O jantar já era. Pelo jeito tem que ser pizza. Mas acho que não gostaram da ideia, só faltam me transformarem em pó com esses olhos raivosos, com exceção do Gustav que só tá olhando para o forno e lamentando. Ele era o que deveria estar mais puto comigo.

- Vão querer ou não? – Falei já sem paciência, sentando em uma das cadeiras.

- Não. – Tom negou.

- Mas é só o que tem, porque a lasanha queimou junto com a bunda da tripa seca. – Disse olhando para eles.

- É mesmo! Vamos comer pizza? – É assim que se fala Gustav, ainda bem que o gordinho salvou minha vida.

- Agora você tá do lado da nanica? – Bill virou-se para o Gustav quase o engolindo.

Ele se espremeu e estreitou o olhar.

- Mas Bill, a lasanha já era. – Tentou se explicar.

- Traidor! – O poste rosnou cruzando os braços.

- Vamos comer pizza ou não? – Sely gritou impacientemente. Ela está muito esquisita.

- É o jeito... – Papai falou e o Tom pegou o celular, discando o número da pizzaria mais próxima.

Resolvemos ficar na cozinha mesmo se distraindo com conversas, observei que a Selenita jogava algo em seu celular – essa bicha é viciada em joguinhos -. Tava tudo muito bom, mas um verme que se chama Bill teve a audácia de estragar a paz que reinava.

- Que bonequinha ridícula. – Ele disse mexendo na minha filha. – Parece a dona.

Ele continuou cutucando a minha bebê.

- Larga minha Jujuby sua lombriga esticada! – Se esse projeto de gente não parar de mexer com a minha Jujuby, eu o mato.

- Juju o que? – Indagou só pra me irritar. Só pode estar pedindo para morrer.

- Jujuby! E não é da sua conta, me dá ela agora! – Exclamei me levantando.

- Mas nem em sonho. – Disse ele mexendo no olho que restava. – Olha... Está faltando um olho nessa coisa de cabelo azul!

Sacudiu a Juh, enquanto ria divertido.

- Me dá minha Juh ou eu meto o garfo no seu olho! – Bradei pegando um garfo na mesa.

- Isso não vai prestar. – A Sely guardou o celular no bolso para assistir o pau.

- Era só o que me faltava, sua nanica, você não chega nem no meu ombro. – Ele disse dando uma risadinha odiosa. Mas tá pedindo pra morrer! Eu preciso de uma ajudinha aqui.

- Mas é agora que você vai ver quantas bananas o macaco come em um dia! Gustav ajuda aqui! – O ordenei.

- Claro! – Subi em uma cadeira e depois nas costas do Gust.

- Minha filha! Desce daí! – Papai gritou, sem sucesso.

- É agora que tu morres pau de enrolar tripa!

Ele saiu correndo pelos ângulos da cozinha até a sala, eu e o Gustav também saímos em disparada, até que o Gustie chegou bem perto do Bill. Pulei no pescoço dele, o fazendo cair no chão, me levando junto. E aquele garfo na minha mão era o perigo.

- Sai, sai menina! Pelo amor de Deus! – Ele segurava meu pulso, mas como meu ódio estava incontrolável, eu conseguia me soltar.

- Me deixa furar seus olhinhos Billyzinho! – Sorri doentia.

- Nem a pau! Alguém me socorre!

- Santa Mãe de Cristo! Tirem ela de cima do Bill! – Georg deu um pulo da cadeira ao perceber a gravidade da coisa.

Larguei o garfo e comecei a apertar o pescoço do Bill, sufocando-o.

- So... Cor... Ro. – Implorava ele, tentando gritar.

- Tom! Salva teu irmão! – Sely ergueu-se do nada de seu assento e berrou com Senhor Trancinha.

- Não dá! Você quer que eu morra, e já é pela segunda vez! – Ele revidou. É agora que o pau come de vez.

- Amy... – Ouvi uma voz adocicada ao meu lado. Parei por uns instantes com a minha tentativa de assassinar o demente. Era o Gust. – Para, por favor.

Ele estava ajoelhado, com seus olhos cintilando. Deu até dó de sua fisionomia. Quanta fofura alojada em uma pessoa só.

- Tá bom. – Saí de cima da sopa de osso e apanhei a minha filha que estava jogada ao lado com seu cabelo azul desgrenhado e sua roupinha preta toda amassada.

- Prometa que nunca mais toca na Jujuby. – O fulminei com o olhar assim que ele também se levantou.

- Eu prometo. – Diz ele com desprezo notável em sua voz.

- Pronto meu bebê, mamãe tá aqui, a lombriga não vai mexer mais com você.

