Country Girl

“There are no guarantees, But you know life goes on”


We've been brought to our knees

We've been so ill at ease

There are no guarantees

But you know life goes on

This too shall pass away

Bring new and different days

We need to change our ways

And right our wrongs

When Life is good again – Dolly

Na segunda-feira de manhã eu acordo ao som de Shake It Off como de costume, me preparo para o dia e logo já estou indo tomar o café da manhã, enquanto como o meu cereal, Jack aparece trajando uma calça jeans rasgada, uma camisa de flanela e botas de montaria, eu a observo atentamente, quando ela diz rolando os olhos:

—Fala logo, eu posso ver que você está corroendo de vontade de perguntar.

—Onde você vai? –Pergunto.

—O doutor Mallard me pediu ajuda com um cavalo que a ONG resgatou. –Ela diz, enquanto prepara o café.

—Posso ir? –Perguntei por reflexo, sem pensar duas vezes.

Jack sorriu minimamente, antes de então dizer:

—E é por isso, que vou fazer isso enquanto você está na escola.

—Estraga prazeres. –Eu resmungo.

—Não sou eu que faço as regras Kiki, eu só as sigo e no momento elas são bem explicitas no que tange a cavalos. –Jack diz enquanto coa o café.

Inevitavelmente eu rolo os olhos.

—São regras idiotas. –Eu resmungo.

—Idiotas ou não eu sou paga para obedecer jumper. –Ela aponta o óbvio.

—Meu Deus, quando é que Jack Sloane ficou tão careta? –Foi inevitável que eu não perguntasse cinicamente.

—E é por isso que eu prefiro cavalos do que crianças. –Jack resmunga enquanto coloca café em sua caneca habitual.

—Às vezes você me ofende Jack. –Eu digo em um falso tom de decepção, mas não demoro em acrescentar –Mas eu sou obrigada a concordar com você.

Finalizo sorrindo amplamente.

Quando estamos no elevador, eu finalmente pergunto:

—Não que eu me importe, mas o DiNozzo não aparece em casa há três dias. Alguma notícia?

Jack ergue a sobrancelha.

—Seu pai. –Ela diz fazendo questão de frisar bem a última palavra –Ainda não chegou, mas não se preocupe ele está bem.

Eu a olho de canto e então pego meu celular e vejo as mensagens não lidas.

O dia na escola é tedioso, exceto claro pelos momentos em que passo com meus amados nerds no intervalo, por falar nisso, já sentada em nossa de mesa de costume e notando que falta apenas Abby eu pergunto:

—Então vocês sabem o paradeiro da nossa amiga aspirante a gótica?

Olho de McGee para Ellie, que para variar está mastigando, sério essa menina deve ter é um buraco negro no estômago.

—Ela está apresentando a escola para a aluna nova. –Tim me responde.

Eu então ergo as sobrancelhas.

—Desvantagens de ser filha da diretora. –Ellie comenta dando de ombros.

—Então...? –Eu pergunto.

—O que? –Ambos os meus amigos questionam confusos.

Eu suspiro.

—Vocês já foram mais rápidos meus amigos... Então o que sabemos sobre essa nova aluna? –Eu digo enquanto abro o pacote do meu salgadinho.

Regina George, nós só ficamos sabemos disso há pouco. –Ellie respondeu rolando os olhos.

Eu dei de ombros desinteressada, as vezes era ruim não termos todas as aulas junto, mas antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, Abby chega a nossa mesa acompanhada de uma garota afro-americana.

—Pessoal, essa é Kayla Vance nova aluna transferida de Washington, DC. –Abby apresenta a nova aluna.

—Olá, sou o Tim McGee. –McGee foi o primeiro a se apresentar.

—Sou Ellie Bishop, mas por favor me chame de Ellie. –Ellie que por algum milagre divino não estava comendo se apresentou.

—Chiara, é um prazer conhecê-la. –Eu digo quando chega a minha vez de se apresentar.

