Consequências do Amor

Capítulo 26 - Uma Boa Notícia, Uma Última Noite


"I'm not bulletproof when it comes to you
Don't know what to say when you made me the enemy
After the war is won
There's always the next one
I'm not bulletproof when it comes to you

Maybe I'll crash into you
Maybe we'll open these wounds
We're only alive if we bruise
So I lay down this armor
I will surrender tonight
Before we both lose this fight
Take my defenses
All my defenses
I lay down this armor
I lay down this armor
I lay down this armor "

* Armor - Landon Austin


NARRADORA

— German.

O moreno elevou o olhar até o de Angie e ela assustou-se com a aparência cansada dele. Olheiras se formavam abaixo de seu olhos pesados. Ele parecia realmente muito cansado.

— Você está bem? — Ela perguntou, tocando levemente o rosto dele. Logo que seus dedos finos tocaram a face de German, Angie percebeu algo fora do normal. — Meu Deus, German, você está ardendo em febre!

German fechou os olhos por meros segundos. Sentia-se um pouco tonto.

Preocupada com o moreno, Angie agarrou seu braço direito e o arrastou até o sofá mais próximo.

— Não se preocupe, Angie. — Ele fechou os olhos e recostou-se no sofá, soltando um suspiro cansado. — É só um mal estar, não é nada demais.

— Mal estar? Nada demais? German, que parte do você está ardendo em febre você não entendeu? — Questionou, em uma reclamação contida.

Vendo que German não reagiria ao seu questionamento anterior, ela tentou novamente:

— O que mais você esta sentindo? — Perguntou, estava realmente preocupada com o moreno. Ele nunca ficava doente.

German abriu os olhos, sem vontade, como se doesse faze-lo.

— Minha garganta esta raspando um pouco e parece que eu fui atropelado por caminhão. — Respondeu por fim, de nada adiantaria ocultar aquelas informações de Angie.

— Desde quando esta se sentindo assim? — Angie perguntou, já que da última vez que se viram ele parecia bem, apesar das olheiras que o acompanhavam ultimamente.

— Tem certeza que você é mesmo professora de música e não médica? — Ele tentou brincar para descontrair o clima, mas vendo que Angie continuou séria ele decidiu responder a pergunta. — Desde hoje a tarde, eu acho.

Angie estava prestes a formular outra pergunta, mas antes que pudesse fazê-lo, German foi tomado por uma crise de tosse.

Ele realmente não estava bem - ela notou - apesar de tentar brincar com a situação para não preocupa-la.

Angie estava incerta sobre aproximar-se de German novamente, mas vendo-o daquele jeito não pode deixar de ajudá-lo.

Deixando pra trás, pelo menos por hora, o passado complicado deles, ela estendeu a mão em direção ao moreno e disse:

— Vem, você precisa descansar. Vamos subir.

German ficou surpreso com as palavras da loira, mas estava cansado demais para pensar mais sobre aquilo.

Ele envolveu a mão delicada entre a sua. Enquanto a mão dela era macia, a dele era um tanto áspera.

O toque fez algo dentro de Angie estremecer, mas ela não deu tempo a si mesma para refletir sobre o significado daquilo.

Subiram a escada em silêncio. Não encontrarem percalços maiores na ação, apesar de Angie perceber o corpo de German tremer levemente.

A primeira coisa que fez ao chegar ao quarto de German, que um dia já fora o quarto deles, foi ajudar o moreno a sentar-se na espaçosa cama de casal.

Por um momento ela deixou sua mente vagar pelas lembranças que aquele quarto trazia. Divagar sobre elas era um tanto sufocante, mas inevitável dada a situação em que se encontrava.

Quantas noites eles passaram naquele quarto se amando… No entanto que agora ela carregava consigo o fruto desse amor.

Angie saiu de seus devaneios ao ouvir German ter outro ataque de tosse.

Ela se aproximou de German e o ajudou a deitar-se confortavelmente, para depois cobri-lo com um cobertor.

Como doía vê-lo daquele jeito. Desde que voltara a Buenos Aires para encontrar a sobrinha anos atrás, não se lembrava de ver German doente como agora.

Ela não era médica, mas sentia a necessidade de cuidar dele, da mesma forma que ele fizera com ela, um dia antes de Angie retornar a França. Ela não se esquecera do quão atencioso ele fora com ela, mesmo que o relacionamento deles tivesse ruído.

Ela então abriu a bolsa e retirou de lá um termômetro, que se encontrava junto ao kit de primeiros socorros que ela carregava sempre na bolsa, um antitérmico e a garrafinha de água, que ela comprara após consumir tanto doce naquela tarde ao lado dos amigos e das meninas.

Ela pegou o termômetro e mediu a temperatura do moreno, que media 38,5. Ou seja: febre.

Com um pouco de dificuldade, ela o ajudou a sentar-se para tomar o comprimido. O que não foi um processo tão agradável para o moreno, já que ele parecia fazer um esforço sobre humano cada vez que se mexia.

Depois disso, ela voltou a cobri-lo com o cobertor e permaneceu sentada ao lado dele.

German estava tão cansado que adormecera rapidamente, enquanto Angie observava as feições de seu rosto másculo

Será que o seu bebê teria o cabelo escuro de German ou a mesma cor dos olhos dele? Ela vivia divagando sobre como seu bebê seria e se ele ou ela puxaria mais a mãe ou o pai.

Ainda pensando sobre o bebê, Angie depositou as mãos na barriga ainda plana e começou a conversar com ele.

