Cuidado com o que você usa como chaveiro

Se você não foi um bom aluno, cuidado com o professor que expõe suas vergonhas de infância


Takuma ainda estava de olhos arregalados, alternando seu olhar entre um e outro. Era estranho pensar que havia outro cara além de seu chefe, embora mais magricela e com indumentária mais simples.

— A-Aniki... — Ele encarou sem jeito o homem de yukata preto. — Você tem algum irmão gêmeo perdido ou o quê?

― Eu é que vou saber? Onde é que você achou essa versão destrambelhada de mim?

― Ele tava perdido, pensei que você tava disfarçado! – ele se justificou. – Tava zanzando por aí como se estivesse perdido na cidade e achei que era você com amnésia.

O chefe respirou um pouco mais fundo para se acalmar e pôs a mão no queixo, assumindo um ar pensativo. Lembrava-se de que não tivera nenhum irmão gêmeo, para ser tão idêntico. Aliás, aquele sujeito era literalmente a sua cara. Por seu turno, Aoshi encarava aquele homem com o mesmo olhar perscrutador. Parecia demais consigo, embora com uma constituição física um pouco mais robusta.

― Como você se chama? – o yakuza questionou.

― Aoshi – o batedor de carteira respondeu enquanto examinava o produto de seu furto, que o metera em uma confusão sem precedentes.

― Engraçado... Eu também sou Aoshi.

Com as mãos trêmulas, o homem de quimono simples deixou cair no chão a carteira que furtara. Dela, caiu um documento que o outro pegou e examinou com atenção, pois a foto lhe chamara a atenção. Era a fotografia de um rapaz de cabelos prateados, cujos traços lembravam alguém conhecido.

― “Sakata Ginmaru”... Pronto, mais um Sakata pra me ferrar a vida! – murmurou enquanto lia as informações do tal documento. – “Filiação”... “Sakata Gintoki”...

― Você o conhece? – o Aoshi vindo de outra dimensão indagou.

― O tal de Ginmaru, não... Mas o outro, eu conheço bem até demais...!

― Não sabia que esse Yorozuya era conhecido até fora do Distrito Kabuki.

― Yorozuya? Ele é comandante da Tenshouin Shinikayou!

― Eu afanei a carteira do filho do faz-tudo, não dessa Shini-sei-lá-o-quê!

― Shinikayou! – o yakuza vociferou, mas ao encarar a expressão confusa do outro, tentou se acalmar. – Espera... Nunca ouviu falar da Shinikayou?

― Dessa Shini-alguma-coisa, não... Só ouvi falar do Shinsengumi.

― Aqui não é o Distrito Kabuki, nem Edo. Estamos em Aokigahara. Como você veio parar aqui?

― Roubei a carteira do tal Ginmaru, junto com as chaves e um chaveiro esquisito. Tava fugindo dele e do Yorozuya, quando os dois voaram pra cima de mim e o tal chaveiro acendeu uma luz e abriu um tipo de portal, aí caímos aqui e fugi, porque não queria apanhar de novo daquele cara e sua bokutou.

― Quem apanha nunca esquece! – O Aoshi mais velho cerrou os punhos. – Lembro que tentei levar a carteira dele, que descobriu, me perseguiu e...

― ... Quebrou meus dentes da frente... – completou o Aoshi de Edo.

― ... COM AQUELA MALDITA BOKUTOU! – os dois berraram juntos, externando a indignação que ainda mantinham daquele fato passado.

Takuma só observava as duas versões de seu chefe, assim como os demais homens do bando. Tinha quase total certeza de que os dois eram a mesma pessoa, visto que falavam de uma mesma lembrança envolvendo o Comandante.

― Olha, Aniki... – ele se atreveu a perguntar. – É verdade que o tal chaveiro abriu um portal para cá?

O Aoshi de Edo respondeu enquanto chacoalhava o pequeno objeto, como se quisesse fazê-lo pegar no tranco:

― É, foi esse treco que me trouxe pra cá! Por quê?

― Porque isso significa que houve uma viagem de uma dimensão para outra, embora vocês tenham ao menos uma lembrança em comum.