—DiNozzo. –Abby acrescentou por mim, me forcando a rolar os olhos.

—Eu prefiro não usar esse sobrenome a menos que seja estritamente necessário. –Eu resmungo fuzilando Abby.

—Não ligue para ela, ela está entrando em uma fase rebelde. –Abby comenta com a novata como esse eu não estivesse ali.

—Sente-se conosco Kayla. –Ellie a convidou.

E assim Kayla se sentou conosco.

—Então você é Washington? Sempre quis ir a capital. –Ellie puxou conversa com Kayla.

—É uma cidade grande e movimentada, não é tão legal assim. –Kayla diz timidamente.

—Pelo menos não deve ter cavalo para todo lado que você vai. –Tim acrescentou desviando a atenção de seu celular para a novata.

—O que você esperava de uma cidade que é chamada de capital mundial dos cavalos McGee? –Eu digo rolando os olhos.

—Isso é sério? –A novata perguntou curiosa, enquanto eu assenti. Sério que ela não havia pesquisado sobre a nova cidade que moraria?

—Por ser local de reprodução de vencedores puro-sangue e abrigar mais de 600 haras, nossa cidade ganhou esse apelido. –Abby prontamente explicou.

—Então todos vocês moram em fazendas? –Kayla perguntou curiosa.

Suspirei audivelmente, porque é só falar isso as pessoas imaginam que moramos na roça?

—Não. –Ellie disse rindo. –Só a Abby.

—Meu pai cria cavalos. –Abby explica.

—Meu pai é político. –Kayla finalmente compartilha informações conosco.

—Então você verá Kiki com frequência. –Abby acrescenta.

—Já te falei para não usar esse apelido em lugares públicos. –Eu resmunguei.

—Seu pai também é político? –Kayla perguntou curiosa.

—Não, ele é empresário, mas adora eventos políticos e as vezes me arrasta junto. –Eu digo suspirando em tristeza, já que odeio esse tipo de evento.

—Não ligue para o mau humor habitual dela, ela é sempre rabugenta assim. –Abby cochicha para Kayla, mas alto o suficiente para que eu escute.

—Então o que vocês fazem de interessante aqui? –Kayla pergunta.

—Club de informática, passeios no shopping, festivais, rachas equinos... –Ellie diz distraidamente.

—Rachas equinos? –Kayla pergunta curiosa.

—São corridas de cavalos, que alguns alunos fazem, Nick Torres costuma ser o organizador e geralmente campeão. –Ellie explica prontamente.

Eu bufo na menção do nome de Nick, e não deixo de ficar intrigada com o brilho estranho nos olhos de Ellie quando ela fala daquele idiota.

—Uau, isso é legal. –Kayla diz e não demora em acrescentar –Podemos ir em uma dessas corridas qualquer dia?

—Eu estou fora. –McGee diz sem se dar ao trabalho de desviar os olhos de seu celular.

—A gente não vai com frequência, meio que não é uma coisa aprovada por nossos pais, mas o último que fomos foi bem legal, Chiara até conseguiu ficar empatada com Nick. –Ellie explicou para Abby.

Imediatamente eu fuzilei Ellie, como assim eu “até consegui ficar empatada”? Isso era uma afronta a minha pessoa.

Ellie então me encarou e prontamente disse:

—Desculpe Chiara, todos nós sabemos que o primeiro lugar deveria ter sido seu. –Ellie disse em um tom arrependido.

Eu me limitei a assentir e então murmurei:

—Eu preciso ver se encontro a Quiin. Até mais tarde.

E então peguei minhas coisas e sai dali, quando eu estava de costas fui ainda capaz de ouvir Abby explicar à novata:

—Kiki e Nick são rivais desde sempre e não ajuda o fato deles terem brigado por um pônei na terceira série.

Dei a sorte de encontrar Quiin, sem o Nick e o bando dele.

—Olha se não é princesa do hipismo. –Alex Quiin disse.

Eu rolei os olhos.

—Quiin, preciso de um favor. –Eu digo.