— Sabe, bebê, eu sei que eu tenho que contar sobre você para o seu pai, mas é mais complicado do que parece. Mas depois de tudo que aconteceu… eu tenho medo, um medo que pode parecer até infundado, mas que ainda sim é real. — Ela soltou um suspiro cansado. — Mas eu prometo pra você que depois que seu pai melhorar, eu vou contar pra ele. Prometo.

Angie bocejou, e sentindo os olhos pesarem deitou-se ao lado de German. Ultimamente ela vinha se sentindo cada vez mais cansada.

Um minuto depois, ela já havia adormecido. Mas seu sono não durou mais que dez minutos, já que o som de seu celular anunciando uma nova mensagem a despertou.

Assustada, ela pegou seu celular e leu a mensagem que piscava na tela:

"Angie, como te falamos mais cedo, eu, a Ludmi e o Federico vamos ao Karaokê com o pessoal do Studio e voltaremos tarde. Queria me despedir de você e do papai, mas como não encontrei nenhum de vocês… presumo que estejam juntos. Enfim, aproveitem a noite, pombinhos… Beijos ❤"

Angie estava prestes a responder a sobrinha e esclarecer o que estava acontecendo com o moreno, mas antes que seus dedos pudessem redigir a resposta no teclado do celular, German que também despertara com o barulho do aparelho, teve um ataque de tosse.

Angie deixou o celular de lado e ajudou o moreno a sentar-se para beber um pouco de água.

Percebendo que German ainda tremia, ela tocou a testa dele e percebeu que a febre ainda não cedera.

Ela mediu então outra vez a temperatura do moreno e surpreendeu-se ao ver que a mesma havia aumentado. O visor do termômetro digital marcava agora 38,9. Pelo jeito o remédio demorava para fazer efeito.

Angie não queria deixar German sozinho, mas tinha uma idéia em mente, idéia essa que poderia ajudar a febre a ceder e ajudar com a dor de garganta. Então mandou uma mensagem para Olga pedindo o que precisava.

Pouco mais de cinco minutos depois, Olga trouxe o que a amiga lhe pedira.

Angie agradecera a amiga, impressionada e agradecida por sua agilidade e fora puxada para um dos abraços de urso de Olga.

Logo após a saída de Olga, Angie entregara uma caneca com chá de gengibre a German, que segundo ela fazia bem para a garganta.

German não era adepto de chás, mas precisava admitir que a sensação que o líquido quente e forte trazia ajudava um pouco a amenizar a dor.

— Foi tão ruim assim? — Ela perguntou sorrindo, tendo em vista a cara feia que German fizera a princípio quando ela lhe explicara sobre o chá.

— Até que não. — O moreno respondeu e permitiu-se sorrir, antes de voltar para debaixo do cobertor, deitando-se novamente.

Angie deu uma última olhada para German, antes de voltar-se para os outros objetos que Olga havia trazido, que consistia em um recipiente com água fresca e algumas toalhas de rosto.

Ela então mergulhou uma das toalhas na água para depois torcê-la e depositou na testa do moreno. Ela repetiu o mesmo processo com as outras toalhas, espalhando-as pelo tronco e braços do moreno, que logo abriu os olhos ao sentir o contato frio com a pele ardente.

O olhar dele se encontrou com o de Angie, que lhe lançou um sorriso reconfortante.

— Por que esta fazendo isso? — Ele perguntou de repente.

— Isso o que? — Ela perguntou confusa.

— Cuidando de mim. — Ele disse e tocou a mão dela que segurava a toalha em sua testa.

Mesmo naquele estado, German sabia o quanto não merecia os cuidados da loira.

— Você cuidou de mim, German, naquele dia quando eu descobri a verdade sobre meu pai. — Ela suspirou, lembrando do quanto aquele dia lhe marcara. — Aliás, eu nunca te agradeci por cuidar de mim naquela noite. Obrigada.

— Não tem que me agradecer, não quando eu causei parte da dor que você sentiu naquele dia. — Ele respondeu. Ainda se culpava por ter deixado Angie partir.

A loira balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos que se formavam em sua mente.

— De qualquer forma, eu não poderia ficar indiferente vendo você doente. — Angie confessou.

German sorriu levemente. Como ela podia ser tão boa?

— Você é realmente um anjo. — Ele falou, um sorriso sonolento moldando seus lábios.

Angie sorriu com a comparação. Aliás, não era a primeira vez que ele a fazia. Ela tinha certeza de que não era um, mas adorou ouvir a frase que German proferira.

Quando volveu o olhar a German percebeu que o moreno adormecera.

Ela permitiu que o sorriso em seu rosto se expandisse ao constatar que German parecia tão sereno e relaxado dormindo.

Desde que ela retornara a Buenos Aires, ele parecia cada vez mais cansado ao seus olhos. Será que estava trabalhando mais do que de costume? Dado os problemas do Studio, ela não duvidava que ele estivesse trabalhando em dobro, levando em conta que ele também tinha uma construtora para administrar.

Ela velou o sono dele por bons 30 minutos, até o moreno começar a se remexer na cama e finalmente acordar por completo.

Angie se aproximou de German e tocando o rosto dele, percebeu que a febre cedera. O remédio finalmente fizera efeito.

German retirou a coberta que cobria seu corpo antes febril. Sentia um calor imenso, um dos efeitos do remédio. O que era um bom sinal, significava que a febre fora embora.

Angie retirou as toalhas molhadas do corpo do moreno, enquanto ele retirou sua camisa igualmente molhada.

