Tinha um celular tocando. Por puro reflexo estiquei o braço na direção do som e agarrei o aparelho, até notar que não era o meu.

—Ressler. –Murmurei, me virando e cutucando o ombro dele. –Seu celular. É a Meera. –Ele disse algo incompreensível e se mexeu. –Se eu atender, vão estranhar. –Suspirando, pegou o celular e se sentou, atendendo.

Olhei em volta, não estava em casa. Então lembrei que tinha ido para o apartamento de Ressler na noite anterior.

Alcancei minhas roupas no chão. Estava incrivelmente cansada, mas sabia que havia muito trabalho a fazer, principalmente pela cara de Ress, falando com Meera. Tinha alguma coisa acontecendo.

—Mataram Red?-Perguntei assim que a conversa acabou.

—Não teríamos tanta sorte. –Ri.

—Então que merda deu agora?

—Tem um cara ameaçando detonar algumas bombas no centro. Temos que ir pra lá. –Suspirei.

—Prefiro lidar com a lista de Raymond.

—Eu também. –Me levantei, começando a me vestir, Donald fez o mesmo.

—Putz.

—Que foi?-Tentei me concentrar em vestir a blusa, para não rir.

—Que bom que ninguém verá isso aí. –Apontei para a parte inferior das costas dele. Um arranhão enorme. –Foi mal.

—O que podia esperar de uma Dangerous?

—Ei. –Riu. –Vamos, antes que aquele doido exploda os Estados Unidos.

Quando chegamos, o caos estava armado. Mas um caos controlado. O trânsito estava parado, bloqueado por diversos carros, alguns pertencentes ao FBI. Keen estava lá, falando com alguém no celular.

—Lista do Red?-Perguntei, parando ao lado dela. Fez que sim.

—Amon Kamir. Ninguém consegue convence-lo a mudar de ideia e se entregar. Está com o controle das bombas na mão e parece decidido.

—E vai explodir grande parte dessa rua se não for impedido. –As bombas eram coisas enormes. Pareciam ovos gigantes, brancos e com umas partes transparentes, mostrando fios e coisas estranhas. –Nunca vi uma bomba assim.

—O poder de destruição deve ser enorme. –Ressler comentou.

—Qual é o plano?

—Não pense nisso, Jenna. –Olhei pra ele.

—Pensar no que?

—Em fazer algum plano maluco e ir até lá. –Sorri.

—Você me conhece tão bem. –Olhei em volta, tentando ter uma noção geral do que estava acontecendo. –Amon está cercado, isso é fato, mas estamos fazendo um semicírculo. E há uma grande área atrás dele, com árvores. Eu podia...

—Não.

—Ress, eu nem terminei de falar!

—Mas eu sei que vai fazer. Ir até lá.

—É, é o que eu ia fazer.

—Vou trancá-la no meu porta-malas se tentar. –Suspirei. Lidar com Ressler não seria fácil.

—O que vamos fazer? Esperar alguém subir no telhado e dar um tiro na testa desse cara? Se ele está na lista de Reddington, precisamos pará-lo. E agora. Ele parece cada vez mais pilhado e decidido. Vai explodir o quarteirão todo! Vou até lá.

—Não é seguro, Jenna. –Elizabeth disse, tentando soar razoável. Ela no mínimo previu que Donald ia começar a gritar comigo a qualquer momento. –Ele pode vê-la e explodir tudo.

—Então me faça um favor, Keen. Tire todo mundo daqui.

—Jenna, não faça isso. Sério.

—Tarde demais. –Me preparei pra ir. Ressler agarrou meu braço. A noite anterior piscou na minha mente. –Donald...

—Estou falando sério. –Avisou. –Vou jogá-la no meu porta-malas e te trancar lá.

Surpreendendo Keen e até o próprio Ressler, eu o puxei para perto e o beijei. Peguei uma das algemas que estava presa no bolso dele e a prendi em seu pulso, em seguida no carro atrás dele.

—Desculpe. –Pedi, o soltando. –Mas tenho mesmo que ir.

—Jenna!

