Era estranho. Eu mal o conhecia e já estava aceitando um convite para ir até a sua casa. Bem, para quem já esteve deitada em sua cama, ir para a casa não tinha nada demais. Edward guiou-me até sua majestosa casa, como estava bem iluminada pude avaliar melhor o recinto. Uma decoração simples, mas requintada adornava o local. Quadros de pintores desconhecidos por diversas partes. Ele caminhou para a casa, levou-me até a sala de música. Com o controle remoto ele desligou o som, notei então vários instrumentos no local, mas o que me chamou a atenção foi o piano de calda negro que estava próximo a uma grande janela, a brisa gelada da noite penetrava pela mesma.

-Pensei que tocasse. –Comentei.

-Eu toco. O som foi só uma artimanha. –Edward deixou o controle remoto de sofisticado som em cima de uma mesinha próximo a um conjunto de poltronas aveludadas de vermelho e seguiu para onde estava o piano de calda. Eu fiquei em pé vendo-o se ajeitar em frente o piano.

-O que vai fazer?

-Provar que sei tocar.

-Não precisa fazer isso por mim. –Caminhei e sentei-me em uma das pequenas poltronas aveludadas, Edward soltou um curto sorriso. E então ele encheu a pequena sala de música com o som de Clair de Lune, minha música clássica preferida. Eu me acomodei melhor na poltrona e fechei os olhos para melhor apreciar a música. Edward tocava muito bem, tão bem quanto aqueles que compuseram a canção. A nostalgia me atingiu, lembrei-me de quando eu e minha mãe tínhamos nossos momentos e ficávamos na sala de nossa casa em San Marcos ouvindo música clássica. Meu rosto deve ter transpassado a angustia que senti com as más recordações. Olhei para Edward e vi que ele me observava com uma expressão curiosa. Seus olhos eram estranhos, de um ocre estranho, e pareciam querer me desvendar, saber o que estava pensando. Eu desviei os olhos e naquele momento eu senti a velha conhecida de minha vida: as fortes dores de cabeça.

Pensei: Bela hora para uma crise!

Eu tentei disfarças enquanto a dor agonizante me tomava, fechei os olhos e me recostei na poltrona. Respirei pausadamente, tentei manter-me com uma cara saudável. Desisti. O melhor mesmo era sair dali. Quando abri meus olhos Edward estava bem próximo de mim. Tomei um susto. Eu nem tinha percebido que Edward parou de tocar, tampouco notei sua aproximação.

-Algo de errado? Não parece bem.

-Não é nada. Acho melhor eu ir. Obrigada pelo convite de vir aqui ouvi-lo tocar. Você toca muito bem. –Sorri. Levantei-me tentando manter-me de pé. Edward ainda me olhava com curiosidade. –Eu preciso ir. –Anunciei caminhando para a porta. Percebi que Edward andava ao meu lado.

-Vou acompanhá-la senhorita...

-Isabella Swan. Mas pode me chamar de Bella, não gosto que me chamem de Isabella.

-Que seja. A chamarei como desejar.

-Então Edward, mora há muito tempo aqui? Eu costumava morar em Forks, nunca o vi na época em que estive aqui.

-Estou aqui há dois anos. –Ele respondeu. Continuamos a caminhar pela casa em direção a saída.

-Gostando de Forks? –Falei com certo sarcasmo na voz. Para minha surpresa ele respondeu o que eu não esperava.

-Sim. Uma bela cidade, o tipo de cidade que eu estava procurando.

-Sério que você gosta de Forks? Quantos anos você tem? Oitenta? –Ele riu com minhas palavras. Agora estávamos em seu jardim.

-Tenho dezessete. Preciso ser idoso para gostar de uma cidade tão pacifica como esta?

-Bom, os jovens que estão aqui em geral não gostam daqui por ser pequena demais.

-Devo interpretar isso como uma confissão. Certamente você não gosta de Forks, não é verdade, Bella? –Seus olhos arderam nos meus, estranhamente adorei o modo como meu nome saiu de seus lábios.

-Não gosto muito daqui. Acho que isso ficou bem claro. Prefiro cidades maiores.

-Então por que está aqui em Forks? –Eu tive vontade de contar. Sério, tive vontade de me abrir com aquele desconhecido, à dor alucinante me atingiu mais uma vez, eu senti que iria escorrer sangue pela minha narina. Coloquei a mão sobre a mesma enquanto caminhava pela escuridão.

-Olha Edward, eu posso ir sozinha para casa. –Eu falei, mas quando olhei para o lado, Edward não estava mais lá. Eu o procurei. Procurei. Nada. Edward simplesmente evaporou. Eu achei aquilo estranho, ele não tinha dito que iria me acompanhar? Como ele conseguiu sumir sem que eu notasse? Mesmo com tantas dúvidas eu agradeci por ele ter sumido e segui desejando ao menos chegar consciente em casa.