Evitando encarar o peitoral forte e bem esculpido do moreno, Angie foi até o guarda-roupa e pegou roupas mais confortáveis para German. E quando ela estava prestes a fechar o mesmo seus olhos focaram em um pacote que brilhava no fundo do guarda-roupa. Era o pacote em que ela depositara os objetos que lembravam German, para poder devolve-los.

Ela suspirou cansada. Por que tudo naquele quarto tinha que lembrar o relacionamento que eles tiveram?

Afastando tais pensamentos, ela voltou até German e lhe entregou as roupas que separara, para logo depois virar-se para o outro lado enquanto ele se trocava.

Ela só voltou a virar-se quando ouviu a voz de German soar pelo quarto, chamando-a:

— Angie.

Ela volveu o olhar ao moreno, que batia no espaço vazio ao seu lado na cama.

— Vem, você precisa descansar. — Ele sabia que era egoísmo manter Angie ali com ele, mas precisava dela. Sempre precisaria.

Angie pareceu refletir por alguns segundos, mas por fim acabou cedendo. Estava cansada e tinha de admitir que queria estar perto de German, mesmo que fosse só por aquela noite.

Ela aceitou, deitando-se ao lado do moreno, mas evitando toca-lo.

Ficaram alguns minutos em silêncio, até que a voz de German preencheu novamente o ambiente:

— Sabe, Angie as vezes eu fico pensando como teriam sido as coisas…

— … se a gente não tivesse terminado? — Ela completou, virando-se para poder fitar o moreno.

Ele suspirou.

— Exatamente.

— Eu também. — Ela confessou. De nada adiantaria negar, ela tinha certeza que German podia enxergar a verdade no seu olhar. — Mas acho que devíamos parar com isso.

German assentiu. Como sempre Angie estava coberta de razão.

— Eu sei, mas não é tão fácil. — Ele se pronunciou.

Angie balançou a cabeça, concordando.

— Não, não é. — Fitou os olhos do moreno, que a observavam atentos. — Mas ficar presos no passado e num futuro que não aconteceu, não nos levará a lugar nenhum. — Era duro admitir, mas era a verdade.

— Você está certa. — Foi apenas o que ele disse, antes do silêncio voltar a se instaurar entre eles.

Ficaram calados por bons minutos, as palavras que trocaram foram suficientes para fomentar pensamentos em suas mentes já confusas. German estava certo: não era nada fácil afastar aqueles pensamentos.

ANGIE

O silêncio instaurado entre mim e German era incômodo. Eu não estava acostumada com o silêncio, eu preferia conversar. Mas naquele momento eu não saberia o que falar para iniciar uma conversa descontraída entre mim e German.

Estava prestes a me virar na direção de German e verificar se ele ainda estava acordado, mas antes que eu pudesse fazê-lo, um enjoo tomou conta de mim e não tive outra escolha ao não ser correr para a suíte do quarto.

Eu sabia que não devia ter exagerado nos doces naquela tarde, mas quem poderia me julgar, eu estava comendo por dois.

Enquanto eu colocava todo conteúdo do meu estômago para fora, senti mãos fortes seguraram delicadamente meu cabelo.

Log0 depois de eu não ter mais o que por para fora, German me ajudou a me colocar em pé.

Olhei para ele e percebi que além de cansado, ele estava claramente preocupado comigo.

Antes que ele pudesse formular qualquer pergunta, eu me adiantei:

— Você tem que descansar, German. Você é o paciente, eu tenho que te socorrer, não o contrário.

German riu.

— Você também tem que descansar, Angie. E eu não vejo problema em cuidarmos um do outro.

Eu me permiti sorrir.

— Que tipo de médica eu sou, hein? — Brinquei.

— Do tipo que também precisa de cuidados. — Ele falou e tocou meu rosto delicadamente. Eu juro que naquele momento eu quis abraça-lo por estar sendo tão compreensivo comigo ultimamente, mas tive que controlar meus hormônios exaltados para não me jogar nos braços do homem a minha frente.

— Vem, vamos descansar. — Ele estendeu a mão que segundos antes tocava meu rosto com tanto carinho em minha direção.

Eu poderia inventar alguma desculpa para não dormir no mesmo quarto que German, mas eu estava tão cansada e só de pensar em dormir no quarto de hóspedes, um vazio preenchia meu peito.

Sem pensar mais uma vez, aceitei o convite e fui presenteada com um sorriso de German. Não era o sorriso mais perfeito do mundo, mas naquele momento era o único que me importava.

Logo que voltamos para o quarto, caminhamos até a cama e nos deitamos.

Eu sabia que deveria evitar qualquer tipo de contato humano com German, mas quando ele abriu os braços em um claro convite como costumava fazer antigamente, eu não pude evitar aceitar.

Me aproximei de German e recostei minha cabeça em seu peito forte.

Ele me envolveu entre seus braços e eu imediatamente me senti relaxar.

Minutos depois, o sono já ameaçava me consumir. A última coisa de que me lembro foi de German depositando um beijo casto em meus cabelos, para depois me desejar boa noite.

Desejei-lhe também um boa noite um tanto desconexo por causa do sono e caí em um sono profundo e livre de sonhos.

(…)

Acordei por volta das 9:00 horas da manhã com meu celular tocando.

Atendi a ligação, sentindo meu coração pulsar forte contra meu peito, já que a mesma era do hospital.

A conversa fora breve, mas suficiente para que minhas esperanças se renovassem.

