Country Girl

“How I wish it could be that easy”


I see the girl I wanna be

Riding bareback, carefree

Along the shore

If only that someone was me

Jumping head first, head-long

Without a thought

To act and damn the consequence

How I wish it could be that easy

But fear surrounds me like a fence

I wanna break free

Wild Horses – Natasha Bedingfield

Acordo na quarta-feira e me preparo para o dia e logo saio do meu quarto e trilho em direção a cozinha onde espero ver Jack tomando café e reclamando dos programas de TV, entretanto, não deixo de me surpreender ao ver o meu pai ali se servindo de uma caneca de café enquanto fala com alguém no celular.

Silenciosamente pego minha tigela e o cereal no armário, além do leite na geladeira e me sirvo.

Ao encerrar sua ligação ele me encara em expectativa, mas como de praxe eu não digo nada, limito-me a fazer minha refeição em silêncio e ao terminar vou para o meu quarto pegar minha mochila e meu celular, já pronta para a escola eu o espero sentada no sofá mexendo no meu celular.

Ele claro não demora em sair da cozinha e assim que o faz, vejo ele já com as chaves da Ranger em mãos e assim simplesmente eu o sigo.

Seguindo a nossa rotina de poucas palavras, sento-me no banco de trás e ele assim que fecha a porta liga o rádio, que como sempre já está sintonizado na estação de rádio favorita dele.

O caminho até a escola não vela nem vinte minutos e logo meu pai estaciona e antes que ele possa sequer me dizer tchau, eu já abro a porta e salto para fora. Afinal de contas, não temos conversado muito desde o dia em que ele teve a brilhante ideia de nos mudarmos do nosso Haras para aquela cobertura ridícula e, consequentemente, vender os cavalos da minha mãe, para mim isso é imperdoável.

—Kiki me espera. –Ouço Abby dizer e viro-me em sua direção, onde a vejo correndo com seus cabelos castanhos avermelhados presos em tranças balançando de um lado para o outro.

Eu paro e a espero, enquanto dou um tchauzinho para a mãe dela, que está a repreender minha melhor amiga.

—Bom dia Abbs e você sabe que eu odeio que você use esse apelido em lugares públicos, quanto mais gritar aos quatro ventos. –Eu digo em um tom levemente repreendedor, pois já falei milhares de vezes para ela parar de usar esse apelido, afinal de contas mais parece nome de cachorro.

—Bom dia para você também senhorita DiNozzo, vejo que está de mal humor hoje. –Ela diz seriamente e então me pergunta com a sobrancelha erguida, um ato que diga-se de passagem a deixa bem semelhante com a temida diretora. –Isso tem haver com o condutor daquela Ranger branca?

Em resposta eu apenas bufo, e começo a andar, mais que depressa ela começa a me seguir e logo estamos lado a lado.

Adentramos o portão do colégio e de longe sou capaz de visualizar Ellie e Tim, acompanhado de sua irmã caçula, sentados em uma das mesas do pátio.

—Vamos ver o que a Ellie tem de gostoso hoje. –Eu digo para Abbs.

—Como se ela dividisse. –Minha amiga de olhos esverdeados resmunga.

Estamos caminhando em direção aos nossos amigos quando percebo que um grupinho peculiar parou de frente eles.

—Olha o que temos aqui Callen, se não são os nossos nerds favoritos. –Ouço aquele idiota do Nick Torres dizer.

—Já fizeram nossos deveres de casa? –Callen, o novato que veio transferido da California para morar com a tia disse, como sei disso tudo? Bem... é uma vantagem ser amiga dos nerds.

—Ei seus idiotas –Eu digo chamando a atenção deles e quando a tenho eu prossigo –Se vocês usassem o tempo de vocês para fazer a lição, não precisariam roubar de ninguém.

—Olha se não é a princesinha. –Nick diz em tom jocoso.

Limito a revirar os olhos e ele prossegue.

—Então Kiki, eu chamaria você para defender a honra dos seus amigos na pista, mas soube que você se aposentou. –Nick provocou.

—Como se você fosse me vencer Torres. –Eu digo em desdém cruzando os braços.

