O relógio da igreja soou, isso significa que era meia noite. Agora eu costumo chamá-la de “Hora Mágica”. A hora em que todos os humanos estão em suas camas, dormindo, pensando que estão seguros.

Quando o silêncio é absoluto, que apenas é possível ouvir a respiração das pessoas, junto com o bater-a da árvore. Leana havia acabado de sair do banho. Estava secando seus cabelos negros enquanto as gotas de água pingavam sobre sua pele nua.

Por fim, Leana tirou a toalha, colocando sua camisola. Suspirei, tristonho.

Eu sabia que ela estava irrita calmo de seus respectivos corações circulando sangue para suas veias. Onde podemos ouvir os animais andando vagarosamente pela floresta.

Onde toda criatura sobrenatural pode andar livre pela rua.

E aqui estava eu, observandoda comigo e, bom, eu não me importava. Leana deveria me entender, me apoiar. Não fechar a porta na minha cara.

Desci na árvore e rapidamente comecei a correr, até que parei em uma casa que era coberta por tinta azul-bebê, parecia recém-pintada.

Discretamente, a observei da janela da sala. A mulher mexia em seus cabelos ruivos enquanto seus olhos estavam vidrados na TV, onde estava passando algum filme.

Cheguei perto da porta e toquei a campainha. Ouvi seus passos calmos vindo em minha direção quando, finalmente, a mesma abriu a porta.

De princípio ficamos apenas nos encarando.

- Cássie. - Falei, por fim.

Ela mantinha o olhar arregalado mas foi afrouxando seus músculos com o tempo.

- O que está fazendo aqui?

Desviei meu olhar para o chão e depois para seus olhos, fitando-os.

- Não vai me convidar para entrar? - Perguntei, sorrindo de forma travessa.

Porém antes que ela pudesse abrir totalmente a porta e me dizer que podia entrar, algo a parou. Cássie ficou me encarando devagar, detalhe por detalhe.

- James… - Ela sussurrou, assustada. - Você é um deles?

- Do que está falando? - Fingi desentendido. - Me deixe entrar. - Mandei, ríspido.

- Não. - Sua voz saiu falhando. - James…

- Então por que não vem aqui fora? Gostaria de falar com você. - Sorri, ironicamente.

- Sinto muito, James. Eu não nasci ontem.

E então fechou a porta.

Comecei a ficar furioso e corri, em alcance à casa de Rick.

O mesmo abriu a porta quando toquei a campainha.

- O que houve? Você está parecendo o inferno. - Rick riu por alguns segundos. Eu continuava sério.

- Cássie sabe que eu sou um vampiro.

- É claro que ela sabe! Lobisomens conseguem sentir o cheiro. - Rick ficou fitando meus olhos por alguns segundos. - O que você fez?

- Estava querendo vingança. Ela percebeu.

- Você a ameaçou?

Pensei por alguns segundos.

- Não exatamente.

- Porra, James! - Rick gritou, sua voz ecoou pela vizinhança silenciosa. - Não se deve ameaçar um lobisomen, não sabe disso?

- Eu realmente pensei que ela ia me convidar para entrar e eu a mataria. Sinto muito.

- Porra, agora você tá fodido com a próxima lua cheia. - Rick disse, botando a mão na cabeça, indignado.

- Relaxa. - Sorri de um jeito divertido. - Ela não sobreviverá até amanhã.

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Essa noite estava sendo um fracasso. O unico som que eu conseguia ouvir nesse momento era do filme e das mastigadas que o Rick dava quando colocava milhares de pipocas na boca.

- James… - Ele cortou o silêncio. O olhei e esperei que continuasse. - Como pretende matar Cássie se você apenas consegue andar a noite? A noite ela já vai estar em casa.

- Exatamente. - Peguei uma pipoca e a mastiguei. Quando terminei, continuei a falar. - Preciso que você me ajude a ter um desses anéis magicos.

Falei, olhando para o dedo do Rick.

- Precisa de um mago, ou uma bruxa. - Rick me olhou sério. - E você não vai ser estúpido de pedir para o Brian, ou vai?

- Por que estúpido? - Quis saber. Ele revirou os olhos porém eu continuei a fitá-lo sério, esperando sua resposta.

- Com certeza Leana já contou tudo para ele. Brian te mataria sem pensar duas vezes.

Fiquei calado, apenas pensando, assim como Rick.

Me levantei da poltrona e abri a porta de entrada. Rick ficou observando meus passos.

- Vamos. - Falei, apenas.

Ele franziu o cenho.

- Aonde, porra?

Dei um sorriso travesso.

- Caçar.

Rick correspondeu ao meu sorriso, se levantando e indo em minha direção.

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Nós corremos até que paramos, ao ouvir o barulho de uma fogueira e pessoas em volta da mesma, conversando.

- Você consegue distinguir do que eles estão conversando, exatamente? - Perguntei.

Rick estava atento, apenas balançou a cabeça.

- Está meio longe ainda. Vamos pegá-los.

Sorri e fui na direção onde estava ouvindo as vozes.

- Ataca primeiro, depois sou eu. - Ouvi Rick dizer a algumas árvores atrás da minha, onde eu estava escondido.

Assenti com a cabeça e corri em direção ao primeiro que vi, cravando meu dente nele. Os demais gritaram porém, se acalmaram rápido. Rápido até demais.

E então eu vi o por que.

Ao cravar meus caninos no pescoço do homem musculoso, comecei a chupar seu sangue. O sangue tinha um gosto… Diferente. Começou a me queimar por dentro.

De repente fiquei fraco, muito fraco. Meu sistema parecia estar pegado fogo e eu gritava de dor.

Caído no chão, virei minha cabeça, onde avistei Rick um tanto longe dos homens. Estava apavorado. E então ele sumiu.

Olhei para os homens que estavam me olhando. O músculoso, cuja eu havia mordido, estava com uma corda na mão.

Eles me arrastaram para um tronco de árvore, onde me prenderam no mesmo.

- Verbena. - Falei, quebrando o silêncio. Minha voz estava fraca, ofegante e falhava.

Eles sabem.

Meus olhos percorreram todo o ambiente, até que eu me surpreendi, mais uma vez. Parei meu olhar em uma garota ruiva que estava com o semblante um tanto preocupado e tenso.

Cássie.