Crônicas demoníacas

História de Amanda Grayson - Parte 2


'' Flashback; 2009 em Louisville - KY.''

Quatro anos se passaram até que Amanda Grayson resolveu sair da clínica de reabilitação para jovens e sumir de Santa Mônica. Hoje, com 16 anos, Amanda finalmente saiu de Santa Mônica e anda pelos arredores de Louisville, Kentucky.

Ela mudou muito depois de tudo o que houve, até sua aparência. Seus cabelos que eram meio loirinhos estavam se torando ruivos. Amanda estava com uma personalidade mais forte e muito mais inteligente com o tempo, mas ela usava sua inteligencia para coisas péssimas.

Eu simplesmente não aguentava mais ficar em Santa Mônica, eu me lembrava de Wilston, Jones, Matilde e Fred e isso me irritava profundamente. Sem contar que eu não aguentava mais ficar naquela clinica de reabilitação olhando janela á fora vendo a grama secar e observando os cachorros brincarem, isso me lembrava o Wilston.

'' Uma coisa era certa, ficar pra sempre na clínica de reabilitação não era uma coisa que eu queria. Sofri desde os meus três anos de idade e é claro que se eu fosse para o mundo á fora aconteceria muitas coisas piores mas agora eu sabia me cuidar e muito bem alias. Não adiantaria de nada ficar presa na clínica de reabilitação de Santa Mônica pro resto da minha vida observando o mundo lá fora e sentada em uma poltrona tomando remédios. Eu queria aventura, romance e até mesmo um pouco de perigo. Mas eu acho que eu nunca mais conseguiria ter afinidade com outras pessoas ou animais por medo de perde-las e se caso eu acabasse perdendo eles, eu iria para o fundo do poço e nesse caso, me afundar no inferno até não conseguir mais sair. E isso seria o pior.''

Não vou dizer que ir para Kentucky foi a melhor coisa que me aconteceu, porque isso é pura mentira. Eu apenas fui porque não aguentava mais ficar em Santa Mônica e lembrar de tudo que aconteceu ali.

Minha barriga roncava até chegar em Kentucky e doía tudo em volta dela. Havia algumas barraquinhas ao redor de algumas casas no centro, estavam vendendo comida, joias, ração, peixe. Mas eu não tinha nenhum dinheiro, então quando o vendedor da barraca de comida virou de costas eu consegui roubar um saquinho de broas. Coloquei ele debaixo do casaco e sai correndo, indo parar em um beco. Me sentei mais ao fundo do beco e tirei o saquinho debaixo do meu casaco e o abri, colocando uma broa na boca. Enquanto eu comia escutei um barulho de lata de lixo sendo derrubada e me virei rapidamente para ver de onde vinha o barulho e realmente, tinha uma lata de lixo derrubada e um gato comendo os restos. Olhei para ele com um sorriso e o chamei. Fazendo aquele barulho para chamar os gatos, ele rapidamente veio assim que percebeu o pacote de broa em minha mão. Tirei uma broinha do pacote e fiz ele vir até mim e ele veio, pegou a broa e a comeu ali mesmo e em seguida se encostou em mim e começou a ronronar. Dei um sorriso e o acariciei. Ele era lindo, um gato preto com uma grande mancha branca em baixo, me apaixonei por ele. Acho que fiquei algum tempo ali comendo as broas junto do gato, mas rapidamente ficou noite e o ar frio começou a cair e gotas de chuva começaram a bater em minha testa, eu iria acabar pegando um resfriado ali. Me levantei e segurei o saquinho de broas, corri para um abrigo que ficava perto de um apartamento, parecia deposito de lixo, mas eu não estava nem ai, apenas me aconcheguei lá e o gato tinha ido comigo. Eu apenas deixei e me deitei com ele numa espécie de palha. Resolvi chamar o gato de Sidney.

– Acorde garota.

Falou uma voz atraente enquanto cutucava seu pé em minha perna. Abri meus olhos lentamente e olhei para cima meio sonolenta e me deparei com um garoto bonito. Alto, pálido, cabelos loiros que mais pareciam brancos e ele olhava para mim com um sorriso torto em seus lábios.

– Invadi sua propriedade?

– Mais ou menos - ele respondeu com tédio -, isso aqui é um estabulo e você está dormindo no feno que eu preciso pegar para dar aos cavalos.