—Um segundo round com Nick? Podemos providenciar para daqui a dois dias, quando o pai dele estiver viajando. –Ela diz.

—Não é isso. –Eu digo.

—Que pena, creio que as apostas dessa vez seriam interessantes. –Ela disse com pesar.

—Você tem que parar com essas coisas, isso deve ser ilegal em algum nível.

Ela dá de ombros desinteressada.

—Nada que um bom advogado não resolva Kiki. –Ela diz simplesmente.

—Mas então, em que eu posso lhe ser útil? –Ela pergunta interessada.

—A competição de saltos no Festival das Flores de Silver Springs, você sabe quem vai competir? –Eu pergunto um tanto relutante.

Quiin me encara interessada e por breves segundos eu me arrependo de ter vindo procura-la, mas infelizmente eu preciso saber quem serão meus concorrentes e quem melhor para saber do que a filha do organizador do Torneio?

—Você parece muito interessada para alguém que está “aposentada” Kiki. –Alex diz fazendo o sinal de aspas na palavra aposentada.

Fui obrigada a dar de ombros desinteressada.

—Apenas querendo saber se vale a pena acompanhar Abby no Festival. –Eu digo tentando ao máximo parecer desinteressada.

Ela ergue a sobrancelha, antes de enfim dizer:

—As inscrições são apenas na época você bem sabe, mas já está confirmado que Lúcia Torres vai competir pela última vez na categoria, enquanto Nell Jones vai estrear na categoria, além de mim obviamente.

Eu assinto e então digo:

—Talvez valha a pena eu ir.

Alex dá de ombros e enquanto eu lhe dou as costas, ainda sou capaz de ouvir:

—Isso vai ser interessante.

Caminhando para o pátio da escola eu não pude deixar de pensar em minhas adversárias.

Lúcia Torres é a irmã mais velha de Nick, ela está no último ano e é uma excelente saltadora, pelo menos desde que me lembre. Ela é uma garota legal para uma menina popular, ao menos mais legal que Nick. Ela com certeza será um grande desafio, afinal de contas os Torres são conhecidos por serem tão velozes quanto seus cavalos puro-sangue ingleses.

Já Alex Quiin é também uma boa amazona, sua maior característica é a versatilidade, já que é tão boa nos saltos, como no Turfe. Alex pode vir a me causar dor de cabeça...

Enquanto isso eu não sei bem o que pensar acerca de Nell Jones, sei que ela é um ano mais nova que eu, portanto nunca fomos muito próximas, mas acho que me lembro de vê-la nas corridas de pôneis.

Acho que preciso tirar um dia para estudar minhas adversárias...

É então que eu sou tirada de meus devaneios por uma voz infelizmente conhecida:

—Senhorita DiNozzo, o que faz aqui sozinha?

Eu dirijo a ruiva um pequeno sorriso antes de responder:

—Apenas pensando na vida senhora Fornell.

Ela assente.

—Sei que esse é um mês difícil para você Chiara. –Diane Fornell tenta iniciar a conversa.

—Sinceramente? Não acredito que exista um mês fácil senhora Fornell. –Eu digo a ela o que conclui há um bom tempo.

A psicóloga/conselheira estudantil suspira audivelmente.

—Você não está errada, mas Chiara sentir saudades é perfeitamente normal e compreensível. –Ela diz.

Eu então a encaro e digo:

—Eu sinto tanta falta dela senhora Fornell...

Ela assente e do nada pergunta:

—Do que você mais sente falta de fazer com ela?

Eu dei de ombros, afinal de contas eu sinto falta de tudo, mas foi inevitável que uma memória não me viesse em mente.

—Cavalgar com ela ao entardecer, fazíamos isso com frequência, às vezes até meu pai vinha junta e ele nem gosta de cavalos. –Eu digo e me vejo sorrindo ao final.

