Os Primeiros Problemas

"Ao meu caro amigo Louis Cams. Às vezes, perdemos um minuto da vida. Outras vezes, perdemos a vida em um minuto. Sinto sua falta."

Como em muitos acontecimentos da vida, como o amor inesperado do homem que você ama por outra mulher, por vezes você pensa: o que poderia dar errado? Infelizmente, essa frase será extremamente repetida aqui, pelo simples fato de ninguém, nem Madame Lulu, ter uma verdadeira bola de cristal para saber que, por mais que suas mentes otimistas desejassem muito um final feliz à nossa primeira reunião, ele não irá acontecer.

Eu, pessoalmente, sempre soube que daria errado, assim como sei que otimismo exagerado, como o que leva alguém muito ingênuo, palavra que aqui significa "pessoa que confia em pessoas como o Conde Olaf para formar uma organização ultra-secreta de proteção aos valores nobres do mundo", a se dar mal.

Hoje em dia não restou muito dessa organização que formamos para a minha pesquisa, muito embora o relato tão preciso sobre o destino miserável dos órfãos Baudelaire tenha servido muito bem como base para a minha incansável busca pelo açucareiro.

O dia que descrevo era cinzento e chuvoso, como estavam sendo todos os daquele mês de agosto, e a maioria de nós teve de, inevitavelmente, palavra que aqui significa "fatalmente devido à incrível ventania", usar seus melhores casacos de pele. Lembro – me bem de que o local escolhido por Esmé, sempre ligada no que estava in e out no momento, foi o Café Longedetudo, e lá fomos nós.

Antes de continuar essa história, devo alertar para aqueles que sabem o resultado dessa reunião para que, nesse exato momento, desliguem o computador e vão ler um livro infantil muito famoso, sobre um menino que era infeliz e magicamente descobre ser um bruxo. Depois disso, ele tem um final feliz, bem melhor do que esse. Mas, se insistem em estragar seus sonhos desta noite, não me culpem pela angústia que tomará suas cabeças quando finalmente desistirem de acompanhar meu relato.

O Café Longedetudo, como o nome diz, é afastado de tudo o que conhecemos na cidade grande. Segundo Esmé, o nada estava extremamente in, enquanto ficar no meio do barulho dos táxis correndo estava out.

Entramos todos num grupo barulhento, todos curiosos para a proposta que L. S. e seus irmãos, K.S e J.S tinham, e sentamos na maior mesa do lugar. Quando todos ficaram quietos o bastante para ouvirem o homem que sempre foi dono de meu coração, ele virou – se para mim e perguntou:

"Dora, minha cara, poderia redigir a reunião?"

Corei levemente, o que, em linguagem figurada poderia significar: "fiquei mais vermelha que o casaco de vison que Beatrice usava", e peguei um pequeno caderno de bolso, que sempre levava comigo no caso de alguma ideia genial me vir à cabeça, e puxei a caneta, pronta para escrever.

PRIMEIRA REUNIÃO DO CONSELHO SECRETO CONCILIADOR

REDIGIDO POR: DORAMYS KONTHRAN

PRESIDIDO POR: LEMONY SNICKET

ASSUNTO: C.S.C

LS: BOM, VAMOS COMEÇAR A REUNIÃO.

ES: MAS O QUE É ESSA REUNIÃO AFINAL? VOCÊ PEDIU PARA QUE EU ESCOLHECE O LUGAR MAIS IN DAQUI PARA QUÊ?

LS: COMO VOCÊS SABEM, A NOBREZA ESTÁ EM FALTA HOJE EM DIA, E PESSOAS DECENTES SÃO CADA VEZ MAIS DIFÍCEIS DE ENCONTRAR.

KS: MEU IRMÃO TEM RAZÃO. ESTÁVAMOS DIVAGANDO ONTEM À NOITE, E DECIDIMOS QUE ALGO DEVE SER FEITO.

BB: SERIA ESSE O OBJETIVO DA NOSSA ORGANIZAÇÃO?