—Briga! Briga! –Algum infeliz que passava por perto disse em voz alta, assim um grupo de curiosos se juntou à nossa volta.

Ele deu um passo a frente e eu não recuei, então nos encaramos firmemente, antes que ele dissesse:

—Eu não bato em garotas, para mim só há uma forma de resolver isso e é na pista Kiki.

Eu engulo em seco, enquanto ainda o encaro, sinto Abby pegar meu braço na intenção de me arrastar para fora dali.

—Esteja pronto para perder Nick. –Eu digo.

—Minha casa, as cinco. –Ele diz e sai.

Enquanto isso, Abby já vai logo dizendo:

—Não...

—Shiu Abbs. –Ellie a cutuca na costela.

—Crianças, o que está acontecendo aqui? –O doutor Mallard perguntou dissipando uma boa parte dos curiosos.

—Nada. –Dissemos todos ao mesmo tempo.

O homem que eu conhecia há muitos anos, pois foi o veterinário dos cavalos do Haras desde que eu me lembrava, nos olhou desconfiado, mas se notou algo deixou passar.

E assim eu e meus amigos seguimos nosso rumo.

Quando já estávamos a uma distância segura, Abby começou exasperada:

—Mais que diabos foi aquilo Chiara? Você endoidou foi?

Em resposta eu simplesmente dei de ombros.

—Você não tem permissão para montar, tem? –Tim me questionou.

—Obrigada por me lembrar desse fato terrível Timothy . –Eu disse ligeiramente irritada com meu amigo.

—Então qual o plano? –Ellie me olhava com uma expressão levemente medonha, cadê a meiga e inocente Bishop?

—Temos até o final da aula para descobrirmos amigos. –Eu digo simplesmente e então entro na sala para uma tediosa aula de inglês.

Na hora do almoço estamos na nossa mesa de costume comendo, quando o irmão número três da Ellie aparece.

—Boa tarde crianças, os boatos que teremos um turfe hoje são verídicos? –Robert Bishop pergunta se sentando ao lado da irmã.

—Não. –Abby é a primeira a dizer.

E então uma ideia brilhante vem em minha mente.

—Isso só depende de você Bob. –Eu digo com um pequeno sorriso.

—E em que eu posso ser útil senhorita DiNozzo? –O loiro me pergunta.

—Você comprou um carro não comprou? –Eu disse me recordando de Ellie descrever a lata velha que o irmão havia comprado.

—Sim... –Ele me respondeu não muito confiante.

—Então você ficará encarregado de me buscar na minha casa para a corrida. –Eu digo simplesmente.

—Você só pode está brincando. –Tim diz sem acreditar.

—É só dizer o horário Chiara. –Ele diz e sai me dando uma piscadinha.

—Você percebe no problema que está se metendo não percebe? –Tim diz me encarando fixamente.

—Só será um problema se alguém der com a língua nos dentes e anime-se Tim, estou fazendo isso para limpar a honra de vocês. –Eu digo simplesmente e então pego a caixa do meu suco de uva e dou um longo gole.

—Você está fazendo isso porque adora montar. –Abby sussurrou, mas não baixo o suficiente para que não pudéssemos escutar.

—E porque ama competir. –Ellie completou enquanto focava em seu muffim de chocolate.

Após a maioria terminar de comer, porque Ellie sempre tem algo escondido nos bolsos e nesse exato momento ela retirava uma barrinha de cereal do bolso, caminhávamos de volta para nossas respectivas salas, quando a loira finalmente perguntou:

—E aí qual o plano?

—Abigail vai pedir a mãe para dormir na minha casa hoje, não é Abigail? –Eu digo enquanto encaro minha amiga.

—Só se você não me chamar de Abigail. –Ela diz não muito feliz.

—Então, eu direi à Jack que iremos para a sua casa Ellie, mas então seu irmão nos levará para a casa do Nick. –Eu digo simplesmente e logo acrescento –Você vai McGee?

—Por mais tentador que seja ver vocês competindo, tenho uma de free fire a tarde. –Tim diz.

_Mio Dio. –Me vejo dizendo.

