Código Zero

Capítulo 15 - Gehenna, Azazel e a Serpente


Blackgate foi o ultimo a chegar na sala do senhor Manson, e com isso a reunião pode ser iniciada. Notei a presença de uma outra pessoa que ocupava a cadeira do general da área 6. Seria ele um novo general? Pelo que me lembro, não existia nem assistente e nem general dessa área na ultima reunião, havia somente um lugar vago.

Aproveitei o momento em que o general da área 8 se dirigia ao lugar dele e fui tirar minha duvida com shishou, mas ele me olhou como se já soubesse o que eu iria perguntar e foi me respondendo:

- Vou ser bem breve Shion. Ele é Marcus, assistente da área 6. Você não o conhece porque ele estava numa missão durante a última reunião. Agora vamos ouvir o quanto de informações o Hoshitake conseguiu do inimigo.

- Bem vindo de volta Hoshitake - Disse o senhor Manson. - Espero que a sua estada em Gehenna tenha rendido frutos.

- Sim senhor. Sinto dizer que obtive apenas duas informações, mas garanto que elas são importantíssimas.

- Então pare de enrolar e diga logo. Tenho muita coisa pra fazer no laboratório. - Disse Hilda, gentil como sempre.

Hoshitake lançou um olhar de puro ódio para a serpente, mas continuou a falar normalmente.

- A primeira informação é referente à quebra dos selos dos príncipes. Gehenna planeja algo muito grande. Não tive como descobrir o que era, mas ficou claro que ninguém conseguirá chegar perto deles. A segunda informação é sobre Azazel. Ele está desaparecido desde a morte de Blover.

- O quê? - Darkreid berrou. - Quer dizer que o maldito príncipe ainda está vivo? Achei que Blover tivesse morrido ao selar Azazel!

- Ele não foi selado. De fato foi ele quem matou o sexto general, mas depois disso ele simplesmente sumiu. Não se sabe dele nem mesmo em Gehenna. – Falou Hoshitake novamente.

- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA- A rainha começou a rir histericamente - Desaparecido? Agora as coisas estão muito interessantes! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!

- Rhyca, pare de zombar do Blover. – Lewinsk falou com uma feição séria. – Ta parecendo que você achou bom o Azazel não ter sido selado.

- Ou talvez ela saiba de algo e quer nos contar, não é mesmo, Hidelgarde? – Fallman falou num tom provocante.

- Não sei de nada. – Negou a rainha. – Só achei interessante o fato dele não ter sido selado.

- Se não for falar algo útil, guarde sua opinião para si mesma, Rhyca. – A loura disse aumentando o tom de voz.

- Huhuhuhuhu! Parece que alguém que não quer a opinião dos outros, ta querendo opinar sobre o que devo fazer. – A serpente falou venenosamente.

- Parem as duas! – Hammer se pronunciou. – Já temos problemas demais e não precisamos de conflitos internos.

- Voltando ao assunto da reunião, eu gostaria que o líder me indicasse para descobrir o paradeiro de Azazel. – Disse a general da área 7.

- Desculpe Gilliard, mas isso não será possível. – Falou o líder. – Azazel continuará por conta do oitavo esquadrão. Falta muito pouco para que os príncipes sejam libertos e não podemos mudar nossa estratégia agora.

- Se quiser ficar com Azazel, pode ficar. Assim em sobra mais tempo livre para mim. – Blackgate falou enquanto se espreguiçava.

- Essa nova geração não para de piorar, não é? – Disse Gregorius devido a idade avançada. – Sugiro que devemos analisar melhor os dados trazidos pelo Hoshitake. Escutar tudo que ele tem a dizer sobre o que foi visto no covil do inimigo.

- Bem, - Falou o espião. – Sei que eles estão tramando algo grande e que tem a ver com os príncipes. Ouvi uma conversa de que isso iria ajudar a encontrar Azazel, onde quer que ele esteja. Fiquei sabendo que um BARON chamado Hotstriker estava por trás disso, e que a Ordem Zero estava atrapalhando muito, mas ainda estava tudo dentro dos conformes.