Meu pai estava progredindo. Houve uma melhora significativa em seu estado, que para meu completo alívio, já não era mais grave.

Pensei em acordar German, que dormia igual uma pedra ao meu lado, mas achei melhor deixa-lo dormindo. Ele precisava descansar, pois apesar de não haver mais indícios de febre, isso não significava que ele estava totalmente recuperado.

Senti um aperto no coração em deixar German para trás, mas eu precisava ver meu pai.

Me arrumei o mais rápido que pude e me encaminhei para a entrada da mansão, quase trombando com Olga e Ramalho no caminho.

Olguinha me perguntou o que estava acontecendo e não consegui conter a emoção em minha voz ao relatar a conversa da ligação que recebi mais cedo do hospital.

Olga e Ramalho ficaram tão felizes com a notícia que se prontificaram a me acompanhar até o hospital.

Os abracei, grata pelo apoio e carinho que sempre recebi de ambos.

(…)

Chegando no hospital, fui liberada para ver meu pai, enquanto Olga e Ramalho me esperavam do outro lado da porta, já que eu precisava de um tempo a sós com meu pai.

Não pude evitar deixar que algumas lágrimas de alívio escorressem por meu rosto ao notar que realmente meu pai parecia muito melhor.

Diferentemente das outras vezes que o vi, agora ele não precisava mais da ajuda de tantas máquinas e fios. Sua pele assumia um tom saudável, os machucados pareciam estar se curando.

Perdi a conta de quantos minutos fiquei apenas observando Antônio, mesmo de longe. Seu semblante parecia tão tranquilo, como se ele estivesse em paz.

Em dado momento, me aproximei de meu pai, envolvendo sua mão esquerda na minha.

Precisava desse pequeno contato, para ter certeza de que o momento era real. Até que enfim, depois de tantos problemas e notícias ruins, algo animador acontecia.

Limpei a garganta e comecei a falar, querendo muito que meu pai pudesse me ouvir.

— Ah, papai, você não sabe o alívio que sinto ao te ver melhorando. Tenho tantas coisas para te contar… — Senti minha voz começar a falhar. — Sabe, eu preciso tanto de um conselho seu nesse momento. Você ainda não sabe, mas vai ser vovô. Eu levei um susto quando descobri, mas hoje percebo que esse bebê foi uma das melhores coisas que aconteceram comigo. O problema é que German ainda não sabe e eu prometi contar a ele, mas confesso que tenho medo e estou sem coragem. Precisava tanto que você me auxiliasse… — Terminei com a voz embargada e os olhos ardendo pelas lágrimas que queriam escapar.

Por um momento levantei os olhos e levei um susto ao perceber que não estava sozinha na sala. Eu tinha dois espectadores que me encaravam chocados.

Olga foi a primeira a falar, enquanto Ramalho se contentou em continuar me observando pasmo.

— Ah, minha menina, não acredito que você vai ser mãe! — Ela disse claramente emocionada, pegando minhas mãos nas suas. — Tenho certeza de que você vai ser uma mãe maravilhosa!

Sorri, tentando segurar o choro que queimava minha garganta.

— Obrigada, Olguinha. Você não faz idéia do quanto ouvir isso me faz bem!

Olga me presenteou com um sorriso maternal e me puxou para um abraço confortador.

— Vai dar tudo certo, minha menina. Não tenha medo. — Ela me disse após desfazermos o abraço.

Concordei, agradecida pelo apoio.

Logo depois, Ramalho deu um passo a frente e começou:

— Angie, eu sei que não esta sendo fácil para você, mas conhecendo German como eu conheço sei que ele ficaria feliz em saber que sera pai novamente, principalmente de um filho seu, talvez ele fique um pouco surpreso ou chocado de início, mas sei que ele nunca rejeitaria um filho. Ele ainda te ama e sei que amará muito esse bebê. Mas a escolha é sua, senhorita Angeles.

Ele disse tudo aquilo de forma tão paternal, sem um pingo de julgamento na voz, que tive que abraça-lo.

— Obrigada por me entender, Ramalho. — Agradeci. — Eu pretendo contar pra ele assim que possível. Ele merece saber.

Ramalho e Olga sorriram aprovando minhas palavras.

Sorri de volta.

Agora só me restava encontrar o melhor momento para dar a German a notícia que mudou minha vida e que com certeza mudaria a dele também.

(…)

Logo que cheguei no Studio, fui interceptada por Ludmila e Violetta. Eu estava ali porque queria dar pessoalmente a notícia sobre a melhora no estado de Antônio.

Ambas me cumprimentaram animadas, querendo saber como fora a minha noite e a de German.

Percebi que ficaram desapontadas quando eu contei-lhes a verdade sobre a noite anterior. Eu sabia que as duas torciam por uma reconciliação entre mim e German.

Mas esse desapontamento durou pouco, já que lhes contei sobre Antônio e a animação delas voltou a tona.

Conversamos por alguns minutos, até sermos surpreendidas por León e Federico.

Os dois logo me deram parabéns e me abraçaram.

Agradeci um tanto surpresa e olhei para Vilu e Ludmila que me lançavam um olhar de desculpas.

Logo que os meninos saíram, já que tinham ensaio, as meninas me pediram desculpas. Falaram que elas estavam conversando animadas sobre a perspectiva de termos um bebê na família e os meninos acabaram escutando a conversa.

Tranquilizei-as, dizendo que estava tudo bem e que não precisavam se culpar.