E depois disso o restante do dia passou tão rápido que logo já ouvíamos o sinal dando fim a última aula do dia.

—Vamos comigo a diretora para convencer minha mãe? –Abby me perguntou enquanto caminhávamos para fora da nossa sala de aula de biologia.

—Okay, vou só enviar uma mensagem para avisar a Jack. –Eu digo, enquanto pego o meu celular na mochila.

Sigo Abby enquanto teclo com Jack, que já está me esperando lá fora. Logo chegamos em frente a porta da sala da diretora e Abby bate.

—Entre. –Ouço a voz do outro lado da porta dizer.

—Oi mãe. –Abby diz.

—Olá Jenny. –Eu digo como sempre educada, afinal de contas tenho que manter as aparências.

—Olá meninas, como vai Chiara? –Jenny diz.

—Bem e a senhora? –Respondo com uma pergunta.

—Bem, mas a resposta é não. –Jenny diz e volta sua atenção à filha.

—Mas mamãe eu nem falei nada ainda. –Abby prontamente se defende.

—Exatamente, “ainda”. –Jenny diz se aconchegando em sua cadeira e encarando a filha.

—Por favorzinho mamãe. –Abby disse fazendo uma estranha cara de cachorrinho pidão.

—Abby hoje é quarta-feira, você vai incomodar Tony. –Jenny tenta tirar a filha de ideia, mas eu sou Chiara Todd e não desisto tão facilmente.

—Por favor Jenny, meu pai nunca chega antes das nove da noite e Jack não se importa em ficar com nós duas. –Eu digo e então faço a minha cara de inocente.

—Meninas... –Jenny começa, mas eu a corto.

—E nós meio que já combinamos com Ellie de estudar matemática na casa dela. –Falei simplesmente, enquanto recebia um olhar um pouco desconfiado de Abby.

Jenny então nos encarou fixamente, antes de enfim suspirar e dizer:

—Tudo bem, mas só hoje okay?

—Obrigada Jenny. –Eu digo com um pequeno sorriso vitorioso.

—Obrigada mamys poderosa. –Abby diz enquanto corre até a mãe e a abraça, se despedindo então da mãe com um beijo.

E diante dessa visão meu sorriso vacila por meros segundos. Não me levem a mal, não é inveja, é apenas que as vezes eu vejo as interações de Abby e Jenny e me lembro então que nunca mais poderei dar um abraço ou um beijo em minha mãe.

—Certo, então vamos logo! –Abby diz e não demoramos em sair da sala de Jenny.

Não demoramos em localizar Jack assim que saímos da escola e após andar um pouco já estamos abrindo a porta da Ranger dela.

—Boa tarde meninas! –Jack diz como sempre exibindo um sorriso.

—Boa tarde Jack! –Abby e eu respondemos simultaneamente.

—Que tal um MacDonalds? –Jack sugere quando dá partida no carro e eu vejo Abby prestes a responder.

—Na verdade Jack, seria uma boa, se não tivéssemos que ir para a casa da Ellie mais tarde. –Eu digo e vejo Abby me fuzilar com o olhar, aparentemente o espirito Bishop baixou nela nesse momento.

—Eu diria para levarmos ela para sua casa, mas temo que não há suprimentos o bastante para alimentar Ellie. –Jack diz fazendo piada, vez que bem, digamos que a reputação de Ellie a precede.

Assim chegamos em casa, fazemos um lanche e eu me apreço em arrastar Abby para o meu quarto para terminarmos as lições que havíamos adiantado no colégio.

Depois disso, já havíamos trocado de roupas, eu havia emprestado um short e uma camiseta preta para ela, que havia recentemente entrado em uma fase gótica, enquanto que eu optei por um vestido de alcinha floral na altura do joelho.

—Como você vai montar com isso? –Abby me questiona.

—Como eu vou sair de casa com roupa de montaria gênio? –Devolvo a pergunta para minha amiga.

Então pego uma calça de montaria preta que guardo no fundo da minha gaveta e uma camisa de flanela, as colocando dentro da minha mochila, além de claro as minhas botas pretas.

