—Você mandou sequestrarem Cooper. Você mandou três caras matarem Ressler e eu. Você.

—Não sei do que está falando.

—Vamos recapitular. Você, cansado das regras de Harold, mandou que o sequestrassem, você estava na casa dele, encontrei um dos seus charutos lá. Então, quando soube que Ressler e eu íamos até a casa, mandou três amiguinhos seus nos matarem. Por que, Raymond? Havia mais provas lá contra você?

—Tem uma imaginação muito grande, Jenna.

—Sabe o que vou fazer, Red? Estourar seus miolos, sem dó nem piedade.

—Se atirar, - Keen disse parada atrás de mim. –eu atiro também. Tenho sua cabeça na mira.

—Não teria coragem.

—Experimenta. –Nem me movi. Keen não tinha me intimidado. –Abaixe a arma, Jenna.

—Não.

—Jenna, abaixe a arma agora.

—Ela vai te matar. –Reddington avisou. –Você mexeu com a pessoa errada, Dangerous.

—Não quero ter que repetir. Abaixe a arma ou serei obrigada a atirar. E eu não quero ter que fazer isso. –Respirei fundo. Queria estourar a cabeça de Reddington, isso era certo, mas não precisava que Elizabeth fizesse o mesmo comigo. –Seja lá qual for o problema, vamos resolver.

Encostei no gatilho, mas não atirei. Abaixei a arma lentamente, colocando-a no coldre e fazendo gesto de rendição. Keen suspirou aliviada, e abaixou a própria arma.

—Agora podem me dizer o que aconteceu?-Perguntou.

—Jenna acha que sequestrei Harold. Mas eu não fiz isso.

—Prove. –Desafiei.

—Estive com Lizzy a manhã toda. Pode perguntar. –Olhei para a mulher atrás de mim, que assentiu.

—Mas esteve na casa de Harold.

—Sim. Isso foi bem cedo. Estava falando de você. –Estreitei os olhos na direção dele.

De mim?

—Por mais que eu soubesse do Projeto Dangerous, eu não tinha informações completas e nem detalhes. –Deu de ombros. –É um assunto que me interessa. E é bem intrigante, como seu problema psicológico.

—Não tenho um problema psicológico.

—Ah, tem. Tem sim. E é bem grave. –Cruzei os braços. A vontade de atirar nele voltou com força total. –Mas não se preocupe, todos temos nossos problemas. Um dia você vai entender isso. –Se levantou. –Lizzy, vamos falar com Meera. E você... -Olhou pra mim. –Controle-se.

Os dois saíram da sala. Tirei o casaco, enfaixei as mãos, e comecei a acertar um saco de areia no canto da sala. Podia ouvir o caos que agência continuava sendo, e isso me preocupava. Era como se fôssemos um castelo de cartas que estava desmoronando. Harold fazia parte da base. Se perdêssemos mais alguém (Meera, por exemplo) as coisas iam ficar bem piores.

Estava acertando o saco de areia, quando alguém entrou na sala. Olhei por cima do ombro, Ressler. Parei e me virei, vendo que a expressão dele não parecia nada boa.

—Aconteceu mais alguma coisa?-Perguntei, limpando o suor do rosto.

—Não. Meera está mandando pra casa todos que não estão investigando. Você pode ir se quiser.

—Você vai ficar?

—Estou ajudando. –Coloquei as mãos na cintura.

—Tem alguma coisa errada, Ressler? Você parece... Sei lá.

—Preciso te contar uma coisa.

—Fala. –Olhou pro chão, então voltou a me encarar.

—Matei Karl Ignez. –Era o nome do assassino dos meus pais.

—O que?

—Você não deve ter visto, tinha acabado de cair, quase inconsciente, depois de levar aquele tiro...

—Por que o matou?

Esperei pela resposta, impaciente e com o coração batendo cada vez mais rápido, algo estranho. Ressler olhou mais uma vez pra mim, então saiu da sala.