Assim que ele disse a palavra cavalos eu já consegui ouvir o relinchar de um bem perto, um cavalo batia seu casco no chão e bufava em mim e de vez em quando passava seu focinho em minha cabeça. Acho que os animais me adoram.

– Um estábulo no centro de Louisville? - eu falei meio perplexa.

– Algum problema?

– Não. Mas é que isso é uma cidade grande como Nova York e eu nunca imaginaria um estábulo no meio da cidade, só isso.

– Todos dizem isso. - ele bufou - Se quiser comer alguma coisa tem maças, pães e queijos naquela mesa.

Ele apontou para uma mesinha de rua na qual se encontrava essa comida que ele havia citado e café.

– Obrigado.

– Não tem de que. - ele sorriu e franziu a testa logo em seguida - Você não me disse seu nome.

– Amanda Grayson.

– Você pode me chamar de Hip.

– Hip? É abreviação de algum nome ou apenas um apelido?

– Abreviação. Meu nome é Hipnos.

– Hipnos? Como o deus grego do sono?

– Você parece saber sobre mitologia grega. - ele pareceu curioso.

– Na verdade sim, eu me interesso.

Ele sorriu de lado outra vez e puxou as rédeas do cavalo, saindo do estabulo junto do cavalo manchado. Me levantei e fui até a mesa onde continha os alimentos, e me servi, eu morria de fome. Sidney acordou e veio até mim, ele pulou em um dos banco e me observou, como se pedisse para eu servi-lo. E foi o que eu fiz. Coloquei um pedacinho de pão, alguns queijos e uma maça cortada em um prato e dei a Sidney. Eu não queria me apegar a ninguém mas isso parecia me puxar intensamente, era como se eu precisasse de pessoas e animais para sobreviver e eu nunca conseguiria fazer diferente. Nunca conseguiria ficar sozinha para sempre.

Se passou algumas horas até que Hipnos chegou junto do cavalo, ele o deixou solto pelo estabulo e se sentou comigo e se serviu com um café.

– Você não é daqui, não é mesmo?

– Não.

Ele não disse mais nada, apenas bebeu seu café e observou Sidney.

– Você parece ter um jeito com animais. Como consegue?

– Eu não sei. Eles apenas... vem até mim. - falei como uma menina que não entendia nada sobre o mundo, mas deixei assim, apenas continuei a comer.

Hipnos não disse mais nada, apenas continuou a beber o café. Ele aparentava ter 19 anos de idade, ele era bonito, mas seus cabelos pareciam ser brancos. Os dois ficaram uns 15 minutos conversando e se conhecendo um pouquinho, até que Hipnos teve que sair e pediu para mim dar uma olhada nos cavalos. Eu aceitei, eu apenas olharias os animais.

Enquanto eu observava os cavalos e andava de um lado para o outro eu não conseguia deixar de pensar na minha vida. Tudo bem, eu sou uma metamorfa,uma criatura que pode se transformar em outros animais. Eu sou uma aberração da natureza, só pode.

Eu tenho certeza absoluta que meus pais não morreram de um simples acidente de transito, algo mais aconteceu e algo mais existe nesse mundo, não são só metamorfos. Não mesmo. Mas o que existe nesse mundo eu juro que não faço a minima ideia do que seja, mas tenho certeza de que pouca coisa não é.

....

CRAAK, o barulho da porta dos fundos foi aberta causando um barulho estridente pelo local. Amanda correu seus olhos para onde vinha o tal som e se deparou com um homem alto, magricela, pálido, cabelos negros e com um moletom preto. Ele correu seus olhos para ela quando percebeu que ela o observava.

– Olá, onde está Hipnos? - falou o homem de cabelos negros e pele pálida.

Ao olhar bem,Amanda percebeu que ele se parecia muito com Hipnos mas seus cabelos eram negros ao em vez de serem quase brancos.

– Eu não sei. Ele saiu a um tempinho atrás.

O homem levantou as sobrancelhas.

– Tudo bem então, eu volto mais tarde.

Ele deu um sorriso meio forçado e saiu por onde entrou. Amanda ficou pensando em quem ele seria. Quem entraria assim por trás?

Haviam se passado 5 dias e todo esse tempo Amanda ficou no estabulo de Hipnos e com Hipnos. Eles conversavam, riam e se conheciam. Ela contou para ele o que tinha acontecido com seus pais e o que aconteceu em Santa Mônica. Ele parecia entender perfeitamente, e ela até contou para ele sobre ser uma metamorfa e ele pareceu adorar isso.