Me espantei ao ouvir aquele nome. Pan também se assustou e olhou para mim como se quisesse dizer algo, mas acabei pedindo permissão para falar, e esta me foi concedida.

- Há alguns meses atrás, eu, Pandora e Yan encontramos com esse Hotstriker durante uma missão que fizemos em Frozenshot, cidade onde a general Gilliard selou Leviathan. Encontramos o BARON justamente no local onde o príncipe estava selado e travamos uma luta com o invasor naquele mesmo lugar. Por se tratar de uma caverna subterrânea, o local não aguentou muito e começou a desabar. Saímos daquele lugar e acreditamos que o Hotstriker tinha morrido soterrado por não ter conseguido sair dali. – Fiz uma pequena pausa e fiquei um pouco mais sério ao continuar falando. - Pouco tempo depois, a equipe da área 7 fez uma reforma naquela caverna e percebeu que o príncipe estava em segurança por ter uma espécie de telhado de pedra o protegendo, mas não encontraram nenhum vestígio do Hotstriker. Na época que ouvi isso, achei que o BARON havia usado o resto do seu poder para proteger o príncipe que era precioso para Gehenna, mas de algum tempo para cá venho desconfiando que ele pudesse ainda estar vivo.

- Mas é claro, assistente da área 5. – O mascarado falou num tom de desprezo. – Ele é um BARON que manipula o elemento terra e não morreria por causa de um desabamento de uma caverna subterrânea. – Ele fez uma pausa, virou o rosto em minha direção e continuou falando. – Se foi como eu ouvi você deve ser o manipulador de cartas, não é? O novato, segundo o Hotstriker.

- Novato?! – Pandora falou surpresa. – Como ele poderia saber que Shion tinha entrado recentemente aqui?

- Isso eu não sei. Nunca confiaram muito em mim lá em Gehenna, por isso eu não possuo informações muito consistentes.

- É possível que alguém da organização esteja passando informações para o inimigo não é? - O general Fallman falou, olhando sugestivamente para Hidelgarde-sama.

- Você está querendo insinuar que eu sou uma traidora Fallman? Logo eu, que venho contribuindo positivamente para a organização ao longo desses dez anos...

- Não estou insinuando nada Rhyca, você que está tomando minha fala para si mesma.

- Já falei para acabarem com essas discussões! - O líder falou. - Parecem um bando de crianças! Temos que nos concentrar nos príncipes.

- Como o senhor espera que eu lide com Azazel, se ninguém sabe que fim ele levou? - Blackgate perguntou.

- Se vire Blackgate! - Gregorius respondeu já exaltado. - O que me parece, é que você está fazendo de tudo para fugir da responsabilidade.

- Bem, eu não quero mesmo lutar contra um príncipe... Isso é tão cansativo...

- Como você chegou a se tornar general? - Gregorius parecia exasperado. - Nunca vi alguém tão descansado como você!

Aquela altura eu já estava de queixo caído. Uma reunião que deveria tratar de assuntos de suma importância havia sido reduzida à brigas entre os generais. O senhor Manson nem tentava mais controlar a situação, tinha se sentado e pedido um chá para a senhorita Houkiboushi. Até que o shishou começou a falar, atraindo toda a atenção para si:

- Cavalheiros... E damas, lógico. - Ele disse, dando uma piscadinha para as generais. - Acho que não adianta mais discutirmos nada sobre esse assunto. O dia da quebra do selo já está muito próximo. É tarde demais para criarmos um novo plano de ataque. Teremos que nos contentar com o que já preparamos até agora.

- Vocês já têm alguma estratégia pronta? Eu não preparei nada, o tempo passou tão rápido que eu nem percebi... - Blackgate falou, bocejando em seguida.

- MAS VOCÊ É UM INÚTIL MESMO NÃO É? - Gregorius berrou.

