Eu gritava com todas as minhas forças mas ele não parecia ouvir. Apressei o passo e logo estava correndo, cada vez mais rápido. Já não


conseguia sentir os pés, os cortes pelo corpo doíam cada vez mais contra o vento gelado e a neve que me acertavam impiedosamente, mas ele não parecia n

em um pouco mais perto. Minha voz já estava falhando e não consegui chamar sua atenção. Quando tentei chama-lo outra vez, o ar faltou, eu tropecei e cai sobre meus jo

elhos, assistindo ele se afastar como se eu não estivesse ali. Deixei meu corpo cair para o lado sobre a neve acumulada no chão. "Ele me odeia..", pensei. Por um momento o chão pareceu me engolir e me jogou numa escuridão sem

fim, noutro estava em minha cama, suado e ofegante.

Me levantei e parei em frente ao espelho do outro lado do meu quarto, quantas vezes mais esse pesadelo iria me atormentar? Estava cansado de repetir que ia ficar tudo bem, que logo iria me esquecer dele. Faziam meses desde que ele se foi e mesmo melhorando, algo ainda me incomodava. Faltava algo.



Sai do quarto com uma colcha nos braços e segui até o fim do corredor descendo um lance de escadas que levava à sala. Ainda estava escuro, liguei a televisão e sentei encolhido no sofá. Joguei a colcha sobre os ombros e abracei as pernas. A luz do aparelho fazia meus olhos ficarem um pouco irritados. Na tv um homem falava algo sobre o número de acidentes em uma rodovia qualquer, mas não conseguia prestar atenção. Minha mente estava presa ao pesadelo que tem me visitado noite após noite a quase um ano. Todos disseram que a culpa não foi minha pelo acidente, mesmo assim não consigo acreditar. Se eu apenas tivesse me calado ele estaria aqui.

A madrugada estava chuvosa e eu ouvia os pingos baterem com força contra o vidro da janela. Estava quase cochilando quando ouvi passos. Olhei vagarosamente ao redor e quase senti meu coração atravessar o peito quando o vi. Sam, meu falecido namorado, parado na escada me olhando. Ficamos segundos assim até que levantei hesitante e fui em sua direção. Estava com medo de piscar e ele desaparecer. Dei passo após passo e então, lentamente, degrau por degrau, mas quanto mais me aproximava ele se afastava. Quando ele chegou ao topo da escadaria virou as costas e caminhou apressado para o nosso antigo quarto fechando a porta. Corri atrás dele mas quando entrei no quarto ele não estava lá. Algo começou a crescer em meu peito, meus olhos se encharcaram, e logo explodi. Sentei ali mesmo, no chão, chorando. Não sei bem a hora exata em que adormeci, mas acordei com o som do despertador no outro quarto. Estava no chão ainda. Meu corpo estava dolorido e me sentia exausto. De repente ele voltou a minha mente, tão forte e repentino quanto um tapa na cara, e comecei a me perguntar o que estava acontecendo comigo. Será que estava enlouquecendo por fim?

Levantei lentamente e fui até o banheiro. Me apoiei na pia e encarei o espelho me perguntando insistentemente o acontecera horas atrás. Me convenci que tudo havia sido apenas um sonho ruim... ou nem tanto.