— Lucas, esse quadro não fica pronto nunca? – Teresa reclamou, enquanto posava mais uma vez, no apartamento dele.

— Eu tenho que fazer uma confissão. – Lucas parou com o pincel no ar e começou, sem jeito, Teresa ergueu as sobrancelhas esperando que ele continuasse. – Aquele quadro já ficou pronto há algum tempo, esse é outro.

— Como? Você está me enganado? – Teresa se levantou em um pulo, irada.

— Não, só estou aproveitando de você como modelo. Pense, que está ajudando um pobre artista. – Concluiu, bancando um pobre coitado.

— Lucas, você não é um artista pobre, sua família é rica. – Teresa tentava se manter séria.

— Você sabe que minha família é rica, mas eu sou pobre. – Continuou com a representação.

— Por favor, Lucas. – Teresa deu um basta.

— Está bem, eu confesso! Eu fiz isso porque gosto da sua companhia e das nossas conversas, por isso não entendo como você ainda está com o meu irmão. – Ele a provocou mais uma vez.

— Pare com isso, Lucas! Mas, era só me pedir, porque, também, gosto das nossas conversas, ainda mais com Mathews viajando por tanto tempo. – Teresa revelou com um sorriso de cumplicidade.

— Por quanto tempo Mathews ficará fora? – Lucas quis saber, interessado.

— Mais ou menos um mês, disse que há problemas em outra filial. – Teresa explicou, entristecida. – Por falar nisso, onde está o outro quadro? – Ela ficou curiosa.

— Mandei para uma galeria de artes de uma amiga – ela respondeu de um modo casual.

— Sem me mostrar? – Não podia acreditar naquele descaso, imaginar que havia uma imagem dela em algum lugar exposta para todos verem.

— Não se preocupe, você ficou muito bonita. – Ele admitiu, ela lhe lançou um olhar desconfiado. - Pode acreditar em mim. Estou falando a verdade.

Nos dias que se seguiram, começou a correr um estranho boato pela fábrica, que a parte de pesquisa, onde Teresa estagiava, seria fechada e que os medicamentos seriam produzidos em algum país asiático, só sendo embalado e distribuídos ali, além do que o CEO da empresa, Mathews Bauner, não retornaria mais para lá, pois iria casar no seu país. A princípio, Teresa riu daquilo, porque sempre havia boatos rondando por ali, de origem indeterminada de uma fonte segura, de um amigo de um amigo de um conhecido, chegando distorcidos e exagerados, e como apareciam, de repente, sumiam, para surgirem outros.

Teresa teve vontade de contar para Mathews, assim eles ririam juntos daquela história, mas não teve oportunidade, durante os rápidos e furtivos telefonemas dele durante o dia, porém, tarde da noite, era bem diferente, eles eram bem mais demorados.

— Você vai dormir agora? – Ele queria saber.

— Sim, já estou pronta para ir para cama. Pena que vou sozinha – Teresa incitava, em um tom malicioso.

— É mesmo uma pena, mas posso imaginar. O que você está usando agora? – Mathews começava sussurrando ao telefone.

— O meu conjuntinho de seda azul – Admitia rindo, provocativa, já esperando pelo que viria.

— Ah! O meu predileto! – Ele exclamou, com um gemido. - Então, imagine eu descendo, suavemente, uma das alças e beijando o seu ombro, depois abaixo a outra, beijo e acaricio o seu pescoço e a deixo cair, lentamente, nos seus pés, faça isso, Teres. – Mathews pediu, com a voz rouca do outro lado da linha – Você está nua, agora, Teresa?

— Estou – ela murmurava ao telefone.

— Então, acaricia-se, com calma, pensando que sou eu fazendo isso. – Ele comandava e ela obedecia, ouvindo a respiração dele ficar ofegante do outro lado. Assim acontecia conversas quentes e sensuais ao telefone, quase todas as noites.

