Dance For Me

Capítulo 02 - PRÓLOGO II.


Nova Iorque, 2010.

— Garota você arrasou!

Lanie entra animada no camarim de sua amiga. Um sorriso orgulhoso no rosto. Kate realmente tinha talento! Se ela não soubesse o quanto era boa podia apostar que sua amiga tinha dançado melhor do que ela mesma.

Kate a olha com cara de poucos amigos. Um sorriso fraco em seus lábios enquanto vestia uma blusa, ela precisava cobrir seu corpo com alguma coisa.

— O que houve? – Lanie se aproxima da amiga, que estava sentada de frente a sua penteadeira cheia de luzes amarelas ao redor do espelho. – pensei que estivesse contente. Você viu o quanto ganhou? Isso foi apenas uma noite. – ela diz tentando alegrar a amiga.

Kate a olha novamente pelo reflexo do espelho. Ela não queria estar ali. Não queria dançar para homens praticamente nua. Mas ela precisava. E graças a Lanie, ela tinha um trabalho que pode pagar por sua comida.

— Como você consegue? – Kate perguntou ao se virar para a amiga, olhando-a nos olhos. – Como você consegue trabalhar assim? Conviver diariamente com homens que você sabe que sente prazer ao te ver. Como você consegue lidar com aqueles caras que sentem desejo com você? Que te pagam por isso...

— Kate... – Lanie começa devagar, puxando a cadeira ao lado da penteadeira de sua amiga. – eu achei que você quisesse ganhar dinheiro rápido... e esse é o jeito mais fácil...

Lanie sabia o quanto sua amiga detestaria esse trabalho, mas o dinheiro a recompensaria por isso. E não seria para sempre.

— Eu quero. – Kate diz com firmeza. – eu só não sei se vou aguentar isso por muito tempo. – sua voz sai meio chorosa.

Lanie sorriu. Essa Kate que estava aqui não se parecia em nada com a Kate que ela conheceu em um bar. A corajosa e descolada Katherine Beckett.

— Onde está aquela Kate que largou tudo em Seattle para se aventurar?

— Gastou toda a herança da mãe e agora dança nua para viver. – Kate ironizou, se referindo a única coisa que sua mãe lhe deixou e ela teve que vender.

As duas se olharam e depois caíram na risada.

— Me diz que você vai voltar logo. – Kate diz depois que as risadas cessaram.

— Um mês. – Promete a morena, abraçando a amiga.

Depois de um longo abraço Lanie sai, deixando Kate sozinha em seu camarim.

Ela era a melhor amiga que Kate poderia ter. Sim, ela a levou para uma casa shows noturnos para dançar nua para homens que ela não conhece, mas ela estava pensando no seu bem. Desde que fugira de Seattle, Kate não teve mais contato com seu pai. Ele se afundou em bebidas depois que sua mãe morreu, e ela não ficaria lá para vê-lo morrer.

Por mais que amasse seu pai, ela precisava viver. Precisava achar um motivo para viver. Então saiu da sua cidade sem ao menos se despedir, deixando apenas uma carta explicando que um dia voltaria.

Kate largou sua faculdade. Mais um semestre se formaria. Com certeza seria a melhor advogada da cidade. Ela era a primeira de sua classe. O orgulho de seus pais. Mas isso mudou quando sua mãe se foi. As notas caíram e ela virou a rebelde que não pôde ser quando era adolescente. Ela cansou de ser a filha perfeita, de notas perfeitas e, futuramente, uma profissional perfeita. Kate não era perfeita. E ela só queria ser ela mesma.

Kate se olha no espelho mais uma vez e fecha os olhos, soltando sua respiração lentamente. Essa também não era ela. A maquiagem pesada, o aplique em seus cabelos para parecerem mais longos do que já são, os cílios tão grandes que se tornam pesados.

Em um movimento rápido ela se levanta e tira sua calcinha, jogando-a longe. Ela se sentia imunda com ela. Quase podia sentir as mãos de todos aqueles homens lhes tocando. Ela faz uma careta só em lembrar. Kate anda até sua mochila velha e tira sua roupa de dentro, vestindo-a e se sentindo um pouco melhor.

Depois de se livrar da roupa e da maquiagem ela se reconhece no espelho. Essa era a Katherine Beckett de quem ela se lembrava. Roupas compostas. Sem maquiagem. Atitudes nos olhos. Cabelos ondulados e soltos naturalmente.

Pensou em sua mãe, ela não estaria nem um pouco orgulhosa da filha nesse momento.

“Um mês”. Ela repetiu para si mesma, como uma justificativa para sua mãe.

Kate verifica a hora em seu relógio de aparência masculina em seu braço, a única lembrança de seu pai. Pega sua mochila e sai em direção a porta, mas para quando ver seu chefe entrar.

— Bom trabalho hoje. – Josh diz, entregando-lhe uma envelope amarelo. – seu pagamento.

Kate estava relutante em pegar o envelope levemente gordo, mas mesmo assim o faz. Ela agradece com um sorriso e o jovem chefe sai.

Josh era dono do lugar, filho do dono mais especificamente. Segundo Lanie, ele respeitava as mulheres que trabalhavam aqui, não misturava negócios com prazer, e foi exatamente por isso que Kate aceitou esse emprego. Não suportaria passar a noite dançando para homens e depois aturar um chefe tarado.

