Crying In The Rain.

I was soaring ever higher, but I flew too high.


Quando acordei, resolvi que não ia trabalhar nesse dia. Me levantei da cama e fui até a cozinha, preparar algo para comer.

Olhei para o lado e avistei um papel e caneta e lembrei de Taylor. Fui em direção à mesa e busquei os dois objetos e levei até a mesa da cozinha.

Suspirei e sentei na cadeira, fiquei olhando o papel por alguns segundos. Então comecei a escrever. As palavras e os pedidos de desculpa começaram a sair facilmente, até que eu, enfim, consegui terminar a carta.

Sai em direção à casa da Taylor, porém, ao parar na porta da mesma, pensei se isso fosse certo. Se o melhor não fosse apenas deixá-la esquecer.

Hesitei por alguns minutos, porém logo me abaixei e, quando estava depositando a carta embaixo da porta, a mesma se abriu, e eu levei um susto e fui para trás, avistando Taylor, com uma expressão confusa.

Ao cair a ficha que eu estava em sua porta, ela levantou uma das sobrancelhas e me olhou com desdém. Levei uma de minhas mãos até a cabeça, e escondi a carta, que ainda estava em minha mão, atrás de minhas costas.

– Oi. - Eu disse, sem graça.

– Oi? - Taylor continuava me olhando com desdém.

– Er… Eu vim até aqui para te dar isto. - Estendi a carta até ela. - Eu espero que um dia você me perdoe.

Taylor, parecendo digerir essa minha atitude, pegou a carta e ficou olhando alguns segundos para a mesma. Guardou ela na jaqueta de couro e olhou para mim, com uma expressão diferente agora.

– Aprecio sua preocupação. Agora eu estou de saída.

– Eu também, na verdade. - Parei por alguns segundos antes de continuar. - Estou indo para a biblioteca municipal.

Taylor parecia surpresa.

– Eu também.

Dei um sorriso de satisfação.

– Vai ter que me acompanhar.

E eu vi, mesmo que tenha sido só por um segundo, um meio sorriso brotar em sua face e então Taylor levou uma de suas mãos até seu rosto, rindo. Ri também.

– Poxa, não sou a pior companhia do mundo, sou?! - Perguntei, em tom de brincadeira.

Ela, ainda sorrindo, respondeu:

– Não, James. Não é.

Então nós dois caminhamos juntos. Foi um trajeto silencioso, porém sem muita tensão no ar. Chegando lá, fiquei impressionado com tantas estantes e livros.

– Eai, o que está procurando? - Perguntei para Taylor assim que entramos e vi a secretária falar um “shhhh, silêncio”, a olhei com desdém e voltei meu olhar para Taylor, esperando sua resposta.

– Na verdade, vim devolver um livro. - Taylor sussurrou, tirando da bolsa um livro grosso.

– ”O símbolo perdido” - Li em voz alta. Bem, não em voz alta, por que agora eu estava sussurrando. - É um bom livro.

– Você já leu?

– Sim. - Sorri e ela fez o mesmo. Ficamos alguns segundos constrangidos, até que Taylor resolveu cortar o silêncio:

– E você, o que está procurando?

Pensei por alguns segundos. O que eu estava procurando, afinal?

– Livros de lendas urbanas. - Disse, por fim. - Quer me ajudar?

Taylor assentiu com a cabeça e foi até a secretária devolver o livro, fiquei esperando-a parado onde estava, admirando aquelas prateleiras todas cheias de inumeros livros.

Vi ela voltando, e então falou:

– Tem alguma em mente?

– Bom… - Comecei a pensar. Por um momento achei que estava enlouquecendo, mas prometi para mim que eu descobrir, de algum jeito. Podia ser loucura, porém não custava tentar. - Lendas sobre seres sobrenaturais que correm rapido, tem uma força muito grande… - Comecei a visualizar Leana em meu subconsciente. - Tem o toque frio. Tem medo de sangue. - Disse por fim.

Taylor parecia pensar um pouco, então ela me puxou pela mão até a sessão de livros fictícios. Começou a procurar.

– Bom… Tem lendas sobre demônios. - Começou a pensar, procurando alguns livros. - Dizem que eles conseguem desaparecer e aparecer nos lugares que querem, conseguem convencer pessoas facilmente. Hum… Toque frio, não sei.

– Quais outros? - Perguntei, atento.

– Lobisomens. - Taylor disse dando um sorriso divertido. - São os meus preferidos. Dizem que, algumas famílias tem essa maldição. Pessoas que tem o DNA de lobisomem, costumam sentir muita raiva, quase apagam. E então, o dia que essa pessoa matar outro ser humano, sem que seja por acidente, vira um lobisomem em todas as luas cheias.