E então eu me lembro da nossa última cavalgada em família:

Era uma tarde de domingo e mamãe e eu estávamos selando os cavalos, ela selava Desert Storm enquanto eu selava Rainbow Dash, meu cavalo árabe pampa, que havia sido um presente do meu avô DiNozzo e que eu nomeei após Rainbow Dash, do desenho my little poney. Não me julguem, eu era uma criança na época

—Mamãe? –Eu a chamei.

—Sim Kira? –Ela disse me olhando preocupada.

—Acha que Rainbow e eu temos chance no circuito de Verão desse ano? –Eu perguntei.

Ela então deixou o que estava fazendo de lado e se aproximou de mim. Ela me deu um beijo na bochecha e então me abraçou.

—É claro que tem meu amor, desde que você se dedique tudo é possível. –Ela disse suavemente.

Eu então sorri levemente, convencida que as chances de ganhar o 1º lugar no meu último ano na categoria júnior.

—Quando eu crescer, quero ir para as Olimpíadas como a senhora. Será que eu consigo? –Divaguei.

Ela deu uma risada sonora.

—É claro que consegue e eu estarei na primeira fila te aplaudindo. –Ela disse confiante e nós duas trocamos um sorriso.

—Olha se não são minhas amazonas favoritas. –Meu pai disse e só então percebemos sua presença.

—Oi papai. –Eu disse sorrindo brilhantemente.

—Tony! –Minha mãe disse como sempre com aquele olhar estranho, acho que é o olhar apaixonado dela...

—Então onde as senhoras planejam ir nessa linda tarde de primavera? –Meu pai pergunta.

—Cavalgar pelos arredores do Haras, ir até o riacho. –Eu digo simplesmente.

—Poderia esse mero senhor acompanha-las nesse passeio? –Ele pergunta charmoso enquanto eu dou uma risadinha e minha mãe o olha desconfiada.

—Você cavalgando DiNozzo? –Ela pergunta com um sorriso maroto.

—E o que há de errado Todd? –Ele responde com outra pergunta.

Enquanto isso eu sou obrigada a rir e rolar os olhos, lá vamos nós de novo....

—Nada, de qualquer forma Morning Hope está precisando fazer exercícios. –Minha mãe diz indo buscar sua antiga égua de competições, que atualmente está aposentada.

—Você vai me dar um cavalo velho Katie!? –Papai a segue reclamando, enquanto eu fico na companhia de Storm e Rainbow.

—Não é um cavalo velho DiNozzo, mais respeito com a Hope. Não é garota? –Minha mãe diz enquanto sela a égua, que relincha concordando.

—Além do mais, não quero correr o risco de você montar um dos garanhões e acabar caindo e se machucando. Ou pior, me deixando viúva. –Mamãe diz um tanto quanto indignada, ao mesmo tempo em que não perde a oportunidade de alfinetar meu pai.

—E nós dois sabemos que você não conseguiria viver sem mim Katie. –Meu pai diz charmoso, enquanto minha mãe rola os olhos.

—Menos papai, todos nós sabemos que eu sou o amor da vida da mamãe. –Eu digo convencida, enquanto meu pai faz língua para mim.

—Ei vocês dois, montem logo. –Minha mãe diz, enquanto ela própria está montando Storm.

Eu já estou montada, quando papai finalmente consegue montar Morning Hope e assim, finalmente saímos nós três pelos campos do Haras.

—Vocês e seu pai já fizeram isso depois que ela morreu? –A senhora Fornell pergunta me trazendo de volta de meu devaneio.

Fiz que não com a cabeça.

—Como eu disse senhora Fornell, meu pai não gosta de cavalos. –Eu disse e então acrescentei mais baixo. –Às vezes eu duvido que ele até goste de mim.

—Chiara... –Ela começou, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa eu fui mais rápida que ela.

—Se ele gostasse ao menos um pouco de mim, ele não teria me tirado da nossa casa, e me levado para morar naquele maldito apartamento. –Eu disse já me levantando para sair.

—Chiara espere. –Ela pede e não sei exatamente o motivo, mas mesmo que eu já estivesse de pé e pronta para sair, eu acabei por fazer o que ela pediu.

