Consequências do Amor

Capítulo 24 - Um Olhar de Amor, Um Eu Te Amo


"I'm ready to forgive you
But forgetting is a harder fight
Little do you know I
Need a little more time"

Little Do You Know
(Alex & Sierra)

NARRADORA

A sensação de ter German tão perto a teria feito ceder a um beijo dois meses atrás. Não agora. Não depois de toda dor que ele havia causado, achando que afastá-la era a melhor opção.

— Não German. — Angie apoiou as mãos no peitoral dele e afastou-o.

Não daria àquele homem o poder de machucá-la mais uma vez. Ela tinha que ser forte. Não se deixaria abalar por German Castillo.

— Eu te agradeço por ter me consolado hoje e por tudo o mais, mas isso não muda nada entre a gente. — Ela tentou fazer a voz soar firme.

— Nós precisamos conversar, Angie. — German suspirou, ela não parecia disposta a ouvir o que ele tinha a dizer.

— Não German, não temos nada pra conversar. Você fez uma escolha, a de me tirar da sua vida. Agora espero que saiba lidar com as consequências.

— Angie, meu anjo…— Ele implorou.

German encurtou novamente a distância que havia entre eles e enlaçou delicadamente uma das mãos de Angie às suas.

— Não me chame mais assim. Você não tem mais esse direito. — Ela tirou a mão do meio das dele.

Touché. German sabia que merecia a forma como Angeles o estava tratando. Que tinha sido um completo idiota com ela. Mas isso não fazia com que doesse menos.

— Não podemos adiar essa conversa pra sempre. — Ele apelou para a razão.

Ela respirou fundo antes de responder:

— Eu não quero conversar sobre isso agora. Não estou afim de reabrir as feridas do passado. De tornar isso pior do que já é.

German parecia prestes a falar algo, mas Angie o interrompeu.

— German… — Ela soltou um suspiro cansado. — Nós dois tivemos um dia difícil. Não vamos torná-lo pior, por favor.

German sabia que Angie estava exausta, tinha sido um dia péssimo para ela. Ao escutar o cansaço e a súplica em sua voz, ele não pôde negar o simples pedido dela.

— Tudo bem. — Ele aquiesceu. — Me perdoe Angie, eu não...

— Não se preocupe. Boa noite, German.

— Boa noite, Angie.

Ela se retirou da cozinha e foi para o seu quarto. Estava tão cansada que só retirou os sapatos e se jogou na cama.

A conversa com German lhe veio a mente. Ele queria conversar, mas ela ainda não estava pronta. Tudo o que aconteceu tinha sido demais, ela nunca se sentira tão machucada. Precisava de um tempo tanto para conversar sobre o passado, tanto para contar que estava grávida.

Quando foi que sua vida ficou tão complicada, Angeles? Ela se perguntou mentalmente.

E foi em meio a esses pensamentos que acabou adormecendo.

(…)

ANGIE

Já fazia alguns minutos que eu estava pronta para ir correr. Ainda era cedo, eram 7:30. Fazia um tempo que eu não saia para correr, mas eu precisava espairecer. Pensar nos últimos acontecimentos, e essa era a atividade perfeita. Além de que me manter saudável faria bem para o bebê.

Ao pensar nele, automaticamente espalmei minha mão com delicadeza em minha barriga. Isso já tinha se tornado um hábito durante o dia. Era um momento especial, o único momento que me trazia paz e alegria nos últimos dias. Eu já o amava mais do que podia mensurar.

Eu precisava marcar uma consulta com a minha ginecologista que também era obstetra para começar o pré-natal. Precisava saber se estava tudo bem com o meu bebê.

Depois de marcar a consulta, fui para a cozinha. De longe eu já senti o cheiro maravilhoso do café da manhã que Olga estava preparando.

— Bom dia, Olga. Que cheiro maravilhoso. — Falei logo quando adentrei a cozinha.

— Bom dia, minha menininha. Acordou cedo hoje, hein? — Falou com bom humor.

— É que vou sair pra correr um pouco.

Me aproximei dela e a cumprimentei com um beijo no rosto.

— Eu tenho uma coisa pra te contar. — Ela sorriu e me mostrou sua mão que tinha um lindo anel de brilhantes.

