Mônica entrou na cidade com júbilo e sendo agraciada pelos cidadãos. Agradecendo a todos se dirigiu a algumas pessoas que estavam chorando. Ela se prostrou na frente delas e fez um gesto colocando sua espada em cima do escudo. Como não entendi o que aquilo simbolizava, me dirigi a Ana.

— O que significa o gesto da comandante?

— Ela está saudando as famílias que perderam seus entes queridos na batalha – me respondeu.

— As duas faces da guerra – disse Cascão – a comemoração de alguns se reflete com a tristeza e a perda de outros.

— Verdade – concordou Yugi.

— Logo percebe-se que vocês não são homens de guerra – falou com um pouco de desdém – não sei como suspeitamos de vocês.

— Com todo respeito, mas você não parece ser uma guerreira que enfrentaria o tipo de batalha que assistimos hoje – falei.

— Você pode tirar a sua dúvida com minha espada – falou irritada e apontando sua arma para mim – não pense que sou uma moça indefesa que precisa ser salva.

– Desculpa. Não quis ofendê-la.

Ela guardou a espada e continuou andando. Nós a seguimos até ela encontrar a comandante e suas colegas. Ambas se abraçaram e se viraram para nós. Mônica se aproximou e nos olhou por um instante. Devia estar pensativa. Então começou a falar.

– Acredito que cometi um erro com vocês – começou – nosso tratamento para com vocês foi inaceitável. Sem contar que não demos chance de se defenderem. E desculpe pelo soco.

– E depois que assistimos é bom estar do seu lado comandante – brincou Cascão. Como sempre seu bom coração falando mais alto.

– Penso que seria falta de educação não aceitar suas desculpas, comandante – falei.

– Admito que é difícil desculpá-la, já que receber um soco de alguém desconhecido sem motivo algum é um fator muito sério – comentou Yugi – porém, acho que seria elegante de minha parte te dar uma nova chance.

– Obrigada rapazes. Podem me chamar de Mônica – sorriu a comandante.

– Acompanhem nossas celebrações esta noite fofos – intrometeu-se Denise – se vão ficar tem que saber como funciona nossa cultura.

– Ótimo Denise – concordou Mônica – você, o Xaveco, a Sofia e a Aninha podem se encarregar de apresentar a cidade a eles e lhes indicar algum local para passarem a noite.

Elas assentiram com a cabeça e pediram para que os seguíssemos. Caminhamos até um local com três cabanas de madeira, uma ao lado da outra. Eles nos apresentaram a primeira cabana abrindo a porta. Era um local simples. Possuía uma cama, uma mesa com duas cadeiras e uma espécie de lareira, provavelmente para o inverno. Realmente lembrava um pouco as moradias da Idade Média no nosso mundo. Nos levando as demais choupanas, percebemos que eram muito parecidas, os mesmos móveis e a lareira para aquecer o local. Os quatro nos informaram que cada um de nós deveria ficar hospedados nas mesmas. Interessante ter um para cada. Espero que não queiram nos espionar. Eles nos deixaram lá e iam saindo quando me lembrei

– Vocês não tinham que nos levar para conhecer a cidade?

– Amanhã faremos isso e vocês saberão o porquê a noite – falou Denise.

Não entendi muito bem, contudo entrei na cabana e fui descansar um pouco neste dia corrido e totalmente inimaginável.

Com o raiar da noite, Cascão veio à choupana e começou a falar.

– Dia estranho, não irmão?

– Com certeza! – respondi – em um momento estávamos indo passar férias e no outro em uma guerra dentro de outro mundo.

– Sim...mas me preocupa não saber como voltar para casa. Não podemos viver aqui para sempre.

– Verdade. Acho que teremos que pedir ajuda aquela mulher cega, a Dorinha. Ela pareceu entender porque estamos aqui. Sem contar que nos salvou das masmorras.

– Já pensaram na hipótese de termos sido transportados segundos antes de batermos nosso carro? – interveio Yugi – e se existe algum propósito de estarmos aqui?

– Tipo uma profecia? – propôs Cascão intrigado.

– Por aí...creio que não perdemos o controle do carro por mera coincidência.

– Mas eles não comentaram nada – disse um pouco descrente.

– Taí uma coisa que temos que procurar saber – falou Yugi.

