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Entre Gatos e Borboletas


Capítulo 24 - Entre Gatos e Borboletas (Yura)

Um gato? Quem poderia imaginar? Mas gostei da ideia, entre mim e Alice existiam varias coisas, uma delas era esse espírito de descoberta e jogos de sedução que nunca se tornavam comuns.

- Espero que você não perca os meus brincos.

- Pode deixar.

Minhas mãos se encaminharam para o zíper do vestido de Alice, que por sinal eu havia gostado muito.

- Sabe Yura. - ela começou. - Não acredito que vou dizer isso mas...

- Sim?

- Fico feliz de ter vindo até aqui com você.

- Eu também.

O clima de despedida daquele lugar era diferente do que eu imaginava que seria, e pensar que no dia seguinte nós voltaríamos as nossas vidas \"normais\"... Mas eu sabia que mesmo voltando, ela continuaria sendo minha borboleta...

Eu a beijei, não entendo como ela me despedaça assim, como cada um dos gestos que ela tinha me fazia querê-la mais e mais.

Ela me jogou devagar pra trás. Adoro notar como seus olhos se perdem quando ela me toca, como eu me deixo arrepiar enquanto ela explora minha pele, como meus suspiros acordam uma parte dela com a qual ela não tem contato, como adoro beijá-la enquanto meu corpo se encarrega de torná-la minha, como sinto o calor de minha pele tornar-se dela, como é maravilhoso acompanhá-la nesse caminho surreal e imaginário que compõe essa paixão infinita que tenho por ela...

Se eu pudesse expressar com palavras como me sinto, mas, palavras não passam os sentimentos misturados que me tomam agora, é... a janela das verdades não ditas, um quadro de sentimentos paradoxos, mas... Não importa o que eu diga, mesmo assim, não existe como eu lhe explicar o que se passa em minha mente agora...

- Queria tanto saber o que você pensa... - ela disse tirando meu cabelo da frente dos meus olhos.

- O que quer saber? - respondi, tentado mediar minha voz trêmula.

- Não sei, só queria te entender melhor.

- Você é a pessoa que mais me entende. - completei sentindo meu coração se acelerar.

- Adoro o timbre da sua voz. - ela comentou.

Eu não sabia como responder a isso, por isso simplesmente a olhei nos olhos, ela sorriu carinhosamente.

- Como eu sou possessivo. - eu sorri reconhecendo minha fraqueza.

- Por quê?

- Eu mataria qualquer um que lhe fizesse algo desse gênero.

- Eu não duvido. Meu gato também me mataria se eu tirasse a borboleta dele de onde ele deixou.

- Pareço tanto assim com o seu gato?

- Eu disse.

Fechei meus olhos, e deixei que as emoções misturadas inundassem o meu racional instável. Como já disse, não existe uma forma clara de explicar, mas, se eu puder pensar em que sentimentos se misturaram, talvez eu possa deixar um pouco mais claro como minha mente é contraditória. É como... A alegria de um passeio no campo depois que chove, a tranqüilidade de olhar o jardim pela manhã, quando ainda existem paradas nas folhas, as gotas de sereno, o calor de beijar a pessoa amada num dia frio, o alívio de poder gritar quando se está com raiva, a preguiça de quem tem um dia pra não fazer nada, a culpa de se comer doce sabendo que vai estragar o jantar... tudo misturado, formando uma coisa parecida com amor, mas não sendo amor ainda.

- Yura?

- Hun... Você estraga meus delírios... - reclamei.

- ... Desculpe?

- Não se desculpe, os delírios nem exitiriam se você não estivesse aqui.

Meu problema é que sou muito direto, isso assusta as pessoas, mas, o que posso fazer? As palavras me escapam.

Depois de tudo isso, depois dos suspiros, sussuros, olhares e desejos, eu, finalmente pude dormir. Uma coisa que me faz notar minha natureza contemplativa, não me importo muito com a ordem dos fatos, sou maquiavélico, os fins justificam os meios, meus objetivos podem ser mundanos, mas eu SOU uma pessoa mundana, de varias personalidades, de muitos contrastes, dependendo da fonte de pesquisa, claro.

Alice não disse nada, ela costuma não dizer muito depois de coisas assim, o fato é que a falta de assunto é inevitável, mas, não tem realmente nada que eu queira falar com ela agora...

Pela manhã, Alice acordou cedo, mas, pelo menos dessa vez ela não me atirou pra fora da cama...

- Hun... claridade... - eu disse reclamando das janelas abertas.

- Desculpe criatura noturna. - ela respondeu do outro lado do quarto.

- Pela manhã sou mesmo.

- Você acorda muito tarde.

- E você reclama demais. Aliás, bom dia pra você também.

- Bom dia, agora levante-se e vamos, se não vamos nos atrasar.

- Alice, não arruíne minha manhã.

- Vou tentar.

Ela foi até a cama, me deu um beijo rápido e saiu para o corredor.

- Gente, que pressa. - comentei me espreguiçando.

Eu me levantei aproveitando toda a preguiça da manhã, e fui me arrumar. Alice entrou e saiu do quarto mais umas quatro vezes.

- Yura onde é que está o meu...

- Na gaveta.

- Da esquerda ou da direita?

- Direita.

- Obrigada.

- De nada.

Eu terminei arrumar as minhas coisas, e fui assinar o mural da sala de música, Alice passou por mim mais umas duas vezes no caminho.

- Mulher desorganizada... - falei pra mim mesmo.

- Yura onde...

- Biblioteca.

- Obrigada.

- De nada.

Assinei meu mural, voltei até a sala, onde Alice segurava o vestido que tinha as marcas das minhas mãos estampadas.

- Me de isso aqui.

Peguei o vestido e atirei na lareira atrás de mim.

- Eu gostava daquele vestido...

- Ah é? Pretendia explicar as estampas temáticas como mesmo?

- ... Tem razão. - ela concordou pensando em como explicaria as marcas de tinta.

Depois de tudo arrumado, o piloto chegou, as malas e as outras coisas já estavam prontas, nós entramos e deixamos as malas no \"porta-malas\" do avião...