Crush

Prólogo (Editado 06/06)


Os dias passavam mais devagar quando o ano letivo estava chegando ao fim. A escola também ficava mais vazia e os pátios desertos, o que dava a oportunidade para alunos não tão curiosos frequentarem locais que eles nunca imaginaram ir ao decorrer do ano. Esse era o caso de um casal de amigos sentados nos bancos da biblioteca, descansando depois de perambular por quase toda a escola sem encontrar nada de interessante para fazer. Kazemaru e Yasmin eram os únicos por lá - pelo menos era o que queriam acreditar, não viram ninguém nos arredores - e, dando a biblioteca um pouco mais de vida e som ao invés de alimentarem-se culturalmente lendo um livro, os dois encontram a harmonia perfeita na união de suas vozes enquanto cantavam.

— Mais uma. - A morena pediu, repousando as mãos sobre a mesa e olhando com expectativas para Kazemaru enquanto abria um sorriso.

Ele olhou em volta, pensando em alguma coisa. Estalou os dedos e começou;

Você não precisa ter medo

Para colocar seu sonho em ação

Ela pegou o tom em seguida e os dois continuaram juntos;

Você nunca vai desaparecer

Você vai ser a atração principal

Não é uma fantasia

Basta lembrar de mim

Quando se sair bem



— Somos muito bons!

— Shiu!

A bibliotecária - que até então nenhum dos dois viu que estava lá -, advertiu quando a morena começou a bater as mãos na mesa, empolgada. Ela se desculpou, enquanto à sua frente Kazemaru segurava a barriga de tanto rir.

— Já acabou? - Ela perguntou retoricamente, bufando ao ver ele secar uma lágrima no canto do olho - Anda logo com isso, eu quero falar uma coisa séria!

— O que? - Ele parou na hora e Yasmin ficou perplexa com o quanto o amigo era fofoqueiro.

— Eu estava pensando… E se falássemos com o Diretor pra ele reabrir o clube de música?

— Jamais.

Kaze levantou de sua mesa e pegou suas coisas - um caderno e um livro, na verdade - e saiu na frente, Yasmin foi atrás.

— Mas por quê?

— Você pirou? Se abrirmos o clube de música, vamos ter que cantar na frente de todo mundo!

— Claro que não, só vai ter nós dois lá. - Rebateu simplista, balançando os ombros em total despreocupação - Até porque, ele já fechou e já saiu tanta gente de lá que eu duvido que alguém vá querer entrar.

— Se você tem tanta certeza disso, porque quer arriscar e reabrir o clube?

— Ora, porque eu quero cantar.

— Ué, canta aqui! - Ele disse um pouco exasperado, apontando o dedo para o chão gramado do colégio. E foi só após isso que Yasmin percebeu que os dois não estavam mais na biblioteca.

— Mas aqui não tem graça! Eu quero estar dentro do clube, participar da coisa toda, sabe? - Disse sonhadora, olhando para o céu - Quero fazer aulas de canto, aprender técnicas vocais, usar os instrumentos…

— Mas você nem sabe tocar nada.

— Mas eu sei cantar, cacete!

Kazemaru abriu a boca pra contestar, mas ficou tão indignado com o grito que apenas fechou a cara e cruzou os braços.

— Não conte comigo pra nada!

— Ah, é?

— Sim!

— Beleza!

Cinco minutos foram o suficiente para que os dois fizessem as pazes e fossem até a sala do Diretor.

Enfim, falando nele, o bom homem não parecia estar tendo um bom dia, posto que sua filha não parava de tagarelar em seu ouvido até o momento que a dupla abriu a porta, após bater duas vezes e anunciar seus nomes e o motivo pelo qual estavam ali.

— Abrir o clube de música?! Isso é ridículo, fechamos ele no meio do ano. - Natsumi se pronunciou antes de todo mundo, roubando toda a atenção para si. Encarava principalmente Yasmin, que a fitava igualmente irritada.

— Eu pedi para o seu pai e não pra você.

— Yas, calma. - Kazemaru pediu, apoiando o ombro da garota com uma mão.

— É um pouco tarde pra fazer isso, quase impossível. O clube de música exige muita verba da direção. - O homem disse, coçando a barbicha - que honestamente, era horrorosa - encarando os dois alunos. Natsumi interveio novamente:

— Estamos no final do ano, como vocês pretendem abrir o clube agora?

— Não queremos que o senhor o abra agora, mas sim no início do ano que vem, quando começarmos as aulas. - Explicou o de cabelos azuis ignorando a ruiva, mas mantendo a postura - Já pensamos em tudo, no decorrer das férias podemos encontrar um professor, e até lá já vai ter verba o suficiente para todas as outras partes.

