Naquela mesma noite Crystal foi instalada em um quarto na mansão. Talvez no dia seguinte tivesse a sorte de sair daquele lugar.

A mulher aguardava em silêncio frente às grandes portas até que pudesse enfim fazer seu pedido.

– Quer me pedir algo, não?

– Sim.

– Quer você mesma cuidar da garota.

– Sim. Meu coração não aguenta assistir tudo de longe, impotente.

– Vá. Sei como se sente. Vá e cuide dela, mas não interfira no que deve ser feito.

– Sim minha senhora.

Quando a Virgem Escriba se retirou, a escolhida permaneceu parada próxima à fonte de mármore branco. O sorriso que se formou em seus lábios até a surpreendeu fazia algum tempo que não sorria, mas agora o tempo que não sorri, mas agora o tempo seria mais bem aproveitado. Voltaria a ser feliz.

…´

No dia seguinte, na mansão, Manuel se despedia de Payne quando os dois ouviram alguém correr.

– Pai! Aonde vai? _ Crystal perguntou ofegante pondo-se entre Manuel e Payne sem a menor cerimônia.

– Vou trabalhar. O que aconteceu?

– Posso ir com você? Eu posso sair daqui não é? Eu sei que prometi voltar e vou voltar, mas preciso sair daqui antes de enlouquecer!

– Por que iria enlouquecer? _ Manuel se preocupou, sua filha não era do tipo que fazia drama.

– Vampiros, vampiros, vampiros, vampiros! É a única coisa na qual consigo pensar! Nem dormi pensando nisso! Daqui a pouco alguém vai vir falar sobre fadas, gnomos, bruxas e sei lá mais o que! Não vou contar a ninguém. Para quem eu iria contar?! Alguma fanática por crepúsculo ou Diários de um Vampiro?! _ Crystal falava e gesticulava sem parar, beirando a histeria.

– Não se esquece de House of Night. É bom. _ Lassiter disse, passando pelo trio exaltado e indo em direção à cozinha.

– Tudo bem. _ Manuel suspirou. – Vamos falar com Wrath. Creio que você já pode ir. _ uma ponta de tristeza se notava na voz dele.

– Talvez tenha passado da hora. _ Payne disse ríspida e retirou-se, esbarrando no ombro de Crystal, quase a derrubando.

Manuel e Crystal ficaram olhando Payne atravessar a sala e subir as escadas a passos largos.

– Vamos. Depois falo com ela.

– Melhor ir agora, não?

– Não. Se eu for agora ela vai estar irritada demais e vai incitar briga. Anda, vamos falar com Wrath.

Minutos depois, pai e filha estavam no Porsche de Manuel e Crystal sorriu para a liberdade que se apresentava a ela.

Payne andava pelo quarto como uma leoa enjaulada quando ouviu baterem a porta.

– Payne? _ era Ehlena. - Payne?

O tom da resposta que Ehlena recebeu não foi nem de longe amigável.

– Entre. _ Payne ficou de pé, voltada para a porta assistindo a loira entrar como se entrasse em um campo minado. – Não precisa ter tanto medo! Minha irritação não é com você!

Essas palavras foram como um banho de confiança em Ehlena que endireitou a coluna e levantou a cabeça olhando a morena nos olhos.

– Então com quem é?

– Ninguém! _ Payne deu as costas a Ehlena e andou em direção à cadeira de Manuel indicando para a outra o divã próximo à parede.

– Você e Crystal não são exatamente amigas, não é?

– Como sabe que é com ela o meu problema?

– Vi você subindo como uma bala e logo depois os dois saíram, então pensei que pudesse ser com ela. Mas você ainda não me respondeu.

– Não me importa. Não sou do tipo maternal e não sou mãe, então não sou a melhor para lidar com crianças.

– Ela não é uma criança e você lida muito bem com a Nalla que só tem cinco anos, por que com a Crystal é tão difícil?

– Não sei, mas ela me perturba, como se algo nela fosse uma ameaça para mim.

– Não seriam apenas ciúmes? Eu senti ciúmes do Rehv com as garotas que trabalham do Iron Mask. Mas com o tempo passou, eu percebi que elas não são ameaças para mim e até me tornei amiga de algumas.

– Acha… Acha que estou sendo paranoica e que o que sinto por ela é apenas ciúmes?

– Pode ser. Por que não tenta se aproximar dela?

– Talvez você tenha razão. Obrigada Ehlena.

– Não precisa agradecer. Se precisar falar com alguém, pode me procurar a qualquer hora.

Quando Ehlena retirou-se, Payne permaneceu sentada, olhando as coisas de Manuel dispostas sobre a mesa.

– São ciúmes. Tem que ser. Não posso estar me sentindo ameaçada por uma garota de dezessete anos que ainda por cima é filha dele!

Payne levantou-se e foi tomar banho, não queria perder o café da manhã e depois passar por um interrogatório por parte de seu gêmeo.

Manuel guiava em silêncio quando de repente começou a rir.

– O que é tão engraçado? _ Crystal perguntou.

– Você.

– O que? Eu por quê?

– Já notou que você fala sem parar quando está nervosa?

– Sim. _ ela respondeu com o rosto afogueado.

– O que você disse hoje sobre fãs de Crepúsculo, Diários de um Vampiro e o Lassiter completando com House of Night foi cômico no meio da tensão com a Payne.

– Isso é verdade. Esse Lassiter não é um vampiro, não é?

– Como você sabe?

– Acho que intuição. Ele é diferente dos outros. Não tem a mesma expressão de: “Me olha duas vezes que sou capaz de te matar”. Que os outros têm.

– Ele é um anjo.

– Ele é tão bonzinho assim ou os outros que são muito malvados demais?

– Nem uma coisa, nem outra. Ele literalmente é um anjo.

– Tipo, anjo… anjo? _ Crystal falava descrente.

– Sim.

– Anjo daqueles do paraíso?

– Sim. Bom, acho que sim.

– Ah meu Deus!

– O que foi?

– Isso tudo é irreal demais!

– Por enquanto. Depois você se acostuma.

– Eu espero. Se continuar com tantas surpresas, acho que eu tenho um ataque cardíaco!

– Nem fala uma coisa dessas!

– Pai, por que Payne oscila comigo? Por que uma hora ela me trata bem e na outra faz o que fez hoje? _ a voz de Crystal expressava toda a sua tristeza.

– Não sei querida. Mas vou conversar com ela.

– Evite brigar. Não vale a pena.

– Não vou brigar, só vou perguntar.

O resto do caminho até p banco do avô de Crystal, Manuel e a filha mantiveram uma conversa leve, relembrando coisas da infância dela.