— Preciso ir ao banheiro, Lucas. – Teresa confessou, se dando por vencida, depois de dançarem por muito tempo.

Os banheiros mais perto do restaurante estavam cheios. Então seguindo a orientação dos funcionários do clube, Teresa encontrou um mais afastado, quase escondido, mas quando chegou lá, foi surpreendida, ao encontrar Evelyn, sentada, largada em uma poltrona, parecendo meio embriagada.

— Evelyn, você está bem? – Teresa perguntou, preocupada, com aparência dela.

— Ah! É você, Teresa! A mulher que roubou o coração de Lucas! Vocês dançam muito bem, ficaram muito bonitos juntos! – Ela levantou a cabeça e falou, sarcástica, com a voz enrolada pela bebida.

— Eu não roubei nada! – Teresa se aborreceu com a acusação.

— Tem razão, ele tem todo o direito de ser feliz com outra pessoa! – Evelyn retrucou, de um modo triste, começou a chorar.

— Acho que você bebeu um pouco demais, Evelyn. Quer que eu chame alguém para ajudá-la? Sua mãe ou Mathews? – Teresa propôs, já saindo.

— Não! – Evelyn exclamou, em voz alta, para impedi-la. – Por favor, não quero que me vejam assim! – Teresa ergueu as sobrancelhas, pesando o que poderia fazer

— Vamos até o terraço, tomar um pouco de ar fresco. – Sem coragem de deixá-la sozinha, Teresa a incentivou, ajudando a se levantar e a apoiando, caminharam em direção ao terraço. Felizmente, o lugar estava vazio, assim ninguém veria a noiva, naquele estado de embriaguez, se encostaram na amurada, para aproveitar o frescor da noite, esperando que Evelyn melhorasse.

— Todo mundo recriminou a mim e a Mathews por causa de Lucas, mas ninguém sabe o que, realmente, aconteceu. – Evelyn começou a falar com a voz arrastada, impulsionada pela bebida. – Todo mundo pensa que Lucas é uma vítima inocente e que nós somos monstros traidores.

— O que aconteceu, de verdade, Evelyn? – Teresa a instigou, intrigada, Evelyn encarou as suas mãos.

— Eu, realmente, amava Lucas, acho que eu o amei desde que éramos crianças. Mas, ele sempre deve esse jeito meio-inconsequente, demorou muito para, finalmente, começarmos a namorar, já adolescentes. Foi quando começamos a transar, era cautelosa e precavida. Eu já estava preste a entrar na faculdade, e ele queria conhecer o mundo, por isso juramos esperar um pelo outro. – Evelyn contou a história que Teresa já conhecia, assim prosseguiu. - Então, um dia, em uma festa, bebi demais, quando comemorava com os amigos em uma boate, sabe como é?

— Imagino. – Teresa a encorajou, para que continuasse, pois queria entender o que havia acontecido. – E aí?

— Sabe, eu estava na faculdade e Lucas estava viajando pela Ásia, de mochila nas costas. Ele até queria que eu fosse junto, mas não combinava comigo. Eu estava muito chateada com essa separação. – Evelyn confessou e Teresa concordou, não podia vê-la de mochila, pedido carona em estradas da Ásia.

— Foi quando Mathews se aproximou de você? – Teresa a questionou e ela assentiu com a cabeça.

— Sim, mas não do jeito que todos falam. Eu estava morando sozinha na época, quando fiquei doente, passei muito mal, acabei desmaiando e fui parar em um hospital, foi aí que descobrir. – Evelyn parou de falar.

— Você estava grávida? – Teresa concluiu, sem emoção na voz.

— Sim, mas não era uma gravidez normal, era uma ectópica, na trompa. Ela rompeu e eu tiver uma hemorragia, precisava ser operada de urgência, quase morri. – Evelyn parou por um segundo, deu um longo suspiro. – Sei que foi uma bobagem, mas não queria que meu pais soubessem, queria mostrar para eles que podia me cuidar sozinha, mas tive medo, como Lucas estava viajando, não sei porque, pedi para ligarem para Mathews para me ajudar, talvez, por ele parecer tão seguro e confiante.

— Ele ajudou você?

— Sim, ele foi até lá e ficou ao meu lado durante todo o tempo. Foi assim que nos aproximamos, Lucas só voltou um ano depois, eu estava envolvida com Mathews, me sinto protegida com ele, mas não sei se é, realmente, amor. – Evelyn concluiu.