Rapidamente, todos tinham voltado a brigar entre si. Enquanto eu olhava em volta, percebi que Hidelgarde-sama não estava ali. Olhei discretamente para Pandora e ela deu de ombros. Ao que parecia, ela também não sabia do paradeiro da Serpente. No entanto, eu não fui o único a notar a ausência dela:

- Onde está Rhyca? - Fallman perguntou.

- Ela não está aqui? Nem percebi quando ela saiu... - Disse o shishou.

Lewinsk aproveitou que Hidelgarde-sama não estava por perto para falar o que bem entendia sobre ela:

- Não confio nessa mulher. Rhyca merece o apelido que tem, é escorregadia como uma serpente. Lembram da relação dela com Mammon? Elas não lutam entre si. Como vamos saber se ela está do nosso lado?

- Eu também não confio nela. - Disse Fallman - Tenho certeza que Rhyca sabe de alguma coisa sobre Azazel. Devemos ficar de olho nela.

Hammer começou a rir e falou:

- Ninguém "fica de olho" em Rhyca, Fallman. Ela é quem vigia todos nós, procurando uma brecha para destilar seu veneno.

- Acho que ninguém na Organização inteira confia nela. Dizem que até o falecido Lorde Rhyca tomava cuidado com ela. Verdade seja dita, ela é uma pessoa suspeita. - Disse Gilliard.

- Pois eu confiaria minha vida à Hilda. - Shishou falou resoluto.

- Essa sua confiança vai acabar com você Schiffer. Rhyca não hesitaria em te matar para alcançar os próprios objetivos. - Darkreid comentou.

- Conheço Hilda desde os catorze anos. Sei bem como ela é. Ela pode ser desagradável, mas jamais nos trairia.

- Alexis, deixe de ser inocente! – Darkreid falou zombando. – A Rhyca perdeu a credibilidade que tinha quando aquilo aconteceu com o Blover. Não acha estranho ele ter morrido e a Rhyca ter sido encontrada no mesmo local. O príncipe que estava lutando contra ele simplesmente sumiu e ela sequer sabia para onde ele tinha escapado. Depois disso, não houveram noticias sobre Azazel, até agora...

- E tem mais! – Fallman contribuiu com um pouco do veneno que todos compartilhavam contra a Hidelgarde-sama. – Ela tratou a morte do Blover com o maior descaso possível, como se ele não tivesse sido importante na vida dela.

- Queria mesmo que a Rhyca fosse expulsa daqui. – Falou Lewinsk retornando a uma expressão tediosa.

- Minha cara Lewinsk, Hidelgarde não pode ser expulsa porque não há motivos para isso. Assim como eu também não poderia expulsar o Fallman, por exemplo, por vocês não gostarem dele. – O líder se posicionou. – Além do mais, ela é necessária aqui, pois sem ela, estaríamos em grande desvantagem, tanto na questão de força para enfrentar Gehenna, quanto na questão de tecnologia. Muita coisa aqui depende da Hidelgarde e não podemos deixar que problemas pessoais interfiram no nosso trabalho.

- Me desculpe senhor Manson, mas acho que o senhor dá muita importância para ela. – Lewinsk resmungou.

- Bem, não acho que a Hilda seja uma ameaça para nós. Só acho que os métodos utilizados por ela não agradem todos, mas ainda assim, acredito que seja tudo pelo bem da organização. – Hammer finalizou.

As coisas estavam piorando para o lado da Rainha Serpente. Somente o shishou e o Hammer confiavam na Hidelgarde-sama e até agora eu não tinha certeza da opinião do senhor Manson quanto a isso.

O foco da reunião estava indo pelos ares com aquela desconfiança dos generais. Decidi me pronunciar antes que aquilo ficasse mais caótico do que já estava. Pedi licença ao shishou e subi na cadeira dele para que todos prestassem a atenção em mim.

