Changbin esforçava-se, na medida do possível, para desvendar o significado confuso daquela pintura. Embora não apreciasse museus, era a vez de Seungmin escolher o programa, então ele se submetia a longas horas contemplando esculturas e quadros que, para ele, careciam de qualquer significado.

— Isso é arte, é cultura. Por mais que tudo seja cultura, deveria aumentar seu leque cultural — Disse Seungmin, dando um tapinha com seu leque no ombro de Changbin.

— Isso é um saco. Aliás, eu já tô com fome.

— Você sempre está com fome. E não diga que museus é um saco. Fomos em um jogo de beisebol no último date, aquilo sim foi um saco.

— Aquele dia foi louco — Changbin deu risada ao se lembrar quando a câmera focou nos dois.

— Todos acharam que éramos um casal — Seungmin revirou os olhos.

— Tá revirando os olhos agora, mas na hora não se importou de me beijar.

— Estávamos sendo intimidados.

— Não imaginava que o sábio Seungmin fosse intimidado por algo.

— E eu não imaginava que o Anjo da Força ficasse fraco com um beijo.

— Não foi bem assim.

— Você desmaiou depois que nos beijamos.

— Mas tem uma explicação muito lógica pra isso — Changbin sorriu timidamente.

Seungmin o encarou e então balançou a cabeça negativamente.

— Ainda me pergunto porque te beijei naquele dia.

— Mas eu melhorei muito. Podemos tentar outra vez, não vou desmaiar. É que naquele dia você me pegou de surpresa.

— Ainda me admira que o anjo mais forte consegue ser pego de surpresa.

— Você sempre me surpreende, baby.

Seungmin fez cara de nojo.

— Pelos Deuses, Changbin, não me chame de baby. Aliás, que roupas são essas?

Changbin vestia sua habitual camiseta preta justa e calça jeans. Embora Seungmin achasse que ele estava irresistivelmente bem naquela roupa, ela destoava completamente do ambiente em que se encontravam. Quando o assunto era moda, Seungmin era exigente, assim como em suas escolhas alimentares. Sua dieta era cuidadosamente planejada, contrastando com Changbin, que era seu oposto em todos os aspectos.

— Admite, eu tô um grande de um gostoso com essa roupa — Changbin estufou o peito e Seungmin desviou o olhar.

— Não diga bobagens.

Eles continuaram percorrendo o amplo espaço do museu, examinando as pinturas e esculturas. Seungmin mantinha sua expressão, como se estivesse desbravando o mundo por meio de cada obra de arte. Changbin, por outro lado, estava entediado e faminto. Até que algo capturou sua atenção: uma sala com temática esportiva, repleta de pinturas, esculturas e troféus de antigos jogadores e atletas.

Changbin parou diante de um balcão repleto de troféus, todos pertencentes a um único atleta, um famoso boxeador que vivera há duzentos anos. Ao observar esses troféus, Changbin sentiu uma estranha familiaridade. Ele desejava saber como era o rosto daquele boxeador, mas não havia nenhuma foto disponível. A ideia de que talvez ele próprio tivesse praticado algum esporte quando era humano começou a rondar sua mente.

— Será que era você? — Perguntou Seungmin, olhando atencioso para Changbin, sabia que de alguma forma aquilo era importante para ele.

— Sem chance — Changbin sorriu tristemente — Não sei se eu era tão incrível assim.

— Você é incrível hoje, deve ter sido nessa época também — Seungmin corou e tentou disfarçar com um pigarro — Estranhamente não há registro de imagem nenhuma desse boxeador. Como perdemos a memória da nossa época de humano, acabamos deixando de existir, por assim dizer. Porém, nossos feitos continuam fazendo parte do mundo.

— Ser tirado da nossa vida sem nosso consentimento é cruel.

— Não diga essas coisas — Seungmin segurou sua mão — Eles podem ouvi-lo. Venha, vamos continuar admirando as esculturas.