Ela abriu o envelope e ficou em choque por alguns segundos. Ali era o seu pagamento da noite mais as gorjetas. Quarenta por cento do apurado, esse era o trato. Por alto, ela pôde contar quase dois mil dólares. Lanie já havia alertado a amiga sobre o quanto poderia ganhar em uma noite se fosse boa. E acontece que Kate era muito boa.

Fez suas contas na cabeça. Ela poderia mandar dinheiro para o seu pai, reabastecer a geladeira e ainda pagar o aluguel atrasado. Satisfeita com seu feito, ela guardou o envelope no fundo de sua mochila. Com um sorriso no rosto ela sai do lugar. Kate já havia trabalho de garçonete antes, e dois mil dólares não era nem a sua rendo no fim do mês.

Realmente tinha algo bom em dançar nua.

***

Richard entra em casa se esforçando para não fazer barulho. As luzes apagadas o deixava quase sem visão, não fosse a luz da noite entrar pelas janelas. Tateando os moveis de sua casa, ele consegue chegar até o sofá. Seu corpo cai feito pedra em meio as almofadas confortáveis. Ele abre os olhos e consegue ver o lustre no meio da sala, já que as cortinas abertas deixavam a luz da lua entrar.

Tudo gira.

Richard fecha os olhos com força, pensando na última vez que bebeu tanto assim. Não era difícil de lembrar, já que na noite anterior ele bebeu mais que o normal também. Ele colocou um braço sobre seus olhos, enquanto um gemido saia de sua boca. Seu estômago estava começando a revirar e ele sabia o que vinha em seguida.

“Talvez se eu ficar quieto, não precise sair correndo para o banheiro”. Pensou, com sua lógica esquisita.

E assim ele fez. Ficou imóvel por longos minutos, tentando controlar sua respiração. Sua mente estava presa nesse momento. Ele não poderia passar mal mais uma vez. Ele deveria estar acostumado com essas bebedeiras.

“Eu poderia ser um bêbado normal, que chega em casa e dorme”. Resmunga baixo, quando ver que sua tentativa de ficar bem não funciona.

Richard se senta de uma vez no sofá. Sua cabeça gira. Ele fecha os olhos e suspira, controlando sua ânsia. O que ele precisava era de um banho. E achando longe demais a distância da sala para seu quarto, ele caminha a passos lentos até o banheiro do andar de baixo.

Suas roupas foram ficando pelo meio do caminho.

Os sapatos foram jogados para destinos diferentes.

Richard entra dentro do box do banheiro social da casa, sentindo a agua gelada cair sobre seu corpo, o alertando no mesmo instante. Não pôde evitar eu grito quando a agua caiu sobre seu corpo quente. Em meio a pulos para espantar o frio, ele lavava seu cabelo, deixando o sabão escorregar meu seu corpo.

Seus olhos se fecham e ele parece consciente. A primeira vez desde o acontecido. Seus olhos ardem. Ele poderia culpar o shampoo, por ter caído em seu olho. Poderia culpar a bebida. Mas ele sabia o motivo daquelas lágrimas que se formavam em seus olhos.

Prendendo a respiração, ele coloca seu rosto contra a queda d’água do chuveiro. A agua cai e se mistura com suas lágrimas. Era a única forma de ele conseguir chorar sem se sentir fraco.

Richard não entendia como, mas ele estava triste. Triste por sua vida. Triste por sua mãe. Triste pelo seu futuro. As lagrimas escorriam e ele se permitia sentir a dor. O barulho do chuveiro ocultava os soluções tristes que escapavam do fundo de sua garganta.

— Richard? – ele escuta a voz de sua mãe do outro lado da porta do banheiro.

Ele pega uma toalha e enrola em sua cintura, deixando seu peitoral molhado a mostra. Penteando os cabelos com seus dedos ele abre a porta do banheiro, passando por sua mãe sem olha-la nos olhos.

— Richard meu filho, não me diga que você andou bebendo de novo. – Martha pergunta já em um lamento.

A expressão de preocupação estampada em seu rosto. Seu filho tinha mudado da água para o vinho nos últimos dias.

— Eu saí com o Collin. – ele diz apenas.

Richard caminhava de volta a sala, sem se importar por estar molhando o chão ou estar só de toalha.

— Amanhã você vai para a empresa? – a voz de Martha era de dúvida. Seu filho nunca foi fã de trabalhar na empresa da família.

— Vou. – ele diz se servindo de um copo de água. – Um ano, certo?

Richard se vira para a mãe, confirmando a clausula que exigia que ele ficasse a frente do Grupo Rodgers por um ano.

— Um ano. – ela confirma. – e se você não quiser mais ficar, pode eleger quem você preferir para a presidência.

Richard permaneceu calado, pensativo. Ele já tinha tudo planejado em sua cabeça. Ficaria um ano à frente dos negócios da família e depois deixaria tudo nas mãos de Collin, seu amigo e vice presidente do Grupo.

Ele não iria, de jeito nenhum, deixar que seu pai, mesmo depois de morto, mandasse em sua vida. Ele aguentaria um ano. Depois procuraria outra profissão para seguir, direito nunca foi o seu forte. Se formou-se exclusivamente por obrigação. A tão famosa família Rodgers não poderia ter o único filho em outra profissão. Richard nasceu destinado a ser advogado, mesmo nunca amando isso.

Um ano. Apenas isso e ele seguiria sua vida. Um ano e ele poderia, finalmente, tentar se encontrar.

Um ano.

Nada mais.