DUAS SEMANAS DEPOIS
—Duas tentativas de assassinato no mesmo dia, e você continua de pé. –Meera comentou. Estávamos esperando Lizzy e o novo nome da lista. –Você é mais forte do que parece, Mhoritz.
—Sou praticamente imortal. –Brinquei. Elizabeth chegou. Ressler e Cooper se aproximaram. Hora de trabalhar.
—Quatro agentes foram mortos recentemente. –Keen começou. –De acordo com Reddington, não é coincidência. Ele diz que há uma lista. Uma lista de agentes que “precisam” ser mortos.
—Parece que criminosos gostam de listas.
—Temos dois endereços para verificar. Dois suspeitos. Matias Gillian, e William Marks. Reddington acha que estão envolvidos nisso, já que há uns dez anos foram acusados de um homicídio triplo de agentes federais.
—Certo. –Cooper disse. –Ressler, Keen, quero os dois atrás de um dos suspeitos. Mhoritz, Malik, vocês vão atrás do outro. Encontrem essa lista, antes que mais alguém morra.
Pegamos os endereços e saímos, nos separando pouco depois.
Meera dirigiu, enquanto eu tentava me concentrar apenas no caso, e não nas tentativas recentes de assassinatos contra mim.
—Acha que quem tentou te matar, o fez por que está nessa lista?-Olhei para Meera, considerando o que ela disse.
—Pode ser. Não sei. Tenho tantos inimigos... Talvez seja. Vamos descobrir em breve.
Chegamos ao endereço quase uma hora depois. Era um casa de dois andares, pequena, afastada das demais. Floresta a cercava. Nos fundos, um galpão.
—Vou verificar lá atrás. –Meera disse, saindo do carro. –Você olha a casa.
—Qualquer coisa, grite. –Assentiu.
Entrei na casa. Estava mergulhada em silêncio. Verifiquei cômodo por cômodo, atenta caso alguém estivesse escondido, pronto para atacar. Não encontrei nada, então parei. No teto, uma pequena corda estava pendurada. Analisei bem, vendo que havia um quadrado recortado ali. Era uma subida para o sótão.
Puxei a corda, fazendo a escada descer, então subi, a arma mirando, sempre na frente. Não havia ninguém ali, mas estava muito escuro. Ascendi a luz, e dei um passo para trás.
Uma das paredes tinha uma série de fotos, e nomes abaixo delas. Eu não reconheci a maioria das pessoas, mas algumas sim. Meera Malik. Harold Cooper. Donald Ressler. Elizabeth Keen. Alguns outros nomes pareciam vagamente familiares, assim como alguns rostos. Eu não estava ali. Não era alvo daquilo tudo.
Algumas fotos estavam riscadas. Eram dos agentes já mortos. Espiei pela janela. O galpão parecia morto. Nenhum sinal de movimento. Ele sequer era muito grande. Por que Meera estava demorando tanto?
—Merda. –Murmurei, começando a correr.
Era só o que faltava. Meera ter sido pega. Parei na frente da porta do galpão. Malik não podia estar morta.
Empurrei a porta, alguma coisa acertou minha cabeça, me mandando pro chão.
***
Meus ombros e braços doíam. Abri os olhos e olhei pra cima. Eu estava pendurada no teto, os braços presos por correntes grossas. Abaixo de mim, Meera estava caía, não muito longe.
—Meera!-Gritei. Sem resposta. Pelo menos estava respirando.
—Não sei quem é você. –Um homem apareceu na minha linha de visão. Matias Gillian. –Não está na lista. Agente Perez?
—Não. O que fez com ela?-Apontei com a cabeça na direção de Meera.
—Nada, ainda. Ela está na lista.
—Quem fez a lista?
—Acha que vou falar? Não sou idiota. –Ergueu a arma que segurava. –Não está na lista, mas uma agente federal a menos no mundo resolve muita coisa.
Mirou para atirar. Mas caiu. Malik estava atrás dele. Suspirei aliviada. Viva e bem.
Ela correu para onde longe da minha linha de visão, e logo eu estava sendo colocada de volta no chão. Soltei meus pulsos da corrente e os esfreguei. Quase não sentia minhas mãos.
—Você está bem?-Perguntou.
—Sim. E você?
—Sim. Vamos, precisamos avisar os outros. –Me ajudou a levantar.
Fui pra porta, Malik me seguiu. Abri e fechei as mãos, tentando fazer o sangue voltar a circular. Quando saí do galpão, ouvi um som alto. Um tiro. Me virei, e segurei um grito.
Meera tinha um buraco na testa. Tombou no chão, morta.
Matias estava sentado, a arma ainda em mãos, e um sorriso assassino no rosto. Avancei contra ele, desviando de um tiro, e tirei a arma das mãos dele, descarregando a arma no homem.
Me afastei dele. Dois nomes eliminados, de duas listas.
Voltei para o carro, largando a arma no caminho, e peguei meu celular.
—Aram? Pode mandar uma equipe para cá?
—Vocês encontraram o suspeito?
—Sim. Mas... A agente Malik está morta.
Quando a equipe chegou, junto com Ressler e Keen, eu estava sentada na frente da casa de Matias.
A equipe se dividiu, uma boa parte foi para o galpão, e a outra para a casa. Apenas Ressler parou, se abaixando na minha frente.
—Jen...
—Meera... Não é justo. Ela tinha filhas... E... Por que não eu?-Limpei o rosto com a mão, com medo de começar a chorar. –Quando eu pegar o filho da mãe que...
