— Dean, meu amor, não faça isso nem brincando! - Sam olhava para o marido, e sua voz era suplicante. Dean sentia-se culpado. Não por ter tentado fugir do casarão, mas sim por não ter sido cuidadoso o suficiente. A mansão estava cercada de empregados, e era inevitável que sua tentativa de escapulir sem ser visto tivesse fracassado.

O louro segurou o rosto do moreno com carinho e lhe beijou os lábios de forma suave.

— Desculpa, Sammy. Não vou fazer de novo... Eu só... Queria sair um pouco de casa.

— Você não é prisioneiro nesta casa, Dean! - o moreno tratou de deixar claro. - Pode sair quando bem quiser. Eu só peço... Aliás, te imploro – enfatizou – para que não faça isso sozinho.

Dean suspirou. Ele não estava indo sozinho... Estava com Castiel. Mas não adiantava dizer isso a Sam. Para ele, Castiel e nada era a mesma coisa. O louro apenas assentiu. Sabia que o marido se referia aos seguranças.

Ainda era de manhã quando Sam foi avisado por Sebastian que Dean tentara sair sem ser percebido. Sem pensar duas vezes, e com lágrimas nos olhos, o moreno voltou para casa imediatamente. Será que Dean jamais entenderia que sair sozinho era perigoso? Gente rica era sequestrada a torto e a direita. As ruas andavam cada vez mais perigosas... E era sobre isso que Winchester falava, sem parar, tentando convencer o mais velho. Campbell desculpava-se prometendo não fazer de novo. Mas será que, de fato, ele entendia a dimensão do perigo?

Se Sam pudesse ele não teria voltado ao trabalho naquele dia, mas tinha muitas coisas a resolver. Sua viagem para o Japão seria dali a dois dias. O moreno despediu-se de seu amor com um abraço carinhoso, e com o coração apertado.

Campbell suspirou ao ver o marido se afastar. Pobrezinho... Tanto trabalho para fazer no escritório, e ele, estúpido, lhe aprontava aquela... Dean sabia que a preocupação de Sam era exagerada, porém, genuína. Mas ele só queria poder sair e se divertir com Castiel sem ninguém enchendo o saco. Também não era pedir demais, era? Só tinham feito isso uma vez, e pretendia repetir a dose. O problema é que no dia da primeira fuga, sentia-se desesperado. Saiu sem prestar muita atenção, e Deus ajudou para que não fosse descoberto. Analisando friamente, Dean não conseguia entender como havia conseguido escapar de uma casa tão protegida, e cercada por seguranças. Seu plano de fuga precisaria ser mais bem elaborado da próxima vez, pois naquele dia havia falhado terrivelmente.

Quando Sam voltou, horas mais tarde, encontrou o marido distraído, jogando cartas com Castiel. O moreno ignorou o robô, como era de seu costume, e levou Dean para se divertirem na cama. Durante toda a semana o moreno fizera um esforço consciente para dar atenção ao louro. Sentia-se culpado por estar indo ao Japão, e deixando-o sozinho em casa com os empregados.

Dean estava adorando a atenção, é claro. Ao mesmo tempo, entristecia-se ao ver o quanto Castiel ficava murcho ao ser ignorado por Sam, e deixado de lado por ele. Dean tentava compensá-lo quando o marido não estava.

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No dia de sua viagem, Sam não foi trabalhar. Tirou o dia para ficar ao lado de Dean. Partiria somente ao anoitecer.

— O que quer fazer hoje? - o moreno perguntou ao marido, ainda aconchegado em seus braços, após uma deliciosa transa matinal.

— Não sei... Só de ficar assim, nos seus braços... Meu dia já está mais que perfeito. - suspirou o louro.

Sam acariciou os cabelos curtos do outro e mordicou o lobo de sua orelha, fazendo Dean se arrepiar dos pés a cabeça.

Depois de pensar um pouco, decidiram almoçar em casa mesmo, e curtir um ao outro a sós, no quarto. Dean não achava romântica a ideia de sair por aí com os malditos seguranças a tiracolo.

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Campbell estava deitado, com Sam ao seu lado. Haviam transado de novo, e acabaram adormecendo depois do almoço. De repente o louro começou a ouvir um chorinho. Era um chorinho muito baixo, a princípio, e o louro resolveu ignorá-lo. Estava tão cansado... Mas o barulho só foi aumentando.

