Conspirator Poison

- Cena 11 – Consequences-

Fazia dois dias desde a chegada do convite na minha casa. Eu tinha certeza de que o Chaisaw Awards não convidara somente a mim e confirmei isso quando Corey ligou às três da manhã me perguntando se eu recebera um envelope roxo.

- A sorte deles é que escolheram a véspera da turnê estadunienese, senão...

- Nos superamos desta vez, hein? – dizia ele, a voz sem vestígios de sono – Vou ligar pro resto do pessoal assim que amanhecer. – reconheci a voz de Griffin do outro lado da linha, falando com o pai.

- Tá, agora vá dormir – e desliguei o telefone abruptamente, caindo de volta na cama.

Deixei pra ler todo o conteúdo do convite quando acordei de verdade, lá pelas duas da tarde do dia seguinte. Fazia uma tarde “mais ou menos”, o que era incomum, já que as mudanças climáticas em Des Moines se resumiam à um verão escaldante ou um inverno rigoroso (Não me esqueci da chuva de granizo do última vez). Li uma declaração formal sobre as nossas indicações e o cronograma das apresentações de outras bandas, convidados e talz... Tudo muito vagamente, porque eu realmente não estava interessado naquilo no momento.

Acabei indo tomar café para tentar ler o resto mais tarde, se eu tivesse força para me concentrar.

Depois de outra penosa tentativa, fui tomar um banho quente, já que o tempo começava a se definir e a ficar bem frio. Antes de ir, deixei o som ligado num volume altíssimo, um hábito que me fazia bem, mas que irritava profundamente os vizinhos.

Eu estava terminando de me arrumar quando ouvi a campainha sendo tocada seguidamente entre o intervalo de uma música pra outra.

Quanto tempo a pessoa já estaria esperando?

Ri comigo mesmo ao pensar no provável sermão ortodoxo de algum vizinho ofendido com o meu gosto musical.

Eu não terminara de abotoar minha camisa e o cabelo ainda estava todo molhado, mas resolvi ir assim mesmo.

Passei pela sala rapidamente para desligar o som e fazer a cara de santo, mas me distraí com o convite roxo largado na mesinha de centro.

“23:35 – Apresentação da banda Conspirator Poison (live)”

- Quê...? – eu não lera aquela parte.

A campainha tocou mais uma vez.

Conspirator Poison iria tocar no festival?

Meus pés pareceram caminhar sozinhos até a porta, mais conscientes que meu cérebro; minha mão girou a maçaneta.

Mas estava alheio a tudo.

- Joey, por que você não me avisou que tinha voltado?

Dois braços aparentemente desconhecidos me puxaram pelo pescoço.

***

Conspirator Poison

- Cena 12 – What am I now? - 3rd person

- Qual o seu problema, cara?

- Você não tinha o direito de fazer isso sem nos consultar, Sam - disse Dalton, tentando manter a voz calma. Leidan nem se esforçava pra tanto.

- Que puta sacanagem, Sam! – rosnava ele, bufando indignado – Argh... Dá vontade de te quebrar em dois!

Sam se afastou dos outros, um sorriso amarelo em seu rosto, preocupado com toda aquela animosidade.

- Tentem... Tentem entender, rapazes! – explicava ele, gaguejando – Eu tenho certas obrigações perante a gravadora, e vocês não são lá muito sociáveis... T-tive que tomar algumas providências, ora...

- E se, por acaso, as suas “providências” não nos agradarem? – perguntou Michael, estalando os dedos ameaçadoramente – Que é que a gente faz com você, Sam?

- Erm... Não foi algo tão horrível assim, pessoal! – exclamou o empresário, apavorado com a eminente concordância de lhe espancarem – São apenas... Coisas que os fãs querem saber, só isso...

- Sam – a voz mais calma de todas, se pronunciou: Jason levantara-se do sofá em que estivera lendo até então. Ele tinha os olhos fixos em Sam, evidentemente sem resquícios de brutalidade – Você não nos conhece. Não sabe nada sobre nós. Já Dalton, Michael, Leidan, Alex e eu nos conhecemos desde crianças e existem coisas entre nós que não temos vontade de compartilhar com mais ninguém. Entramos nessa de formar uma banda apenas pela música, não pra contar qual foi nosso desenho favorito aos cinco anos.

E voltou a ler.

Dalton e Michael se entreolharam.

- Pra ser mais claro – acrescentou Jason, o rosto escondido pelo livro – Me refiro em especial a pergunta sobre a máscara. Alex não... gosta... quando falam sobre isso. E seria muito educado da sua parte e de todo esses infelizes que parassem de perguntar toda vez sobre a mesma coisa. Acaba irritando.

Todos continuaram calados. Leidan sentou na cama do quarto, balançando a cabeça. Sam limpou os óculos, desajeitado.

- Não tenho culpa se o humor de Alex seja meio... Instável – murmurou, evitando olhá-los.

- Então acho melhor começar a se comportar direitinho, Sam. Ou o meu “humor instável” pode tirar seu emprego.

Todos olharam. Alex acabara de aparecer.

- Alex! – Sam engolira em seco diante da suposição de sua demissão. Ele tentou se explicar, mas as palavras saiam ininteligíveis de sua boca.

- Bom, se você não tem mais nada de concreto a dizer, é melhor ir andando não acha? – sugeriu Alex, a voz disfarçada de bondade, mas positivamente perigosa.

O empresário também pareceu achar que era hora de se retirar. Saiu do quarto sem mais palavras. Jason largou seu livro e bateu palmas por uns segundos, rindo.

- Só faltou ele se mijar, cara – gargalhou Leidan.

- Ainda vamos ao Chaisaw Awards, né? – perguntou Michael, mais tranqüilo agora que a discussão havia terminado.

- Sim, não tenha dúvidas quanto a isso – respondeu Alex, jogando-se ao lado de Jason. Faltavam apenas algumas semanas para o festival – Por que as palmas, Jason? – acrescentou para o rapaz.

Ele continuava lendo.

- Porque você é muito foda – respondeu com indiferença, virando mais uma página.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.