Não muito tempo depois, no horário combinado Ellie mandou uma mensagem dizendo já estar nos esperando do lado de fora do meu prédio. Assim, saímos apressadas deixando Jack tomando sorvete e assistindo o canal do cavalo e queixando-se de alguém.

Quarenta minutos depois havíamos chegado na casa de Nick, eu havia pedido para ir no banheiro após trocar farpas com Nick e sua gangue e assim retornei pronta para a corrida.

Estava indo escolher o meu cavalo, com Abby e Ellie ao meu lado, quando Abby enfim falou:

—Kiki, você tem certeza que quer fazer isso? Correr não é bem o seu forte...

—Eu aceitei o desafio Abby, não posso amarelar agora. –Eu disse.

—Você percebe que ele manipulou você para aceitar uma corrida, quando todos nós sabemos que você é melhor nos saltos né? –Ellie disse surpreendendo a Abby e a mim mesma com sua observação perspicaz.

—Dio aiutami..-Foi a única coisa que fui capaz de dizer, em troca recebi expressões confusas de Ellie e Abby já que nenhuma das duas fala italiano.

—Pode escolher o seu Kiki. –Nick disse, enquanto segurava a rédea de dois puro-sangue inglês já selados, um negro e o outro alazão.

Olhei de um para o outro, ambos de grande porte e parecendo não muito felizes com as pessoas que ali se aglomeravam.

—O alazão. –Eu digo.

—Apresento-lhe Lanzallamas. –Nick diz forçando ainda mais o seu sotaque espanhol.

Rolei os olhos, não tinha um nome pior para o coitado do cavalo não?

—Não aprovou o nome Kiki? –Ele me perguntou divertido.

—Eu diria que não, mas posso ser chamada de xenofobia. –Respondo em desdém.

—Callen, leve o Lanzallamas e Furia De La Noche para a pista. –Nick diz ao seu novo amigo.

E assim o loiro sai puxando os dois cavalos em direção a pista de corrida, enquanto eu engulo em seco, já que embora pessoalmente eu ache o nome um pouco prepotente, é inevitável não reconhece-lo, já que ele foi o campeão regional dos últimos três anos.

Enquanto caminhávamos lado a lado em direção a pista, perguntei para Nick:

—Quantos anos tem Lanzallamas?

—Quatro e meio. –Ele respondeu simplesmente

—Você me deu um potro para correr contra um campeão!? –Eu disse estagnada no local.

—Em minha defesa, deixei você escolher Kiki, mas se quiser desistir por aqui, anunciarei minha vitória por desistência. –Ele disse com um sorriso no rosto.

—Idiota. –Eu disse então voltando a andar e me posicionando ao lado do cavalo que escolhei.

—Ei garoto, vamos ensinar uma lição para aquele idiota, o que você acha? –Eu murmuro para o cavalo enquanto o acaricio.

Ouço então uma risadinha e pelo canto do olho vejo que Callen está a me observar, simplesmente rolo os olhos e peço ajuda aos outros amigos idiotas de Nick para montar.

—Quem vai ser o juiz? –Pergunto quando nós dois já estamos montados nos nossos cavalos.

E antes que ele venha a me responder, vejo uma garota de cabelos castanho-iluminados encaracolados, trajando uma calça jeans rasgada e uma camisa xadrez.

—Alex? Vocês voltaram? –Pergunto a Nick.

Ele limita-se a dar de ombros antes de dizer:

— La vida es una fiesta loca, chica.

E antes que eu possa dizer qualquer coisa, Alex Quiin já anuncia:

—Em suas marcas.

E assim nos posicionamos.

—Façam suas apostas senhoras e senhores. –Ela acrescenta, voltando sua atenção para a pequena multidão que se aglomerava ao lado da cerca.

A essa altura os cavalos já bufavam nervosos e eu respirava profundamente, pois por mais que eu fosse acostumada com cavalos e até tivesse corrido algumas vezes, isso foi há tempos e era inevitável que eu não ficasse nervosa.

—Respire fundo, o cavalo sente seu nervosismo.—Juro que posso ouvir a voz da minha mãe dizer, como ela já havia me dito tantas vezes no passado.