— Lucas nunca soube dessa história, não é?

— Ele sumiu por um tempo, ficava meses sem dar notícias, nessa peregrinação de autoconhecimento, nem sabíamos se ele estava vivo ou morto. Depois, quando retornou, eu já estava com Mathews.

— Por que você não me contou isso antes? – A voz de Lucas saiu da escuridão, ele foi a procura de Teresa, ouviu as vozes das mulheres e parou, para ouvir a confissão de Evelyn, ficou atônito e zangado. – Por que você não me avisou que esperava um filho meu, Evelyn? – Ele deu um passo à frente, em direção a luz, seu rosto estava transtornado.

— Lucas! – Teresa exclamou, ao vê-lo. Evelyn arregalou os olhos, assustada.

— Por que, Evelyn? Você não confiou em mim? – Lucas parecia desnorteado, confuso, com aquela revelação.

— Eu não podia! – Gritou Evelyn, desesperada.

— Por que? - Lucas insistia, face-a-face com Evelyn, olhando nos seus olhos.

— Porque o bebê não era seu, Lucas! – Evelyn revelou, em desespero, Lucas deu um passo para trás como se fosse esbofeteado.

— Quem era o pai? Mathews? – Lucas cuspiu as palavras.

— Não, por favor! – Evelyn negou, com veemência.

— Então, quem? – Lucas a interrogou, novamente.

— Eu não sei! – Ela falou alto. - Eu não sei! Você já tinha viajado, fui a uma festa, em uma boate, com alguns colegas de faculdade, bebi demais, tomei alguns comprimidos, apaguei. Quando me acordaram no dia seguinte, estava no chão de um banheiro público, sem me lembrar de nada. No entanto, tinha certeza que havia transado com alguém, que não sabia quem era. Então, eu só queria esquecer, apagar das minhas lembranças, fui para casa e tomei um banho e fingi que nada aconteceu. Então, algumas semanas depois, em uma madrugada, eu acordei sangrando parecia ter uma faca em brasas enfiada no meu ventre, não sabia o que fazer, me arrastei pelo corredor e consegui avisar uma das minhas colegas de alojamento, que chamou uma ambulância e queria avisar meus pais, mas eu tinha certeza que era um aborto, pedi para que não fizesse isso, mas ela falou que precisa avisar alguém. Assim pensei em Mathews, ele sempre foi tão responsável e seguro. – Evelyn afirmou, a feição de Lucas era um misto de decepção, angustia e surpresa. - Mathews cuidou de tudo e de mim, até sair do hospital, estava tão desamparada!

— Ele se aproveitou de você. – Lucas disse, cheio de ódio.

— Não, ele me apoiou, ficou do meu lado o tempo todo. – Evelyn parecia mais calma, havia tirado um peso da sua alma.

— Por que você não me avisou, eu teria voltado? – Lucas estava confuso.

— Porque sei como você é passional e emotivo, achei que não me perdoaria. – Evelyn confessou, encarando Lucas.

— Você tem razão, eu não vou perdoá-la nunca por ter mentindo e não ter confiando em mim. – Os olhos de Lucas brilhavam de raiva. Evelyn o fitava desconcertada, o que mais ela temia e tentou evitar, estava acontecendo naquele momento, podia sentir todo o desprezo e ódio de Lucas. Ele se virou e saiu, pisando forte.

— Lucas, por favor? – Evelyn suplicou, caindo sentada no chão, aos prantos.

— Lucas! – Teresa o chamou, depois de assistir todo o diálogo em silêncio, mas ele não olhou para trás. – Evelyn, por favor, levanta! – Ela foi até a mulher, sentada no chão, de cabeça baixa e a ajudou a se erguer.

— Obrigada, estou bem. Mas, por favor, eu gostaria de ficar um pouco sozinha, agora. – Evelyn pediu, limpando as lágrimas com as mãos, respirando fundo, parecia mais calma.

— Você tem certeza? – Teresa estava dividida, queria ir atrás de Lucas, entretanto, não estava segura de deixar Evelyn sozinha.

— Tenho, só preciso de um segundo para me recompor, já estou voltando para o jantar. – Ela disse com segurança, mesmo a contragosto, Teresa obedeceu sua solicitação.