Crying In The Rain.

Would you love a monster? PART. III


Lembrei de minha conversa sobre vampiros com Taylor. Muitas informações estavam erradas.

- Vampiros são queimados no sol até virar poeira. São enfraquecidos por água-benta. Tem sede por sangue humano. Pode até tomar sangue de animal, mas não dá a mesma força. Vampiros podem se desligar da humanidade.

Então lembrei de minha conversa com Leana.

– E a água-benta? - Perguntei.

– Bebível. Elas não nos afetam. Pelo menos não os vampiros.

Franzi o cenho.

“Pelo menos não os vampiros”, sua voz ecoava dentro de meu cérebro.

- Existem outros seres sobrenaturais?

- James… - Ela pegou em minha mão, parecia estar pensando como falar. - É sobre exatamente isso que preciso falar com você.

Meus olhos se arragalaram. Leana estava tentando me dizer que Carolline era um demônio. Água-benta… Demônios…

– Leana! - Gritei, as duas me olharam. - Aguente firme!

– Estou tentando. - Leana disse bufando, tentando desviar do pedaço de madeira na mão de Carolline.

– Já está cansada, querida? - Carolline provocou, dando um sorriso de lado.

– Pelo visto você também. - Leana deu um salto, ficando por cima dessa vez, apertando com força o pescoço de Carolline.

Respirei fundo e corri como nunca para dentro do hotel, onde encontrei Brian concentrado em meu quarto.

– O que está fazendo? - Brian perguntou eufórico. - Era pra você ajudar Leana!

– Carolline está com uma estaca de madeira na mão tentando matar Leana, e eu estou tentando fazer água-benta. - Sorri irônico. - Com licença.

Busquei uma garrafa de água e o meu crucifíxo que estava dentro do bolso da minha calça. Pensei um pouco nas palavras em Latim, não tinha certeza como era. Então, uma mão tomou a garrafa e o crucifíxo de mim.

Era Brian, começou a rezar. Esperei, apenas observando.

Ele abriu os olhos e me devolveu a garrafa.

– Você sabe o que fazer. - Assenti com a cabeça. Brian me puxou pela camisa de uma forma agressiva. Me fuzilou com os olhos. - Se algo acontecer com Leana… Eu mato você.

Assustado, assenti com a cabeça novamente. Brian me largou e sai em disparada para a floresta.

Ao chegar, vi as duas lutando bravamente, porém Carolline enfiou a estaca na barriga de Leana e a mesma deu um grito de dor, se virando para o lado.

Corri mais para chegar perto delas. Carolline virou Leana de frente e, sorrindo, direcionou a estaca de madeira para o coração de Leana.

Derramei a água benta em cima de Carolline. Sua pele começou a queimar e ela se contorceu, caindo no chão.

Mas não era o bastante. Continuei jogando a garrafa inteira, pouco a pouco, nos lugares mais sensíveis, em Carolline.

Esperei meu coração se desacelerar novamente e peguei Leana no meu colo. Ela estava desmaiada.

Brian chegou com a arma. Olhou Leana e para mim depois.

– Leve-a para um lugar seguro. - O mago olhou novamente para Carolline. - Dessa vez você não escapa, vadia.

Não vi o resto da cena, por mais que quisesse ver com meus próprios olhos aquela vadia morta e em um espetinho, precisava cuidar de Leana.

Corri para o hotel e a velha senhora, com uma expressão de pavor, me parou no meio do caminho.

– O que aconteceu com a menina? Precisa levá-la para o hospital!

– Não, deixe comigo. - Sai correndo e me tranquei no quarto.

Levei Leana até a cama e devagar a deitei. Busquei um pedaço de pano e molhei com água. Sentei ao lado dela na cama novamente e levantei sua blusa, para ver sua barriga. Estava sangrando, porém não tinha vestígios que algo estava machucado.

Limpei o sangue e levei o pano até a pia do banheiro. Voltei e sentei ao seu lado, olhando para o seu rosto. Sorri de lado. Como Leana era linda. Levei dois de meus dedos até seu rosto.

Alguns segundos depois, vi dois de seus dedos da mão esquerda se mexerem e, em seguida, seus olhos começaram a se abrir devagar.

Leana esfregou seus blocos oculares e murmurou baixinho:

– Onde estou? - E então seus olhos se arregalaram e, de uma forma bruta, ela sentou na cama, olhando para mim. - Carolline. Matamos Carolline?

– Calma, descanse. - Falei, acariciando seu rosto. - Brian estava a caminho, quase matando-a, e eu te trouxe aqui. Ela te feriu, porém ao levantar sua blusa, não vi nenhum ferimento, apenas sangue.

