× Capítulo 11 ×

Ana acordou no segundo dia após a cirurgia, quando a anestesia geral finalmente passou por completo, ela se encontrava num quarto familiar do CTI.

Seu coração disparou, e ela ouviu perfeitamente os bips no monitor. Achou que ia se sentir diferente, afinal, era um coração diferente. E ela sabia que não tinha mais seu coração porque o bip era mais rápido e forte. Mas não se sentiu, era como se fosse a mesma pessoa, apenas com um coração normal agora.

Porém, ela estava na UTI, aquilo não era um bom sinal.

Sua cabeça doía levemente, seu estômago estava embrulhado, e a sonda naso em seu nariz incomodava mais do que o normal.

Talvez porque seu corpo estava mais sensível ao acordar de uma cirurgia e uma anestesia intensa, ela estava sentindo mais do que o necessário.

Ana inspirou o devagar, a sonda sempre machucava quando ela respirava fundo e rápido, e então continuou com os movimentos uniformes.

Sabia que um enfermeiro logo entraria ali, e a ajudaria com aquele troço.

E não deu outra, apenas alguns minutos e a já conhecida por ela enfermeira mal humorada Roo.

Ana sorriu minimamente quando a mulher se aproximou e lhe desejou "boa noite" gentilmente.

— Tudo bem, eu vou chamar o Dr. Jackson, e então podemos tirar a sonda, okay? - a enfermeira disse enquanto segurava sua mão.

Ana a apertou uma vez num gesto de "okay" e a enfermeira saiu.

Foi um processo longo e demorado, tirar a sonda, fazer exames, constatar uma compatibilidade que eles já haviam confirmado.

Mas é claro que aquilo só seria confirmado de verdade com o tempo.

Então, apenas no outro dia, quando Ana pôde voltar para o quarto 207 sua ficha finalmente caiu ao perceber que havia conseguido. Ela estava acordada, tinha um coração novo e perfeito e só iria melhorar. Ela finalmente iria melhorar. Durante toda sua vida ela esteve em hospitais para controlar o coração, para continuar do mesmo modo, mas agora ela apenas esperava o pós-operatório passar e poder ir para casa.

Mas então, há uma coisa bem diferente de transplantes de coração e salas de UTI.

Você sabia que é possível os óvulos de uma mulher serem congelados e colocados em outra mulher? Agora, você sabia que também é possível retirar os óvulos de uma mulher e no mesmo instante colocar em outra mesmo que eles estejam, sabe, fecundados?

Pode ser a coisa mais estranha do mundo, mas é possível. É possível retirar o saco gestacional, já com um embrião, e colocá-lo no útero sadio de outra mulher. Claro que isso não é ensinado nas escolas ou até mesmo nas faculdades, um doutorado seria mais preciso. E apenas uma elite de alto nível poderia ser apresentada a esse procedimento, afinal, se você não pode pagar por algo, por que alguém perderia tempo lhe explicando? Era algo invasivo demais, e tinha chances de dar errado - muitas até. Mas você podia arriscar, você podia colocar um corpo estranho em seu próprio corpo e torcer para que seu organismo não o expulse. Uma garota de 19 anos não sabia de coisas como essa, a maior parte da população do mundo não sabia. Ana não sabia... Quando saber era o que mais importava.

De qualquer forma, acima de tudo, uma nova vida iria começar para Ana. E para todo mundo.

× ×