LS: SIM, E NÃO AO MESMO TEMPO. HÁ UMA CRESCENTE AMEAÇA DE INCÊNDIO NA CIDADE E ACHO QUE PESSOAS NOBRES COMO NÓS DEVERÍAMOS FAZER ALGO.

CO: INCÊNDIO? NÃO OUVI FALAR...

LS: CLARO QUE OUVIU COMO NÃO OUVIRIA? TEM ALGUÉM POR TRÁS DISSO.

BB: REALMENTE.

Bom, o restante da reunião seria nauseante, palavra que aqui significa "chato e perigoso demais para os leitores saberem", mas o resultado vocês conhecem muito bem. Alguns de nós tínhamos contatos bons, e não demorou muito para nossos locais de encontro serem estrategicamente posicionados, expressão que significa ''lugares secretos onde ninguém poderia aparecer por algum motivo se não se aliar a causa".

Gostaria de informar que nesse exato momento faço uma pausa para bater em minha chaleira com um incrível arpão que achei durante minhas pesquisas, portanto caso queiram deixar este lugar, podem fazê – lo de imediato.

Pronto, voltei. Onde eu estava? Oh, sim. Os incêndios. Depois de formarmos esta aliança, todos nós nos separamos, e só voltei a encontrar o homem nos meus sonhos quando ele estava hospedado no Hotel Desenlace, completamente desiludido com o que o Pundonor Diário disse a respeito dele depois de demiti – lo.

"Dora, que surpresa." Ele disse, dando um único sorriso triste para mim.

"Soube da sua demissão." Tentei tranquiliza – lo. Muitas vezes na vida é necessário ser tranquilizado ou tranqüilizar alguém, ação que consiste em vários passos extremamente simples. Você pode dar tapinhas nas costas da pessoa, dizer palavras bonitas ou simplesmente agir impulsivamente, mas essa última ação só deverá ocorrer caso você esteja perdidamente apaixonada pela pessoa em questão, como eu estava.

"Soube? Beatrice também."

Beatrice, sempre Beatrice. Não que eu tenha algo contra ela, sou muito nobre para detestar alguém de verdade, mas uma pessoa repetitiva, como ele estava sendo, realmente costuma irritar as pessoas.

"E ela acreditou nas besteiras que disseram sobre você?"

Ele fez que sim com a cabeça, e eu me limitei a revirar os olhos, que é uma forma de dizer, sem palavras, que estava extremamente aborrecida.

"Eu não acreditei." Disse, tomada pela ação impulsiva. Lemony olhou em meus olhos, e eu pisquei.

"Achei que você e Monty..."

Eu estivera trabalhando no instituto Herpetológico com Monty havia alguns dias, e Lemony me encarou como se eu tivesse o rabo preso, expressão que coloco com o significado de "algum caso secreto com Montgomery Montgomery".

"Eu e Monty? Se for assim, eu sempre pensei que você e Esmé..." brinquei, tentando fazê – lo rir.

"Cabelos pretos estão out. Agora o in é namorar alguém careca." Ele riu.

Discretamente coloquei minha mão sobre a dele, código de pessoas que estão interessadas nas outras que diz que estava interessada nele.

"Tem certeza de que é tão ordinária, que significa comum, a ponto de usar o velho código de interesse comigo?" ele perguntou, notando o que eu havia feito.

"Eu sei o que quer dizer ordinária." Eu disse, esquecendo as mãos e beijando os lábios dele com paixão. Embora seu coração fosse de Beatrice, eu sempre soube que Lemony me achava bonita, e deixei que ele me beijasse até meu chapéu cair.

Quando notou o ocorrido, Lemony pegou – o do chão e me entregou.

"Acho que vou indo. Foi convidada para o casamento de Beatrice e Bertrand?"

"Sim, verei você lá?"

"Creio que sim."

Sorri para ele, e o vi se afastar de mim enquanto recolocava o seu chapéu e chamava um táxi. Puxei meu livro de lugar – comum e anotei sobre o beijo ao lado do convite do casamento Baudelaire.