– É… - Leana disse, se sentando melhor na cama e eu me aproximei mais da mesma. - Nós vampiros nos curamos rápido.

– Hum… Entendi. - Sorri, olhando em seus olhos. Minha expressão ficou séria, antes de continuar a falar. - Quando Carolline pegou uma estaca de madeira para te matar, eu fiquei com tanto medo. - Ela me olhava nos olhos também. - Pensei que ia te perder.

Acariciei de leve seu rosto e ela pegou minha mão, acariciando a mesma.

Leana sorriu, desviando seus olhos dos meus por alguns instantes, mas novamente olhou para eles.

– James… - Ela mordeu seus lábios, parecia ter desistido de falar. Respirou fundo e continuou. - Você amaria um monstro?

A pergunta me pegou de surpresa.

– Você está falando da…

– Não. - Leana me cortou. - Estou falando de mim.

– Leana… Você não é um monstro. - Falei, a olhando nos olhos. Ela sorriu. Sorri também. - Você é a pessoa mais inteligente, esperta e de bom coração que eu conheço.

– Não fale isso. - Ela disse, com uma expressão triste. - James… Não sou de bom coração.

– É claro que é. - Peguei seu rosto com as minhas mãos, chegando perto dela. - E eu te amo.

As palavras sairam da minha boca, e eu vi que foi a maior verdade que eu já falei em minha vida. Os olhos de Leana arregalaram e ela sorriu torto.

– Eu… Eu amo você, James.

Sorri de leve e fui chegando meus lábios mais perto dos dela. E então, interrompendo meus próximos movimentos, a porta do quarto abriu em uma velocidade grande e bateu na parede. Engraçado, pois eu havia trancado a mesma com a chave.

Eu e Leana nos assustamos e olhamos para porta, onde apareceu um Brian furioso que, com certeza, abriu a porta com magia.

Bufei de cansaço. Ele tinha mesmo que aparecer agora?

– Brian? - Leana o chamou.

O mesmo fechou o punho e bateu na parede e olhou para nós.

– Ela fugiu! De novo! Aquela filha da puta! Nós vamos matá-la!

– O que?! - Eu e Leana indagamos ao mesmo tempo.

– Eu irei preparar dez balas para colocar nessa arma. E então, vamos fazer outro plano.

– Carolline não é burra. - Falei. - Ela não vai confiar em mim novamente.

– Nós vamos fazer um outro plano!

– Brian, - Leana falou - deixa pra lá.

– Deixar pra lá? - Me intrometi. - Claro que não, Leana! Ela arruinou minha vida e da minha irmã e…

– Ela tentou matar você! - Eu e Brian falamos ao mesmo tempo e nos olhamos, surpresos.

Leana riu.

– Gente, calma… Eu to viva. - Leana pensou por alguns segundos. - Quer dizer. Mais ou menos. Vocês entenderam.

Nós três rimos por alguns segundos. O clima de tensão no ar já havia passado.

– Bom, - Brian começou a falar - vou bolar um plano e então vou te procurar, Leana. E então nós três vamos acabar com aquela vadia.

– E o que pretende fazer? - Quis saber.

– Usar água-benta, arrancar sua cabeça. Algo poético. Nós vamos ver. Até.

E então o mago desapareceu. Olhei para Leana e franzi o cenho.

– O que ele tem com você, Lea?

Parecia que ela foi pega de surpresa pela minha pergunta e ficou vermelha.

– Nada. Apenas meu amigo, por que?

Olhei para baixo, pensando. Não parecia que Brian não via Leana com os mesmos olhos que ela o via. Olhei em seus olhos novamente e acariciei seu rosto.

– Nada… Não. Deixa pra lá.

– James… Vamos embora hoje. É perigoso ficar mais tempo. Assim como Brian está bolando um plano para acabar com Carolline, ela também deve estar bolando um plano para acabar com a gente.

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Cai em um sono profundo, pois estava muito cansado. Mas então não durou muito tempo, assim que senti alguns dedos gelados acariciar meu rosto.

Abri meus olhos, virei minha cabeça para o lado e avistei Leana.

– Chegamos. - Ela sussurrou, sorrindo.

Sorri tambem e saímos do ônibus.

– Bom… Até mais.

– Dorme na minha casa comigo hoje, Leana. - Sorri, sentindo minhas bochechas corarem. - Sabe… Não é seguro ficarmos sozinhos.

Leana riu e assentiu com a cabeça. O caminho até minha casa foi silencioso.