O líder do bando segurou firmemente os ombros de seu braço-direito e exclamou:

― EXATAMENTE! E acaba de me ocorrer uma grande ideia! Se viajarmos no tempo e nas dimensões podemos alterar as coisas ao nosso bel-prazer e dar fim a vários obstáculos para o que queremos!

Aoshi fez uma pausa dramática, para depois encarar sua contraparte da outra dimensão e perguntar:

― O que acha de tirarmos aquele idiota de cabelo prateado do nosso caminho? Primeiro a gente manda essa coisa aí pra consertar e depois voltamos no tempo para poder acabar com aquele homem!

(...)

Um novo dia amanheceu e, na mansão, mais especificamente em um dos jardins, o café da manhã estava bastante animado. Apesar de a sala de jantar ser grande, não comportava o grande número de pessoas que estavam hospedadas naquele momento. Na grande mesa que geralmente era usada para esse tipo de reunião junto com os que vinham de Edo, Gintoki estava sentado em uma das pontas. À sua direita estava Mayah e à sua esquerda Sayuri. Nos demais lugares, todos se acomodavam como de costume e na outra ponta estava o Gintoki vindo da outra dimensão, tendo Ginmaru à sua direita e Shinpachi à sua esquerda.

A mesa, como sempre, estava bastante farta, com café, chá, leite, achocolatado, leite de morango, frutas, pães e uma apetitosa torta de chocolate, a qual o anfitrião repartiu com sua contraparte... E não poderia faltar o protesto de sua esposa:

― Gintoki, o que o médico disse na sua última consulta sobre doces?

― Só me lembro de ter ouvido ele dizer que posso comer doces uma vez por semana – o albino respondeu enquanto enfiava um garfo com um pedaço da torta.

― Se exagerar no açúcar, há um risco bem grande de ficar impotente. – Mayah rebateu ao mesmo tempo em que se servia uma xícara de chá. – Eu não ficaria feliz de ver meu marido falhando na hora H.

― Você só tá inventando isso pra me botar medo, não é? — acusou indignado. — Eu duvido que isso vá atrapalhar meu desempenho, nunca prejudicou! Se fosse assim, não teríamos filhos!

― Eu não estou falando de ficar estéril, até porque você já é, estou falando de precisar de ajuda para garantir o desempenho do seu Canhão Neo Armstrong Cyclone Jet Armstrong!

― Eu como doces desde sempre e não tive problema com isso! E em nenhuma dimensão, basta olhar para meu outro eu!

Alheio à discussão aleatória de sua contraparte mais velha, o outro Gintoki olhava para Kagura e Souichiro, que comiam a sua parte do café da manhã. Enquanto o garoto, embora com um apetite enorme, comesse com certa compostura à mesa, a mãe devorava uma enorme pilha de panquecas como uma verdadeira ogra, para ao fim deixar escapar um arroto de satisfação.

Tal como a pirralha de sua dimensão.

Talvez, se ela estivesse viva, seria como aquela mulher que, ao mesmo tempo que era bonita, era também um poço de desaforos... Mas também seria, sem dúvidas, uma pessoa ainda bastante afetuosa e com um sorriso contagiante.

Aquela Kagura parecia bastante feliz, levando adiante a Yorozuya Gin-chan junto com Shinpachi. Os olhos azuis dela transpareciam isso, e de certo modo se sentia feliz por ela ter essa felicidade. Sentia-se feliz por ela, como um pai torcia pela felicidade de uma filha.

Por outro lado, ao se lembrar da sua própria realidade, vinha a saudade. Com o passar dos anos, Gintoki sempre considerara que praticamente tivera três filhos, Kagura, Shinpachi e Ginmaru. Dezoito anos ainda não eram suficientes para amainar o quanto sentia a ausência da Yato, que sempre fora sua “parceira de crime” nas situações mais inusitadas.

Seus devaneios terminaram assim que percebeu que os olhos azuis dela encaravam os seus de forma interrogativa. Imediatamente, desviou seu olhar para a torta, passando a se preocupar somente em comer a iguaria, para disfarçar.

(...)

Posicionados um diante do outro, Dango e Ginmaru já estavam devidamente paramentados para o duelo que haviam combinado na véspera. Os dois jovens de cabelos prateados estavam com suas respectivas espadas de madeira em punho, os olhos rubros focados. Todos que estavam no café da manhã foram ver os dois duelarem e formavam uma plateia, cuja torcida era, em sua maioria, para a dona da casa.