—Vocês dois perderam alguém que amavam, vocês precisam fazer as pazes. –Ela disse simplesmente e eu a olhei sem muita fé, sendo assim ela acrescentou –Façam as pazes por vocês e por ela.

Eu estava prestes a retrucar o que ela havia dito, afinal se tem algo que eu herdei de ambos os meus pais foi esse dom, entretanto, o sinal tocou e não sei ao certo de onde, mas Duck surgiu do nada.

—Senhorita DiNozzo que bom vê-la. Diane, podemos conversar? –O gentil doutor me cumprimentou.

E assim eu fui direto para minhas aulas, tendo o dia passado sem nenhum grande evento. Sendo assim, quando enfim é a hora de embora, eu estou do lado de fora da escola conversando com Ellie, a espera de Jack quando eu o avisto.

—Chiara, minha querida. –Meu avô diz com seu forte sotaque italiano.

—Vovô! –Eu digo já correndo para abraça-lo.

—Você cresceu desde a última vez que te vi bambina. –Vovô DiNozzo diz sorridente.

—Um pouco. –Eu digo.

—E quem é sua amiga? –Ele pergunta e só então me lembro de Ellie.

—Vovô essa é Ellie Bishop, Ellie esse é meu avô Anthony DiNozzo Sênior. –Eu faço as apresentações.

—É um prazer conhecê-la senhorita Bishop. –Vovô diz educadamente, ao passo que Ellie responde a altura.

Não demora muito e Bob chega, levando assim Ellie embora.

—O senhor tem notícias da Jack? –Pergunto.

—Avisei a senhorita Sloane que lhe buscaria hoje. –Meu avô respondeu.

—Então quer dizer que ela sabia disso? –Eu perguntei desconfiada.

—Desde ontem a noite. –Ele me respondeu, e não tardou em acrescentar. –Agora me diga, onde você quer ir com seu velho?

Eu dou uma risadinha e então dou de ombros.

—Eu não sei, o senhor é que sempre tem as melhores ideias. –Respondo e então vejo o sorriso brilhante do meu avô e sei que ela já tem o dia planejado.

—Então vamos minha querida. –Ele enfim disse, enquanto me guiava para o seu carro alugado.

Após alguns minutos, percebi que eu conhecia o caminho pelo qual estávamos indo, afinal foram várias as vezes em que vim com minha mãe, para podermos assistir Jack correr com Heavy Rain.

—O Jockey Club vovô? –Perguntei com um meio sorriso, afinal de contas se alguém decide por desafiar Tony DiNozzo publicamente, esse alguém é o meu avô e, talvez seja por isso, eles andam se estranhando mais que o normal desde que minha mãe morreu.

Vovô me dirigiu um sorriso cumplice, ao mesmo tempo em que acrescentou:

—Como eu poderia vir a Ocala e não assistir a uma corrida, minha querida?

E assim, em quinze minutos já nos encontrávamos indo para um camarote, porque logicamente vovô não assistiria a um turfe na arquibancada, como qualquer mero mortal, vulgo eu.

E assim nos acomodamos, até que eu percebi que mais alguém adentrava o local, e claro eu não pude deixar de me surpreender ao ver Henrietta Lange, secretária de desenvolvimento da cidade de Ocala, aqui. No entanto, isto não era tão surpreendente, já que eu estava na companhia do meu avô, que nas palavras da minha mãe “não dá ponto sem nó”.

Veremos o desenrolar dessa história.

—Senhorita Lange, é um prazer revê-la. –Vovô diz charmoso como sempre, enquanto Henrietta lhe oferece a mão para um aperto.

Mas vovô sendo vovô, foi mais ousado e beijou sua mão. Sendo inevitável que eu não rolasse os olhos diante de tal ato.

—Senhor DiNozzo, é bom vê-lo. –A senhora de estatura mais baixa que o normal disse e logo acrescentou –Espero que não se importe, mas trouxe meu sobrinho Callen.