Uma metamorfa? - falou Hipnos com uma cara sarcástica.

– Isso mesmo, você me acha doida?

– Claro que não. Já vi muitas coisas nesse mundo.

– Eu sabia que eu não era o único monstro nesse mundo.

Ele franziu a testa e deu uma mordida na maça e a examinou.

– Monstro? Os caçadores acham isso, eu não. Eu gosto de metamorfos. Lobisomens eu não sou muito fã, apenas das garotas. Vampiros eu gosto, demônios são uma merda e não vou falar de todos.

– Que? - Amanda arregalou os olhos, ela estava fascinada com tudo isso - Demônios? Eu imaginava que vampiros e lobos existiam, mas demônios? Nossa. O que mais tem nesse mundo?

– Deixe-me ver... - disse Hipnos enquanto examinava a maça - Anjos, fadas, deuses, caçadores, ceifadores, sereias, elfos, mestiços, upir, bruxos, fantasmas. Isso está bom para você? - disse sarcasticamente.

– Está muito bom.

Amanda deu um pequeno suspiro seguido de uma risada e Hipnos continuou olhando para a maça até resolver voltar seus belos olhos para Amanda. Os dois continuaram a conversar por mais alguns minutos até que ele recebeu uma ligação e teve que sair as presas. Amanda já estava cansada de ficar naquele estabulo, ela precisava fazer algo interessante. Ela se levantou de sua cadeira e saiu correndo para fora do estabulo.

Estava chovendo e eram umas 23:30 da noite, Amanda saiu correndo na chuva e logo colocando o capuz de seu casaco para cima, apenas para tentar proteger sua cabeça da chuva brutal que caia. A cada minuto a chuva ficava mais forte e o ar soprava mais violentamente nos cabelos ruivos de Amanda, quase levando-a para longe. Nem mesmo Amanda sabia para onde estava indo, ela só sabia que precisava dar uma volta por ai e esfriar a cabeça, pensar em alguma coisa para poder se dar bem ao restante de sua vida. Ela pensou até em entrar para a Mafia. Enquanto Amanda corria contra o vento a tempestade ficava mais forte e os relâmpagos mais intensos e seus ouvidos mais sensíveis ao som deles e do trovão que soava no céu. Seus ouvidos estavam tão sensíveis como os de animais, sua respiração estava acelerada e ela sentia que seu coração ia sair pela boca.

Amanda chegou ao centro da cidade de Louisville. As barraquinhas que ficavam ao centro da cidade estavam fechadas por causa da chuva violenta, Amanda só queria ver um colar de Jade. Ela havia se encantado com aquela joia desde o momento que chegou em Louisville. Um colar de prata com uma pedra verde reluzente de Jade que vendia na barraca das jóias, ao lado da barraca de pães. Mas estava tudo fechado por causa da chuva. Amanda bateu o pé no chão de frustração e se perguntou porque esse colar mexeu tanto com ela, era como se aquilo já tivesse lhe pertencido. Ela só precisava vê-lo outra vez para ter absoluta certeza. Amanda se xingou em baixinho por sair nessa chuva só para ver um maldito colar, mas antes que ela pudesse dar meia volta e voltar ao estábulo, ela percebeu alguma coisa reluzir em baixo da barraca de jóias e foi obrigada a ir ver ou a curiosidade iria mata-la. Amanda foi se aproximando aos poucos da barraca e percebeu que era o colar de jade, os olhos de Amanda brilharam ao ver o colar. Ele estava preso numa parte da barraca. Enquanto ela se aproximava o som de um raio soou no céu e acabou caindo na barraca de jóias e o fogo foi destruindo-a por inteiro e estava quase chegando no colar.

– Não!

Amanda gritou e pulou para o chão e tentou puxar o colar, mas acabou queimando seu braço e ele logo começou a arder. Ela ignorou a dor e continuou a tentar puxar o colar mas o fogo ardia e a chuva não conseguia conte-lo nem um minuto. Ela queimou seus dedos e tirou sua mão dali rapidamente. Enquanto ela soprava seus dedos queimados as lágrimas caiam de seus olhos. Amanda ouviu alguém se aproximar por trás dela e assim que ela se virou para ver quem era, alguém bateu com alguma coisa de ferro em sua cabeça, fazendo ela cair no chão e desmaiar imediatamente.