—Keen, se solta-lo, eu te mato. –Agarrei a chave e joguei pra ela. –Se aquele doido ativar as bombas, solte Ressler.

—Jenna!

Me virei e corri pra longe da cena, dando a volta em uma série de árvores e uma estátua.

Era uma das minhas loucuras, claro, mas acima de tudo era o instinto de Dangerous falando mais alto que a razão.

Amon mantinha o controle na mão direita, apertando-o tão firme que podia quebrá-lo. Se eu o empurrasse, ele podia apertar o botão e ativar as bombas. Tinha que pegar o controle, e cuidar para não ativar eu mesma aqueles “ovos gigantes” e explosivos.

Eu sabia que Ressler devia estar xingando tanto quanto um marinheiro bêbado (me xingando na verdade) e que queria me arrastar pra longe pelos cabelos, mas me obriguei a me concentrar no terrorista que devia deter.

Amon não me ouviu chegando, pois em volta havia uma gritaria dos infernos. Agarrei a mão direita dele, acertando a parte de trás dos joelhos dele derrubando-o. Peguei o controle com cuidado. Era de mentira.

—O que? Mas... –Então, houve um “click”, e as bombas estavam ativadas. Olhei na direção de Ressler, que já estava solto e de pé. Algemei Amon, puxando para longe das bombas. Uma equipe correu e pegou o terrorista, levando-o dali. –Tem algo errado.

—Corram!-Keen gritou, pegando o celular.

Acho que nunca corri tanto. Havia poucos segundos para fugir, antes das bombas arrasarem o local.

Me joguei no banco do carona do carro de Ress, que acelerou para longe. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Amon não ia detonar as bombas, outra pessoa ia, e as ativou.

Quando comecei a encaixar as peças, houve um estouro alto, atrás de nós.

O carro capotou com o impacto, caindo de ponta cabeça. Minha primeira reação foi ver se Donald estava bem, então sair do carro. Keen já tinha saído do dela, e tinha um corte feio no braço. Ela estava olhando na direção das bombas.

O chão estava negro. Árvores próximas pegavam fogo. Carros eram montes amassados, e pessoas uma mistura de roupas rasgadas e pele queimada. Era o caos completo.

—Jen. –Ressler chamou, me virando para ver se eu tinha me machucado.

—Isso é um código vermelho, não é?-Perguntei. Ele fez que sim.

Tiros começaram a ser disparados. Um agente que estava perto de nós caiu, havia sido acertado no peito. Ressler, Keen e eu nos escondemos na lateral de um prédio.

—Mas que merda é essa?-Gritei, puxando a arma do coldre. –O que está acontecendo aqui afinal?

—Não sei. –Ressler respondeu. –Apenas atire em quem atirar em você.

Havia atiradores nos prédios. Todos com roupas escuras e máscaras cobrindo o rosto. Eles não eram do FBI.

—Quem são esses caras?-Perguntei, procurando um ponto algo e cego para ficar e atirar melhor nos alvos. –Acham que é um atentado?

—Que outro motivo isso teria?-Keen retrucou, se esquivando de um tiro. –Me digam que não há apenas três de nós.

—Não vi mais ninguém depois que tudo explodiu. –Ressler disse. –E Mirandes acabou de cair morto.

—Ah, legal. –Murmurei, acertando um tiro em um dos mascarados. –Precisamos de reforços. E de armas maiores e mais potentes. –Suspirei, me escondendo na proteção do prédio. –Vamos ficar horas aqui. Ei, quem é você?-Apontei a arma para o garoto que havia se aproximado.

—Reddington mandou isso. –Disse, fazendo gesto de rendição, largou a mala no chão.

—O que tem aí?

—Armas e munição. –Se afastou, sumindo rapidamente. Puxei a mala pra perto de mim e a abri.

—Caraca. Raymond invadiu a base da Conrad? Olha isso. –Puxei a primeira arma longa que vi. –Gostei disso. –Coloquei a munição nela e empurrei a mala para Keen e Ress. –Peguem.

—De onde ele tira essas coisas?-Ressler perguntou.

—Ele é Raymond Reddington, acho que isso deve significar algo.

