Lucy ficou sentada ali por quase uma hora, pensando consigo mesma. Não tinha nada que ela poderia fazer. Ela não tinha outro lugar para ir. Ela queria chorar de novo. Mas não podia. Ela não podia se deixar ser fraca novamente.

A verdade era que ela não tinha o que fazer ali. Não tinha dinheiro para pegar um trem para ir para Magnolia. Não tinha muito que ela podia fazer.

— Você não pode voltar pra casa! — Ela ouviu uma voz gritar. Lucy levantou a cabeça horrorizada e viu uma senhora gritando com ela. Ela repetia a mesma coisa. — Você não pode voltar para casa! Ele não vai estar mais lá! O caminho já se fechou!

— Desculpe a minha mãe. — Uma mulher mais jovem de cabelos vermelhos passou atrás dela, puxando a senhor pelos braços. — Ela já está ficando meio velha. Ela não sabe direito o que está falando na metade do tempo.

— Sem problemas. — Lucy disse. A senhora continuava repetindo aquilo até estar numa distância suficiente para ela se virar para sua filha e perguntar o que ia ter de janta. Mas aquelas palavras ficaram grudadas na mente de Lucy. Ela realmente não poderia voltar para casa. Não para a casa que ela conhecia. Não para as pessoas que ela conhecia. Não para as pessoas que ela realmente queria voltar.

Lucy levantou-se. Ela não poderia ficar ali pelo resto do dia. Ela precisava comer. Precisava fazer alguma coisa.

Precisava encontrar uma forma de voltar. Voltar para a casa que pertencia. Voltar para o mundo que conhecia. Mas ela não ia conseguir fazer aquilo sozinha. Ela precisava engolir o orgulho e voltar para o único lugar que ela sabia que teria alguém para ajudá-la. Ela precisava voltar para Gajeel e pedir ajuda, por mais que aquilo doesse. Afinal, ela tinha acabado de correr de lá.

Ela não deveria ter feito aquilo.

Lucy respirou fundo e se pôs a caminhar novamente. Ela precisava voltar para a casa do Gajeel. Ela precisava engolir seu orgulho e dizer que precisava dele. Porque, afinal de contas, era exatamente isso que estava acontecendo. Ela precisava dele. Ela não tinha outra opção. Não tinha outra escolha. Gajeel era o único que realmente estava ali por ela. Era o único que podia ajudar ela O fato de que ele era o namorado dela era apenas um detalhe. Talvez até mesmo um detalhe importante, mas não passava de um detalhe.

Ela começou a andar em direção à casa dele, procurando repetir o caminho que fizera apenas minutos mais cedo. Ela olhou para o horizonte. O sol já estava se pondo. Ela odiava ter que caminhar na escuridão. Mas Lucy suspirou, se abraçou e continuou a caminhar, seus pés começando a doer depois de um tempo.

Mas ela precisava voltar. Porque ele seria a única pessoa que poderia ajudar ela. Lucy sabia disso. Ela ficou pensando consigo mesma o que ela iria dizer para ele uma vez que chegasse lá. Ela não queria ter que fazer aquilo. Aquilo machucava seu ego de tal maneira que Lucy considerou por várias vezes arranjar outra forma de ir até Magnolia e ir encontrar com Natsu.

Assim que estava chegando perto da casa, Lucy viu uma porta aberta, a luz brilhando contra a silhueta de um homem parado de braços cruzados. Ela foi chegando cada vez mais perto, com cuidado, até que percebeu que era Gajeel que estava ali. Parado, esperando por ela.

— Melhor agora?

— Um pouco. — Lucy disse, mordendo seu lábio. Ela não queria olhar para o rosto dele, mesmo que não conseguisse enxergar muita coisa naquela escuridão. No entanto, Gajeel conseguia enxergar o rosto dela. Seus olhos estavam inchados. Ela tinha chorado. Ela estava levemente encolhida na escuridão da rua, pro lado de fora de sua casa, como um cachorrinho perdido. Ela estava esperando uma autorização para poder entrar.

Se ele já não tinha percebido antes, foi naquele momento que Gajeel percebeu que ela não era a mesma Lucy que ele conhecia.

