DOLLHOUSE

"D-O-L-L-H-O-U-S-E, I see things that nobody else sees".

***

Cry Baby estava sentada na calçada em frente à sua casa .

Os gritos dos pais enxiam sua cabeça, ela precisava dar uma espairecida lá fora. Às vezes eram complicado ser ela. Não que ela fosse egoísta ou necessitasse de atenção ao extremo, mas a vida dela era realmente difícil.

Os braços ainda estavam roxos da surra que levara do irmão na semana anterior. Não tinha dito nada para os pais. Além do mais, eles não perguntaram.

Cry Baby observava com atenção os vizinhos passarem pela rua, com suas famílias perfeitas e vidas perfeitas.

Na verdade, todos eram perfeitos por fora.

Mas eram todos quebrados por dentro.

Essa é a verdade do mundo atual.

Abraçou os joelhos e notou que algumas crianças brincavam no jardim da casa ao lado, onde estava havendo uma festa. Cry Baby nunca era chamada para essas coisas.

Ela não tinha nenhum amigo.

Ninguém gostava dela.

Ela decidiu que isso acabaria naquele momento.

Levantou-se e foi em direção à casa da vizinha, Sam.

Alisou seu vestido roxo e apertou suas maria chiquinhas. Levantou o queixo e foi até o quintal, onde as crianças brincavam.

Todos tinham a mesma idade de Cry Baby, mas eram mimados por suas mães e pais, então pareciam ter nove anos de idade.

Cry Baby era com certeza mais madura do que eles.

Quando todos notaram que ela estava chegando, pararam tudo o que estavam fazendo e a encararam. Ela não gostava de ser o centro das atenções, então ficou mais nervosa do que já estava. Suas mãos começaram a suar. Ela cruzou os braços em suas costas, contorcendo os dedos. Era assim que ela fazia quando ficava nervosa.

— Quem convidou ela? - Cry Baby ouviu uma das meninas, Melanie, perguntar à sua amiga da direita.

— O quê ela faz aqui? - perguntou Michael, um menino que usava um chapéu de marinheiro.

— Sam, você convidou ela? - perguntou um menino que Cry Baby não conhecia.

Sam, que estava carregando um bolo de aniversário, ficou paralisada.

— Cr-Cry Baby? O quê faz aqui? - perguntou Sam, nervosa.

- Oi... Hãm... Eu vim aqui te dar parabéns... - respondeu a garota, ainda sendo encarada por todos.

— Mas ninguém te convidou! - gritou Melanie, que agora ia em direção à Cry Baby, enquanto prendia os cabelos castanhos em um rabo de cavalo.

— É! - concordou Michael.

Os pais de Sam estavam parados na soleira da porta de vidro da varanda, sem interferir no que estava acontecendo, apenas observando o desenrolar da história.

Cry Baby sentiu as lágrimas virem.

Ela tinha que chegar em casa antes que começasse a chorar.

Não ia deixar que aqueles idiotas a vissem chorar.

Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, ela sentiu algo gelado e fofo por todo o seu rosto. Sua visão ficou escurecida.

Ela só ouvia todos os outros rindo.

Cry Baby apenas sentiu o cheiro e percebeu que tinham jogado o bolo de aniversário em sue rosto.

Limpou os olhos e olhou em volta.

Sam brigava com Melanie, que estava com as mãos sujas, comprovando que ela quem tinha jogado o bolo em Cry Baby.

As outras crianças se jogavam no chão, de tanto rir.

Cry Baby virou as costas e foi embora, correndo, de vola para casa.

— Cry Baby! Espere! - ela ouviu Sam girtar.

Era tarde demais. Ela já estava em seu quarto, afogando-se em lágrimas novamente.

***

Sam sentia-se mal pelo o que Melanie tinha feito à Cry Baby. Ela só queria se enturmar.

Sam não tinha convidado Cry Baby, porque achava que ela não apareceria. Ma estava enganada.

Agora, Cry Baby talvez a odiasse.


***

— VOCÊ FICOU MALUCA? - gritava a mãe dela, enquanto tirava o bolo do cabelo da filha. - ESSA NOTÍCIA VAI SE ESPALHAR PELA VIZINHANÇA E NÓS VAMOS FICAR CONHECIDOS COMO A FAMÍLIA DA GAROTA-BOLO!

A mãe pegou uma garrafa de vodka e bebeu um longo gole.

— Mas mãe...

— SEM MAS... EU QUERO QUE...

O sermão foi interrompido quando o pai de Cry Baby desceu as escadas, seguido de uma mulher desconhecida, que usava apenas as roupas de baixo. As duas olhavam, surpresas.

— MAS QUE MERDA...? - gritou a mãe.

— Eu disse que ela ia ficar estressada. - disse a mulher, passando as mãos pelo corpo do pai de Cry Baby, Edward.

— Nos vemos amanhã? No mesmo horário? - perguntou Edward.

— Sim, claro. - disse a garota.

E então ela saiu pela porta da frente da casa, apenas de roupas de baixo, sem se importar com o que fosse acontecer.

— Ainda estou esperando explicações. - disse a mãe de Cry Baby, Debby.

— Ela é Lydia.

— É mais uma de suas vagabundas?

— Ela é minha aluna.

— De anatomia? - perguntou Cry Baby, baixinho para que ninguém ouvisse. Ainda tentava tirar os restos de bolo do cabelo.

Edward lançou um olhar mortal para a filha.

— VOCÊ NÃO ENTENDE, EDWARD? TODOS VÃO COMEÇAR A FALAR DE UMA VAGABUNDA SAINDO DE LINGERIE ÀS DUAS DA TARDE DA NOSSA CASA!

— Debby, me poupe de seus chiliques. - disse Edward, dando meia volta e indo até a sala.

Cry Baby levantou-se da mesa e correu pelas escadas, não querendo participar de mais uma discussão entre os pais.

— SABE DO QUE EU ESTOU CANSADA, EDWARD?

Cry Baby não prestou atenção no que a mãe continuou a falar. Ela já prestava atenção em seu irmão, que estava sentado no corredor, segurando uma coisa que Cry Baby conhecia muito bem, pelas suas aulas de ciências na escola.

— Isso é maconha?

O irmão olhou para ela, sem expressão.

— Não te interessa, otária.

E então ela revirou os olhos e foi para o quarto.

Olhou para a janela. As crianças ainda brincavam no quintal de Sam. Corriam pela rua e jogavam bolas uns nos outros. Cry Baby queria participar daquilo. Mas, nunca mais tentaria.

Nunca mais sairia do seu quarto.

Ela estava presa em sua casa de bonecas.

***

Quando a noite chegava, Cry Baby estava sempre perdida em seus sonhos, onde sua vida era perfeita.

Sonhava com uma família normal, naquela fatídica noite.

Ela acordou assim que escutou o grito.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.