Pois é, estou morrendo. Tudo bem sou só mais uma pessoa, dentre muitas outras pessoas. A diferença é que eu tenho ele.

Pela manhã, quando acordei, ele estava sentado num dos bancos que costumam ficar no balcão dedilhando algo na fender. Não a reconheci e quando ele notou minha presença rapidamente mudou a música, como se quisesse que eu não soubesse qual era. Não perguntei e andei até a cozinha:
“Bom dia, conseguiu dormir direito?” perguntou distraidamente olhando para seus dedos.

“Não muito bem e você?” me estiquei para pegar uma tigela no armário.

“Eu não dormi.” deu de ombros.

“Oh.”

Sentei-me num dos bancos e passei a comer os flocos adocicados e coloridos misturados com leite, uma das coisas que eu tinha passado a comer, quase como uma obsessão. “Isso é comida para crianças” ele costumava dizer nos primeiros dias em que ele me viu tomando café da manhã na cozinha.

“Eu sei.” pensei em voz alta e ele me olhou como se eu soubesse de um de seus segredos mais bem guardados.

“Sabe o que Jimmy?” a voz dele tinha um tom discreto de ansiedade e ele parara de tocar e me encarava com a face em branco.

“Oh, nada, eu estava lembrando de você falando que isso –apontei a tigela metade vazia – era comida para crianças.” Um sorriso brotou em meus lábios e ele respondeu:

“E é comida para crianças”, ele revirou os olhos e sua voz tinha um leve tom de decepção.

3 meses depois:

“Você pode me dar um copo de água?” pedi, minha garganta estava seca e ardendo.

“Claro” ele se levantou rapidamente e me entregou um copo com água fria.

A sensação gelada nos meus lábios secos e rachados foi como uma pessoa que está perdida no deserto e acha um oásis. A diferença era que eu estava num hospital, um tanto enjoado pela quimioterapia e não existia oásis. Apenas a carícia dos dedos de Greg em meu cabelo, que estava começando a cair.

15 dias depois:

Tive uma crise de dor hoje, aplicaram morfina, acho que nunca vi ele tão desesperado. Parecia que poderia chorar. Interessante eu pensar nisso, acho que ele não choraria. Deve ter chorado apenas algumas vezes quando criança.

House POV:

Jimmy esta morrendo. Meu Jimmy. Ele teve uma crise hoje, foi desesperador. É ruim vê-lo sofrer, horrível é a palavra certa. Eu percebi que o amo. Há quatro meses, um mês depois de ele ter sido afastado, nos mudamos e eu não consegui dormir. Ele se revirava na cama como se não pudesse dormir, eu levantei, andei até seu quarto e chequei sua temperatura na testa, estava normal. Sentei-me na borda da cama e passei a acariciar seus cabelos castanhos e macios. E, droga, foi aí que eu percebi. E agora ele está aqui nesse hospital, pálido e com os cabelos caindo. Eu o amo. Estou morrendo com ele.

20 dias depois:

Acordei com mais uma crise de dor, a morfina já não esta mais adiantando muito. Meus cabelos se foram, não importa, ele está aqui. É triste ter que deixá-lo, mas ele vai sobreviver. Ele tem um brilho nostálgico no olhar. Aqueles olhos azuis são tão... Profundos. Eu poderia olhar por horas e horas para eles e não me cansar. A quimioterapia foi terrível. Começo a pensar em parar com ela, eu sei que não vai adiantar nada. Mas acho que eu não posso desistir não é? Tudo o que eu queria era simplesmente passar meus últimos dias com Greg, sem enjoos, apenas eu e ele em casa, assistindo á TV.

Sinto que estou próximo de meu termo e tem uma coisa que não confessei ainda. Se eu não estivesse ocupado em tentar conter os enjoos e as dores, eu teria percebido há mais tempo. Talvez você já saiba o que eu vou dizer. Eu o amo. É isso. Simplesmente isso. E eu vou morrer sem contar isso para ele. Se ele corresponde esses sentimentos em algum grau, é algo que eu nunca vou saber.

Uma semana depois:

Sinto dores que a morfina não pode amenizar, Greg tem uma das minhas mãos presas entre as suas, eu parei a químio á alguns dias, minhas dores aumentaram. Tento não me debater muito, elevaram um pouco mais a dose de morfina e as dores diminuem o suficiente para que eu fique parado.

De olhos fechados pergunto:

“Quanto tempo tenho?”

“Entre dois e três dias.” A voz da enfermeira que ficara no quarto respondeu.

Suspirei e ele soltou minha mão. Ouvi um soluço abri os olhos e me virei sentindo pequenas pontadas de dor, na direção do som. House estava de costas, uma das mãos apoiadas na parede, seu corpo tremia.

“Preciso de um abraço.” Afirmei e ele passou a mão no rosto, eu começava a ficar sonolento, a enfermeira saiu e ele se virou, seus olhos estavam vermelhos e as íris azuis revelavam tristeza. Ele se aproximou e eu estiquei o corpo tomando cuidado com o soro preso em meu braço. Graças á alguma entidade divina eu não estava intubado. Seus braços rodearam meu pescoço e levei o braço livre até suas costas e a acariciei levemente. Lágrimas molharam meu ombro e seu abraço se apertou ainda mais. Ele não fazia barulho, só deixava as lágrimas rolarem. Depois de uns vinte minutos ele me soltou do abraço e manteve minha mão segura na sua, deu um suspiro e:

House POV:

“Eu te amo”, depois de anos nunca ter percebido meu próprio sentimento, um câncer, várias sessões de quimioterapia, várias crises de dor, um choro sentido e algumas carícias, finalmente contei.

Ele tinha os olhos fechados uma expressão triste no rosto. Com um meio sorriso disse:

“Greg eu só tenho mais dois ou três dias, não brinque comigo”

“Mas é verdade!”

POV off.

Ele... Me ama? Por que isso agora? Ele simplesmente não pode parar de brincar um pouco?

Abri os olhos e vi estampado naqueles olhos azuis que tanto me prendiam a verdade. Suas palavras eram a verdade. Senti meus olhos arderem e logo eles transbordavam. Ele me amava e eu o deixaria. Todos os seus amores morreram e eu ia morrer também.

“Sinto muito. Eu... Eu também te amo.” Inclinei a cabeça para baixo e senti minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Dois dias e meio depois:

Espasmos tomavam o seu corpo. Ele pediu que House fosse chamado e disse antes que fosse sedado “Eu te amo Greg, me desculpe.”

House sentiu os olhos arderem e seu coração ser esmagado.

“Não se desculpe Jimmy, você foi a melhor coisa que me aconteceu, eu te amo”

Horas depois ele foi dado como morto.

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Meses depois House foi encontrado em sua casa, morto no quarto. Um copo de água na mesinha de cabeceira, vidros de analgésicos no chão, alguns comprimidos espalhados, uma carta junto ao copo e um porta retrato com uma foto dele e de seu melhor amigo durante uma festa de Halloween, House com a camisa mancha com alguma bebida e Wilson rindo como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.