E ele não sabia como se sentir a respeito disso.

— Entre. — Gajeel disse dando um espaço para ela entrar. Lucy sorriu gentilmente e, com passos cuidadosos, ela entrou na casa deles. Ela não sabia daquilo. Gajeel precisaria cuidar bem dela naquela noite.

Ele fechou a porta e viu Lucy parada no meio da sala, mexendo na barra de sua saia, com a cabeça para baixo.

— Sente-se um pouco. — Ele disse tocando-a de leve no ombro. Ele odiava ver ela daquela forma. — Eu vou pegar um chá para você. — Lucy acenou com a cabeça e se sentou no sofá. O silêncio era horrível. — Erva doce ou limão?

— Limão. — Ela disse e Gajeel sorriu consigo mesmo. Até os gostos eram os mesmos. Ele colocou a água para esquentar e parou na porta da cozinha, de braços cruzados, olhando para ela.

— Você disse que você é namorada do Natsu? — Gajeel disse, por mais que aquilo o machucasse de ouvir. Ele sabia que aquela mulher que estava ali era sua namorada. Ela só não se lembrava do que eles tinham vivido. Ele precisava fazer ela se lembrar. Mas para isso, ele queria saber do que ela se lembrava.

— Sim. — Ela disse, sorrindo, só com a lembrança do sorriso do homem mais lindo de seu universo. — Eu não consigo parar de pensar se ele percebeu que eu sumi.

— A briga foi tão feia assim? — Gajeel perguntou, curioso.

Ela nem respondeu. Apenas

— O que ele fez?

— Me traiu.

A conversa entrou num silêncio constrangedor. Gajeel teria dito alguma coisa, mas a chaleira começou a apitar e ele voltou para a cozinha para preparar o chá, dando graças por não ter que continuar aquele assunto. Lucy não conseguia parar de pensar que ela tinha conseguido o que sempre quis. Um outro namorado, completamente diferente de Natsu.

Talvez, só talvez… Ela não precisava voltar.

Gajeel então voltou com duas xícaras. Lucy bebericou um gole. Ela sorriu.

— O chá está exatamente do jeito que eu gosto. — Lucy disse sorrindo.

— Eu sei. — Gajeel disse, sorrindo de volta. Ele adorava ver aquele sorriso no rosto dela. Lucy finalmente se virou para encarar ele. — Eu moro com você há quase dois anos.

Lucy ficou em silêncio observando a fumaça do chá saindo da xícara.

— Eu conheço você. — Ela olhou para ele intrigada. — Seu nome é Lucy Heartphilia, filha de Jude e Layla Heartphilia. Seu aniversário é primeiro de julho. Sua cor favorita é azul claro. Você é independente, mas ao mesmo tempo, insegura. Você não gosta de ficar sozinha. Você sente mais frio nos pés do que no resto do corpo. Às vezes, quando você tosse demais, você começa a soluçar. Você adora ler e quer um dia se tornar uma escritora. Você não admite, mas deseja poder voltar ao passado e passar mais tempo com o seu pai. — Gajeel disse com um olhar amoroso em direção dela. Ele saiu do lugar em que estava só para poder sentar mais perto dela. Ela estava surpresa com a quantidade de coisas que ele tinha acertado. Era como se ele pudesse escrever um livro sobre ela. — Eu sei tudo sobre você, Lucy.

— Então o que você acha que aconteceu? — Ela perguntou. Ela ainda só tinha bebericado um gole do chá em suas mãos.

— Eu não tenho certeza. — Ele disse, passando as mãos em seu cabelo negro. Só então que Lucy percebeu que ele tinha escovado o cabelo. — Você tem certeza de que a última coisa que você se lembra é da briga que vocês tiveram? Não aconteceu mais nenhuma outra coisa?

Lucy ficou em silêncio, sem saber o que dizer. Ela não sabia o que fazer. Ela estava em outro mundo, outra realidade, um lugar onde ela não conhecia.

Ela estava em uma guilda que não gostava, estava namorando alguém que conhecia mas nunca tinha pensado nele dessa forma. Seu namorado tinha ficado para trás, em um mundo onde ela não existia. Ou pelo menos era isso que imaginava.