Quando Campbell levantou-se da cama para averiguar, o barulho já era quase insuportável. Alguém estava aos berros, aos prantos... Assustado, Dean olhou para Sam, surpreso por ele não ter acordado com tamanha algazarra.

Dean enfiou um short o mais depressa que pode, destrancou a porta do quarto e correu de encontro ao chorão. Surpreendeu-se ao ver Castiel sentado no chão com a boca aberta e o rosto inundado de lágrimas. Ele chorava e fungava como uma criança desesperada.

- O que houve? - perguntou o louro, apertando o androide em seus braços. - Castiel... Eu não sabia que você podia chorar! - exclamou em seguida.

— Você acha que eu não tenho sentimentos. Mas eu tenho sim... - O androide tomou fôlego e berrou ainda mais. A água que saía de seus olhos era agora tão abundante que jorrava, molhando Dean dos pés à cabeça.

Campbell acordou com o coração aos pulos. Olhou para o lado e viu Sam ressonando tranquilo. Que pesadelo... O louro fitou a porta trancada. Sim, ele estava se sentindo culpado por tirar o dia para si e seu marido, deixando o robozinho totalmente só. Mas Sam logo iria viajar, e então ele poderia dedicar seu tempo integralmente ao androide.

Dean pensou em sair, pé ante pé, para averiguar se Castiel estava bem. Antes de fazê-lo, entretanto, teve que desistir. Viu seu gigante moreno se remexer na cama e finalmente abrir os olhos.

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Dean despediu-se do marido, levando-o até a porta. É claro que estava triste com sua partida, mas uma semana passaria depressa. Parte sua estava aliviado ao ver Winchester saindo. Desde manhã, não encontrara com Castiel, já que ele e Sam passaram o dia inteiro trancados no quarto. Após o pesadelo que tivera, sentia-se um tanto aflito ao pensar no robô. Era uma mistura de culpa e preocupação.

— Castiel! - O louro chamou, entrando apressado na sala de televisão. O coração do rapaz acelerou quando ele não obteve resposta.

— Castiel! Onde você está!? – ele gritou aflito. Campbell vasculhou os lugares mais prováveis primeiro. Depois de verificar que o androide não estava nem na sala de jogos, nem na piscina, ele sentiu seus olhos se encherem de água.

— Castiel! Cas! - Dean gritava agora a plenos pulmões, chamando pelo amigo. Ele correu pela casa toda, perguntando para os empregados se haviam visto o robô, mas a resposta era sempre negativa.

Será que Castiel havia fugido de casa? Ele queria tanto passear... E assim, largado, sozinho, era bem provável... Mas ele era tão inocente. E se não conseguisse voltar? E se estivesse tão triste, que nem mesmo quisesse voltar?

Dean olhou pela janela. O sol já estava se pondo... O rapaz segurou a cabeça com as mãos e pôs-se a chorar, nervosamente. Ele devia ter prestado mais atenção...

O louro tentou controlar a respiração. Precisava agir. Sair com os seguranças e ir a procura do seu robozinho querido.

Antes que conseguisse se mexer, entretanto, Dean sentiu uma mão tocando seu braço. O louro se assustou, visto que a mão vinha do lado de fora.

— Dean?

O rapaz, ainda com o rosto vermelho e os olhos molhados, reconheceu, aliviado, a voz de seu amigo robô. Castiel estava em cima do telhado? Androide maluco... Campbell abriu um enorme e aliviado sorriso.

— Você tem que ver a paisagem aqui de cima. É muito lindo! - exclamou o androide.

— Castiel, desce! Pode ser perigoso...

Mas em vez de Dean convencer o robô, foi este quem persuadiu o humano a subir. Castiel estendeu-lhe a mão e puxou com força, ajudando o homem a içar-se para cima.

— Cas, eu fiquei preocupado... - o louro então falou, assim que se viu ao lado do outro, sentado em segurança. Imediatamente lembrou-se de Sam, e sentiu-se mal por todas as vezes que preocupou seu marido. Ele tinha acabado de levar um tremendo susto por causa de Castiel.