Foi só quando ela disse isso, que eu reparei que havia um rapaz um pouco mais atrás, trajando o uniforme da escola em que estudo, mas não qualquer aluno, simplesmente o novo amiguinho de Nick Torres.

—É um prazer conhecê-lo senhor Callen. –Vovô diz oferecendo sua mão para um aperto.

—Vocês já conhecem minha linda neta Chiara? –Vovô então pergunta aos recém chegados.

—Vovô! –Eu digo rapidamente em um misto de vergonha e repreensão.

—É bom vê-la novamente senhorita DiNozzo. –Henrietta diz simplesmente, embora eu não me recordasse da última vez que tivesse a visto, ao menos tenho certeza de não ter a visto no último ano.

—Chiara. –Callen disse não esboçando muita empolgação, não sei ao certo se é pelo fato de me ver ou pelo fato do local, pois pelo que eu ouvi minhas fontes dizerem, vulgo meus melhores amigos, o garoto de Los Angeles prefere praias do que cavalos.

—Callen. –Eu disse, fazendo questão de usar o sobrenome dele. Afinal de contas, por mais eu não goste do sobrenome do meu pai, eu não dei a ele a liberdade de me chamar pelo primeiro nome, já que sendo amiguinho do Torres, ele encontra-se listado no rol de inimigos.

Não demorou muito e nos acomodamos, entretanto, quando começou a corrida, eu me levantei e me aproximei mais, observando os cavalos e procurando pelo estreante da temporada Furia De La Noche.

—Nick disse que depois que você correu com o Furia, ele não perde mais. –Callen disse e só então percebi que ele estava ao meu lado.

Eu olhei para ele com a sobrancelha erguida.

—Eu duvido que aquele idiota tenha dito algo assim. –Eu sussurrei, não tardando em acrescentar –E fala baixo, porque meu avô não pode descobrir.

Callen deu de ombros, mas não se conteve em dizer:

—Ele disse algo como “a benção Todd”.

Eu rolei os olhos e me vi obrigada a dizer:

—Ele é definitivamente um idiota.

—Aceita? –Ele me pergunta, enquanto me oferece uma lata de Coca-Cola.

—Obrigada. –Eu digo enquanto pego a lata de refrigerante e abro.

Eu tomo o primeiro gole, enquanto observo a corrida.

—Então você gosta de corridas? –Ele puxa assunto.

Eu lhe dirijo um olhar um tanto quanto irônico e volto a olhar a corrida.

Após alguns segundos em silêncio, eu digo:

—Um pouco.

Ouço então sua risadinha irritante e é inevitável que eu não role os olhos, é claro que sendo amigo de Nick ele tinha de ser petulante.

Assistimos a corrida, a qual, diga-se de passagem, Furia saiu campeão, mas por que ele não poderia ter saído vitorioso em nossa corrida eu nunca vou entender.

Em dado momento Callen saiu com a desculpa de ir ao banheiro e então eu procurei pelo meu avô e percebi que ele também não estava ali.

—Seu avô foi atender uma ligação. –Henrietta me disse.

Eu assenti a cabeça, permanecendo então em silêncio.

—Você gosta de cavalos? –Ela então me questionou.

Desviei o olhar da pista onde outrora Furia De La Noche corria veloz, e então a encarei.

—Dada as circunstâncias, acho que seria impossível não gostar. –Eu confessei a senhora mais velha, não sabendo ao certo o que me levou a fazer tal revelação, já que geralmente eu não sou de me abrir com desconhecidos.

Ela sorriu levemente e então acrescentou:

—Você salta como sua mãe?

—Você a conheceu? –Foi inevitável que eu não perguntasse.

Ela assentiu calmamente e então eu me vi suspirando, era a minha vez de responder.

—Não salto tão bem quanto ela, mas espero que algum dia eu possa deixa-la orgulhosa. –Eu me vi dizendo suavemente.