Falando no casamento, é bom ressaltar que foi um estrondo, expressão que aqui é usava no sentido de dizer que algo foi realmente bom e divertido. Mas todos nós sabíamos disso, já que Bertrand sempre foi muito rico, bem como Beatrice.

Os Quagmire estavam lá também, como padrinhos. Estava anotando todos os detalhes, quando Belo e Josephine chegaram animados.

"Dora! Como está?"

Sorri amarelo, que é o tipo de sorriso que as pessoas geralmente usam com aquelas outras pessoas que elas não desejam ver, ou não desejam ver naquele momento específico.

"Doramys..." chamou – me Kit, e me virei rapidamente para falar com ela, que é uma pessoa bem mais agradável e sem inclinações para mergulhos arriscados perto de sanguessugas.

"Sim?"

"Meu irmão deseja vê – la."

Meu coração disparou, muito embora suspeitasse da sentença, já que Kit tinha dois irmãos. E é claro, como quando se está conosco as coisas nem sempre são como parecem, lá estava Jacques Snicket me esperando, em seu belo terno.

"Olá, Dora, como está?"

"Bem."

"Bertrand está feliz." Ele comentou, e eu senti que olhava para mim de modo diferente. Como sempre, Lemony estava sentado ereto, seu caderno de lugar – comum estendido, escrevendo. Claro que não desejava estar ali, no casamento da mulher que ama, que agora pensa que ele é perverso, mas parece que Kit e Jacques o obrigaram a ir. Fiquei feliz.

"Sim, está. Beatrice também."

"Sim. Dora, estive pensando... Preciso de uma companhia para o Pundonor Diário, e gostaria que fosse você."

Me peguei realmente refletindo sobre a ideia. Não podia ser tão ruim, além do mais Jacques sempre foi um bom amigo e companhia para ótimas horas.

"Aceito."

Acho que a maioria das vezes em que uma pessoa diz a palavra "aceito", ela está selando seu destino tragicamente, como Beatrice fez quando disse ''aceito'', quebrando o coração de um homem e destinando três crianças a uma jornada de infortúnios e como eu mesma fiz, me afastando do meu destino junto à Lemony e juntando minha vida à de Jacques.

Não que eu me arrependa completamente disso já que, por muitas vezes, estar com Jacques me ajudou profundamente em minhas pesquisas. Mas a alegria morava com seu irmão, e mesmo que até hoje eu negue aos sobreviventes minha tristeza, devo dizer que não vejo um futuro feliz, especialmente agora que perdi aquele que foi meu companheiro por tantos anos.

Quando aquela cerimônia estafante, que aqui significa "chata e cheia de cerimoniais obtusos'' finalmente chegou ao seu fim, o primeiro a se levantar e deixar o lugar foi Lemony, e eu o segui ansiosa.

"Veio por insistência de Kit, não?" usei do sarcasmo, uma arma poderosa para as desventuras da vida, para ver se ele me confessava. Um pouco hesitante, ele acenou que sim com a cabeça, e começamos a andar juntos.

"Jacques me chamou para trabalhar com ele."

"Jacques gosta muito de você." ele comentou, fechando pela primeira vez o seu livro de lugar – comum e me olhando.

"Notei."

"Creio que não devamos nos ver novamente."

"Não irei me casar com ele, Lemony."

O homem da minha vida me encarou e puxou uma de minhas mãos.

"Talvez os infortúnios da vida nos uma novamente, Dora, agora que Beatrice é apenas uma sombra no meu mais feliz passado."

Então, ele retirou minha luva e depositou um beijo nas costas de minha mão muito pálida. Com um último aceno de cabeça, ele chamou Belo e Josephine, pronto para partir.

"Qualquer coisa, mande seu corvo me contatar."

Sorri para ele antes do táxi partir, e então senti Jacques me puxar pela mão, falando algo sobre um apartamento ligado à mansão de Bertrand.