Han andava de um lado para o outro, ansioso pela chegada de Minho. Já fazia duas semanas que Minho o visitava todas as noites, e Han já estava acostumado com suas visitas noturnas. Mas naquela noite, Lee Minho não apareceu. Em vez disso, Changbin entrou em seu quarto.

Quando a maçaneta da porta girou, Han pulou de animação, acreditando que fosse Minho. No entanto, seu sorriso desapareceu ao ver que não era ele.

— Ah, é você? — Disse desanimado.

— Uau, que recepção calorosa — Changbin o encarou — Min Ho me pediu para avisá-lo que não virá essa noite e nem nos próximos dois dias.

— E você pode me dizer o porquê?

— Ele foi visitar um amigo que está em coma.

— Nossa, meu deus, espero que ele fique bem. Mas qual foi a causa?

— O rapaz viu o pai morrer. O trauma foi grande demais para ele — Changbin não contou que a causa da morte do pai de Jeongin era Minho e que um estranho senso de culpa repelia Minho a ir visitar Jeongin constantemente.

— Ele vai conseguir acordar. Vou orar por isso.

— Também queremos isso. Enfim, Min Ho me pediu para avisá-lo de sua ausência, o que é um pouco estranho, já que tecnicamente você é um prisioneiro.

— Acho que o patrão gosta de mim — Han deu risada — Como amigo, é claro.

— Não pensei que fosse de outra forma — Changbin cruzou os braços e o encarou com um semblante sério.

Os dias sem Lee Minho passaram de forma lenta e entediante para Jisung. Eles começaram a desenvolver uma conexão estranhamente forte, algo que nem mesmo Han entendia completamente, mas sentia como se conhecesse Min Ho há milhões de anos. Às vezes, ele pensava que estavam no lugar errado e na época errada, imaginando como seria se tivesse conhecido Min Ho em um dia normal e em um lugar comum.

Dois dias depois, Han estava em seu quarto compondo uma nova música. Inconscientemente, as letras falavam sobre almas gêmeas. Foi então que ele ouviu dois toques na porta. Intuitivamente, ele sabia que era Minho. Um sorriso largo se instalou em seu rosto, e ele se levantou abruptamente quando a porta se abriu.

— Senhor Min Ho! — Han estava com um sorriso radiante.

— Senhor Jisung — Minho tentou conter o sorriso — Como passou esses dias?

— Muito bem, obrigado. E o Senhor? Como foi a viagem? — Han sorriu por um momento, sentindo um dejavu, era como se tivesse vivido aquele momento, a diferença era que sentiu que Minho, em outra vida, era seu marido chegando de viagem.

— A viagem foi como planejado.

Han percebeu o semblante cansado e triste de Min Ho.

— Changbin me falou sobre o garoto em coma. O senhor quer conversar sobre isso?

— Não, não quero falar sobre isso — Minho suspirou — Quero me distrair.

— Então veio ao lugar certo — Han sorriu e o puxou pela mão, para a outra extremidade do quarto, queria lhe mostrar algo. Min Ho não se lembrava da sensação de ficar de mãos dadas com alguém, mas olhou para sua mão tão perfeitamente encaixada com a de Jisung, e sorriu — Quero te mostrar as músicas novas que compus.

As visitas de Lee Min Ho ao quarto de Han tornaram-se cada vez mais constantes, transformando-se em um ritual sagrado do dia. Era o único momento em que Min Ho conseguia se sentir mais leve, aliviado do peso que carregava. Han parecia ter o poder de fazê-lo esquecer, mesmo que momentaneamente, suas responsabilidades e dores. No entanto, essa sensação de leveza também trazia medo. Min Ho percebia que Han estava exercendo um poder crescente sobre ele, um poder que ele não conseguia compreender totalmente.

Ignorando todos os seus instintos e cedendo a seus desejos desconhecidos, Min Ho continuou visitando Han dia após dia, estreitando cada vez mais os laços de amizade entre eles. Numa certa noite, Min Ho chegou ao quarto de Han trazendo um presente. Han sorriu ao ver a caixa, seus olhos brilhando de curiosidade e alegria.