Seungmin desistiu de explorar os outros andares do museu, já que Changbin não parava de lamentar que estava com fome e entediado. Decidiram, então, almoçar em um restaurante requintado, o mais caro e procurado da cidade. Changbin teria ficado satisfeito comendo pé de galinha em um bar simples, mas quando Seungmin fazia as escolhas, as coisas eram bem diferentes.

Eles não eram um casal, pelo menos não por enquanto, segundo a perspectiva de Changbin, que mantinha esperanças de um dia conquistar o coração de Seungmin. Os encontros mensais funcionavam assim: cada um escolhia um lugar de seu agrado na sua vez. Fazia um ano que tinham esses encontros, um arranjo peculiar que surgiu depois de décadas de tentativas de Changbin para sair com Seungmin, que finalmente aceitou esses encontros nada convencionais e totalmente fora de seus gostos e padrões. A verdade é que Seungmin apreciava a companhia de Changbin, embora não verbalizasse isso.

Após o almoço, Seungmin pediu um expresso, enquanto Changbin, que não gostava de café, optou por uma sobremesa calórica. Diante de um olhar julgador de Seungmin, ele se justificou dizendo que treinava pesado para poder saborear o que quisesse.

— Acha que ele está pronto? — Perguntou Seungmin, com o olhar perdido na paisagem da janela do restaurante.

— Acho que ninguém está preparado pra isso. Perder a vida que nos pertence não é algo agradável — Changbin suspirou — O que ele faz?

— É um cozinheiro famoso. Uma pessoa gentil e de coração puro e caloroso. É solteiro e não tem família.

— Pelo menos ninguém sentirá sua falta. Mas se ele tem o coração tão bondoso, acha que ele conseguirá desempenhar seu papel? Ser o Anjo da Justiça não é pra pessoas fofinhas e boazinhas.

Seungmin o olhou e sorriu.

— Assim como você, eu não me lembro da minha existência humana. Não sei como eu era, o que fazia e nem mesmo a minha personalidade. Mas de alguma forma eu sinto como se eu fosse exatamente como sou hoje.

— Enjoado, exigente e metódico?

Seungmin lançou um olhar mortal para Changbin.

— Não, sábio, corajoso e perspicaz.

— Claro — Changbin deu risada — Na minha cabeça eu acho que você era um estilista famoso ou um editor de revista de moda, tipo aquela mulher chata de “O diabo veste prada”. É a sua cara.

— Miranda? — Seungmin sorriu orgulhosamente — É, temos coisas em comum.

Changbin deu uma colherada em seu sorvete, absorto em seus pensamentos. Sua curiosidade sobre o novo Anjo da Justiça consumia sua mente. Já se passavam quase 200 anos desde que ele e Seungmin aguardavam por esse momento, pelo renascimento de Lee Min Ho como o Lorde que julgaria os corações sombrios.

A maldade estava profundamente enraizada nos corações humanos. Por isso, os Deuses, há muitos milênios, designavam humanos para atuarem como anjos. Cada anjo possuía uma característica dominante. Seungmin era o Anjo da Sabedoria, incumbido de treinar Lee Min Ho quando este renascesse. Changbin, por sua vez, era o Anjo da Força. Além de garantir a proteção do futuro Reino da Justiça, ele tinha a missão de treinar as habilidades físicas e de combate de Lee Min Ho. Seungmin e Changbin seriam os guardiões do novo Anjo da Justiça.

— Estou curioso sobre ele. Lee Min Ho parece ser um homem interessante — Disse Changbin.

— Espero que não esteja pensando em flertar com ele.

— Claro que não, só tenho olhos pra você, mi amore.

— Pra mim e pra qualquer um né?

— Eita como é ciumento meu futuro namorado.

— Esqueceu qual é minha maior característica?

— Sabedoria, oras.

— Exato, por isso nunca aceitei namorar com você, porque sou sábio.

— Eu sou sua melhor escolha, mas você não está preparado pra essa discussão.

Seungmin balançou a cabeça negativamente.

— Precisamos nos preparar. Em breve Lee Min Ho será transformado e precisaremos estar ao lado dele quando isso acontecer.

— O gentil Lee Min Ho, Anjo da Justiça… isso vai ser interessante — Changbin sorriu.