...

Eu estava horrível. Tive sangramento nasal durante boa parte da madrugada, tomei mais analgésicos do que precisava e dormi até meio dia. Ninguém se incomodou em tentar me acordar, Jacob e Billy certamente estavam querendo me deixar o mais a vontade possível. Tomei um bom banho, vesti roupas casuais e aproveitei para arrumar e limpar a casa. Para me distrair enquanto comia uma bobagem qualquer, peguei um de meus livros e fui para o meu quarto ler.

...

-Está decidido! Amanhã vamos sair. Não pode passar o dia inteiro aqui Bells. –Jacob disse enquanto lavávamos a louça do jantar. Billy assistia um jogo de basquete na televisão da sala.

-Tudo bem. –Concordei apenas por que eu sabia que meu comportamento anti-social estava chamando atenção para mim e isso era algo que eu não queria. –Aonde vamos?

-Vou levá-la por ai sem rumo. Tenho certeza de que vai curtir. Também quero apresentá-la aos meus amigos. Eles estão curiosos para vê-la. –Jacob falou empolgadamente.

Ótimo, era tudo o que eu queria, atenção. Dei um sorriso amarelo e voltei minha atenção para o último prato. Após lavá-lo dei boa noite aos demais e fui para o quarto. Tentei me entreter lendo um livro e escutando música, um cd que meu pai me dera de rock. Eu não estava me concentrando no que fazia. Esperava ouvir a minha música favorita tocada por Edward ao piano ou em seu som sofisticado como um convite para visitá-lo, mas não ouvi nada. Aquilo me incomodou. Desde que cheguei a Forks Edward tem sido a única coisa interessante que acontece. Isso me preocupou um pouco, que as coisas interessantes girassem apenas em torno dele. Mas o que eu tinha a perder afinal? Não importava, eu não iria passar muito tempo por aqui mesmo. Eu não tive o convite para ir à casa de Edward, que consistia em ouvir Clair de Lune, mas quem precisava de tal convite? Sai pela janela trajando pijama, tênis e meu inseparável hobby e segui em direção a sua casa. Claro que não bancaria a inconveniente. Eu ficaria por lá pelo jardim, quem sabe Edward não iria me perceber e me convidar para ouvi-lo cantar? Ignorei o frio e a escuridão rumando pela pequena trilha que levava para a casa de Edward, como não chegava rapidamente comecei a apressar o passo. E então eu caminhei, caminhei, caminhei e estaquei. Notei com horror, em meio ao bosque escuro, que eu havia me perdido.

-Era só o que faltava! Que merda! –Murmurei emburrada enquanto olhava para todas as direções, não conseguia ver nada. Como pude me perder em uma trilha? Talvez fosse por que eu sempre tinha a música de Edward para me guiar em meio à escuridão, mas agora eu não contava com isso.

“Talvez eu deva ficar parada. Logo o Edward vai começar a tocar e ai poderei me guiar. –Foi o que fiz. Sentei no chão encostando minhas costas no tronco de uma árvore e fitei o céu. A noite estava linda, até pensei em me guiar pelas estrelas ou coisa parecida e ir para minha casa, mas nunca fui boa nisso. E então eu esperei, esperei, eu iria ficar ali esperando por algum indicativo que pudesse me guiar de volta a trilha, mas ouvi o barulho de algum animal nas proximidades e estremeci. Eu gostaria de ter ouvido qualquer coisa, uma coruja, roedores, até mesmo cobras. Não foi o que eu ouvi. Um uivo, lobos, ou seja, meu fim!

-Merda! –Olhei para todas as direções desnorteada, eu precisava ir embora. Mesmo sem saber para onde deveria correr, segui o norte andando por entre as árvores. Os uivos continuavam, calculei pelo menos três lobos. Como o barulho estava cada vez mais rápido, eu passei a correr. Claro que do jeito que eu sou desastrada eu acabei tropeçando algumas vezes, mas me recuperei rápido. Eu corri em meio à escuridão tentando ouvir algum som ou ver alguma luz.

“MERDA! MERDA! E AGORA?” –Eu estava desnorteada e quanto mais eu corria, mais eu me perdia pelo bosque. E então eu parei. Estava em uma pequena clareira iluminada pelo brilho mortiço da Lua, a minha frente um lobo negro, os olhos voltados para mim com um brilho imprudente, os caninos a mostra enquanto rosnava. Sim, era meu fim. Mais rápido do que eu previa. O lobo fez menção de me atacar e fui incapaz de me mover. Ele veio correndo na minha direção, rosnando, iria certamente me atacar no pescoço. Eu nem ao menos consegui fechar os olhos, estava em choque. E então... Parou.