Falei abraçando e acalentando minha pobrezinha sem um olho. Ela necessita de cirurgia o mais rápido possível.

- Doido é doido. – O Ge falou indo ver quem batia na porta.

Hum... É o cara da pizza, tentar matar uma lombriga dá uma fome danada na gente.

- Olha as pizzas. – Ele falou pondo as caixas na mesa.

- Eba, eba, eba! – Eu e o Gustav começamos a dança galinha em meio de macumba.

- Vocês dois, parem de boiolagem. – Tom disse. Mas o que ele acha que é? O machão é?

- Tá bom, senhor Trancinha Kaulitz. – Fiz uma voz de gay e ele atreveu-se a mostrar o dedo do meio pra mim.

Sentamos. Acabei ficando na ponta com uma anta ao meu lado. O Tom sentou-se ao lado da Sely, isso tá ficando interessante. Peguei um enorme pedaço de pizza, sem pensar nas consequências que aquele grande pedaço de massa iria me causar.

- Selena... Você é artista? – Georg perguntou espantado com o prato da Sely. Ela fez um rosto na pizza, e é o Bill.

- Olha! É o Bill! – Exclamei apontando para a face daquela pizza.

- Não, não parece. – Ele abocanhou um bocado de seu alimento.

- Parece sim, seu jumento!

- Cala a boca. – Ele sussurrou furiosamente.

- Só falta o cabelo aboiolado. – Pois é. O cabelo dessa linguiça queimada é ridículo.

- Deixa que eu faço! – Ela proferiu.

Ela levantou-se do assento para pegar algo para completar a figura do poste, mas tropeçou no pé da cadeira e ia caindo com tudo de cara no chão, mas o Tom a segurou. Ele salvou sua vida, ai que romântico!

- Cuidado para não cair Selysinha. – Peraí, deem replay nisso daí. O Tom a chamou de Selysinha? Que intimidade é essa? Tá rolando algo aqui e ela não me contou, vou matá-la.

- Ai, Tom salvando vidas! – Falei batendo palmas.

- Cala a boca nanica! – Ele gritou. Ele tenha educação comigo, se não eu o mato.

- Como se diz? – Cruzou os braços.

- Obrigada. – Ela agradeceu e felizmente pegou o troço para concluir sua obra de arte. – Prontinho.

Sentou-se limpando as mãos.

- Olhem, é uma pizza lombriga. – Meu pai entalou e o Ge cuspiu o suco dele.

- Que nojento.

O cara de mosca morta largou a pizza no prato e esbofeteou minha cabeça. Que porra é essa?

- Hey boy, quem te deu essa permissão? O que eu te fiz? – Massageei o local da agressão.

- Você é nojenta e louca.

Apanhei meu suco da mesa e o despejei sobre sua cabeça. Os pingos escorreram por seu semblante, ele pregou os olhos, bufando. Assim que encerrei a minha ação nada legal, bati o copo na mesa com uma força bruta originando um barulhinho incomodante.

Um silêncio absoluto imperou pela cozinha por uns breves dez segundos. Repentinamente ele bateu seu punho na mesa, enfurecido.

- Chega! Cansei de sua criancice, eu já vou embora. Até amanhã Theodor!

- Bill! – Seu irmão berrou seu nome.

- Fica, por favor. Mais tarde nos vemos, ou só amanhã.

- Aonde vai?

- Pra casa.

- Foi tarde. – Fiz questão de murmurar o suficiente para ele ouvir.

Ele me fuzilou pela última vez e saiu do local, quase abrindo buracos no piso. Só escutamos a porta embater com aspereza.

- Amy! – Meu pai ralhou meu nome.

- O que é?

- Precisava disso?

- Me esquece, ok?

Pulei da cadeira e dei uma olhada para o meu prato. Droga! Eu comi demais!

Saí correndo dali. Na escada os meus pés chocam-se contra os degraus com severidade, eu necessito do banheiro.

Quase arrombei a porta do banheiro, ergui a tampa do vaso e pus o dedo dentro da boca, quase atingindo a úvula, esperando a ânsia de vômito vir.

Só me vi despejando aquela coisa pela boca e ela caindo dentro da privada. Eu me sentia aliviada e infeliz. Fechei a tampa e dei a descarga. Dirigi-me até a pia e a girei, molhei um pouco a palma da mão e limpei a boca, retirando os resíduos nojentos do vômito.

Ao terminar meu ato, fechei apertadamente à torneira e escorei-me na parede, deslizando sobre a mesma.

O que eu estou fazendo? Essa não sou eu.

Continua...