Naquele fim-de-semana, Teresa trouxe alguns dos seus pertences para a casa de Mathews, o suficiente para passar a semana, sem dar muitas explicações as suas colegas de apartamento, pois, talvez, essa mudança fosse só temporária. Na segunda-feira bem cedo, Mathews viajou a deixando sozinha, no apartamento dele. No começo, era uma boa novidade, toda aquele lugar grande e silencioso só para ela, mas frio e impessoal, com sua decoração minimalista perfeita para um executivo, mas um tanto opressivo para ela.

Também, não precisava se preocupar com a limpeza, pois uma arrumadeira vinha três vezes na semana, colocar tudo em ordem, assim Teresa tinha tempo de estudar, descansar, ler, pensar ou de fazer tudo o que bem entendesse. Mas, depois de alguns dias, começou a sentir-se entediada, por mais que tentasse se manter ocupada, sobrava muito tempo ainda para se sentir sozinha, tentava compensar falando ao telefone com algumas amigas ou com sua mãe. Mathews ligava todos os dias, quase sempre no mesmo horário, o restante do tempo, o telefone dele ficava fora de área, assim a semana passava bem devagar.

Naquela tarde, sentindo muitas saudades do seu namorado e cansada das comidas congeladas, que lotavam o freezer dele, quis compensar e se ocupar, por isso passou no mercado, logo após ao estágio, disposta a fazer uma refeição fresca e gostosa para si mesmo. No exato momento em que chegava em casa, o telefone dela tocou, então parou na frente da porta para atendê-lo, completamente atrapalhada, tentando equilibrar as sacolas de compras e falar, ao mesmo tempo em que abria a porta.

— Dani! Oi, tudo bem? – Quis saber, surpresa, pois apesar de serem bons amigos, há algum tempo, não se falavam.

— Tudo bem, e você? – Ele parecia aflito.

— Comigo está tudo bem – Teresa achou graça daquela preocupação – Por que?

— Porque soube que você saiu do seu apartamento. Aconteceu algo errado? – Questionou, preocupado.

— Ah, isso! Não, Mathews viajou e eu estou cuidando das plantas dele – Mentiu, sem querer dar muitas explicações.

— Ele viajou! Até quando? – Dani não conseguiu disfarçar sua satisfação, interessado naquela novidade.

— Ficará fora até o começo da semana que vem – Informou.

— Legal! – Ele exclamou, animado e espontâneo – Desculpe, mas eu me expressei mal, não foi legal Mathews ter viajado e deixado você sozinha, mas assim poderá ir à apresentação da minha banda, no próximo sábado, porque eu sei que ele não gosta desse tipo de música.

— Não é que ele não goste dessa música, Dani. É só que ele detesta confusão e barulho – Teresa defendeu o namorado - Mas, eu irei, me passe uma mensagem com o endereço e o horário, está bem?

— Está combinado, já vou passar. Até lá, Teresa, estou com saudades das nossas conversas – Confessou, com a voz suave e triste.

— Eu também. Até lá, Dani – Disse, com sinceridade, já que havia se afastando devido os ciúmes de Mathews.

Ao desligar, abriu a porta, equilibrando as sacolas de compras, com dificuldades, jogou a sua bolsa sobre a cadeira da entrada e foi direto para a cozinha, para não se deixar abater pela preguiça. Teresa fizera uma boa compra, escolhera alguns belos filés e lindas verduras e muitos ingredientes para fazer uma boa salada e, para finalizar como sobremesa, um pote do seu sorvete predileto, assim se sentiria mais animada

Antes de começar a cozinhar, colocou seus fones de ouvido para ouvir algumas das suas músicas prediletas, disfarçando o silêncio do lugar, e pôs se ao trabalho.

No momento, que picava os ingredientes da salada, teve a sensação de ouvir um barulho alto e estranho, vindo de dentro do apartamento, tirou os fones e parou atenta, só escutando o silêncio, achando que foi só impressão. Mas, quando recolava os fones nos ouvidos, escutou o som da televisão sendo ligada, deduziu que havia algo errado.

Primeiro, imaginou que poderia ser Mathews, que voltou antes do tempo previsto, mas ele teria avisado, então assustada, pensou em ligar para polícia, entretanto, lembrou-se que sua bolsa, com o seu telefone, estava na entrada do apartamento. Só havia um jeito, teria que pegá-lo, tirou os sapatos para não fazer barulho, pois precisaria ir até lá, sorrateiramente, empunhou a faca, que estava usando para cortar legumes, andou bem devagarinho e silenciosamente até a sua bolsa. Mas, estava tão nervosa e suas mãos tremiam tanto, que quando pegou a bolsa e começou a procurar o telefone, desajeitada, deixou a faca cair, fazendo um barulho seco com o impacto no chão de madeira.

Trêmula e apavorada, tentava, ainda, achar o telefone dentro da bolsa, quando, vindo de dentro do apartamento, um homem surgiu e parou a pouco passos de distância dela, vestindo apenas uma calça jeans, que caía nos quadris estreito, sem camisa e descalço, com o olhar tão surpreso quanto o dela. Teresa largou a bolsa, abaixou, rapidamente, pegou a faca e apontou para o homem.

— Fique longe de mim! – Ela ordenava, em desespero, brandido a faca no ar - Vá embora, senão eu chamo a polícia.

O homem colocou as mãos para frente, em defesa, também, parecendo apavorado com aquela mulher maluca diante dele, lhe apontando uma faca enorme, tentava manter-se a uma distância segura.

— Olha, moça, a invasora aqui é você. – Ele procurava preservar a voz calma, mas estava aflito. – Vá embora, senão, será eu quem vai chamar a polícia.

— Você é maluco ou coisa parecida! Saía daqui já! – Ela gritava, impaciente, quase histérica.

— Moça, pode estar havendo uma confusão aqui. Quem é você? A empregada ou coisa parecida? – Ele tentava acalmá-la, sempre a distância.

— Não, sou a namorada do dono desse apartamento, eu moro aqui – Afirmou, sem tirar os olhos dele, que a fitou, atônito.

— Pois, eu sou o irmão de Mathews, meu nome é Lucas – O homem declarou, com certeza, o susto dessa revelação fez com que a mão de Teresa, que segurava a faca, relaxar um pouco.

— Como eu vou saber, que você está dizendo a verdade? – Teresa desconfiou, ficando em guarda, novamente.

— Se quiser posso pegar meu passaporte na minha mochila – Propôs, apontando para dentro da sala.

— Não, nada disso, e se você pegar uma arma? – Ela intuiu, já tinha visto muitos filmes de ação, para cair nesse golpe.