Pov. Victorique

Segurava a mão dela com nervosismo. Meu coração dispara a cada farda que descia do navio. Ela tentava me confortar com palavras felizes e incentivadoras.

-Não se preocupe, eu tenho certeza que ele virá dessa vez.

Era o que ela dizia sempre que viemos ao cais para o desembarque de soldados sobreviventes da segunda tempestade. Faz um ano que a guerra acabou, e durante todo esse tempo, vi vários rostos de soldados felizes por reencontrar sua família, seus amigos, seu amor... Mas em nenhum desses rostos estavam as feições tão familiares e aconchegantes de Kujo. Lembrando do seu sorriso sincero e dos olhos meigos, mais uma vez reprimo o choro que sobe até meu pescoço e se instala lá, não me permitiria chorar ali. “Seja forte pelo Kujo, Victorique.” Digo a mim mesma e aperto a mão dela mais uma vez.

-Calma... Deixe-me ver se ele está ali.

E saí correndo e se mistura entre aquele monte de pessoas. Acho que ela não queria mais usar outra desculpa reconfortante... Ela devia achar que ele não mais viria, que ele não estava vivo... mas eu sabia que era mentira. Ele prometeu que voltaria, ele prometeu que estaria comigo de novo. Kujo nunca quebrou uma promessa. Kujo...

Então um em meio todo aquele marrom das fardas se aproxima de mim. Seu andar era familiar, carregava suas trouxas de um jeito meio desleixado. Levanto um pouco mais a cabeça para ver e ter como confirmação quando ele para na minha frente e lentamente, jogando seus pertences no chão, tira o chapéu que usava e então aquele sorriso infantil e amável aparece naquele rosto.

-Você estava entediada?- Disse Kujo se ajoelhando na minha frente para ficarmos na mesma altura.- Eu tenho histórias interessantes para lhe contar...

Então ele tira os panos que envolviam minha cabeça e meu cabelo cai batendo suavemente em minhas costas.

-Victorique-kun...- Ele parecia surpreso com o que via. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, mas consigo dizer:

-Você demorou... Ceifador que vem na primavera...

-Não fique brava. Cheguei o mais rápido que pude!- Ele continuava sorridente. Sim, meu Kujo estava de volta. Ali na minha frente, em carne e osso. Tanto que eu sonhei por aquele momento de reencontrá-lo.- Você recebeu minhas cartas.

-Sim... Porque você escreveu o endereço direitinho. Eu usei a Fonte de Sabedoria para encontrar o caminho daqui...

-Victorique-kun...

-Graças a isso, eu não fiquei tão entediada... Eu devo elogiá-lo.

-Obrigada.- E ele sorriu mais uma vez. Dessa vez eu também sorri, pois ele estava ali. E aquilo não era mais um sonho.

Pov. Kujo

Segurando em sua pequenina mão, conduzo-a por meio dos destroços que a guerra deixou em nossa cidade. Todos olhavam e suspiravam com a beleza de Victorique-kun... Sim, ela era linda e estava ali do meu lado depois de todo esse tempo. Ela esperou por mim, ela teve fé que eu voltaria. Eu tinha que voltar, não apenas por causa da promessa que diz, mas porque ela era mais importante do que qualquer coisa pra mim. Olhando mais uma vez pra ela, não consigo deixar de elogiar quando vejo seus cabelos dançando ao vento...

-O seu cabelo é lindo... Como a neve...- Que antes eram dourados como o sol.

-Eu passei por muita coisa.- Ela disse.

-Sim... Eu também. Mas eu não me preocupei.

-Não, nem eu.

Então eu puxo a corrente que tinha o anel que Victorique-kun me dera como presente de Natal. O anel que pertencera a sua mãe, mas que mesmo assim ela decidiu me dar.

-Por que, Victorique, você sempre...

-Kujo, você sempre esteve comigo...- Disse ela puxando o medalhão que eu dera a ela.- ... sempre.

Estar ali ao lado dela era reconfortante. Sentir o calor que emanava da sua mão em contato com a minha era nostálgico. Aquilo me trazia boas lembranças, memórias de uma época em que tudo o que nos preocupávamos era em resolver casos para o inspetor... Que em uma sincronia catastrófica, nos levou ao conhecimento de que outra enorme guerra se aproximava. Essa guerra nos separou, como aquele velho disse em sua visão, mas agora estávamos juntos de novo. E depois de longos e duros 5 anos, ela estava ao meu lado, linda e impecável como sempre foi... Com seus longos cabelos agora platinados dançando com o vento, com seus olhos meigos me encarando sem parar, segurando minha mão como se temesse que qualquer vento pudesse nos separar novamente. Mas ambos sabíamos que aquilo não aconteceria, não deixaríamos. Porque o que nos motivou a continuar todo esse tempo era a esperança de nos reencontramos e assim ficarmos juntos para todo o sempre.

-Não importa como o mundo mude, nós nunca nos separaremos novamente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.