Cheguei em casa e tudo estava apagado, procurei o interruptor e acendi as luzes.

Fui em direção ao meu quarto e Leana me seguiu, deitando na cama. Deitei ao lado dela e dei um suspiro de satisfação.

Pode não ter sido tudo como queríamos que fosse, mas no final, eu estava deitado na cama com a mulher da minha vida.

– Sabe… - Leana cortou meus pensamentos. - Como você atraiu Carolline para seu quarto?

Ela se virou para me olhar. Pensei por alguns segundos antes de responder.

– Hum… Tentei do único jeito que sabia que ia dar certo.

– Que é…? - Ela me perguntou com um sorriso divertido no rosto, porém, conseguia perceber, nem que fosse um pouco, que Leana estava com ciúmes.

– Você sabe o que é. - Ri por um segundo. - Está com ciúmes, é?

Leana ficou vermelha e não me respondeu.

– Sabe… - Continuei falando. - Quando eu estava beijando ela, atraindo-a para meu quarto… Eu queria que fosse você lá no lugar dela.

Senti minhas bochechas ficarem quentes e vi que as dela coravam.

Leana sorriu torto e chegou perto de mim. Rocei meus lábios aos dela e selei os mesmos, começando um beijo, e ela me correspondeu.

Trouxe seu corpo mais perto do meu e acariciei seu rosto enquanto a beijava de forma carinhosa, calma, com saudades.

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Quando acordei, me espreguicei e não senti nenhum corpo ao meu lado. Esfreguei meus olhos e Leana não estava lá.

Levantei e fui fazer minha higiene no banheiro e fui até a cozinha, onde lá ela estava, preparando algo para comer.

Cheguei perto dela e a abracei por trás, então Leana me afastou em um movimento brusco, se virando para mim com os olhos arregalados.

– Ah… - Leana suspirou fundo e eu franzi o cenho. - É você, James.

Ri por alguns segundos.

– Quem mais poderia ser?

– É que… Bom, hoje tem lua cheia. Eu costumo ficar muito assustada esses dias.

– Por que? - Perguntei, dando uma leve risada.

– É que os lobisomens costumam sentir o cheiro de vampiros, e a maioria adora brincar. Uma mordida de lobisomem pode matar um vampiro.

Leana me explicava enquanto cortada um pão e passava manteiga. Ela se virou e deu o prato para mim.

– Vamos, coma alguma coisa. Eu já comi.

– Você acordou cedo, hein? - Falei enquanto levava o prato para a mesa da cozinha e sentava na cadeira. Leana sentou ao meu lado.

– É… Quando lembrei que hoje tinha lua cheia, fiquei com muito medo e não consegui dormir mais.

Acariciei seu rosto e beijei seus lábios.

– Não vai acontecer nada, meu amor.

– Assim espero. - Ela sorriu. - James… Posso tomar um banho na sua banheira?

Sorri maliciosamente e mordi seu lábio inferior antes de responder.

– Depende. - Ela me olhou com um olhar travesso. - Posso tomar com você?

Leana levantou e me puxou pela mão em direção ao banheiro.

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– Puta merda! - Resmunguei ao sentar na cama, depois do banho de banheira.

– O que houve?

– Esqueci que hoje é segunda. Estou atrasado pro trabalho, vão me matar.

Leana gargalhou.

– Ok, se vista e saia. Vou pra casa, mais tarde me arrumo pro trabalho.

Busquei uma regata branca e uma calça jeans preta com uma jaqueta preta e um tênis branco.

– Está lindo. - Leana disse, puxando meu corpo para se aproximar ao dela. Encostou seu rosto perto de meu pescoço e deu um suspiro. - E está cheiroso também.

Ela me olhou e nós dois rimos.

– Não tinha como não estar cheiroso né, depois do meu banho de banheira relaxante com a minha vampirinha.

Apertei sua bochecha e ela sorriu.

Peguei em suas mãos e sai de casa com ela. Já que estava atrasado de qualquer jeito, levei Leana para casa e fui para meu trabalho.

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– Vejo que chegou atrasado.

Uma voz familiar e não muito agradável entrou no ar, quando estava guardando as coisas para ir embora, pois já havia trabalhado. Metade do tempo, porém havia trabalhado mesmo assim.

Respirei fundo e virei para trás, avistando minha chefe. Ela tinha os cabelos ruivos naturais, lisos com uma franja caindo levemente pelo seu rosto, a pele pálida e os olhos azuis.

– Sinto muito. Não tive um bom fim de semana.

