Crônicas de um eu lírico Palavras de uma Poetisa

Capítulo 76 - Texto_Perfil: A Alma De Um Velho Músico


A alma de um velho músico com os olhos de quem vê o mal todos os dias – Em busca da esperança em uma xícara de café e manchas de óleo.

Sentado na cozinha da sua juventude um Jovem-Senhor tomara mais uma xícara de café acompanhado do seu velho amigo – o cigarro. Relembrando de seus anos dourados e uma antiga paixão, a música.

A cada gole de café morno, ele contou como os instrumentos musicais entraram na sua vida e tudo começou por uma fuga, ainda no Colégio (...). Com os seus dez anos de idade tinha a opção de escolher outra atividade extracurricular para suprir a Educação Física e com o seu grupo de amigos optaram pelas aulas de músicas, no primeiro momento era só de bobeira, ter um período livre sem fazer nada, porém a fuga tornou-se um refúgio e naquela pequena sala nascera uma paixão. Seu primeiro instrumento foi uma requinta (uma clarineta menor, em tom de Mi Menor). Com o tempo mudou para a clarineta e depois para o trompete para tocar em bandas de baile anos mais tarde.

Depois de se formar no Colégio (...) seguiu com o seu grupo de amigos para a carreira musical, na época se profissionalizou e chegou a ser um membro da Ordem de Músicos no Brasil (OMB) tendo como lembrança daqueles tempos, a sua carteirinha de um membro oficial. Durante os anos que se seguiram foi integrante de vários conjuntos musicais, a última a participar foi à banda Santarém, com o seu amigo de infância, Anônimo e outros componentes amigos da adolescência. Santarém abriu vários shows de outros artistas e músicos famosos, um exemplo, é a banda Pholhas.

Onze anos de estrada e o carinho continua o mesmo, enquanto compartilhava suas lembranças, nosso protagonista sentia a nostalgia, seu olhar em determinados momentos ficava perdido, com os olhos fixos na parede como se pudessem ver todas as suas memórias na parede da cozinha de uma casa antiga. Entretanto com 21 anos desistiu da carreira musical, segundo ele aqui no Brasil não seria bem sucedido, já que sua formação é em Orquestra Sinfônica, especialidade em instrumentos de sopro e com o passar dos anos ainda consegue ler e escrever partituras. Uma das curiosidades que compartilhou foi que basta ouvir qualquer música e já sabe a sua partitura; outra curiosidade foi que se ele fosse oriundo da Europa, não restariam dúvidas e daria continuidade na sua carreira, pois lá dão o devido valor ao instrumentista.

Inscreveu-se em dois concursos públicos, optando pela Polícia Civil por questões salariais. No começo pensava em concursar mais de um com salários melhores para sair da polícia, entretanto acabou desistindo, pois percebeu sua vocação na área. 21 anos de carreira e ao longo desses anos ingressou no curso de Engenharia Mecânica na Universidade (...). Sempre gostou do campo da engenharia, em conjunto com a sua paixão por carros e motos.

Hoje continua na policia a espera de sua aposentadoria, a garagem de sua casa parece mais uma mini oficina espalhada por ferramentas, peças de carros antigos e motos, porcas e parafusos e pelo piso manchas de óleo. Seu xodó é um fusca vermelho de 1968, no qual o chama carinhosamente de fusquinha, reformou o carro do zero desde o do motor aos bancos, seu volante é original de fábrica. Seu mais novo projeto é uma moto Yamaha da década de 1970.

Ao final da nossa conversa e faltando um dedo de café em nossas xícaras, nosso protagonista ascende mais um cigarro e com os olhos entre abertos o traga, fomos até o seu fusca ouvir o toca-fitas, imersos em pensamentos, o homem mais velho na sua juventude de um rebelde sem causa e a garota mais jovem nas histórias desconhecidas de seu pai, o qual o admira ainda mais.