Era realmente interessante o fato de os dois terem muitas semelhanças em suas vidas, até mesmo o fato de gostarem de esgrimir e terem aprendido tal arte em um dojo. Ambos eram alunos do Dojo Koudoukan, embora tivessem tido senseis diferentes. Enquanto Ginmaru aprendera com Shinpachi e Kondou e tivesse praticado algumas vezes com o pai, Dango dera seus primeiros passos usando a espada graças a Shouyou. Quando se mudara para Aokigahara, dera continuidade ao aprendizado com os irmãos, supervisionados pelos pais periodicamente. E, ao menos uma vez ao mês, Shouyou comparecia pessoalmente para supervisionar o andamento do aprendizado dela.

O professor se colocou em meio aos dois jovens, seria o juiz daquele interessante duelo. Sempre gostava de ver como Dango esgrimia e naquele momento estava particularmente curioso para saber como era o estilo de Ginmaru. Observou naquele rosto os traços exatos de seu antigo discípulo quando mais jovem, e percebera que em algumas outras coisas pai e filho se assemelhavam.

― Muito bem, — Sua voz se fez ouvir. — creio que vocês já sabem as regras, certo?

Os dois assentiram e ele gesticulou:

― Lutem!

Ginmaru e Dango se encararam por alguns segundos, como se tentassem estudar um ao outro previamente antes de fazer o primeiro movimento. Qualquer um poderia subestimar a jovem Sakata daquela dimensão, mas ele não. Ele já enfrentara adversários e adversárias que possuíam um mesmo nível de perícia, quando competia em eventos de kendou na escola... E até quando o Dojo Koudoukan enfrentara o Dojo dos Yagyuu certa vez. E o olhar dela já mostrava o quanto estava focada naquele embate, estudando-o.

Dango não fazia muita ideia de como o jovem faz-tudo lutaria. Embora possuísse a aparência semelhante à de Gintoki, isso não significava que ele necessariamente lutaria no mesmo estilo. Essa seria uma luta imprevisível para ambos, pois desconheciam qualquer coisa um a respeito do outro. Assim, ela se lançou ao ataque e, coincidentemente, ao mesmo tempo em que ele, fazendo com que suas espadas se chocassem com força e, em seguida, travassem uma à outra.

Ele era forte... E ela, também.

Os dois se afastaram e mais uma vez se encararam, agora sorrindo. Aquilo seria bem divertido. Novamente foram ao ataque e as duas espadas de madeira se colidiram rápida e ferozmente uma contra a outra, várias vezes, com amplos e vigorosos movimentos. Dango possuía um estilo mais semelhante ao de Gintoki, ao mesmo tempo em que suas técnicas tinham um refinamento próprio, reflexo de anos de treinamento. Por outro lado, Ginmaru tinha um ou outro movimento parecido com o do pai, principalmente na forma como utilizava sua força física, mas seu estilo era um misto das técnicas ensinadas por Shinpachi e Kondou.

E foi utilizando sua força que o jovem Yorozuya desarmou sua adversária, fazendo a bokutou voar para fora de seu alcance.

― Ganhei! – ele disse sorrindo.

― Claro, eu não conhecia seu jeito de lutar! – ela respondeu também sorrindo, enquanto pegava sua espada do chão. – Que tal melhor de três?

― Topo! Mas tá um a zero pra mim!

― Pois então vou empatar este duelo!

Shouyou chamou os dois jovens para novamente tomar posição e autorizou o segundo round. Dango foi ao ataque dando o seu melhor, surpreendendo Ginmaru, que se esquivou e usou um contra-ataque, bloqueado por ela de forma magistral. A jovem conseguiu desfazer o bloqueio e, ao mesmo tempo, contra-atacou com força, surpreendendo o faz-tudo com aquele movimento. Em seguida, ela fez um amplo movimento da esquerda para a direita, o qual foi defendido por ele. A jovem então conseguiu destravar sua bokutou, forçando a bokutou adversária e, em seguida, fez um poderoso movimento de baixo para cima, desarmando o outro Sakata.

― Um a um! — ela comemorou fazendo um “V” com os dedos.

