— Você está realmente okay com isso? – Insistiu Joe, obviamente tentando captar alguma mentira em seu tom. Contudo, apenas sorriu relaxando na cadeira.

— Se Iris está feliz, estou feliz por ela. E... Isso não é só para ficarmos bem por Nora. – Ressaltou ao vê-lo estreitar os olhos, desconfiado.

— Tudo bem. – O viu desistir com alguma relutância, olhando ao redor por um instante pelo Jitters, parecendo pensativo. – Alguém sempre tem que seguir em frente primeiro, de qualquer forma.

Fazia quase dois anos que Barry e Iris haviam se divorciado. Eles não eram capazes de ser um casal com um bebê, notaram rapidamente. A jornalista, consciente dos riscos do que fazia, estava quase sempre preocupada sobre como agia e, quando não contava nada a ela, Iris dava um jeito de saber dos perigos que corria. Com o tempo, se tornara estressante para todos os lados, mesmo para Nora, que tinha os pais brigando constantemente.

Por um tempo, ainda se viram insistindo nessa rotina, mas chegou um momento em que Joe e Cecile precisaram intervir para alertá-los que não era normal. Vinham escondendo coisas um do outro, cometendo pequenas implicâncias e até se ignorando. Por isso, chegaram a um acordo que foi... Um alívio. A vida de Barry e Iris se tornou bem mais tranquila sem a pressão, que colocavam um no outro para que sempre se compreendessem e podiam se dedicar somente a Nora.

É claro, ainda mantinham carinho um pelo outro, mas nada como costumava ser, não no sentido romântico, pois a paixão se fora aos poucos. Agora, Iris anunciara um novo namorado, que todos sabiam ter há algum tempo, embora fingissem que não para conceder a ela algum espaço. Mason era chefe da divisão de jornalismo de um grande conglomerado, parecia honesto e realmente apaixonado, por isso não havia qualquer motivo para “não aceitá-lo” – sequer era como se isso competisse a ele.

Então, o rádio de Joe tocou com uma nova ocorrência para o Capitão West e ele se levantou, imediatamente, se despedindo. Como se tratava de um roubo aparentemente comum, Barry não precisaria acompanhá-lo dessa vez e, por isso decidiu continuar no segundo andar do Jitters enquanto não terminasse seu horário de almoço. Contudo, o policial se voltou a ele, já da escada, como que se lembrando de algo.

— Ei, já confirmou sua presença no casamento de Caitlin?

— Er... – Pigarreou repentinamente incomodado. – Não. Ainda não.

— Cecile me pediu pra te lembrar que o último dia para confirmação é amanhã. Ela sabe como é distraído. – Disse Joe de maneira incisiva.

— É que... Não sei se estarei livre. – Seus dedos se apertaram ao redor do copo. – Preciso conversar com Iris, sabe... Sobre Nora.

— Acho que Caitlin não veria problema se levasse Nora. – O outro elaborou lentamente, afinal não era um evento só para adultos, mas completamente familiar. – Enfim, tenho que ir. Nos vemos mais tarde.

Com os olhos, acompanhou Joe descer as escadas e pode, por fim, relaxar um pouco. Realmente precisava confirmar sua presença, mas não tinha certeza se queria realmente ir. Cisco e Ralph estavam muito empolgados pela viagem a Alemanha dali pouco mais de um mês, mas simplesmente não conseguia se sentir feliz por Caitlin, embora devesse, pois sabia que ela estava.

Desde que a doutora fora embora, nunca mais se falaram, exceto por mensagens de texto esporádicas em redes sociais que, com o tempo, ficaram mais e mais escassas até desaparecerem por completo e se tornarem apenas cartões-postais em datas comemorativas – o que era ridículo. Desde aquela noite, quando Nora nascera, não pensava mais em Caitlin como a Caitlin de sempre, mas como alguém que não se encaixava mais em sua realidade, embora sempre fosse fazer parte dele.

Talvez ela pensasse da mesma forma, pois entrara na lista de convidados do casamento, apesar de terminantemente não se falarem. Só tivera conhecimento que Caitlin estava em um relacionamento – e da vida dela num geral – porque Cisco sempre falava a respeito. Tinha a impressão de que havia sido mais duro para o engenheiro aceitar que ela os deixara e seguira em frente, mas ele insistira no contato até deixar claro que não desistiria da amizade deles.