Souichirou alternou seu olhar de um para o outro, viu Kazemaru engolir em seco. Estava sério, mas através de seu olhar queria ter certeza que podia confiar naqueles dois, já que o clube de música sempre era regido por pessoas sem a menor capacidade para o cargo. O plano inicial não era ruim, mas tinha algumas falhas.

— Olha, eu vou fazer uma pergunta bem séria pra vocês e quero que sejam sinceros ao me responder.

Kazemaru prendeu a respiração, Yasmin começou a sentir as pernas bambas com a seriedade no timbre do homem.

— Qual seria a minha vantagem em abrir o clube de música? - O diretor se levantou, indo em direção das janelas para fechar as persianas - Vez após vez eu cedi ao pedido de alunos com olhares calorosos, igualzinho ao de vocês e eles só me deram problemas, seja com a verba gasta a toa, seja com brigas dentro do clube que o levaram ao fechamento, ou seja sendo tão ruins ao ponto de não ganhar nenhuma competição.

— Mas nós somos bons! - A morena disse de repente, recebendo um olhar reprovador de Kazemaru.

— Ser bom não é o suficiente, vocês precisam ser os melhores!

Os dois ficaram em silêncio quando o olhar por trás da lente marrom começou a queimar sobre eles.

— Todo ano nós temos o concurso Destiny Child, vocês já ouviram falar?

— Claro, é o maior concurso entre escolas da região. - Justificou Ichirouta. Souichirou voltou a se sentar elevando as mãos cruzadas até o queixo sustentando seu rosto com as mãos.

— Pois bem. É fácil reabrir o clube, mas eu só farei isso com a garantia que vocês vão chegar às finais do Destiny Child e vão, com toda a certeza, trazer o troféu de campeões para nossa escola.

Houve um momento de pausa, até Natsumi ficou em silêncio processando a informação. Os dois pareciam assustados, e o diretor gostava daquelas expressões.

— E o que acontece se não conseguirmos? - Yasmin perguntou.

— Eu os reprovo, independente da nota que você tenham e do rendimento escolar. - Viu os olhos castanhos de Ichirouta arregalar - Pra qual ano você vai, Atsuki?

— Segundo ano…

— Kazemaru…?

— … Terceiro.

— Entendo… Então, acham que conseguem?

— Podemos… Conversar a sós, rapidinho?

— Claro.

Dada a permissão, Kazemaru puxou Yasmin para um canto afastado da sala, dando deixa para que Natsumi questionasse as escolhas que seu pai pretendia fazer.

— Papai, o senhor não está levando isso a sério, não é?

— Natsumi, o que eu escolho ou deixo de escolher, não é da sua conta.

— Mas como vamos conseguir um professor em tão pouco tempo?! E quem garante que eles vão levar isso a sério? Todas as vezes que o senhor deixou que o clube abrisse, não houve mais do que meses para ele dar problemas e fechar de novo!

— O diretor dessa escola sou eu, Natsumi. Então faça o seu papel como aluna e vá para a sua sala estudar.

A ruiva mal conseguia acreditar no que ouvia, mas infelizmente não podia retrucar a autoridade do pai ali. Passou os dedos pálidos entre os fios ondulados e saiu pisando forte, pedindo licença sem esperar uma resposta. Nesse meio-tempo, Yasmin e Kazemaru ainda debatiam:

— E aí?

— E aí o que? Só 'vamo.

— Se eu repetir o terceiro ano por sua culpa, eu nunca mais olho na sua cara.

— Se você repetir, eu também vou, então meio que tá tudo bem.

— É…

— Mas nós vamos conseguir, Kaze. - Sorriu. Nem ela acreditava mesmo naquilo, mas alguém precisava interpretar o papel do amigo otimista - E se a gente não conseguir, ensaiamos uma carinha fofa pro Diretor ter piedade da gente.

O garoto riu.

— Tá bom, idiota. Vamos falar com ele.

— Vocês já tem uma resposta?

— Sim - Ele trocou olhares com a amiga, que acenou com a cabeça - Nós aceitamos.

O rapaz respondeu firmemente, o homem sorriu.

— Perfeito, gosto do olhar de vocês dois, espero não estar enganado. Conto com vocês daqui pra frente - Estendeu a mão para cumprimentá-los, rindo ao notar que os dois secavam as mãos suadas no uniforme antes de dá-las ao Diretor - Até ano que vem.

Se despediram e saíram da sala como se tivessem acabado de deixar o purgatório. Yasmin respirou fundo, tremendo feito vara de bambu. Kazemaru não estava muito diferente, só parecia um pouco mais sério que o habitual. A menina logo notou:

— E agora, Kazemaru?

— E agora… Estamos fudi-

Contínua…