— Pra mim? — Perguntou Han, pegando a caixa com cuidado.

— Obviamente que sim, não estou vendo mais ninguém aqui. — Respondeu Min Ho, observando a reação de Han com um misto de expectativa e nervosismo.

— Uau! Eu não te ensinei a ser grosso assim.

— Mas eu não fui grosso, é a verdade, só tem você aqui.

— Ok, só vou te perdoar porque você me trouxe um presente. O que é meio estranho, já que sou seu prisioneiro — Han deu risada.

— Você que pediu esse presente.

— Mas eu não falei sério. Da próxima vez vou te pedir um carro.

— De qual cor?

Jisung olhou para ele e sorriu, balançando a cabeça negativamente.

— Bom, vamos ver o que temos aqui — Apesar de saber previamente o que era, estava ansioso para ver. Abriu a caixa com cuidado e tirou a garrafa de dentro — Um tinto Château Lafite Rothschild! Uma garrafa dessa de 1787 chega a custar US$160 mil.

— Eu paguei o dobro disso em um leilão.

— Incrível. Tudo isso pra mim?

— Você me ensinou a desenhar.

— Meu deus, vou fazer uma lista de coisas que posso te ensinar — Han deu risada, admirando o rótulo daquele vinho caríssimo — Então… vamos beber.

— Agora?

— Claro, vamos comemorar.

— Comemorar o que?

— A vida. E nada melhor que um bom vinho para comemorar a vida, ouvi dizer que vinho alegra o coração.

— Eu não tenho coração.

Han deu risada.

— Todo mundo tem coração, até você — Com suavidade, Han tocou o peito de Min Ho, queria sentir os batimentos de seu coração, mas Min Ho se afastou, assustado com aquele contato repentino.

— Humano audacioso, você não pode me tocar, isso é proibido.

— Ok, ok — Han levantou as mãos em sinal de rendição — Prometo não fazer mais isso. Sempre esqueço que você teme meu super, ultra, mega poder sobrenatural de controlar mentes.

— E eu não vou cair nesse seu poder.

— Claro que não, o senhor é esperto demais pra isso — Han olhou para o vinho caro e tentou conter a risada — Bom, poderia pegar as taças pra gente beber esse vinho carérrimo?

Um pouco relutante, Min Ho foi buscar as taças, não gostava de parecer que obedecia a tudo o que seu prisioneiro pedia. Quando voltou novamente para o quarto, o qual ele já nem fazia mais questão de trancar, Han o aguardava com o violão em mãos e um sorriso que Min Ho tinha certeza de que carregava algum tipo de feitiço. Minho abriu a garrafa de vinho e serviu as taças, enquanto Han dedilhava algumas notas em seu violão, criando uma melodia suave que preenchia o ambiente com uma tranquilidade acolhedora.

— A música soa ainda melhor agora — disse Han, seus olhos brilhando enquanto aceitava a taça de vinho que Min Ho lhe oferecia.

Min Ho sentou-se ao lado de Han, observando-o tocar. Cada nota parecia ressoar diretamente em seu coração, aliviando um pouco da tensão constante que ele carregava. Ele deu um gole no vinho, sentindo o líquido quente escorregar pela garganta, relaxando-o ainda mais. Min Ho não pôde evitar sorrir. Havia algo na presença de Han que o desarmava, uma mistura de confiança e vulnerabilidade que o deixava sem defesas.

— Sabe, quando comecei a tocar, nunca imaginei que acabaria tocando para alguém como você — Han disse, sem interromper a melodia. — É... interessante como a vida nos leva a lugares inesperados.

— Eu diria o mesmo — respondeu Minho, seus olhos fixos nos de Han. — Nunca pensei que encontraria alguém como você.