Barry, por outro lado, ainda não entendia de onde surgira aquele beijo e, depois daquela noite, nunca tivera coragem de perguntar. Sabia que estava com medo demais da resposta para que tentasse compreender ainda mais. Então, ao passo que Caitlin escolheu ir, Barry passivamente aceitou que ela se afastasse enquanto dizia a si mesmo que estava concedendo espaço para que seguisse um novo caminho, como ela afirmara querer.

Certo?

Apertou os olhos por um instante, suspirando resignado. Não era a primeira vez que esses pensamentos em redemoinhos sobre Caitlin o perturbavam e nunca chegava a lugar algum, pois aquela noite mudara completamente sua percepção. De repente, era como se não soubesse muito sobre ela e isso o angustiava, pois estava confortável com a ideia de ser uma das pessoas que melhor a conheciam até... deixar de ser real, algo que o incomodava como uma pequena dor que nunca vai realmente embora, apenas tem seus momentos paliativos.

Assim, bem mais tarde, ao chegar em seu apartamento, a primeira coisa a avistar fora o convite sobre o aparador logo atrás do sofá. Cecile estava preocupada sobre perder o prazo para confirmação, mas não sabia que o deixara ali por todo o último mês, intocável, como um lembrete a si mesmo. Por isso, deixando a chave e o celular ali, pegou o convite e foi direto para o quarto, abrindo-o para ler o que já decorara há tanto tempo.

O nome do noivo estava ao lado do dela, mas não se importava. Havia uma data para dali um tempo, um endereço e o pedido que confirmasse presença. Seu nome fora escrito em uma letra caprichada, que tinha certeza não ser a de Caitlin, pois a letra dela era uma droga. Apesar disso, sabia que ela era a responsável pelo desenho elegante e discreto num tom de azul não muito escuro.

Talvez fosse um pouco clichê que essa fosse a cor do convite e, por isso, se perguntou se o noivo dela sabia sobre seus poderes e Frost. Pelo que Cisco lhe contara, ele não era metahumano e estava bem distante dessa realidade, ou seja, completamente normal, como Caitlin dissera que sua vida seria.

Atravessou seu quarto em direção ao closet, onde, no armário mais afastado da porta e menos usado, deixava uma caixa com souvenires. Percebera que precisava de uma após notar que possuía um certo número de objetos de pessoas ou momentos importantes, que nunca voltariam. Em detrimento de sua velocidade, Barry jamais seria capaz de emular todas as sensações de um instante, anda que mísero, ainda que o revivesse milhares de vezes.

Alcançou a caixa na parte mais alta do armário, afinal Nora já tinha idade para mexer em todos os lugares que alcançava, e voltou para o quarto, se sentando na cama antes de levantar a tampa de madeira clara. A primeira coisa que sempre enxergava quando, raramente, se deixava abrir aquela “porta” era o par de sapatinhos de crochê que Caitlin lhe dera na noite em que fora embora.

Por algum motivo, nunca mostrara para Iris e não os dera para Nora, mas egoisticamente os guardara só para si – da mesma forma como nunca dissera a ninguém que ela o beijara naquela noite. Se tivesse de apostar, diria que pensou a respeito muito mais do que ela. Havia momentos em que isso apenas explodia em sua mente e continuava por dias, incapaz de realmente realizar porquê Caitlin fizera aquilo. Com a velocidade, podia imaginar tantos cenários quanto fossem possíveis.

Encarou o pequeno par de sapatinhos verdes por um instante e com um suspiro, guardou o convite logo acima dos cartões comemorativos que ela mandava. Considerava apenas um gesto educado, em apreço ao que costumavam ser, mas não tão significativo, embora tivesse feito uma coleção deles ao longo do tempo, pois era tudo o que tinha dela.

Assim, lentamente fechou a caixa de maneira em um baque seco da tampa, dizendo a si mesmo que pediria para Cisco confirmar sua presença no casamento de Caitlin.