O lobo fora agarrado pelo pescoço e agora parecia estar sem ar devido à força ferrenha que Edward empregava em seu pescoço e... EDWARD? EDWARD! Eu olhei mais atentamente e não tive duvidas, era Edward que havia aparecido sabe-se lá de onde e tinha detido o ataque do lobo segurando pelo pescoço. Eu achei que estava tudo acabado, subitamente Edward aproximou o lodo de sua boca e, para minha maior surpresa, ele o mordeu naquele local. O lobo movia-se desesperado enquanto o sangue de sua jugular escorria até pingar no chão. Cai no chão de joelhos olhando a cena macabra diante de mim. Realmente Edward estava se alimentando do animal, alimentando-se com o seu sangue como se fosse um...

Um uivo soou novamente e dois lobos atacaram Edward diante de mim. Eles tentaram morde-lo, mas nada aconteceu. Os caninos se despedaçaram como se os lobos tivessem tentado morder uma escultura em pedra dura. Outro uivo soou e senti a aproximação de algo em minhas costas. Eu sabia que era um lobo que se aproximava de mim e certamente iria me atacar, mas estava pasma demais para me virar e fazer algo. Edward largou o corpo sem vida do primeiro lobo e em uma velocidade sobre humana quebrou o pescoço dos dois outros lobos com apenas uma mão. Não cheguei a acompanhar o movimento, apenas vi quando os dois lobos estavam mortos, um em cada mão, segurados pelo pescoço. Edward os jogou em ambos os lados e virou-se para mim. Então eu vi os caninos, a boca tomada pelo sangue do primeiro lobo, os olhos de um dourado estranho que brilhavam como os de uma fera. Eu me senti paralisar, como um roedor diante de uma serpente, incapaz de olhar para qualquer outra coisa que não fosse ele. Edward deu um grande salto indo para trás de mim, ouvi um rosnado, um uivo e tudo isto se cessar rapidamente. Deveria ser o quarto lobo. Eu não me virei para vê-lo. Apenas me levantei e corri como nunca pensei ser possível, tão rápido que certamente se estivesse fazendo alguma prova de atletismo minha nota seria a mais alta. Eu não sabia para onde correr, mas estava correndo. Claro que, como a desastrada que sempre fui, tropecei varias vezes durante o percurso, mas isso não me deteve. Eu continuei a correr sabendo que, se ficasse parada, eu poderia ser morta por um lobo ou pior, poderia ser morta pela estranha criatura que me salvou. Não poderia ser Edward, Edward era um humano comum e aquilo que vi era um monstro! Quando já podia ver a luz acesa de meu quarto, suspirei aliviada por encontrar a casa de Billy. Acabei por tropeçar na ânsia de chegar rapidamente, senti uma dor na palma da mão e senti cheiro de sangue, eu havia me ferido.

-Merda! –Tentei me levantar, mas ouvi um barulho atrás de mim. Lentamente eu me levantei e virei-me para ver novamente aquela face demoníaca que parecia muito ser a do meu visinho Edward, mas que não era. Não poderia ser! Ele estava com suas vestes escuras sujas de sangue, alias não somente as vestes, mas também seus lábios. Seus olhos tinham um brilho imprudente e seu corpo estava levemente curvado, como um predador prestes a atacar à presa. Edward soltava um barulho estranho, como um rosnado. Eu fiquei petrificada. Senti-me como se ainda estivesse diante de um lobo, o mesmo medo, a mesma adrenalina. Experimentei dar um passo para trás surpresa por conseguir me mover. Edward acompanhou meu movimento com seus olhos de um estranho dourado, visível até mesmo naquela escuridão.

-Edward? –Notei que seus olhos estavam focados apenas em um lugar, minha mão. Ergui a mesma vendo o pequeno corte que ganhei ao cair. Eu olhei para o ferimento, um filete de sangue escorrendo na palma e caindo no solo, Edward seguiu essa gota com o olhar. Ele sorriu, de uma forma bem diabólica. Eu estremeci ao vê-lo dar um passo em minha direção.

-Edward... –Murmurei olhando-o apavorada. Algo se operou em Edward. Ele fechou os olhos e se deixou cair de joelhos no chão, as duas mãos seguravam fortemente a garganta. Eu não sabia o que estava acontecendo, Edward parecia estar tendo algum surto, parecia se conter para não me atacar como fez com os lobos. Eu dei um passo hesitante em sua direção.

-NÃO! –Ele gritou, sua voz assustou-me. –VAI EMBORA! –Ele gritou, mas eu não o obedeci, continuei parada. Ele fez isso por nós, desapareceu como se fosse uma assombração.

Demorei mais tempo do que o necessário para fazer meus pés se moverem, não foi algo fácil. Quando o consegui eu fui em direção a casa de Billy, voltei para meu quarto através da arvore que ficava próxima a janela e simplesmente me joguei na cama. Eu não dormi rapidamente, diria que desmaiei rapidamente. Em minha mente as lembranças de algo grotesco e fascinante, de Edward.