Me despedi delas e fui até a sala dos professores dar a notícia sobre Antônio, mas quando cheguei na sala, para minha surpresa, só encontrei Sebastian ali.

— Angelita, que bom ver você! — Ele me chamou pelo meu apelido, pelo jeito ele nunca desistiria de me chamar assim.

— Digo o mesmo, Sebs. — Respondi e fui até ele.

Nos abraçamos brevemente.

— O que você esta fazendo aqui? — Perguntei.

— Pablo me ligou para conversarmos sobre as aulas de dança. — Ele explicou sorrindo, como sempre. Era incrível como Sebastian tinha um sorriso fácil. — E você, doce Angie? O que te traz aqui?

— Vim trazer notícias sobre o estado de Antônio. — Contei.

— Ele esta bem, né? — Perguntou, o semblante preocupado.

Sorri, tentando trasmitir-lhe segurança.

— Está sim. Hoje mais cedo me ligaram contando que o estado de Antônio não é mais grave. Os médicos acreditavam que daqui para frente ele só progredirá. Eu fui visita-lo e realmente, ele parece muito melhor. — Relatei, emocionada.

— Isso é incrível! Não vejo a hora de vê-lo acordado novamente! — Sebastian falou, tão emocionado quanto eu. Afinal, Antônio era a nossa família também.

— Eu também. Não vejo a hora de vê-lo andando por esses corredores. — Falei esperançosa, visualizando a cena.

Eu e Sebastian estávamos prestes a nos abraçarmos, quando senti uma tontura me atingir.

Droga! Esses sintomas dão as caras nos piores momentos possíveis.

Por sorte, Sebastian percebeu que tinha algo errado e logo me segurou antes que eu perdesse o equilíbrio por completo.

Ele me sentou em uma cadeira e logo perguntou:

— Angie, você está bem? O que aconteceu? — A preocupação era evidente em sua voz. Desde criança Sebastian cuidava de mim como se realmente partilhassemos do mesmo sangue.

— Foi uma tontura. — Contei. Mentir estava fora de questão, já que Sebastian era bom em ler as pessoas. — Não precisa se preocupar, é normal.

Sebastian balançou a cabeça.

— Você deveria ir ao médico. Desde quando ter tonturas é normal? — Ele parecia indignado, até que sua expressão passou para pensativa e depois para curiosa. — Ter tonturas não é normal, ao não ser que… — Ele falou, esperando eu completar a frase, mas como eu não fiz o esperado, ele mesmo continuou. — … você esteja grávida.

Suspirei.

Agora era oficial, eu tinha que contar logo a verdade para German antes que toda Buenos Aires soubesse sobre a gravidez menos ele.

Sebastian tomou minha expressão como resposta para sua suposição.

— Ah, Angelita, por que não me contou que eu vou ser tio? — Perguntou, realmente feliz ao saber da novidade, que agora já não era mais tão novidade assim.

Sorri, com os olhos cheios de lágrimas.

— Ah, não, Angelita. Não chore. Você vai ser mãe, essa é uma ótima notícia. — Ele disse e segurou meus ombros, me lançando um olhar compreensivo.

— Eu sei. — Concordei, fungando. — São os meus hormônios que gostam de me ver emotiva.

Ambos rimos do meu comentário.

— O German sabe? — Sebastian perguntou.

— Como você sabe que o bebê é dele? — Perguntei, já que Sebastian conhecia German há apenas um dia e eu não lembrava de o mencionar em nossas conversas.

Sebastian me encarou com um olhar que dizia: "Sério?"

— Angelita, só um cego para não ver que existe algo entre vocês. — Comentou. — Você já contou a ele?

— Ainda não, mas hoje mesmo pretendo contar. — Respondi decidida.

Sebastian assentiu e sorriu, aprovando minha decisão.

(…)

Já era tarde da noite quando eu adentrei a mansão. Eu pretendia chegar mais cedo, mas optei por ficar no Studio até mais tarde já que Pablo estava sobrecarregado com alguns assuntos do Studio, então decidi ajuda-lo.

Subi as escadas e fui até o quarto de German saber como ele estava. Passei o dia inteiro pensando nele. E quando liguei em casa para saber sobre ele, Olga me disse que German estava dormindo e que parecia estar bem.

Fui bater na porta, mas percebi que a mesma estava entreaberta, então, por impulso, acabei entrando.

Logo que adentrei o cômodo, encontrei German recostado na cama com o notebook no colo. Ele parecia muito concentrado, até estava de óculos.

Nossa, como o óculos ficava bem em German...

— Angie — German falou sorrindo. E que sorriso…

Agradeci aos céus por German não poder ler meus pensamentos.

Ele tirou o óculos e o colocou em cima do criado mudo, juntamente com seu notebook, se colocou em pé e veio até mim.

— Fico feliz em ver que você está bem. — Comentei, realmente feliz em ver que German tinha se recuperado. — Se bem que você deveria estar descansando.

— Não preciso descansar, estou ótimo. — Disse sorrindo. — É, pelo jeito aquele seu chá estranho realmente funciona.

Rimos de seu último comentário.

— Aliás, obrigada por ter cuidado de mim. — Agradeceu, me lançando um de seus lindos sorrisos.

— Disponha. — Respondi sorrindo também. — Eu queria ter vindo antes, mas meu dia foi meio corrido.

— Imagino, já são quase 22:00 horas. — Ele comentou. — A Olga me contou sobre o seu pai. Fico feliz em saber que ele está cada vez melhor. — Falou, verdadeiramente feliz.