― Você foi incrível! — ele elogiou enquanto buscava sua bokutou. — Quem te ensinou essa técnica?

― Foi Shouyou-sensei!

O sensei sorriu à menção do seu nome e novamente se posicionou entre os dois. Autorizou o terceiro e último round, o de desempate.

Agora Ginmaru tomava a iniciativa de dar o primeiro ataque, encontrando a sólida defesa de Dango. As duas espadas de madeira ficaram travadas por um bom tempo, numa disputa para ver quem sairia do bloqueio primeiro. Ela era realmente muito boa empunhando uma espada, e talvez fosse perigosa se usasse uma katana afiada.

O bloqueio se desfez, com Dango contra-atacando com agilidade, mas Ginmaru desta vez ficava na defensiva, segurando mais um potente golpe adversário. Novamente as duas espadas se travaram, mas desta vez ela conseguiu se desvencilhar, com um novo ataque na vertical. O jovem faz-tudo contra-atacou com um poderoso e rápido movimento horizontal, desarmando Dango e fazendo com que sua bokutou voasse rodopiando até cair espetada no assoalho do dojo.

― Dois a um! — Ginmaru comemorou. — Ganhei!

— Você só ganhou porque já tem experiência em batalhas, senão eu viraria o jogo! — Dango riu, divertida. — Parabéns!

Os dois se cumprimentaram fazendo uma mesura, e dizendo o quanto aquele duelo fora divertido para ambos. Após mais uma troca de elogios, Dango saiu para trabalhar, assim como os demais espectadores se encaminharam para suas rotinas diárias, ficando apenas Shouyou e seus pensamentos a respeito daquele embate, os quais foram interrompidos por Ginmaru:

— Yoshida-sensei — o jovem chamou um tanto tímido, mas ainda assim se aproximando do professor.

Professor esse que respondeu com um sorriso suave, enquanto terminava de guardar as bokutous nos seus devidos lugares.

— Sim? — incentivou o mais novo a continuar a fala.

— Então... Eu fiquei muito impressionado com a técnica da Dango... Será que... o senhor poderia me ensinar? — pediu ainda acanhado. — Claro, se não for incomodá-lo ou atrapalhá-lo. — Concluiu um pouco mais agitado, gesticulando com as mãos, um tanto nervoso.

— Não seria incômodo algum, Ginmaru-kun — respondeu intimamente divertindo-se com a timidez do mais jovem. Aí estava uma característica que sem dúvidas não havia herdado do pai. — E não há necessidade de tanta formalidade. — Por último comentou ao fechar os olhos enquanto sorria afável.

— Muito obrigado... Er... Shouyou-sensei. — O albino sorriu mais aliviado. — Eu realmente gostei bastante da técnica de luta dela. E o mais curioso é que lembra um pouco o jeito como o meu pai luta.

— Bem, embora Gintoki tenha um estilo de luta próprio e muito imprevisível, acho que podemos dizer que consegui ensinar algumas coisas a ele — brincou. — Mas Dango foi treinada por mim até vir para Aokigahara, à partir daí quem passou a supervisionar os treinos dela com os irmãos foi Mayah-san e o próprio Gintoki. Então é natural que o estilo dela lembre o dele — concluiu, já voltando a pegar as bokutous que havia guardado, para que pudesse atender ao pedido do jovem yorozuya.

— Como o meu pai ficou dez anos desaparecido, então não consegui assimilar muita coisa dele. Mas tem gente que diz que meu estilo lembra um pouco o dele, mesmo meus mestres sendo Shinpachi-sensei e o Gori... Digo, Kondou-sensei. — Quedou-se pensativo por um breve instante para depois prosseguir. — Meu pai era um bom aluno, mesmo com tanta preguiça?

Shouyou riu contidamente.

— O meu Gintoki não sei se podemos dizer que era um bom aluno, mas fazia o que era obrigado a fazer. — Sorriu divertido. — Imagino que seu pai tenha sido exatamente da mesma forma.

— Acho que estamos falando do mesmo cara. O Zura me contou que era bem por aí. Como o senhor o conheceu?

— Bem, essa é uma história e tanto. Tem certeza que prefere ouvir ela agora? — respondeu com outra pergunta, gentil. — Podemos nos concentrar no seu pedido primeiro e depois conto tudo o que quiser. O que me diz?