—Jenna, não.
—Alguém a colocou nessa lista. E colocaram você, e Keen, e Harold... Mas eu não. Não estava lá. Aquele desgraçado meteu uma bala na cabeça dela, Ress.
—Jen. –Me levantei, me afastando dele.
—Vou ficar bem. Só preciso ficar... Sozinha.
***
—Agente Mhoritz. –Me virei. Martin estava de braços cruzados, uma expressão nada agradável no rosto. O que ele fazia na base era claro. Veio atrás de mim. –Espero que saiba o que fez de errado.
—E o que eu fiz?
—Matou um suspeito. Um que precisávamos para a investigação.
—Ele atirou na agente Malik. E teria atirado em mim também. Lamento, mas não tive escolha.
—Sim, você teve. Podia apenas imobiliza-lo, ou feri-lo. Mas o matou. E fez isso por impulso.
—Me desculpe, senhor, se eu não consegui pensar, após uma colega levar um tiro na testa, e eu saber que era a próxima. Me desculpe, senhor, por não ser a agente modelo que queriam. Sim, agi por impulso. Sim, descarreguei a arma naquele filho da mãe. Sim, eu sei que essa história não acabou e que vou ser responsabilizada. Apenas espero que espere um pouco. Uma agente acabou de morrer, uma colega de equipe. Será que pode pelo menos esperar?-Me virei e saí para minha sala, sem esperar uma resposta.
Tranquei a porta e me sentei, escondendo o rosto nos braços. Havia sido Meera, mas podia ter sido Ressler, Keen... Meera era uma amiga, também, claro. Não éramos próximas, mas...
Merda. Eu tinha que ter feito alguma coisa. Tinha que...
Alguém bateu na porta. Uma, duas, três vezes. Me chamaram. Fingi não ouvir. Era Ressler.
Eu só precisava ficar sozinha um pouco. Só isso.
***
Quando finalmente saí da minha sala, Cooper me obrigou a falar com a Friedman. Tentei recusar, mas o olhar que ele me deu, me fez mudar de ideia e calar a boca. Enquanto ia à pequena sala, o ouvi discutir com Martin. Ao que parece, o filho da mãe queria que eu fosse afastada, ou até mesmo demitida. Harold bateu o pé, e disse que ali quem mandava era ele, e que eu ia continuar lá.
Friedman agendou consultas com Keen, Ressler e Aram. Parece que na opinião dela, todo mundo podia surtar. Se isso era verdade eu não sei, só sei que eu podia surtar mesmo.
A morte estava batendo na porta, querendo entrar a qualquer custo. Meera havia sido a gota d’água. Muitos próximos de mim estavam morrendo. Isso devia significar alguma coisa.
***
—Levante desse sofá, Mhoritz, agora. –Reddington mandou, sem humor algum. O ignorei. Eu sequer podia ficar curtindo minha depressão em paz. Ele tinha que vir atrás de mim.
—Por que você não vai falar com Lizzy?
—Por que ela não está entrando em depressão. Agora levante-se.
—Você não entende, não é? Os Mhoritz, Luke, Paul, Ivan, Daniel, Maria, Adrian, Aline, Demetri, Meera... Não aguento mais isso. Não dá, Red. Está todo mundo morrendo. –Fechei os olhos. –Vou ficar maluca.
—Pense em outra qualquer, qualquer outra coisa. –Suspirei, minha cabeça selecionando algo aleatório.
—Harold disse que quatro agentes foram responsáveis por criar o Projeto Dangerous.
—Sim, eu sei. Fui um dos quatro. –Me sentei num pulo, olhando pra ele do jeito mais incrédulo possível.
—Que? É brincadeira, não é?
—Nunca soube que eu fui um homem da lei? Estou decepcionado.
—Ai meu Deus. Isso não é sério.
—Três colegas e eu planejamos tudo. O Projeto Dangerous deveria ter sido iniciado muito antes, mas ninguém o aprovou. Anos depois de eu sair, eles decidiram iniciar.
—Então você já fez parte do time dos mocinhos?
—Já.
—Não consigo acreditar nisso, nem um pouco.
—Imagino que não.
—É muita informação. Caraca.
***
As filhas de Meera estavam chorando. Mantive a cabeça baixa, tentando bloquear o som. Não era apenas a morte de Malik que estava me afetando, e sim as diversas mortes que tinham acontecido ao decorrer do tempo. Se mais alguém próximo a mim morresse... Eu ia surtar.
Cruzei as mãos. Malik era legal. Eu vivia falando mal dela no tempo que substituiu Cooper, mas a mulher fez um bom trabalho, aguentou firme enquanto muita gente (Martin!) tentava tirá-la do cargo.
Olhei para o que sobrou da nossa equipe. Aram também mantinha a cabeça baixa, mas porque estava chorando; Keen estava distante, a mente em outro lugar, ela estava cheia de problemas ultimamente; Ressler parecia muito triste, olhando na direção do caixão. Alcançou minha mão, sem olhar pra mim. Eu estava lá naquele dia. O ouvi falando com Keen que poderia ter sido eu. Isso o tinha afetado. Eu sabia que ele iria se opor mais ainda se as missões fossem perigosas para mim.
Ele ia ter que entender que era um risco ocupacional. Impossível de ser evitado.
Era o meu trabalho, e se eu morresse em ação, ia ser uma honra.