A música de Han continuou, cada acorde criando uma ponte invisível entre eles. Min Ho se permitiu relaxar, ainda que apenas por um momento. Ele sabia que, de alguma forma, estava mudando, e essa mudança estava diretamente ligada àquele jovem de sorriso encantador e voz hipnotizante.

— O que vamos fazer hoje? — Perguntou Minho com um sorriso suave no rosto — Teremos o nosso “Talentos do Lord Minho”?

— Claro, e na aula de hoje vamos ver se você gosta de tocar violão — Han sentou-se ao seu lado e Minho tomou mais espaço, Han deu risada com aquela atitude, deu um gole em seu vinho e pegou o violão novamente — Você sabe tocar? Ou já tocou alguma vez?

— Não, com certeza não.

— Não é tão difícil quanto parece, na verdade é bem simples, só precisa de prática. Senta um pouco mais perto de mim que vou te mostrar.

Mesmo receoso, Min Ho se aproximou de Han, tomando todo cuidado para não encostar nele. Mas Han, sem ligar muito para isso, se aproximou ainda mais até seus ombros tocarem. Enquanto Han explicava todo o processo básico sobre as notas musicais e como reproduzi-las no violão, Minho se esforçava para prestar atenção ao que ele dizia. A verdade era que ele não conseguia parar de olhá-lo, aproveitando a oportunidade para analisar cada detalhe do rosto de Jisung sem parecer estranho de tanto encará-lo.

Minho começou a sentir seu corpo mais leve. Normalmente, ele se sentia assim na presença de Jisung, mas naquela noite estava tão relaxado que parecia estar voando nas nuvens de um dia ensolarado e bonito. Não sabia se era efeito de Jisung ou do vinho mesmo. De repente, Han parou de falar, e Min Ho rapidamente desviou o olhar, como se tivesse sido pego no flagra.

— Minho, está tudo bem? — Perguntou Han com um sorriso malicioso nos lábios, percebendo o nervosismo dele.

Antes que Min Ho pudesse responder, Han se aproximou ainda mais e segurou seu rosto delicadamente, fazendo com que seus olhares se encontrassem. Min Ho sentiu seu coração acelerar, uma mistura de ansiedade e desejo tomando conta dele. Os dedos de Han eram surpreendentemente suaves e quentes, e Min Ho sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

— Você gosta de me olhar, né? — Perguntou Han, ainda sorrindo.

— Gosto.

— Gosta? Adoro sua sinceridade. Mas, por que você está sempre me olhando tanto?

— Não é só porque você é um humano de aparência atraente. É muito mais que isso, tem algo em você que eu não sei o que é, algo que continua me chamando, me atraindo. Isso faz eu querer ficar cada vez mais perto de você. E essa vontade vai crescendo ainda mais, até mesmo quando estamos longe um do outro, você invade meus pensamentos. Mas é claro que isso deve ser efeito do seu poder misterioso.

— Uau… — Jisung sorriu abertamente — Eu não sei se sabe mas eu sou gay, e se você continuar falando essas coisas eu vou me apaixonar por você e daí você terá que se responsabilizar se eu te der meu coração.

— Me dar o seu coração? — Min Ho o olhou horrorizado — Suponhamos que eu comece a amá-lo, é só uma suposição, isso seria impossível, mas suponhamos que isso aconteça. Se eu te amasse, jamais iria querer que você morresse, e obviamente jamais iria querer que me desse seu coração. Quero que ele continue aí dentro, batendo saudavelmente.

— Deuses! — Jisung deu risada — Sério, você é hilário. Quando eu disse sobre te dar meu coração foi num sentido simbólico, significa que eu iria te amar. Mas aproveitando esse assunto, queria te perguntar algo… você também mata pessoas lgbtqiap+?

— Não. Por que eu faria isso?

— Não sei, o mundo inteiro é contra nós.