Comecei a pensar um pouco no que eu estava fazendo. Isso era loucura. Leana não era nenhuma criatura sobrenatural! Mas resolvi continuar.

– Mas… Eles são fortes, rapidos?

Taylor balançou a cabeça.

– Mas… Você disse: Correm rápido, força sobrenatural, toque frio. Como se estivessem mortos. Tenho um palpite, porém… Medo de sangue? Não conheço nenhum.

Comecei a pensar. Definitivamente Leana tinha medo de sangue. Pensando por alguns segundos, pareceu que havia caído a ficha. Arregalei meus olhos.

– Não, não medo de sangue. - Engoli em seco antes de continuar. - Sede por sangue.

Disse por fim, não conseguindo acreditar onde eu estava me metendo. Todas as palavras que saiam pela minha boca não pareciam reais.

Como eu poderia estar pensando nisso?!

Taylor, sem hesitar ou pensar, procurou uns livros na estante.

– Esse é o mais famoso de todos. - Então ela estendeu um livro para mim. E continuou. - Vampiros.

A olhei com uma expressão séria, e fui em direção à uma mesa. Taylor me seguiu.

– Conte-me sobre vampiros.

– Você não sabe?

– Não muito. - Admiti, constrangido. Na minha infância, não tive muito tempo para acreditar em lendas.

“Lendas”, nesse caso.

– Bom… Reza a lenda que vampiros foram seres humanos que morreram com sangue de outro vampiro no corpo.

– E o primeiro vampiro, como foi? - Perguntei, confuso.

– Dizem que o vampiro original foi o Drácula. - Ela riu. - Foi transformado por uma bruxa que o odiava.

– E, o que mais?

– Vampiros são queimados no sol até virar poeira. São enfraquecidos por água-benta. Tem sede por sangue humano. Pode até tomar sangue de animal, mas não dá a mesma força. Vampiros podem se desligar da humanidade.

Senti meu coração bater forte. Queimados pelo sol? É impossível. Apenas que exista algo que faça com que Leana possa ficar no sol.

Algum objeto.

– Fique longe dela. - Rick mostrou seu dedo até minha cara, destacando o enorme anel prateado com pedras vermelhas em seu dedo.

Já havia visto esse anel antes, e tinha quase certeza onde. Olhei em direção à Leana, procurei por suas mãos. E lá estava, o mesmo anel.

“Impossível”, pensei comigo mesmo. Estava perdendo minha cabeça.

Me desliguei dos meus pensamentos e me manti focado em Taylor.

– Hum… Continue. - Falei.

– Seu toque é frio, pois está morto. Mas pode muito bem se apaixonar. E, se o vampiro se apaixonar por um ser humano, é a pior coisa que pode existir para tal.

– Por que?

– Por que são de mundos diferentes. O vampiro vive para sempre, com a mesma idade enquanto o ser humano fica velho, morre.

– Como se mata um vampiro? - Quis saber.

– Com uma estaca no coração. - Taylor parecia pensar um pouco antes de continuar. - E tem que ser de madeira.

– E o que mais você sabe sobre vampiros?

– Vampiros podem te hipnotizar, obrigando você a fazer algo, ou obrigando a você esquecer algo. Tem uma planta que é como veneno para os vampiros. Os queimam, os machucam e, quando é ingerida por um humano, o vampiro não pode hipnotizá-lo e se mordê-lo, ficará fraco.

Pressionei meus blocos oculares com dois de meus dedos, bufando.

– Ham… James? Está tudo bem? - Taylor perguntou, sua voz soava um tanto preocupada.

Olhei para a janela da biblioteca e vi que já havia escurecido. Levantei da cadeira.

– Só estou com um pouco de enxaqueca… - Peguei o livro que falava sobre vampiros de cima da mesa e esperei Taylor se levantar. - Obrigado pelas informações. Vou ler esse livro.

Sorri e ela fez o mesmo.

– Ok. Mas por que todo esse interesse repentino? - Taylor quis saber.

– Estava vendo um programa na TV sobre lendas urbanas, gosto sobre o assunto. - Menti.

– Hum… - Taylor se levantou e depositou um beijo em minha bochecha. - Vou ficar mais um pouco aqui. Bom… Tenha uma boa noite.

– Obrigado. - Virei-me de costas e comecei a andar, porém parei. - Taylor.

Ela se virou para mim.

– Leia a carta, não esqueça, por favor. - Pedi.

Taylor ficou vermelha e assentiu com a cabeça. Continuei o meu rumo até a secretária, para alugar esse livro e, em seguida, fui em direção à minha casa.

xxx

Me joguei no sofá e comecei a folear o livro, porém não conseguia ler. Estava muito impaciente. Olhei o relógio e Leana já havia saído do trabalho, daqui a pouco estaria aqui.

