Capítulo 35 - Crônica: Vidro Quebrado

Vidro Quebrado

Hoje acordei me lembrando de quando tinha 10 anos, um momento bem específico que me marcou e deixou uma cicatriz em minha pele. Nó pé direito para ser mais exata.

Se não me engano isso aconteceu em janeiro, no começo, acho, enfim... Estava caminhando e minha chinela era um pouquinho maior que meu número (um dedo ou dois) ~ Curiosidade: Calço 33 ~. Ela escapou enquanto eu ia subir à calçada e no exato momento pisei em caco de vidro quebrado, naquele estante sentir uma fisgada, porém pensei que tinha pisado em uma pedra e quando olhei para trás a calçada tinha pegadas de sangue, assustada olhei para o meu pé e tinha um rasgo coberto e expulsando sangue. Entrei em desespero e comecei a chorar, a partir daquele momento tudo foi um borrão que nem lembro mais.

Agora depois de onze anos me veio à lembrança e comecei a me questionar sobre aquele pedaço de vidro e de como ele foi parar lá bem escondidinho e o motivo pelo qual ele foi quebrado. Respostas que tenho certeza que nunca saberei.

E comecei a me questionar novamente, agora minha mente coberta de e se’s. Se não fosse minha chinela um pouco maior, eu teria pisado e cortado meu pé naquele vidro? E se tivesse ficado em casa, em vez de sair, eu teria ficado com aquela cicatriz? Se não fosse naquele dia, eu ainda teria pisado em outro vidro qualquer? E se... E se... E se...

O e se me corrói por dentro.

Apesar de não me lembrar daquela noite com toda clareza, tem uma coisa que não sai da minha memória: A dor.

O corte foi profundo e no hospital tiraram o vidro sem anestesia e não me fiz de forte, chorei e gritei. Foram exatamente dois pedaços de vidro um maior e o outro menor. Lembro-me de ter ficado duas semanas com o pé enfaixado (A médica não deu ponto, o que me deixou feliz, não queria mais sentir dor). E ao longo daquelas duas semanas, todos os dias tinha que fazer o curativo e sempre limpa-lo e no começo doía, mas aguentei forte e não chorei.

Ainda tenho a cicatriz que deixou a área áspera e elevada, ela não é muito visível, tem que olhar bem de perto para ver o longo traço, porém se você passar o dedo você consegue sentir.

E ainda quero saber quem foi o responsável por ter jogado aquela garrafa de vidro quebrado perto da calçada. E se não fosse eu que a pisasse, quem seria?!