Inexplicavelmente, mesmo depois de algum tempo, o boato sobre o casamento de Mathews insistia em sobreviver, alimentado por cochichos e especulações, crescendo escondido nas sombras dos cantos da empresa. Sempre havia alguém que conhecia outro alguém da matriz, que comentou sobre o casamento. Como ninguém sabia da relação entre Teresa e Mathews, os comentários eram feitos com descuidos das fofocas, alguns bem maldosos e venenosos. A persistência da sobrevida dessa história de casamento, fez com que Teresa caísse naquela tentação, que havia prometido a si mesmo que não nunca faria, então, assim que retornou à sua casa, sentou–se na frente do seu computador e entrou em uma página de pesquisa e digitou o nome de Mathews e a palavra casamento. Quando o resultado apareceu na sua frente, não conseguia ler, pois as palavras dançavam desordenadas na frente dos seus olhos. Demorou algum tempo, para se acalmar e entender o que estava escrito ali. Era uma pequena notícia em um jornal estrangeiro sobre o anuncio de casamento do jovem herdeiro e empresário Mathews Bauner e a linda herdeira Evelyn Clark, Teresa ficou por algum tempo encarando a tela do computador, sem acreditar que aquilo fosse verdade, mas só havia um lugar para ir agora, pegou sua bolsa e saiu correndo do apartamento, pegou um táxi e, quando deu por si, estava tocando a campainha.

— Você sabia? – Foi a primeira coisa que disse, no momento que Lucas abriu a porta, olhando para o semblante desvairado de Teresa, ele soube o que estava acontecendo.

— Sabia – Ele confirmou, com o olhar sério, confirmando com a cabeça

— Por que você não me disse nada? – Ela o questionou, exasperada.

— Calma, Teresa! – Ele tentou tranquilizá-la, a puxando pelo braço para dentro do seu apartamento e fechando a porta atrás dela – Sente-se! – Pediu já a guiando para uma cadeira, ela o fez sem resistência – Vou pegar um copo d’água para você. – Anunciou, saindo da sala e voltando, rapidamente, com um copo na mão, entregou a ela, que o tomou de um único gole

— Tem algo mais forte? – Ela solicitou, decidida.

— Tenho vodca, rum, vinho?

— Para mim, está ótimo? – Teresa respondeu, sem especificar.

— Ótimo, o que? - Lucas interrogou, sem saber o que ela queria.

— O que é mais forte?

— Vodca – ele respondeu, surpreendido.

— Então, me dê uma dose de vodca - Exigiu, ele a serviu, a contragosto, colocando a garrafa em cima da mesa ao lado dela, e não pode acreditar, quando, Teresa virou todo o copo de uma vez só, fazendo uma careta quando a bebida desceu queimando por sua garganta.

—Sente-se melhor? – Ele perguntou, interessado, esperando algum tipo de reação dela.

— Não. – Ela admitiu, sacudindo a cabeça em negativa - Então, é verdade. – Teresa se deixou abater, seus ombros caíram pesados com a decepção, Lucas assentiu com a cabeça, abriu uma gaveta e retirou de lá um elegante convite em papel branco e entregou para ela, onde se lia, escrito com letras em alto-relevo pretas, que o casamento seria no próximo dia vinte, aquela era a prova concreta desse pesadelo.

— Por que? – Teresa interrogou Lucas, sem acreditar que aquilo estivesse acontecendo com ela. – Por que ele fez isso comigo? – Repetiu, entre lágrimas - Eu pensava que ele me amava. – disse, inconformada, Lucas puxou outra cadeira e sentou-se na frente dela.

- Pode parecer estranho, o que eu vou falar agora, mas acho que ele a ama de verdade. – Lucas revelou para a surpresa de Teresa. – Só que...- ele parou, com receio de continuar.

— Só que? - Teresa o instigou, pegando a garrafa de vodca e enchendo, novamente, o seu copo e o virou pela garganta abaixo.

— Isso pode soar cruel. – Lucas fez uma pequena pausa - Só que você não é a garota certa, para a imagem que ele construiu. – Finalizou, sem rodeios.

— Como assim, não sou a garota certa? – Teresa ficou chocada com a revelação.

— Teresa, Mathews foi criado para ser o filho e o homem de negócios perfeito, o primogênito, herdeiro do império dos Bauner, por isso precisa casar-se com a mulher, que todos julgam perfeita para ele. Sem ofensa, mas ninguém esperaria que Mathews casasse com alguém como você. – Lucas apresentou sua hipótese.

