Há anos, a Overwatch tinha debandado. Cada herói desapareceu, ou se aposentou, ou seguiu num ramo diferente. Angela, no entanto, continuou sendo a médica que sempre foi, ajudando quem precisava ao redor do mundo. Mas...
O mundo havia mudado desde a queda da organização. Ataques terroristas eram mais frequentes. Trabalho era o que não faltava para Mercy, a médica dos milagres; trabalho em vão, já que todos aqueles que ela curava ou ressucitava simplesmente iam novamente para morte nos campos de batalha. Mesmo que não gostasse de admitir, sentia saudades dos colegas, dos amigos, da Overwatch. Sentada em sua cama, numa barraca rebelde no meio da Faixa de Gaza, Angela pegou fotos antigas e começou a olhá-las. Também, pegou sua cesta de cartas - pois não lia cartas há tempos - e resolveu lê-las.
A autora da primeira carta coincidia com as pessoas na primeira foto. Caligrafia suave, mas firme, um olho de Hórus no "i" de "Amari". Sem dúvida, a egípcia que lhe escrevera era a mesma mulher de armadura que voava ao lado dela e do cowboy na imagem.
Cara Angela,
Há quanto tempo! Eu tenho acompanhado o seu paradeiro desde que vi você nas notícias de Oásis. Como você está? Problemas na Faixa? Eu voaria até aí pra ver você e dar uma ajuda aos rebeldes, mas a agenda tá lotada...
Você tem trabalhado demais. Toda essa pressão vai acabar te enlouquecendo! (Não mais do que eu enlouqueci quando aceitei o pedido de namoro do Jesse.)
Angela deu uma risadinha, lembrando com carinho e nostalgia do dia; Ana quase mandou prender McCree quando ele anunciou o pedido para Pharah... bem no meio do refeitório.
A questão é: descanse! Suas asas podem ser, mas você não é de ferro. Ninguém é, nem mesmo com próteses. Descanse e venha me ver. Já está na hora de fazer uma pequena reunião de colegas - e eu com certeza adoraria ver você, a minha melhor amiga, caso a fizéssemos.
Com saudades,
Fareeha Amari
Leu a data. Era de seis meses antes - ela perdia mesmo a noção do tempo quando trabalhava demais.
—Nota- disse, para o diário digital -ligar para Fareeha amanhã.
Pegou mais cartas. Proposta de trabalho, proposta de trabalho, quatro ameaças de morte (já recebera tantas que já havia se acostumado), proposta de trabalho... ali. A caligrafia levemente borrada indicava que seu autor era rápido até demais na escrita, e por conseguinte, na forma de viver. Só uma certa britânica, dentre os que ela conhecia, tinha essa característica. Abriu sem rodeios a carta de Tracer, enquanto olhava com o canto do olho a foto da inglesa subindo nas costas de um gorila com armadura de astronauta.
Hiya, doutora! Como vão as coisas?
Por quê não nos reunimos mais vezes? Chamamos a antiga equipe, vamos pra Gibraltar e celebramos!
—Em tempos como esses, pouca coisa é digna de celebração, Lena...- murmurou tristemente.
E... é exatamente isso que quero falar. Há algum tempo, o Winston mandou uma mensagem pelo antigo canal da Overwatch... chamando todos de volta. Eu fui até ele e nós detivemos aqueles dois terroristas no museu. Sabe, pra proteger a manopla do Doomfist.
A sensação foi incrível. Éramos heróis de novo! Mas ainda assim, estamos sozinhos, e precisamos de mais gente. Você gostaria de se juntar a nós?
A doutora refletiu por um momento. Teria Tracer escrito essa carta apenas para ela ou para outros também?
Eu entendo se não quiser - o novo trabalho no Oriente Médio deve pagar bem -, mas seria um favor pra humanidade. Pra nós, seus amigos, e pro mundo. E sentimos saudades da nossa doutora favorita! Responda quando puder.