E como pensei, em questão de minutos, minha campainha tocou. Olhei no olho mágico e lá estava ela, a doce e inocente Leana. Estava com uma regata do Guns n Roses, coturno e calça comprida preta e apertada. Penteava seu cabelo e olhava para os lados, parecia impaciente.

Por um momento, achei que havia esquecido como respirar. Busquei o livro sobre Vampiros que estava em cima da minha mesa da sala e levei até meu quarto, guardei na gaveta. A campainha tocou novamente.

Voltei correndo e abri a porta, com o rosto ríspido. Leana primeiramente esboçava um sorriso, mas agora seu rosto estava fechado, confuso, tentando descobrir o que estava acontecendo agora, supus.

– Entre. - Falei seco.

Fui em direção à cozinha, e ela me seguiu, reparando em todos meus movimentos.

– Sente-se. - Apontei para a cadeira, ainda falando de forma seca, e ela fez o que eu pedi. - Leana… - Pensei antes de falar. Por onde começar, afinal?! - Por que você mente para mim?

Sua expressão estava confusa.

– O que?

– Você me encontrou no deserto. Estava muito calor. E sol. Muito sol. Como você conseguiu não… sei lá - parei para pensar um pouco - evaporar, ou seja lá o que vocês fazem.

Ela se levantou, com a expressão apavorada e confusa, tentando achar alguma saída dentro de meus olhos.

– Do que você está falando?

Botei a mão no meu bolso e senti um objeto dentro dela. Sabia exatamente qual era esse objeto. O que eu estava prestes a fazer seria estúpido, mas eu já estava louco; não custava tentar.

Tirei minha mão do meu bolso, junto com meu crucifíxo e mostrei à Leana. Que ficou imóvel, levantando uma de suas sobrancelhas, com um meio sorriso de zombação do rosto.

Ela gargalhou. Senti minhas bochechas corarem e guardei novamente meu crucifíxo dentro do bolso da minha calça novamente.

– O que você está fazendo? - Leana perguntou, ainda gargalhando. - O que você acha que eu sou? Um vampiro, por um acaso?

– Sim. - Respondi sério. O sorriso no rosto de Leana foi desparecendo.

– O que te faz pensar isso?

– Sua velocidade, força. - Peguei em sua mão, acariciei a mesma. Olhei em seus olhos. - Seu toque frio.

Ela botou a mão na cabeça.

– James! Você está enlouquecendo.

Comecei a ficar sem paciência. Não queria apelar, mas Leana me deixou sem escolhas.

– Então, você não é um vampiro, não é? - Perguntei, chegando perto dela, me apoiando sobre a pia da cozinha.

Ela continuou imóvel, deixando com que meu corpo chegasse perto dela, e observando meus movimentos. Porém, não foi tão observadora assim.

O que eu fiz a peguei de surpresa.

Na pia havia uma faca, que peguei e rapidamente fiz um corte em minha mão esquerda. Leana arregalou os olhos, não sabendo para onde fugir dessa vez.

– O que foi? - Perguntei, mostrando para ela minha mão ensanguentada. - Algum problema com sangue, Leana?!

E então, a cena que eu vi, foi irreal. Sobrenatural.

O doce e delicado rosto de Leana se transformou. Um pouco acima de suas bochechas, começaram a criar veias. Seus olhos que antes, eram da cor de mel, que tanto me atraía, agora estavam vermelhos e a parte branca estava preta.

Seus caninos começaram a crescer e, sem hesitar, Leana segurou minha mão esquerda com força e penetrou seus dentes nelas, chupando meu sangue.

A dor não era tão forte como eu pensava. E, por algum motivo, eu não tinha medo. Eu confiava nela.

Eu não tinha medo, e também não tinha nojo. Enquanto ela chupava o sangue escorrendo de minha mão, esbocei um sorriso. Eu estava certo desde o início, tinha algo que me intrigava nessa mulher.

E eu finalmente descobri o que era.

A dor passou, vi que Leana havia tirado seus caninhos de minha mão e levantou sua cabeça. Sua boca estava toda suja de sangue. Do meu sangue.

Aos poucos, suas veias foram sumindo, junto com seus caninos e, seus olhos, voltaram a ser cor de mel, aqueles olhos que tanto me acalmavam.

E então, vi Leana derramar uma lágrima.

– Sim, James. - Ela disse, enquanto suas lágrimas corriam pelo seu rosto, sem que a mesma se preocupasse. - Você conseguiu o que queria. Descobriu que eu sou um monstro. Me desculpe.

E então, ela correu, a vi saindo com uma rapidez sobrenatural pela janela da cozinha.

Corri até a sala, abri a porta e procurei por Leana. Pois a mesma já não estava mais em meu campo de visão.