— Você está chorando? - o robô se aproximou do louro, e passou os dedos lentamente por seu rosto. - Não chore, ele vai voltar... - e dizendo isso o androide deu-lhe um beijo no rosto.

Dean não pode evitar que outras lágrimas lhe invadissem os olhos. Castiel era ignorado e pisoteado, e mesmo assim queria consolá-lo? Pensava que estava triste com a partida de Winchester... Talvez os robôs tivessem sentimentos sim. E muito mais puros do que os dos seres humanos.

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Dean e Castiel permaneceram sentados, lado a lado, e não custou a escurecer. A sensação ali, de cima do telhado, era de total liberdade, e o céu, que estava sem nuvens, não demorou a salpicar-se com estrelas brilhantes.

— Como são lindas... - Castiel suspirou. - Eu li sobre elas... Aquela constelação ali, está vendo... - o robô apontou para o céu – é a constelação de Orion, o caçador. As estrelas da direita formam o arco e flecha. E aquelas dali formam um urso – é a ursa maior.

Dean ouvia com atenção, fascinado, tentando visualizar as descrições que Castiel fazia.

Lá pelas tantas, o andróide segurou na mão de Dean. O louro sentiu seu coração bater acelerado, mas não se mexeu.

— Sabe Dean... Talvez você não acredite... Mas eu gosto de estar ao seu lado.

Dean suspirou. Ele acreditava. Acreditava sim...

— Sabe... Se eu pudesse, eu passaria todo o meu tempo assim, juntinho de você. De mãos dadas... Abraçado... Eu gosto da sensação do seu contato... Gosto do calor do seu corpo. Se eu pudesse... - Castiel suspirou – Se eu pudesse eu te daria um beijo agora mesmo. E na boca... Me desculpe, eu sei que é errado. – o robozinho baixou a cabeça. - Porque você é casado... Eu sei. Eu sei, mas eu não entendo.

— Não entende? - Dean perguntou. Estava nervoso com aquela conversa. Tinha sido pego de surpresa.

— Não... Não entendo. O que eu sinto é tão bonito, Dean. E se você gosta do meu contato também... Como isso pode prejudicar o Sam de alguma forma? Como isso pode prejudicar alguém? Qualquer pessoa do mundo...?

Castiel abraçou Dean com leveza e recostou-se em seu ombro. O coração do rapaz não parava de bater acelerado. Ele não sabia a resposta. Talvez Castiel tivesse razão... Mas Sam era seu marido. Um marido que Dean amava e não pretendia trair.

O robô então chegou ainda mais perto e beijou o pescoço de Dean de leve, causando-lhe um arrepio. A vontade do louro era de retribuir. Mas ele não podia. Simplesmente não podia...

— Cas, vamos descer... - Campbell pediu.

O androide não discutiu. Afastou-se do dono, imediatamente, e foi cuidadoso ao guiá-lo pelo telhado em meio à escuridão. Castiel enxergava bem, mesmo na penumbra.

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— Posso ficar com você aqui essa noite? - o androide pediu, se referindo ao quarto de casal.

Dean suspirou e ponderou. Adoraria poder dizer que sim... Castiel olhava com olhos pidões. O mais engraçado disso tudo é que o louro tinha certeza que mesmo que fosse pra cama com Castiel, e mesmo que Sebastian fosse correndo contar para o patrão, como era de seu costume, Sam não ficaria chateado. Muito pelo contrário, era capaz de achar até muito bom.

Mesmo assim, o louro se sentia desconfortável. Não queria estragar a relação de amizade que tinha agora com o androide. Castiel, claramente, estava se apaixonando. E mesmo não sendo humano... Ele era tão bonito... E era também tão engraçado... Mas o que Dean mais apreciava era o jeitinho doce e inocente do robô... Ele era uma fofura... O louro, às vezes, tinha vontade de coloca-lo no colo. Campbell suspirou. Temia que a proximidade entre os dois pudesse ser perigosa.

— Não, Cas, desculpa. – ele disse, simplesmente.

O androide esboçou um sorriso e deu boa noite, sem insistir. Quando deixou o quarto, Dean sentiu seu coração apertar. E se ele estivesse se apaixonando também? Estaria completamente perdido!