Tracer
Datava de um mês antes. Angela suspirou. É, ela sentia saudades dos amigos. De Tracer, de Winston, de Ana, Torbjörn, McCree... e mais saudades de um agente em particular. Olhou a última foto, em que ela e esse mesmo agente trocavam um abraço apertado, logo após do retorno dele de uma missão em que quase perdera a vida. Era por isso - pelo medo de perder todos eles, o temor por eles arriscarem suas vidas o tempo todo, que ela estava em dúvida se era a favor do retorno da Overwatch.

Quando olhou o cesto de cartas, só restava uma dentro dele. Sem remetente, apenas uma escrita suave que dizia "Para Angela Ziegler". Por mais que lhe parecesse familiar, não reconhecia a letra. Pela data, a carta havia chegado no dia anterior.
Querida Angela,
Saudações dos Shambali, principalmente de meu mestre, são mandadas para você. Zenyatta agradece por "ter salvo a vida de um jovem que seria seu maior estudante."
Ao ler essas palavras, a médica tremeu. Seria ele mesmo, ou alguém fazendo uma piada?
Como andam as coisas? Mandei muitas cartas para você, mas temo que elas nunca a alcançaram - você esteve em Oásis, depois no Sudão, depois no Egito; agora, espero, está na Faixa de Gaza. Você parece ter sucesso no trabalho, já que te vi em todos os noticiários que encontrei.
Ela suspirou. Sucesso é relativo, ponderou.
Saiba que sinto saudades. Não me arrependo de ter deixado a Overwatch para procurar minha redenção - só me arrependo de não tê-la levado comigo. Afinal, a pessoa que salvou minha vida e ganhou meu coração não deveria ter sido deixada para ver a queda da organização.
Mas merece ver o ressurgir dela.
Algum tempo atrás, após confrontar meu irmão, recebi uma mensagem pelo canal da Overwatch. Winston estava chamando todos de volta, para reerguer-nos, provar que não cometemos os crimes pelos quais nos julgaram. Mas entrei em dúvida quanto a se eu deveria retornar. Fui de novo até Zenyatta, para que ele me iluminasse... e cheguei a uma decisão.
Ao ler o resto da carta, Mercy se alarmou. Se a carta havia chegado no dia anterior...
Resolvi que iria voltar, caso você voltasse. E como ter certeza de que você vai? Simples. Eu irei até o seu acampamento.
Guardou-a no bolso e saiu da barraca. Os homens estavam de prontidão, apontando as armas para uma figura que se aproximava da entrada do acampamento. Vestia um traje adaptado para o deserto - um nômade.
Calculei que minha chegada seria no dia seguinte à chegada da carta. Peça para seus superiores baixarem as armas - minha Lâmina do Dragão não deseja ser desembainhada.
Ela pediu para que não atirassem, que ela conhecia aquele homem. Saiu correndo até o mesmo, que caminhava lentamente. Angela ergueu o pano que ocultava seu rosto: um rosto com algumas cicatrizes, olhos verdes. Mãos metálicas a seguraram e a puxaram para um abraço, que ambos há tempos tanto desejavam.
E saiba que não vim apenas para saber sua resposta. Mesmo que ela seja "não", não pretendo ir embora tão cedo. Há anos que desejo te ver outra vez, Angela, e quero ficar com você. Bem ao seu lado.
Watashi no tenshi...— o nômade sussurrou.
—Eu senti tanto a sua falta...- respondeu Mercy, olhando-o nos olhos e puxando-o para um beijo.
Eles se olharam por um longo tempo antes que ela dissesse:
—Vou arrumar as minhas malas. Nós vamos voltar.
Ele apenas sorriu serenamente.
—Vamos.- E, de mãos dadas, foram até a barraca.
Sei que salvar vidas é o seu trabalho e dever. Amo você por isso - e por outros fatores. Sendo de volta à Overwatch ou não, eu acredito que você ainda salvará muitas. E eu estarei ao seu lado para vê-la.
Genji Shimada.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.