—Tenho certeza que você vai conseguir. –Henrietta diz.

Eu me vi assentindo, enquanto pensava que talvez cumprir meu objetivo fosse mais difícil do que eu imaginava. Afinal de contas, às vezes parece que o universo conspira em meu desfavor.

Não muito tempo depois, vovô e eu fomos embora dali.

Ele estava dirigindo quando me perguntou:

—O que você anda fazendo?

Eu o olhei de canto, pensando se ele poderia saber do super plano, como Abby havia chamado minha ideia mirabolante. Por fim, eu respirei fundo antes de dizer simplesmente:

—Estudando, assistindo séries, saindo com Abby e Jack, essas coisas de adolescente. –Eu respondi simplesmente.

—Legal. –Vovô disse.

—Tem visitado seus outros avôs no Texas? –Vovô perguntou em um tom ciumento.

Eu me vi obrigada a rir antes de dizer:

—Não, a última vez que os vi foi no funeral da mamãe.

—Você não tem os visto? –Vovô agora perguntou mais curioso do que enciumado.

Fiz que não com a cabeça.

—Vovó me liga todas as sextas depois da missa, tia Rachel também liga as vezes. –Eu disse a ele.

—E seu pai? –Ele me perguntou.

—Como sempre trabalhando ou viajando. –Eu respondi.

—Então ele não te levou para o Texas no Natal? –Ele me questionou.

—Não. –Respondi franzindo o cenho, afinal de contas ir para o Texas no Natal era uma tradição de família que fazíamos quando a mamãe estava viva.

Não muito tempo depois, ele parou em frente ao prédio em que moro, então me vi vendo ser obrigada a perguntar:

—O senhor vai ficar aqui em casa?

—Mas é lógico bella, é sempre bom conter os gastos e abusar da hospitalidade quase nula do meu filho. –Ele respondeu com um meio sorriso.

—Então, o que me diz de me ajudar a fazer famosa macarronada DiNozzo? –Ele me pergunta quando estamos no elevador a caminho da cobertura.

—Eu acho uma ideia fantástica. –Eu disse sorrindo.

E assim, após trocar de roupa eu estava ajudando o vovô na cozinha.

—Podemos chamar a senhorita Sloane, o que você acha? –Vovô sugeriu.

Eu o olhei de canto e então falei:

—Vovô espero que o senhor não dê em cima dela.

Ele riu.

—Claro que não, eu sei bem que ela está fora dos limites.

—Acho bom. –Eu disse protetoramente, afinal de contas não é segredo para ninguém o quão mulherengo meu avô é.

Sendo assim eu avisei a Jack que o jantar seria as sete e meia e claro que ela deixou bem claro que iria.

Era um pouco mais de sete quando papai chegou do trabalho.

—Boa noite. –Ele disse cumprimentando a mim e ao vovô.

—Boa noite. –Eu e vovô dizemos ao mesmo tempo e embora eu estivesse entretida colocando a mesa, pude notar pela minha visão periférica que meu pai ficou surpreso pela minha resposta.

Quando enfim eram sete e meia, nós quatro estávamos sentados a mesa para o jantar.

—Como foi seu dia Chiara? –Jack perguntou e eu a encarei por breves segundos, antes de responder.

—Adorei a surpresa. –Eu disse sorrindo enquanto desviava o olhar para meu avô.

—E onde o senhor a levou pai? –Meu pai perguntou.

E assim por breves segundos eu congelei, afinal de contas se vovô não mentisse, provavelmente nosso jantar estaria arruinado em menos de dez minutos, já que ao descobrir sobre o turfe com certeza ele faria um drama...

—Chiara me ajudou a fechar um negócio com Henrietta Lange no Jockey Club. –Vovô respondeu simplesmente.

Em silêncio Jack e eu nos encaramos, sabendo muito bem o que viria a seguir.

—Isso explica muita coisa. –É a única coisa que meu pai diz.