— Eu também! — Me permiti sorrir abertamente. — Fiquei tão feliz em vê-lo melhor.

— Adoro te ver assim, tão feliz. Você consegue ficar ainda mais linda do que já é. — Disse e imediatamente senti as batidas de meu coração se intensificaram. O que não era nada incomum se tratando de German Castillo.

— Obrigada. — Agradeci, hipnotizada pelo sorriso de German.

Ficamos nos encarando por um tempo. Eu sentia minhas mãos coçarem para tocar seu rosto.

Sem pensar nas consequências que essa simples ação poderia causar, me aproximei de German e toquei seu rosto. Podia sentir sua barba, que começava crescer, fazer cosquinhas em meus dedos.

German parecia tão impactado pelo simples contato quanto eu.

Em um toque delicado, ele retirou minha mão de seu rosto e depositou-a em seu peito, de forma que eu podia sentir as batidas de seu coração.

German deu um passo a frente, tornando a distância entre nós dois mínima.

Ele estava tão perto que eu podia sentir nossas respirações se cruzarem.

Nossos olhares permaneciam cravados um no outro. Enquanto a tensão entre nós parecia crescer a cada segundo.

Eu sabia que se continuassemos com aquilo, as coisas poderiam passar para um outro patamar em questão de segundos.

A dúvida era: eu devia deixar meu coração me guiar novamente ou sair dali o mais rápido possível, antes que eu estivesse envolvida demais no momento?

NARRADORA

German estava tão perto e, por mais que Angie negasse para si mesma os fortes sentimentos que cultivava pelo moreno, não podia negar que a proximidade dele a fazia estremecer.

Ela não ousou desviar o olhar uma vez se quer do de German. Seu coração batia descontroladamente.

Uma das mãos de German traçou um caminho pela pele de Angie, começando do pulso — onde ele fez questão de depositar um beijo delicado — e terminando o percurso na nuca dela, onde sua mão repousou.

Angie suspirou.

Ele precisava sentir os lábios dela se movendo de encontro aos seus. Então, sem querer perder mais tempo, trouxe-a para mais perto de si.

Os lábios dela colidiram com os seus, provocando um calor repentino em seu corpo.

Angie sabia que poderia se arrepender do que estavam fazendo, mas dessa vez, ela iria deixar sua armadura de lado, deixaria que ele pegasse suas defesas e as levasse ao chão. Não iria lutar contra o que sentia. Não naquele momento.

O beijo tornava-se cada vez mais profundo e exigente. O momento era tão intenso, que Angie mal percebeu quando suas costas se encostaram na parede gélida do quarto.

Angie suspirou ao sentir o aperto de German em sua cintura, enquanto ele mordiscava o pescoço dela levemente.

Suas mãos macias começaram a abrir os botões da camisa de German. Não era muito fácil se concentrar nos botões enquanto German beijava agora o ombro exposto de Angie, mas em poucos segundos a camisa dele fora jogada no chão. E Angie finalmente pode tocar o peito musculoso de German, ao que o mesmo suspirou bem perto do ouvido dela, ao sentir as mãos delicadas da loira se espalmarem sobre sua pele ardente. A pele dele parecia em chamas, mas dessa vez não tinha nada a ver com febre.

— Angie... — Ele sussurrou, e olhou bem dentro dos olhos dela, usando toda a força de vontade que milagrosamente ainda possuía. — Me peça para parar agora, se continuarmos... — Ele estava ofegante. Angie podia ver claramente o esforço que ele fazia.

Em resposta, ela envolveu seus braços ao redor do pescoço de German, e olhando profundamente dentro daqueles olhos que ardiam de paixão, disse:

— Eu não quero que pare.

Aquelas poucas palavras foram o suficiente para acabar com o pouco de controle que ainda lhe restava. Como se fosse possível, ele se aproximou mais ainda dela. E sem poder represar mais seus sentimentos, tomou a boca dela para si, enquanto as pernas dela rodearam sua cintura. E foi aí que ambos se perderam...

Ele a segurou fortemente entre os braços, levou-a até a cama e deitou-a, logo cobrindo o corpo dela com o seu.

Angie sentia-se perdida, inebriada, em chamas. Cada toque de German provocava sensações cada vez melhores. As mãos dele se dirigiram para a barra do vestido dela. Angie o ajudou e logo seu vestido já não cobria mais seu corpo. Ela fechou os olhos, querendo ampliar as sensações que German provocava em seu corpo febril.

Suas mãos exploravam com paixão e fervura, no entanto que logo todas as peças de roupa que os separavam, já tinham sido retiradas.

Por um momento Angie sentiu German se afastar. Um vazio começou se apossar dela, ao que Angie abriu os olhos, procurando German. No instante em que olhou para ele, viu algo que nunca vira tão vividamente em seu rosto. Ele olhava para seu corpo sedoso, completamente exposto, com uma óbvia admiração. Ela sentiu um rubor nascer em seu rosto, começou a sentir-se envergonhada, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, a voz de German susurrou:

— Você é linda, Angie. Tão linda… — Falou e se aproximou.

Angie sentiu o vazio que sentira instantes atrás, deixar seu corpo e dar espaço a um sentimento mais forte ainda: a Paixão.

As mãos dos dois moviam-se ardentes sobre o corpo um do outro. Permitiram-se explorar, tocar. Estavam tão próximos do fim.

Ambos não podiam mais aguentar, precisavam cada vez mais um do outro, precisavam de mais proximidade.