- Com licença. – Comecei meio sem jeito. – Deveríamos estar discutindo nossas estratégias contra os príncipes que estarão libertos em algumas semanas, em vez de discutirmos problemas pessoais. Não importa se A não gosta de B e vice e versa, o que ta valendo aqui é que teremos que nos unir para derrotarmos um inimigo em comum. E não é um oponente qualquer, estamos falando da Gehenna em si. Uma vez que derrotemos todos os príncipes, só existirá o líder de lá acima deles e se nos juntarmos agora, poderemos por um fim definitivo aos planos do Lúcifer e depois disso nós vamos poder brigar até não agüentarmos mais. Mas enquanto isso não acontece, vamos concentrar todas as nossas energias no nosso atual objetivo, que é a erradicação dos príncipes. Uma vez que completarmos essa missão, estaremos um passo a frente de colocar um fim em Gehenna.

Todos olhavam para mim surpresos. Lewinsk fez uma feição desdenhosa e evitou me olhar. Shishou, por outro lado, estava todo saltitante e contando aos quatro cantos que eu era pupilo dele e que não esperava algo diferente de mim.

Hammer pareceu satisfeito com o que falei que deixou escapar um leve sorriso enquanto ele se colocava.

- Acho que o garoto está certo. Vamos parar de agir como bebês chorões e mimados e vamos voltar ao foco desta reunião. Não deixem que um recém chegado nos repreenda na frente do mestre.

O general da área 10 piscou para mim ao terminar de falar, me deixando com vergonha e me fazendo cair da cadeira desajeitadamente. Depois disso, a reunião transcorreu decentemente. Como o shishou já havia dito, não tinha muito o que se fazer, o jeito era confiar nas estratégias que já haviam sido preparadas.

Assim que tudo acabou, Alexis foi o primeiro a cair fora. Eu saí com ele, mas voltei pouco tempo depois atrás do meu baralho, que eu achava que havia caído por lá. A sala estava vazia, exceto por Fallman e Lewinsk, que conversavam baixinho. A curiosidade falou mais forte, e eu me escondi para poder escutá-los:

- Não acredito que o senhor Manson confia nela!

- Se acalme Lewinsk. Nós devemos vigiar Rhyca, não ameaçá-la diretamente.

- Eu não consigo. Toda vez que olho pra ela, lembro que ela foi culpada da morte de Blover! Eu a odeio!

- Não sei se ela teve essa culpa. Eles foram noivos, e isso deve ter significado algo para ela.

Noivos? Eu havia escutado direito? Hidelgarde-sama era noiva do falecido general do sexto esquadrão?

- Aquilo foi um casamento arranjado. Lembre-se que ela nem esperou o corpo do pai esfriar e já foi desfazendo o compromisso!

- Eu vou ficar de olho nela. Pode acreditar Lewinsk, que se Rhyca estiver fazendo algo errado, eu vou descobrir.

Aquela conversa me deixou surpreso. Nunca que eu ia pensar que a Rainha já tinha tido um relacionamento desse nível com alguém... Mas o pior é que ela estava realmente na berlinda. Não que eu achasse que ela era confiável, mas aquela não era a melhor hora para enfrentá-la e eu tinha certeza que essa situação não iria terminar bem...

Longe dali, em FrozenShot, um pedaço de gelo se desfazia e o som dele ao cair no chão ecoava por toda a câmara subterrânea. Uma criatura de cabelos e olhos brancos estava com metade do rosto fora de sua prisão gelada. Nosso tempo estava se esgotando.

Alguns dias depois, os generais foram mandados para os locais onde cada príncipe estava selado e isso deixou a Ordem Zero com uma quantidade de pessoas bem parecida com seu nome.

Gilliard, Hoshitake e os demais da área 7 já estavam na caverna subterrânea e aguardavam pelo dia da batalha, enquanto, levemente algo chamou a atenção de um dos membros daquele grupo. No rosto de Leviathan havia uma faixa de pano que cobria seus olhos e isso aguçou a curiosidade daquele integrante. Ele se aproximou do príncipe e ao puxar um pedaço daquela faixa que estava sem o gelo, ouviu-se um grito de terror que percorreu toda a câmara. Quando o espião e a general chegaram ao local de origem do grito, não restava mais nada a fazer. Aquele membro da área 7 já se debatia no chão enquanto seu corpo era rapidamente derretido.