A tarde caía pesada enquanto Jen me levava pro quarto murmurando coisas que eu não parei pra escutar. Parei no grande vitral sentei-me no beiral fechando os olhos e sentindo a brisa morna que vinha do céu cor de brasa.

—Pode se retirar Jen, eu vou ficar um tempo por aqui- eu murmurei olhando pro jardim.

Depois de meia hora ali no silencio percebi que meu raciocínio sobre tudo aquilo não se encaixava, sobre como eu me sentia destruída por dentro, como as coisas não faziam sentido.

Levantei-me e caminhei até a biblioteca e sentei-me em frente ao piano disposta a tocar algo. Respirei pesadamente e levei meus dedos até o as teclas.

Nada

Minhas mãos não se moviam, meu corpo todo tremia e,quando dei por mim,um soluço irrompeu de minha garganta e eu chorava dolorosamente.

Não conseguia me mover, meu corpo não obedecia aos meus comandos, mas a dor era tão grande que nem eu sabia quais comandos devia dar.

Ouvi a porta se abrir devagar; e o cheio de Nathaniel tomou a sala.

—Sabia que te encontraria aqui- ele sussurrou.

A tranquilidade de sua voz se esvaiu quando ele percebeu que eu chorava, seus braços me envolveram e sua mão livre afagava minha cabeça e me fazia repousar minha cabeça em seu peito.

—Oh querida, o que há de errado?

Sua voz ecoava em meus pensamentos, mas nada falei, não conseguia pensar em falar coisa alguma, era demais pra mim.

—Meu amor, fale o que está errado, Annie fale comigo- ele suplicava sentando comigo no colo.

Tentei falar por inúmeras vezes sem sucesso algum até que um sussurro saiu.

—M... Mamãe

Nathaniel suspirou pesadamente e levantou-se comigo andando pelos corredores silenciosamente.

Não olhei onde estávamos, mas o cheiro me dizia que havia comida ali. Nataniel me acomodou em seus braços e com a mão livre pegou alguma coisa que estava possivelmente sob um balcão.

—Não conte a ninguém sobre o que fiz está bem?

Voltamos aos corredores até chegarmos ao quarto e eu já me sentia quase adormecida quando ele me deitou na cama tirando meus sapatos e me cobrindo.

Ouvi um barulho de papel enquanto sua mão levantava meu travesseiro.

—Durma e quando acordar não se esqueça de ler, esconda seu tesouro- ele sussurrou beijando minha testa.

O sono me venceu e eu afundei na inconsciência, porém minha mente em algum ponto tentava compreender o que as palavras de Nathaniel queriam me dizer.