Em um impulso, seus corpos se encaixaram perfeitamente, arrancando suspiros e gemidos de ambas as partes. A início os movimentos eram lentos, exploradores... Mas conforme a necessidade aumentava, os movimentos tornaram-se mais rápidos. Até chegarem a um ponto no qual era praticamente impossível diferenciar os suspiros e gemidos de um para o outro.

Conforme iam chegando mais perto do fim iminente, suas bocas se encontraram novamente em um beijo apaixonado.

As unhas de Angie se cravaram na pele exposta das costas do moreno, enquanto suas pernas envolveram a cintura de German.

Ele gemeu, jogando a cabeça para trás, sentindo as sensações do movimento percorrerem seu corpo.

Com um último movimento, rápido e profundo, sentiram como se o mundo ao seu redor explodisse em chamas.

Gritaram um o nome do outro ao sentir a grande miríade de prazer os envolver.

A última coisa que Angie viu antes de tudo ao seu redor desaparecer, foi o corpo de German colidindo com o seu, e sua cabeça descansar no espaço entre seu pescoço e seu ombro.

Não sabiam quanto tempo havia que estavam naquela posição. Seus corpos ainda permaneciam unidos.

Angie sentiu German se levantar e deitar ao seu lado. Para sua total surpresa, ele a puxou delicadamente para perto de si. Ela repousou a cabeça no peito de German, permitindo-se ouvir cada batida daquele coração...

German simplesmente não podia acreditar que Angie agora repousava em seus braços. Ele não podia classificar o momento que tiveram apenas como sexo. Aquilo era amor. Ele a amava mais do que poderia demonstrar. Amava-a com todo seu ser, com todo seu coração. Seu coração nunca fora pertencente a ele mesmo, seu coração era dela. Apenas dela.

Depois de alguns minutos em silêncio, German beijou a cabeça de Angie, enquanto suas mãos passeavam deliberadamente pelos cachos sedosos de Angie. Ele precisava falar o que sentia, então mudou de posição, deitando a cabeça de Angie no travesseiro, para depois se apoiar sobre um dos braços.

Ele olhou nos olhos esverdeados de Angie e deixou que o próprio coração ditasse as palavras prestes a sair de sua boca.

— Eu te amo, Angie — Começou. — Te amo com tudo o que sou, te amo da forma mais bela que um homem pode amar uma mulher. Amo cada pequena parte sua, cada perfeição e cada imperfeição. Meu coração é seu desde o dia em que colocou os pés nessa casa. Eu deveria saber logo que meus olhos se encontraram com os seus, que eu estava perdido, que finalmente meu coração encontrara alguém, a quem decidiu amar. — Ele falou cada palavra olhando para aquele rosto tão angelical, que retribuia o olhar com a mesma intensidade da qual ele olhava para ela. — Sei que já cometi mais erros do que posso pedir seu perdão e já te fiz sofrer, mas saiba que não vou parar de continuar provando que te amo, mesmo que eu não te mereça, meu anjo.

Angie ficou sem palavras, uma coisa relativamente difícil de se acontecer, mas aquelas palavras se cravaram em seu coração, em sua alma. Ela deixou que uma lágrima sorrateira escapasse. E logo depois outras seguiram o exemplo da primeira.

Antes que German pudesse reagir ao que acontecia, Angie enterrou a cabeça em seu peito e deixou as lágrimas virem com força total. Chorou por tudo que estava acontecendo. Chorou por sua mãe e pelo que a mesma escondera dela. Chorou por Antônio que soubera apenas a pouco que era o seu pai biológico. Chorou pelas suas cicatrizes não curadas. Chorou por si mesma e pelo o que estava fazendo com German. Chorou por esconder dele o fruto de seu amor, que ela carregava no ventre.

German a envolveu sem dizer uma única palavra. E ficaram assim por alguns minutos, até Angie se afastar o suficiente de German, para poder encara-lo.

— Não podemos... — Ela desviou do olhar dele, era extremamente difícil falar aquilo olhando dentro dos olhos do homem que amava. — Eu vou voltar para França logo que meu pai se recuperar totalmente, não quero criar falsas expectativas. — Falou, a voz desprovida de emoção. Aquilo não era bem uma verdade, mas ela estava tão confusa, que não conseguiu achar outra coisa para falar para exemplificar que eles não dariam certo.

— Angie, as coisas não precisam ser assim. — Ele tocou o rosto dela, enxugando o rastro de uma lágrima que escorreu por sua bochecha. — Eu sei que falhei com você, Angie, mas me deixa te mostrar o quanto te amo, me deixa te provar esse amor. — Suplicou. German não era um homem acostumado a implorar por algo, mas ele não se importava em fazê-lo em prol da mulher que amava. Precisava dela mais que tudo. O tempo que passaram separados se provou uma verdadeira tormenta, e agora que ela estava ali com ele, não podia deixá-la partir.

— German… Você não pode me pedir isso. — Suspirou sentindo-se cansada não só fisica como emocionalmente. — Eu… preciso ir. — A voz soou um tanto trêmula. Ela se sentia assustada ao constatar o quão fortes eram seus sentimentos pelo moreno.

Ela não esperou por uma resposta, apenas ameaçou se levantar, quando sentiu German segurar seu pulso com uma sutileza admirável para um homem tão forte.

Seus olhos se encontraram imediatamente e Angie quase ficou sem fôlego quando viu uma expressão tão intensa no rosto do moreno.

— Não vá, por favor. — Ele disse simplesmente, seu olhar implorava para que ela ficasse. — Durma comigo essa noite. Só vamos dormir. Nada mais.