—E como foi o seu dia Jack? –Devolvi a pergunta, afinal era praticamente nosso rito durante o jantar sabermos do dia uma da outra, rito ao qual praticávamos desde os tempos do Haras, quando minha mãe ainda era viva.

—Bem... como o esperado o doutor Mallard se aproveitou e muito da minha ajuda na ONG, e não sei como ao sair eu me vi concordando em voltar mais vezes. –Jack disse enquanto fazia uma pausa para o vinho.

—E o cavalo resgatado? –Eu me vi corajosa o suficiente para perguntar.

—Com os cuidados certos ele vai ficar bem. –Foi o que ela disse.

E então voltamos a comer em silêncio, até que não exatamente o porque, talvez tenha sido a conversa com a senhora Fornell ou talvez o fato de estarmos tendo o mais próximo de jantar em família que tivemos em séculos, que então eu me vi ignorando meu ressentimento e perguntando:

—E como foi o seu dia papai?

Instantaneamente eu ouvi Jack engasgar, vovô pareceu interessado, enquanto que meu pai parecia surpreso.

—Bem... –Ele iniciou não tardando em acrescentar –Cheio de muitas reuniões com pessoas chatas, mas não foi um dia de todo o ruim.

Eu assenti.

E assim ficamos em silêncio até terminarmos o jantar, exceto claro por Jack e vovô que se esforçavam para manter a conversa a mesa.

Depois que terminamos o jantar, Jack e eu limpamos a louça. Logo em seguida ela foi embora e eu dei boa noite para papai e vovô, indo então para o meu quarto fazer a lição.

Era por volta de nove e meia quando eu fiquei com sede e tive que ir até a cozinha tomar água, assim de pijama e pantufas eu me vi indo em direção a cozinha, entretanto, ao passar na frente do cômodo que papai converteu em seu escritório eu ouço vozes.

Não que eu seja curiosa, mas o fato de nunca ter nada de interessante acontecendo aqui, bem como ser possível distinguir a voz de meu pai e avô no que parece ser uma discussão, me vejo obrigada a me aproximar e ouvir atrás da porta, sim, eu sei que é uma conduta repreensível, mas desde quando eu ligo tanto assim para a moral e os bons costumes?

—Você me disse que iriam para o Texas no Natal. –Vovô disse.

—E daí que não fomos para o Texas? Não é como se o mundo fosse acabar por isso. –Meu pai disse claramente irritado.

—Tem dois anos que Kate morreu Tony e desde então você isolou a menina nesse prédio. –Vovô disse bravo.

—Não seja dramático pai, eu não a isolei. –Meu pai disse com nítida falta de paciência.

—Você a tirou da casa dela, dos bichos dela, até das competições você a tirou Tony. Não me surpreendi que ela tenha tanta magoa de você. –Vovô disse.

—Falou o homem que mandou para um colégio interno depois que minha mãe morreu. –Papai disse amargurado e então eu franzi o cenho, papai raramente falava de sua infância, principalmente no que aconteceu depois que vovó DiNozzo morreu, acho que essa é uma grande revelação.

—Eu sei que errei Tony e é por isso que eu estou alertando você, não cometa os mesmos erros que eu. –Vovô diz cansado.

Os dois ficam calados e eu então ouço passos, sendo assim eu corro o mais silenciosamente e rápido que posso para o meu quarto, esquecendo-me até da água que eu havia ido buscar.

Quando já estou deitada em minha cama pronta para dormir, é inevitável que eu não deixe de pensar na conversa que eu ouvi.

Eu sabia que minha avó havia morrido quando meu pai era criança, mas eu nunca pensei que vovô havia feito o que fez, talvez por isso papai seja do jeito que é com ele. No entanto, o que eu não consigo entender é que se o papai entende minha situação, por que ele não age diferente comigo? Por que ele prefere me privar de tudo o que eu gosto? Isso é difícil de entender.

Suspirando eu fecho os olhos e me vejo pensando em dias mais felizes, apesar que o dia de hoje não foi tão ruim quanto poderia ter sido.