E assim eu fiz, enquanto em minha mente vinha outro ensinamento:

—Em qualquer esporte, vocês são um só. –A voz tranquila, porém autoritária da minha mãe dizia...

—Prontos? –Alex nos perguntou.

—Sim. –Nós dois respondemos.

E assim Alexandra Quiin gritou:

—Run.

E assim foi dada a partida.

Saímos quase que ao mesmo tempo e assim nos mantivemos um ao lado do outro por quase cinquenta metros, mas Nick acabou por conseguir passar a nossa frente.

Por mais cinquenta metros ele ficou a minha frente.

—Vamos garoto. –Eu disse.

E assim aos poucos conseguíamos alcançar Nick, foi difícil, mas conseguimos alcança-lo e nos manter ao seu lado.

Faltava já cerca de cinquenta metros para a chegada e eu sabia que esse era o momento em que eu tinha que ultrapassar Nick se quisesse ganhar.

—É agora... –Sussurei, enquanto chicoteava Lanzallamas sem dó, que ele me perdoe.

E assim, eu me vi ultrapassando Nick e mantendo a liderança, enquanto chicoteava Lanzallamas sem piedade.

E eu passei a linha de chegada e só fui conseguir parar meu cavalo alguns metros depois.

Após ser ajudada a descer de Lanzallamas, eu e ele respirávamos pesadamente, quando Abby veio até mim e me abraçou, enquanto dizia empolgada:

—Você praticamente voou amiga.

—Não exagere Abbs. –Eu disse com um pequeno sorriso.

—Ela tem razão Chiara. –Ellie acrescentou.

—Então ganhei? –Finalmente perguntei.

E ambas as minhas amigas se olharam, isso não era um bom sinal, mas como assim?

—Você foi bem Kiki. –Abby disse.

E então retirando o capacete eu franzi o cenho enquanto perguntava:

—Mas que diabos aconteceu?

—Ele te alcançou nos últimos metros, vocês chegaram juntos. –Alex disse enquanto se aproximava e então acrescentou. –Mas você correu bem...

—Mas não tão bem para me vencer. –Nick que apareceu não sei de onde interrompeu a sua namorada.

—Mas você também não ganhou Torres. –Eu disse enquanto o encarava com cara de poucos amigos.

—Droga, perdi minha aposta. –Bob, o irmão de Ellie, disse enquanto se aproximava de nós.

Foi então que eu olhei um pouco confusa para Bob.

—Foi mal Chiara, apostei que Nick ganharia. –Robert Bishop disse em um tom que não demonstrava muito arrependimento.

Bem feito, foi o que eu pensei.

E assim, após uma troca de farpas com Nick e lhe devolver o capacete, me retirei para trocar de roupa. Não mais que vinte minutos depois estávamos já no carro de Bob, com ele nos levando de volta para casa.

—Isso foi tão insano, já imaginaram se os pais de Nick descobrissem? –Robert puxou assunto.

—Pior, se o Tony descobre. –Abby de repente inventa de ser a consciência do grupo.

—Para uma gótica, você se preocupa demais Abbs. –Eu digo simplesmente.

—Preocupar? Você estava em um turfe de 400 metros, com provavelmente um cavalo recém ensinado... Tantas coisas poderiam ter dado errado. –Abby disse levemente frustrada e então acrescentou com uma carranca que com certeza deixaria Gibbs orgulhoso –Você tem é sorte de ter empatado.

Me limitei a rolar os olhos, então após um tempo em silêncio acrescentei:

—Meu azar foi não ter escolhido o Fúria.

—Aquele cavalo não se chama Furia De La Noche à toa. –Abby bufou e então me pus a pensar no histórico dele.

—Tem razão, ele é tão mal-humorado como Heavy Rain. –Acrescento e só então percebo a cara de confusão de Ellie.

Suspiro antes de explicar:

Furia De La Noche é irmão de Heavy Rain, uma das éguas favoritas da minha mãe, ela era incrível nas corridas, Jack e ela já ganharam muitos prêmios.

—Espera aí, a Jack? Tipo a Jack sua babá? –Ellie pergunta franzindo o cenho confusa.