– Vamos perguntar para a Dorinha. Como já comentei com o careca, ela deve ter a resposta! – falou Cascão empolgado. Neste momento um homem chegou e bateu na porta. Levantei-me e fui abrir. Era o Xaveco.

– A comandante pede a vossa presença na cerimônia da batalha.

– Precisa ser tão formal assim? – perguntou Cascão sorrindo.

– Ossos do oficio colega – respondeu sorrindo.

Levantamos e seguimos o soldado. Nossa conversa ficaria para outra hora. Admito que estava curioso para conhecer como eles celebravam a vitória após cada batalha. Porém, quando cheguei no local o que vi foram piras funerárias com os corpos dos falecidos em combate. Estranhei! Era assim que eles comemoravam um triunfo? Me pareceu mórbido. Observando com atenção deu para perceber as pessoas que estavam próximas aos altares eram as mesmas que a Mônica tinha feito reverência. Repentinamente, a comandante se aproximou de cada pira e entregou um objeto. Logo após isso um membro de cada família ascendeu uma tocha e a colocou na pira de seu familiar falecido. Um silêncio tomou conta do local por algum tempo até que gritos de “vitória, vitória” começaram a ser entoados pelas pessoas, inclusive os enlutados.

– Essa é a despedida da vitória de nosso povo! – disse alguém ao meu lado.

– Ana?! – me espantei – é um ritual diferente.

– Pode me chamar de Aninha – falou sendo cordial – no seu mundo não existe nada parecido?

– Não. Há algumas comemorações de luto, pela passagem do morto ao outro mundo, mas não reconheci nada parecido com a minha Terra – respondi.

– Você vem de um local onde a guerra parece distante – comentou – infelizmente temos que conviver com ela diariamente e é uma honra se sacrificar pela nossa cidade e por Endívia.

– Mas Endívia não é o reino rival de vocês? – perguntei meio confuso.

– Todos nós somos endivianos. Mas quem está no poder não representa o nosso povo, por isso lutamos para libertar nosso país.

– É confuso – falei. Ela sorriu.

– Vai ter tempo para entender. Esse é um dos motivos para não termos levado você e seus amigos para conhecer a cidade. A comandante se esqueceu dos preparativos para esta noite e precisávamos ajudar a organizar a cidade.

– Compreendo – falei – perdão ter feito um comentário sobre você não aparentar ser uma guerreira...

– Sem problemas! Mas você me lembrou meu antigo namorado, por essa razão apontei a espada. Certo vamos comemorar agora. Teremos um banquete coletivo para toda a população.

A segui e quando cheguei ao local tinha uma mesa farta com frutas, legumes e carne assada. Realmente é difícil de imaginar que daria para todos ali. Me aproximei e vi Yugi e Cascão começando a se servir. Realmente parecia que a dias não tínhamos uma refeição decente (se bem que estamos aqui a apenas dois dias). Para a minha surpresa o banquete acabou servindo a todos, muitos estavam felizes, mesmo os que haviam perdido seus familiares celebravam sua memória. Cascão se aproximou de mim.

– Temos que conversar com a Dorinha sobre nossa estadia nesse mundo.

– Precisamos encontrar com a comandante – respondi – Aninha, pode nos levar até a comandante Mônica?

– Agora? – perguntou de boca cheia. Fiz um sim com a cabeça – tudo bem, vamos.

Fomos até a Mônica que estava comendo com algumas amazonas. Ela nos recebeu e Yugi tomou a palavra.

– Comandante, precisamos falar sobre como viemos parar aqui, nesse mundo. É uma questão importante, pois não fazemos ideia de como voltar.

– Podem conversar com a Dorinha...a percepção dela com esses acontecimentos supera muita coisa – falou tomando um gole de vinho – mas vamos esperar até amanhã, vamos aproveita a noite. Mais vinho!

Ela gritou e nos convidou a sentar. Aceitamos a oferta gozamos da noite com nossos novos amigos.

POV Imperador Cebola

Despertei assustado! Não sei o que meu sonho significava, a única neste momento era que a batalha já havia acabado e pela manhã receberia as notícias. Algo me dizia que não teria sido um resultado benévolo para mim. Porém, tenho o pressentimento que logo saberei o significado do sonho e se terei de recorrer a alguém que nunca pensei que precisaria de sua ajuda. Voltei a minha cama e logo adormeci.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.