Ela realmente queria ir? Não, ela queria ficar ali, envolvida pelos braços dele. Não queria ter de lidar com o vazio que com certeza se apoderaria dela quando se separasse dele.

Eles só iriam dormir, nada mais. A oferta era tentadora e seu coração a mandava permanecer ali, enquanto sua mente a auxiliava sair dali o mais rápido possível. German a machucara com sua covardia; um dos motivos pelos quais ela retornara à França. Mas naquele instante ela só queria esquecer o que acontecera tempos atrás.

Com um suspiro, ela disse:

— Tudo bem.

German abriu um sorriso maior do que ela esperava. Seu coração errante não pode deixar de bater mais forte. Ela quase sorriu com a animação dele. German queria a reconquistar, as palavras que ele confessara eram suficientes para provar que ele realmente se arrependera de sua covardia. Mas Angie não sentia-se pronta para abrir seu coração a ele novamente. Não tinha certeza se algum dia poderia.

German bateu levemente no espaço ao seu lado no colchão.

Angie tinha certeza de que deveria sair dali, mas se aquela seria a última noite com ele pelo resto de sua vida, ela queria desfrutar do momento com German.

Angie então, deitou-se onde German apontara, e logo que o fez, sentiu os braços fortes de German a envolverem suavemente. Era assim tão ruim sentir-se tão bem estando ali? Sentia-se tão bem, tão relaxada e segura. Ela ainda o amava, mas ainda doía demais pensar em tudo que acontecera. Doía lembrar que German havia sido tão covarde, justo quando ela decidiu que lutaria pelo amor deles. Mas ela não queria pensar naquilo, não naquele momento.

— Boa noite, Angie. — Ele beijou a cabeça dela.

— Boa noite, German. — Respondeu sentindo-se sonolenta, fechando os olhos logo após responder.

Não demorou muito e Angie adormeceu. Fora fácil pegar no sono já que sentia-se tão cansada, e estar entre os braços de German a traziam conforto e segurança.

German não queria dormir. Tinha medo de fechar os olhos e pegar no sono. Ele sonhara por tanto tempo em tê-la novamente entre seus braços, que queria que a noite que estavam tendo fosse memorável, queria gravar em sua mente cada momento que passara com Angie.

Ele ficou por incontáveis minutos só escutando a respiração ritimada dela.

German sentira mais saudade de Angie, do que o mesmo poderia admitir. Afinal, Angie sempre fora sinônimo de alegria e felicidade, era o tipo de pessoa que fazia as coisas com amor. O tipo de pessoa com quem era tão fácil se abrir. Ela sempre o aconselhava e o dava sermões mesmo que ele achasse que não precisava ser auxiliado e muito menos corrigido. Angie o tratava de igual para igual, na maioria das vezes sem se importar se ele era seu chefe ou não, simplesmente falava o que pensava e ele admirava muito isso nela, já que ele próprio não conseguia agir da mesma maneira sempre. Ela o inspirava a ser uma pessoa melhor.

German continuou velando o sono da loira por mais um bom tempo, até que seu corpo cobrou o descanso e ele adormeceu com um único pensamento: Não iria cometer o erro de deixar Angie partir outra vez.

(…)

Era de madrugada. A temperatura havia abaixado consideravelmente.

Angie acabara acordando. Desde pequena, sempre fora sensível ao frio. E o estado em que se encontrava não ajudava em nada. Seu corpo tremia levemente.

— Angie? — Uma voz rouca e sonolenta chamou-a, fazendo a mesma levar um susto. — Você está bem? — Perguntou sentando-se ereto.

— S- sim. — Mentiu.

— Está tremendo. — Constatou. — Ah, esqueci a sua sensibilidade ao frio.

— Como sabe disso? — Quis saber. — Eu não me lembro de ter te contado isso.

— Percepção. — Disse se colocando em pé. — Vou pegar um cobertor.

Angie evitou olhar para o corpo escultural e completamente descoberto de German, enquanto ele se encaminhava até o lado oposto do quarto.

Segundos depois, German estava de volta. Ele jogou o cobertor em cima do lençol fino que os cobria e logo deitou-se.

Sem aviso e surpreendendo a ambos, Angie voltou a se deitar na mesma posição em que estivera antes de acordar, e logo que sua cabeça recostou-se no peito largo de German, ela dirigiu-se à ele:

— Obrigada. — Agradeceu com um sorriso que não passou despercebido em sua voz, mesmo que ela fosse apenas pouco mais alta do que um sussurro.

— Disponha. — Ele sorriu e começou a passar levemente a mão pelas costas de Angie, em uma carícia doce e delicada, tentando fazer com que a loira se aquecesse mais rápido. — Melhor?

— Muito melhor. — Ela permitiu-se responder e relaxar.

Minutos depois Angeles pegou no sono novamente e não demorou para que German seguisse o mesmo exemplo.

(…)

TRADUÇÃO:

"Eu não sou a prova de balas quando se trata de você
Não sei o que dizer quando você me faz de inimigo
Após a guerra estar ganha
Sempre há a próxima
Eu não sou a prova de balas quando se trata de você

Talvez eu colida com você
Talvez nós iríamos abrir estas feridas
Só estamos vivos se nos machucamos
Então eu retiro essa armadura
Eu vou me render esta noite
Antes de nós dois perdermos essa luta
Pegue minhas defesas
Todas as minhas defesas
Abaixarei essa armadura
Abaixarei essa armadura
Abaixarei essa armadura"