Faço que sim com a cabeça, enquanto me lembro que Ellie só se mudou para Ocala há três anos.

—Jack foi uma jockey premiada, principalmente quando montou Heavy Rain, mas se aposentou há alguns anos e virou treinadora do nosso Haras. —Expliquei a minha amiga loira.

—Uau, nunca pensei que a senhorita Sloane fizesse algo tão radical. –Ellie disse, enquanto pegava seu celular, certamente como a boa nerd que é, para pesquisar mais a respeito de Jack.

—Chegamos. –Bob anunciou ao parar em frente ao prédio que moro.

—Obrigada pela carona Bob e foi mal por ter perdido a aposta. –Eu digo agradecido ao mesmo tempo em que estampo um sorriso nada culpado.

E assim Abby e eu descemos e vamos direto para a cobertura, torcendo para que Jack ainda esteja entretida com o que quer que esteja passando na TV.

Deus ouve minhas orações, pois ao chegar em casa ainda encontro Jack demasiada concentrada na TV, sendo assim apenas anuncio:

—Chegamos Jack.

E mais do que depressa me dirijo para o meu quarto e dou um jeito de tomar banho e me trocar, para não haver sequer uma evidência do que andei fazendo.

Para o jantar de hoje Jack escolheu comida chinesa e assim eu, ela e Abby comemos. Depois de muito conversarmos, Abby e eu vamos dormir e meu pai ainda não chegou, não que isso não seja incomum e também não é como se eu ligasse, para o que quer que ele esteja fazendo, afinal o pior ele já fez, que foi se livrar da nossa casa e de qualquer coisa que pudesse remeter a memória da minha, na verdade surpreendo-me dele não ter se livrado de mim ainda.

No dia seguinte, qual seja quinta-feira é um dia como qualquer outro, exceto pelo detalhe que é meu pai o encarregado de levar Abby e eu para a escola, como sempre mantenho o meu voto de silêncio. No entanto, Abby não consegue ficar calada e sendo assim ela passa o caminho quase todo conversando com o meu pai, às vezes me questiono de que lado ela está.

Na escola o dia é tranquilo, a gangue de Nick fica longe de mim e de meus amigos e na hora do almoço ouço McGee nos contar sobre a partida “fodastica” que ele jogou ontem à noite.

Jack me busca na escola e passamos o restante do dia em casa, já na sexta recebo uma mensagem de texto do meu pai contando que terá que viajar, enfim nada fora do comum.

—Então, quer dormir na minha casa hoje? –Abby pergunta quando eu compartilho com ela a boa nova.

—Seus pais não vão se importar? –Respondo com outra pergunta.

—Minha mãe acha você adorável, acho que se deve ao fato de você usar tantas cores e meu pai ele nunca disse que não gosta. –Ela diz simplesmente, não deixando de fora o fato da mãe dela odiar sua fase gótica.

—Mas também nunca disse que gosta. –Eu digo com um meio sorriso.

—Ah Kiki, você conhece Jethro Gibbs, ele não é um homem de muitas palavras. –Abby diz simplesmente e logo acrescenta. –Mas ele considera você da família.

Diante de suas palavras, é inevitável que um pequeno sorriso não apareça em meu rosto.

—Você sabe que eu amo vocês como se fossem da minha própria família, não sabe? –Digo para minha amiga de longa data.

—Isso é óbvio Kiki. –Abby diz serenamente.

E assim o dia passa e às sete e meia eu estou jantando com a família Gibbs.

Após o jantar Abby e eu vamos assistir How I meet your mom, e após uma maratona de episódios nós vamos dormir um pouco depois da meia noite.

No dia seguinte, enquanto Abby e ey tomamos café da manhã com Jenny, a ruiva de olhos esmeraldas nos pergunta:

—Jethro e eu vamos a cidade comprar suprimentos para o Haras, vocês querem ir?

Eu e Abby fazemos que não com a cabeça, mas claro que Abby sendo Abby, não perdeu a oportunidade de perguntar a mãe:

—Papai sabe que você não vai só comprar suprimentos né?