A ruiva acordou no estábulo e já era dia, o sol ardia no céu e Sidney dormia em cima de sua cabeça. Um ar refrescante tocava em seu rosto, sua cabeça doía e ela abria seus olhos lentamente. Quando ela conseguiu abrir seus olhos por completo ela notou Hipnos, aquele homem igual a ele só que moreno e outro, que aparentava ter uns 33 anos de idade. Eles olharam para ela assim que ela acordou e Hipnos foi em sua direção, com uma maça na mão e oferecendo a Amanda. A garota sorriu e pegou a maça da mão de Hipnos, dando uma mordida. Ela se sentou melhor e olhou para eles.

– Você está bem? - disse Hipnos.

– Minha cabeça ainda dói - ela passou a mão em sua cabeça e franziu a testa - , que diabos aconteceu ontem?

– Não sei, eu te encontrei jogada no chão no centro da cidade.

O homem que aparentava ter 33 anos se sentou em uma cadeira ao lado de onde Amanda estava deitada e sorriu para ela. Era um homem bonito, alto, usando óculos e com cabelos negros na metade do pescoço.

– Olá Amanda. - ele deu um sorriso.

– Oi.

Como ele sabia o nome dela?

– Meu nome é Hades - disse o homem - , sinto por tudo que já aconteceu com você.

– Quem é você?

– Acho que você sabe.

– Seu nome é Hades. Vai me dizer que é o deus grego? - disse Amanda sarcasticamente.

– Isso mesmo.

Amanda arregalou os olhos e os esfregou, não acreditando em nada do que Hades estava falando.

– Eu vim te oferecer um acordo - disse o Deus.

– Que tipo de acordo?

– Um que pode fazer sua vida ir para frente criança.

– Estou ouvindo.

Ele contou a ela quem são os seguidores de Hades e o que eles enfrentam e como ele escolhe as pessoas que podem servi-lo. Pelo visto os Seguidores de Hades eram uma ''associação'' de criaturas ou até mesmo humanos que são especiais nesse mundo e que nasceram para ter um propósito grande na vida. Eles servem ao deus seja no que for e fazem os trabalhos necessários. Hades disse que a maioria das pessoas que ele escolhia tinham que passar por um teste: passar três semanas em um manicômio para ver se são realmente ''fortes'' mas pelo visto esse ''forte'' que ele disse era algo maior. E depois, ficar um ano ou mais anos em sua mansão, no porão, aprendendo a ser uma Seguidora. Você aprenderia tudo, como lutar, como fazer armadilhas e tudo mais que precisasse. Ele também disse que os melhores ficam apenas um ano ou dois. Hades falou que ele que escolhe seus seguidores, ele nota a pessoa a anos e percebe como ela será boa, ou as vezes ele procura os filhos de seus ex-seguidores e também, alguns acham ele.

– Amanda - disse Hades - , você não precisara ficar no sanatório para eu ver que você é forte. Você é, já vi tudo o que você passou para sobreviver. Você apenas aprenderá como usar uma espada, uma arma e todo esse tipo de coisa. Você ficara segura, protegida e nunca mais vai precisar temer o mundo ou qualquer outra pessoa. Você terá tudo na palma de suas mãos.

A ruiva pensou. Ter tudo na palma de suas mãos? Sem fazer absolutamente nada para ter que sacrificar algo ou alguém que ela ama?

– Eu aceito.

Hades sorriu e mexeu no bolso de seu casaco e dali, tirou o colar de Jade que Amanda tanto gostava. As pupilas da garota dilataram e ela não sentiu seu corpo.

– Aqui está.

O Deus colocou o colar em uma das mãos de Amanda e as apertou, mostrando que o colar estava na palma de sua mão, como ela queria.

– Ele é seu. Você poderá ter qualquer coisa meu bem.

Ele sorriu e piscou para Amanda, o Deus se levantou da cadeira e estendeu a mão para a ruiva.

– Vamos? Precisamos começar hoje.

A ruiva assentiu e puxou Sidney, colocando-o em seus braços e segurou a mão de Hades para ele levara para fora dali.

Pelo visto, Hipnos era um deus também, o homem de cabelos negros igual a Hipnos era Tânatos, o irmão dele. O Deus do sono e o da morte. Amanda descobriu várias coisas com o passar dos tempos e foi se acostumando com tudo que Hades lhe dava. Ela seria uma ótima caçadora de Hades e uma metamorfa incrível.