— Eu não tenho essa escolha de poupar a vida das pessoas, meu poder age por mim sem que eu consiga controlar. Mas esse poder só reage a pessoas de corações carregados de sombras. Ou seja, não importa a orientação sexual, o que importa é literalmente o que está no coração, e isso nem é eu tentando ser poético, mas é assim que meu poder funciona, essa é a única regra. E por que o interesse nisso? Se eu tivesse te executado não seria porque você é gay, e sim porque você é um ladrão.

— Assim você acaba com meus sentimentos.

— Mas eu não menti. E você não respondeu minha pergunta.

— Meu interesse em saber se você ataca lgbtqiap+ é somente por segurança própria. Mas enfim, e você? É hétero? Gay? Bi?

— Não sei, nunca pensei nisso e como eu já disse antes, isso é…

— “Irrelevante para mim” — Han completou sua frase — Mas… você já ficou com homens? Juro que é uma pergunta pro meu TCC.

— Seu TCC?

— As vezes esqueço que você não entende sarcasmo. Essa pergunta é só uma curiosidade minha.

— Se eu já fiquei com homens? Não me lembro, de qualquer forma não tenho esses sentimentos humanos e carnais.

Han deixou o violão de lado e se aproximou de Min Ho com uma determinação que Minho não conseguia compreender completamente. Instintivamente, Min Ho recuou, sentindo o sofá pressionar suas costas até se encostar na parede. Han estava tão próximo agora que Minho podia sentir a respiração dele, quente e suave, roçando seu rosto.

Os olhos de Han estavam fixos nos dele, e Min Ho sentiu um misto de ansiedade e excitação percorrer seu corpo. Sentiu o corpo de Han sobre o dele, e isso lhe pareceu estranhamente agradável, despertando nele uma vontade intensa de segurá-lo em seus braços, de sentir o calor de seu corpo.

Com seus olhares presos um no outro, Han se aproximou ainda mais, seus lábios quase tocando os de Min Ho. O desejo era palpável, quase sufocante, e Min Ho podia sentir seu coração batendo freneticamente no peito. Cada fibra de seu ser ansiava por aquele contato, por aquele beijo que parecia estar no ar entre eles.

Han manteve a proximidade, seus olhos brilhando com uma intensidade que fazia Min Ho se sentir vulnerável e exposto. A tensão era insuportável, e Min Ho se perguntou se ele teria forças para resistir ao desejo que crescia dentro dele.

Justamente quando Min Ho estava prestes a se entregar àquele momento, Han parou, mantendo a distância mínima entre seus lábios. O coração de Min Ho batia descontroladamente, e ele sentiu uma onda de frustração e confusão tomar conta de si. Han parecia hesitar, como se estivesse lutando contra seus próprios desejos.

— Minho... — Han sussurrou em seu ouvido, sua voz carregada de desejo. — Você realmente não tem nenhum sentimento humano e carnal?

Min Ho não sabia o que dizer, incapaz de encontrar palavras para expressar o que sentia. A proximidade de Han era quase insuportável, e tudo o que ele queria era se render àquele momento, deixar-se levar pelos sentimentos que o consumiam. Porém, como se acendesse um alerta, Min Ho rapidamente se afastou de Han e tentou se recompor na medida do possível.

— E-eu já f-falei que não te-tenho esses senti-timentos…

Minho se odiou terrivelmente por ter gaguejado. Nunca tinha passado por aquilo antes. Enquanto Han se divertia ao ver o nervosismo estampado no rosto corado do temível Anjo da Justiça, Min Ho estava parado e ainda sem reação, limpando a garganta e tentando transparecer a calma que havia perdido. Seu olhar inevitavelmente se direcionou a Jisung, que sorria calmamente para ele.

“Maldito Jisung” — Pensou Minho — “Será que ele realmente é um anjo poderoso? Eu posso sentir todo o poder dele sobre mim. Ele me faz perder a noção da realidade, faz meu corpo queimar e minhas pernas perderem as forças. Se eu tivesse um coração, poderia ter certeza de que Han me causaria arritmia. É um poder terrível e cruel. Ele só parece ser um humano frágil, na verdade, ele é muito poderoso.”