Cássie me olhou dos pés à cabeça. Fiquei constrangido com essa intimidação e desviei meu olhar.

– Cássie! - Ouvi uma voz familiar, uma voz que eu sentia saudades de conversar com ela.

Taylor gritou e em questão de segundos as duas estavam sorrindo uma para outra e se abraçando.

– Hum… - Entrei na conversa - Vocês duas se conhecem?

– Sim, James. Eu já havia falado isso para você. Se não fosse tão distraído… - Taylor disse rindo e Cassie acompanhou sua risada.

– Ah… Desculpe. - Eu dei uma risada fraca, constrangido.

As duas começaram a conversar freneticamente e por um momento achei que era invisível. O que foi bom, pude dar o fora antes da lição de moral sobre responsabilidade que eu sei que eu ia receber de Cassie por ter chegado atrasado.

Comecei a andar devagar. Estava um dia agradável, apesar de que nós não conseguimos matar Carolline, pelo menos eu estou com Leana, a pessoa cuja eu sempre deveria estar.

Então no meio do caminho, senti uma mão bruta me puxar. Virei-me e dei de cara com o careca tatuado.

– Rick. - Bufei o nome dele.

– James, fique longe de Leana. Já estou avisando. Você não sabe quem ela é de verdade. Vai se decepcionar. Esqueça ela. - Rick dizia tudo olhando diretamente em meus olhos. Tinha um palpite de que estava tentando me hipnotizar.

– Você ainda é apaixonado por ela, não é? - Falei sorrindo de lado. - Não devia ter matado os pais dela, cara. Ela nunca vai te perdoar por isso.

Rick arregalou os olhos, parecia surpreso, o que deixou tudo muito mais divertido.

– E, cara… - Parei um pouco, lhe dando um olhar travesso. - ''Nunca'' para um vampiro, é muito tempo.

Comecei a andar e não ouvi passos atrás de mim. Rick provavelmente deveria estar paralisado por o que tinha acabado de ouvir. Porém, serei realista: com certeza isso dará problemas para mim no futuro. Mas não será nada que não poderei resolver.

Parei em frente ao open bar e suspirei fundo e entrei. Estava ainda no turno da Leana, porém não consegui encontrá-la.

– Com licença, - Chamei uma mulher que estava atendendo os clientes, ela se virou para mim e esperou que eu continuasse. - Leana Silver… Veio trabalhar hoje?

– Sim, mas foi embora mais cedo. Disse que estava passando muito mal.

Passando mal? Franzi o cenho. Até onde eu saiba, vampiros não passam mal. Olhei para janela e avistei uma grande e iluminada lua cheia.

Lembrei do que Leana havia me dito:

– Uma mordida de lobisomem pode matar um vampiro.

Estremeci. Deve ser por isso que Leana foi para casa mais cedo, devo passar lá.

Comecei ir em direção à porta e cortei caminho por alguns becos para chegar na casa de Leana.

Apressei o passo, as ruas estavam muito solitárias e escuras e, depois da minha experiencia no dia anterior, eu estava um tanto paranóico com perseguição.

Então, ao andar um pouco, comecei a ouvir um choro baixinho, porém, não deixava de ser um choro pertubador. Parei e olhei para os lados, até que avistei uma figura sentada e encostada em uma parede perto de um dos becos que eu havia passado.

Meu coração estava acelerado. Resolvi chegar mais perto e me assustei, pois havia conseguido visualizar quem era.

– T-Taylor? - Perguntei em um sussurro, com a voz falhando e gaguejando.

Ela olhou para cima e fiquei impressionado. Seus olhos nunca haviam sido carregados por essa expressão de… desespero tão grande. Sua maquiagem toda borrada e seu cabelo bagunçado e seus olhos vermelhos e pedindo por socorro.

Depois de alguns segundos tentando parar de soluçar, ela finalmente falou:

– James… - Sussurrou meu nome, depois de alguns instantes, continuou falando. - A Cassie… Ela… Eu… Eu não sei o que aconteceu, de repente ela se transformou… - Taylor começou a soluçar mais e não conseguiu terminar a frase.

“Se transformou”? Meu coração começou a ficar mais acelerado na medida que ela não conseguia terminar a frase. Sentei ao seu lado e fiz com que ela me olhasse. Meus olhos buscavam alguma resposta nos dela. Segurei seu rosto com o queixo.

– Ela se transformou no que, Taylor? - Perguntei, com a voz mais firme dessa vez.

Taylor começou a chorar novamente e, em meio de suas lágrimas, sussurrou novamente:

– Lobisomem.