Capítulo único

Sett estava acostumado a fazer exercícios pesados, mas se viu completamente exausto enquanto escalava a árvore mais alta da montanha mais alta da região de Vlonqo. Rakan, pelo outro lado, pulava de galho em galho com saltos graciosos e o bater de asas. Sett revirou os olhos, e subiu mais um lance da árvore.

— Você não poderia, sei lá, usar sua asa fabulosa e me levar voando até o topo?

Rakan olhou para baixo diretamente nos olhos do vastaya ruivo; suas sobrancelhas curvadas demonstravam que estava ofendido.

— Você acha que eu sou um avião de carga para carregar o monte de peso que você é? — “Ele está claramente ofendido”, pensou Sett. — E eu não consigo voar, você sabe disso. Minha asa me permite apenas dar longos saltos e fazer aterrisagens suaves. Também é um charme — acrescentou Rakan.

Rakan permaneceu tagarelando sobre sua asa por mais um pouco, mas Sett não deu bola. Sua cabeça estava a mil, e seu pulmão a dez mil.

— Espero que valha a pena mesmo — disse Sett para si mesmo, bem baixinho.

Fazia exatamente um ano desde que Sett disse para Rakan “eu te seguirei para onde quer que for”, e os dois estão juntos desde então — dando um trato nos bandidos da região de Shon-Xan e tomando o delicioso chá rosado feito das cerejeiras que os deixam mais carismáticos. Sett pensa na sua mamis todos os dias, mas todos os dias têm sido os melhores de sua vida.

Quando começaram a subir, a estrela brilhante estava se deitando ao oeste — agora, ela já está quase abaixo da linha do horizonte. Os poucos raios estelares que restavam iluminavam a asa dourada de Rakan.

Rakan já estava no cume da árvore quando Sett escalou o último galho, arfando intensamente. Ele se equilibrou ao lado de seu parceiro, segurando-se no tronco da árvore. Rakan, por outro lado, estava de braços cruzados, observando o pôr-da-estrela — ele estava perfeitamente capturado.

Sett também olhou, mas, diferente de seu parceiro, não se sentia tão admirado. Isso acontecia todos os dias, não era novidade para ele. Porém, o que mais lhe chamou atenção foi a bela vista panorâmica que a árvore oferecia: diversos arvoredos descendo a montanha, a charneca deserta adiante do vale e, mais à frente, a cidade de Vlonqo, onde conheceu Rakan e diversos outros vastayas no festival — aquela mulher, Xayah, quase fatiou uma de suas orelhas felpudas. Um calafrio percorreu seu corpo ao lembrar da cena.

— É realmente bonito — disse Sett, tentando descobrir o nome das outras cidades além de Vlonqo, o aperto bem firme no tronco da árvore.

— É um lugar especial para mim. — Rakan raramente demonstrava estar em paz — seu TDAH impedia — mas, desta vez, ele parecia estar com seus pensamentos focados. — Eu descobri este lugar há centenas de anos quando perdi meus pais, malditos noxianos. — As orelhas de Sett se mexeram ao ouvir a palavra, e ele rosnou bem baixinho. Rakan prosseguiu: — Hoje também é um dia especial, e você é especial para mim, por isso quis que você conhecesse este lugar especial hoje. Quero compartilhar este momento com você, além de todos os outros. — Neste momento, seus pensamentos embaralhados voltaram à tona.

Rakan olhou para Sett e riu da expressão em seu rosto. Sett é terrível com palavras e discursos e Rakan sabia disso. Ele tocou no rosto de seu parceiro, que se contorceu com um sorriso.

— Você é mais especial para mim do que imagina — foi a resposta de Sett, tocando no rosto de Rakan da mesma forma, mas este aninha sua cabeça na mão de Sett de olhos fechados, voltando a ficar livre de pensamentos aleatórios. Rakan só quer pensar no hoje e no agora.

A estrela finalmente se escondeu abaixo da linha do horizonte, fazendo com que seu brilho reflita majestosamente no céu, dando uma aparência rosa avermelhada, ainda mais lindo visto do topo da árvore.

Sett fitou os olhos de Rakan e disse:

— É a hora do crepúsculo.

Rakan sorriu.

Foi durante o crepúsculo quando os olhos de Sett e Rakan cruzaram pela primeira vez, um pouco antes do festival de Vlonqo começar. Rakan se apaixonou de imediato, ele podia afirmar, e Sett foi se apaixonando minuto após minuto, enquanto ouvia todas as histórias que seu recém amigo contava. O que mais chamou atenção em Rakan foi o fato de Sett ser uma mistura de vastaya e humano. Rakan odeia humanos, mas defende vastayas. Ele ficou confusamente fascinado.

Sett segurou o rosto de Rakan por um momento. Rakan sorriu e, em vez de esperar mais, puxou o rosto de seu companheiro e beijou seus lábios. Sett se estremeceu, mas se entregou por completo, como em todas as vezes que eles se beijavam. Ali, eles eram dois apaixonados sob a luz do crepúsculo no topo da árvore mais alta da montanha mais alta da região de Vlonqo.

“Eu te seguirei para onde quer que for”, pensou Sett entre os beijos, e eles ficaram a sós lá em cima por mais um bom tempo.