Jenny rola os olhos e antes de levar a xícara de café aos lábios, e após um longo gole daquela coisa amarga que os Gibbs chamam de café ela finalmente diz:

—Acho que já estamos juntos há tempo suficiente para ele saber disso Abbs.

E após nós gargalharmos, Jenny não demora em nos deixar sozinha. Vinte minutos depois ouvimos o som da velha picape do senhor Gibbs dando partida.

—Juro que qualquer dia desses, aquela caminhonete empaca no meio do caminho e meu pai vai ter que voltar a pé. –Abby diz quando ouvimos o barulho característico da velha Ford F1000 do senhor Gibbs.

—Claro que depois da sua mãe provavelmente apedrejar ele né. –Eu digo e nós duas rimos.

—Então quer dar uma volta no Haras? –Abby me pergunta.

—Com volta você quer dizer...? –Pergunto sondando minha amiga.

Ela suspira alto e exageradamente antes de dizer:

—Dar uma olhada nos cavalos, em especial na Desert Storm, vulgo a égua possuída. –Abby diz já se levantando.

Me levanto e assim nós duas caminhamos até os estábulos.

—Égua possuída é? –Não resisto em perguntar.

Ela ri um pouco.

—Foi o que disse o último cavaleiro, ele nos deixou ontem dizendo que não montará a égua possuída. –Minha amiga de cabelos castanhos avermelhados me explicou.

Nós duas rimos.

Storm não é possuída. –Eu digo em defesa da égua favorita da minha mãe.

—Só perto de você né amiga, porque segundo as lendas urbanas, apenas uma amazona poderia montá-la, na verdade duas né. –Abby diz e então parece perceber o que havia dito, não perdendo tempo em acrescentar –Desculpe Kiki.

—Tudo bem Abbs, não é mentira. Minha mãe e Storm eram perfeitas juntas, sem dúvidas o ouro olímpico seria delas esse ano. –Digo em voz alta, o que há dois anos eram o que diziam os especialistas.

—Talvez um dia vocês duas ainda possam trazer o ouro olímpico para casa. –Abby diz e é inevitável que eu não diga surpresa.

—Meu pai não me deixa montar Abby e acho que já virou senso comum que Storm não quer um novo parceiro. –Eu digo.

—Seu pai só está com medo Chiara, talvez se vocês conversassem... –Abby diz e então me vejo obrigada a cortá-la.

—É impossível dialogar com meu pai Abby. Ele não quer ter contato com nada que remeta a minha mãe, na verdade surpreende-me o fato dele ainda permitir que Jack e eu ainda estejamos lá ou talvez seja por isso que ele nunca esteja em casa... –Eu digo sem encarar minha amiga.

—Kiki... –Ela diz, mas para ao percebemos quem está na pista de saltos montados em Storm.

—Senhorita David, eu não vejo como isso pode funcionar. –Jimmy Palmer disse montado na égua anglo-árabe, com um tom de voz não muito confiante.

—É treinadora, senhor Palmer e o senhor está me ajudando a desvendar o problema dessa égua. –Ziva David, a treinadora carrancuda respondeu o pobre Jimmy em um tom de voz autoritário.

—Sim treinadora. –Jimmy disse humildemente, as vezes me pergunto se o Haras do senhor Gibbs é mesmo um Haras ou um projeto de treinamento militar.

—Agora senhor Palmer conduza Desert Storm pelo cercado. –Ziva ordenou.

E assim o pobre Jimmy fez.

Após algumas voltas, ela disse novamente:

—Agora tente saltar o primeiro obstáculo.

Palmer disse algo que nenhum de nós foi capaz de ouvir, mas por sorte Abby é ótima em leitura labial, não me perguntem como e disse:

—Ele falou “Me ajude Deus”.

—Pobre Jimmy. –Foi a única coisa que eu disse.

E assim ele fez o que lhe foi solicitado, entretanto, Storm não estava afim de obedecer Ziva e ao chegar bem próximo ao obstáculo, ela empinou jogando o coitado do Palmer no chão.

—E lá se vai mais um. –É o que Abby diz, enquanto soltava mais uma risadinha.