— Então, eu não sou a mulher certa para ele, não tenho a religião certa, não sou uma herdeira ou pertenço a uma família tradicional ou importante, nem a alta sociedade, nem quero me casar. – Inconformada, Teresa não conseguia acreditar, que aquilo que Lucas dizia fosse verdade, apesar de todos os fatos apontarem para aquele caminho.

— Eu lamento, Teresa. Queria avisá-la, mas não tive coragem. Na verdade, esperava que Mathews mudasse de ideia e acabasse com essa palhaçada de casamento, principalmente, depois que conheci você melhor. Meu irmão sempre foi um imbecil, mas nunca imaginei que ele fosse tão burro. – Lucas não escondia sua raiva, Teresa ainda se sentia desnorteada.

— Ainda não acredito, que ele vai se casar com outra, porque, ontem mesmo, fazíamos sexo por telefone. – Confessou para Lucas que a olhou, atônito.

— Mathews faz esse tipo de coisa? Eu não acredito! – Admitiu, achando aquela revelação divertida e surpreendente, mas mudou para uma expressão mais séria, quando Teresa o encarou, aborrecida – Eu gostaria muito de ajudá-la, Teresa, mas não sei como.

— Mas, eu sei, Lucas. – Subitamente, expressão dela se iluminou, ela ergueu os ombros caídos – Tive uma ideia. Você vai a esse casamento? – Teresa quis saber.

— Bem, estava pensando em não aparecer, por que? – Indagou, curioso.

— Lucas, vá e me leve como sua acompanhante, diga que sou sua namorada ou algo parecido. – Teresa revelou seu plano.

— Você enlouqueceu?! – Ele proferiu, pasmo. – Não posso, você só sofrerá mais, além disso, um escândalo não resolveria em nada.

— Você me deve essa por ter me escondido a verdade! Além disso, não haverá nenhum escândalo, eu prometo, só quero olhar na cara mentirosa do seu irmão e ver sua expressão de surpresa e preocupação, quando me encontrar ali, deixá-lo sempre com medo que eu faça alguma coisa contra ele. – Ela se sentia maquiavélica.

— Olha, Teresa, eu não devo nada a você! – Lucas protestou, com veemência.

— Claro, que deve, você não me disse a verdade! – Teresa retrucou, resoluta.

— Eu não queria me meter entre você e meu irmão. E se eu falasse, você acreditaria? – Ela quis saber, com um ar desafiador.

— Eu não sei. – Ela respondeu, indecisa, com certeza não acreditaria, pois até a pouco tempo atrás, aquela pareceria uma história absurda.

— E você vai suportar ver Mathews casando com outra mulher? – Lucas a questionou, mas uma vez, sabia que ela iria sofrer.

— Eu não sei, mas vai valer a pena. – Teresa estava resolvida, não poderia deixar Mathews sair impune dessa, sem nenhuma consequência.

— Se é isso que quer, Teresa, eu ajudo você a atazanar o casamento do meu irmão. – Lucas concordou, meio ressabiado. – Só mais um detalhe, para a família, serão vários almoços, jantares e recepções antes e depois do casamento, ficaremos hospedados na casa dos meus pais. O casamento já é na semana que vem, teremos que chegar, pelo menos, uns quatro dias antes da cerimônia. Tudo bem para você?

— Sim. – Teresa assentiu com a cabeça, não muito certa disso, porque não tinha ideia onde estava entrando. - E agora, preciso me preparar. – Falou em um tom mais animado pela iminente vingança.

— Se preparar? – Quis saber Lucas, sem entender.

— Claro, tenho um casamento para ir, então vou precisar de um guarda-roupa novo, todo patrocinado pelo safado do seu irmão – Ela explicou com um sorriso malicioso. – E mais um favor, se por acaso, Mathews entrar em contato com você, diga lhe que não sabe nada sobre mim, nem diga nada que eu já descobri sobre o casamento, combinado?

— Combinado. – Lucas responder, mesmo sem estar certo daquela ideia maluca de Teresa.