― Bom, então vou querer a aula primeiro, sensei. Quero realmente aprender.

— Então vamos lá — concordou já entregando a espada de treino para o albino.

Ginmaru e Shouyou permaneceram treinando a mesma técnica por alguns minutos, mas não mais que isso. O jovem tinha uma aprendizagem rápida e eficaz, o que deixou o professor satisfeito e empolgado; tanto que propôs continuarem o treino por mais algum tempo, com outras técnicas e orientações novas. Ao fim do treino já haviam se passado quase duas horas, que eles sequer perceberam passar, e Ginmaru se encontrava sentado no chão do dojô, próximo à porta que dava para a varanda, tomando fôlego.

— Sensei, muito obrigado — ele agradeceu ao mais velho assim que terminou de beber água de uma garrafa. — Com certeza aprendi bastante. E agora eu acredito que estou pronto para ouvir sobre meu pai. Quero mesmo saber mais sobre ele, mesmo que seja do ponto de vista de outra pessoa.

Mais uma vez o sensei sorriu suavemente, caminhou até a varanda e ali sentou-se, de frente para o jardim dos fundos da mansão. Esperou Ginmaru acomodar-se do lado dele para dar início à conversa.

— Apenas lembrando que as memórias que irei lhe contar são as desse universo. Pelo que observei as coisas não mudam muito antes da morte da Kagura-chan do universo de vocês, mas ainda assim seria interessante você conferir com seu pai se de fato são as mesmas.

Ginmaru acenou positivamente com a cabeça, concordando com o comentário e então Shouyou deu início a longa história que existia entre ele e seu discípulo mais antigo, depois de Oboro.

Ele começou justamente do ponto em que ocorrera sua saída da Naraku e então achara que perdera Oboro, continuando com o encontro dele com o pequeno Sakata, tomando o cuidado de não mencionar a história do menino precedente a isso, respeitando assim a privacidade do que ele acreditava ser os dois Gintokis, pois sabia que assim como o seu Gintoki não gostava de retomar aquelas lembranças, a contraparte dele provavelmente também não.

Depois de discorrer como conhecera o pequeno samurai, contara sobre toda a trajetória dos dois, vivendo como nômades, sobre a Shouka Sonjuku, até o momento em que conheceram Takasugi e Katsura. A partir daí os comentários passaram a ser mais divertidos, pois falar sobre aqueles três vivendo debaixo do mesmo teto sempre seria motivo de diversão e nostalgia para o professor. Narrou as brigas descabeçadas entre os três, sobre os medos de cada um, o desempenho na escola e no dojô, as implicâncias, as cenas fofas das quais se lembrava, as travessuras e até mesmo as divertidas situações carreadas pelo medo de Gintoki do sobrenatural.

Passou então para a outra fase mais sombria da história: quando fora levado pela Naraku, e a participação dos garotos, ainda muito jovens, na guerra. Contou sobre como morrera naquela época e todas as consequências vindouras por conta disso. Até que chegou a um passado um pouco mais recente, de quando Gintoki abandonara Edo e fora para Aokigahara, bem como tudo o que foi desencadeado após isso.

Por fim, contou como fora o reencontro, quase 11 anos depois, de Gintoki com os habitantes de Edo e com ele próprio. As confusões e perturbações que vieram junto com esse reencontro e depois os tempos de maior tranquilidade que viveram nos últimos anos.

Ginmaru ouviu atentamente toda a narrativa, por vezes perguntando sobre algo a mais a respeito de seu pai. Ficara bastante impressionado com as várias desventuras que ele vivera desde que se entendia por gente, por assim dizer, e em como boa parte daquele relato coincidia com tudo o que Katsura lhe narrara durante o período de ausência de Gintoki. Se antes já admirava seu pai, hoje o admirava ainda mais por tudo o que suportara e por ter sido tão resiliente frente a tantos momentos terríveis vividos.

Agora entendia ainda mais quando se lembrava de quando seu pai dizia não querer que o filho vivesse tudo o que ele já vivera. E também compreendia por que ele não gostava de lhe contar sobre o passado, tal como ouvira sobre ele ser o Shiroyasha quando adolescente.

Não era sobre não se orgulhar do passado, era sobre não se machucar com ele.