Com isso a troca de tiros foi mais fácil para o nosso lado, mesmo assim precisamos de reforços. Logo, mais de vinte agentes armados se juntaram à nós, num completo código vermelho.

Mais tarde, quando todos os mascarados estavam mortos ou capturados, nós voltamos a base para lidar com Amon.

Keen teve que fazer uma parada obrigatória na enfermaria para enfaixar o braço machucado, então Ressler e eu fomos com Meera.

—Seu nome não aparece nos nossos arquivos. –Malik começou, sentando na frente de Amon. Ress sentou ao lado dela, enquanto eu fiquei parada na frente da porta, de braços cruzados. –Então quem é você?

—Ele me obrigou. As bombas... Ele... Hã... Como fala... Chefe. –E aí disse outras palavras que não eram em inglês. Meera olhou pra mim.

—Acho que ele não fala nossa língua muito bem. –Comentei. Me aproximei da mesa. –Pode falar em sua língua, eu entendo.

—Ele mandou. Disse que me mata se eu falar.

—Quem mandou?

—Calair Rodaf.

—Calair?

—Quem é Calair?-Meera perguntou.

—Um empresário sírio muito famoso no submundo do crime. A Dangerous estava de olho nele como próximo alvo. Mas... Não conseguimos caçá-lo.

—Por que Amon disse o nome dele?

—Estou tentando entender. Amon, por que Calair mataria você? Qual a ligação dele com as bombas?

—Ele quis. –Murmurou, quase incompreensivelmente. –As bombas, a Companhia Rodaf faz.

—Estão fabricando bombas?

—Bombas para explodir seu país.

—Droga. –Olhei rapidamente para Meera, dando a entender que a coisa estava feia. –Eram as únicas bombas, as de hoje?

—Era um aviso. Para não se meterem com a empresa dele. Disse que se continuarem investigando, explode aquela... Casa muito grande, branca. –Franzi o cenho. –Aquela do seu líder.

—A Casa Branca.

—É. Ele mandou aviso. Seu líder não ouviu. Agora seu líder ouve.

—Calair plantou outras bombas?

—Ainda não. Mas se não o deixarem em paz, ele explode mais do que rua. Explode todo seu país.

***

—Então Calair Rodaf está sendo investigado, e como repreensão, começou a fabricar bombas para ameaçar os Estados Unidos?-Ressler perguntou.

—Sim. –Respondi. –Calair não quer ninguém em cima dele. Há anos sabemos que ele vem fazendo coisas ilegais, só não sabíamos o que era.

—Mas quem está o investigando?-Olhamos para Meera.

—A CIA. -Ela respondeu. –O caso passará para eles agora. Amon será transferido para eles.

—Eles sabem pegar o caso, mas não sabem impedir que merdas aconteçam. –Reclamei. –Eles deviam ter pegado o caso quando Amon estava com aquelas bombas na rua.

—Não tínhamos como saber que tudo estava ligado à Calair Rodaf.

—Ainda não entendi como isso está na lista de Reddington. –Ressler disse.

—Calair está na lista. –Keen disse, ajeitando as faixas no braço ferido. –Mas se o caso vai para a CIA, perderemos a chance de prendê-lo.

—Não será necessário o esforço, agente Keen. –Raymond avisou, se aproximando. –Calair Rodaf acaba de ser assassinado no Egito.

—O que?

—A informação procede?-Meera perguntou a Aram. Ele digitou algo rapidamente no computador.

—Sim. –Respondeu. –Mas não há detalhe algum. Acho que a CIA está envolvida.

—A CIA?-Murmurei, achando graça. Reddington notou. –É, deve ser.

—Vou entrar em contato com eles. –Meera disse, e saiu. Eu ainda estava tentando não rir quando Keen e Red se afastaram, e Ressler se aproximou de mim.

—Por que está rindo?-Perguntou.

—Nada. –Respondi. –Só... Nada. Deixa pra lá.

Esses inocentes. Quando iam perceber que de amigável Red tinha só alguns momentos? Estava na cara que ele havia mandado matar Calair. Bom, parece que só eu percebi, então era melhor ficar de boca fechada.