— Ah meu Deus, Olga! Parabéns! — Abracei-a bem apertado. Estava tão feliz por ela.

— Obrigada, Angie. — Ela retribuiu me dando um de seus abraços de urso. — Eu nem acredito que estou noiva!

Senti meus olhos marejarem. Ela e Ramalho mereciam tanto ser felizes.

— Ah, não chore minha menininha.

— Desculpe Olga, é que ultimamente estou muito sentimental. E vocês merecem toda a felicidade do mundo.

— Ah, obrigada Angie. Eu tenho um pedido pra te fazer. — Ela me olhou com expectativa.

— Faça então. — Sorri, curiosa para saber o que era.

— Quero que você seja minha madrinha de casamento. Você aceita?

— Mas é claro que sim. Vai ser uma honra pra mim ser sua madrinha e participar desse momento tão especial. — Respondi animada e peguei suas mãos nas minhas.

— Obrigada por aceitar. — Ela sorriu. — Só que tem algo que você precisa saber. O senhor German vai ser o padrinho do Ramalho então…

— Ele vai ser meu par. — Completei. — Não se preocupe com isso, Olga. Não me importo de acompanhar o German.

— Tem certeza?

— Certeza absoluta. — Eu não deixaria que as minhas desavenças com German me impedissem de fazer parte do momento especial de Olga e Ramalho.

Continuamos conversando sobre o casamento enquanto tomávamos café. Quando terminamos, me despedi de Olga e fui caminhar.

(…)

GERMAN

Depois de andar alguns quilômetros, decidi fazer o caminho de volta para casa. Já tinha caminhado o suficiente por hoje.

Quando passei em frente à uma praça que não ficava tão longe da mansão, avistei Angie ao longe. Ela estava sentada em um banco, com as pernas juntas ao peito e com os braços em volta delas. Parecia pensativa.

Me aproximei dela com cautela, para não assustá-la.

— Angie.

— Ah, oi German. — Ela se virou para mim.

— Você está bem?

— Não sei. Minha vida está uma bagunça ultimamente. — Ela suspirou.

— Posso? — Apontei para o espaço ao seu lado no banco.

— Claro. — Angie anuiu com a cabeça.

— Presumo que eu faço parte dessa bagunça.

Seus olhos se fixaram em mim.

— Sim, você e muitas outras coisas. Já sentiu alguma vez que tudo está fugindo do seu controle?

— Já, algumas vezes. — Respondi.

— E o que você fez?

— Fiz tudo errado. — Admiti.

— Como assim? — Angie parecia confusa.

— Quando sua irmã morreu, eu tomei a decisão errada. Afastei a Violetta de você e sua mãe. E há dois meses eu agi da mesma forma mesquinha. Te afastei de mim por medo. Por covardia. — Olhei para os olhos verdes de Angie.

— Você só quis ver a situação através do medo, German. Eu... Eu não entendo. Estava tudo tão bem entre nós. — Ela parou por um instante, mas logo continuou. — Eu sei que você sentiu medo depois do que a Priscilla fez; eu também senti. Mas você não precisava me afastar. Tudo o que eu mais precisava era de você naquele momento, mas você decidiu o que fazer por mim. Sem se importar se aquilo era o que eu queria.

— Eu sei que eu errei, Angie. Deixei o medo e a culpa me cegarem. Doeu muito. E o pior foi que eu percebi meu erro quando você partiu. Quando eu não suportava acordar e ver que eu estava sozinho na cama, quando andava pelo Studio e você não estava dando as suas aulas, não ouvir mais você cantarolando pela casa. Eu fiz você abandonar o que você mais gosta de fazer. E tudo pela culpa de tê-la colocado em perigo e o medo de não ser bom o suficiente pra você.


ANGIE

Senti minha garganta apertar e lágrimas se acumularem nos cantos dos meus olhos. Era difícil lutar com tanto afinco contra o que eu sentia. Ainda mais após ver a sinceridade e o arrependimento no olhar de German.

— Eu quero te perdoar, German. De verdade. Mas esquecer é difícil. Saber que você deixou a culpa ser maior que o amor acaba comigo.

Nesse momento deixei que as lágrimas viessem a tona. A situação mais os hormônios da gravidez me deixavam sensível demais.

German segurou com delicadeza meu rosto em suas mãos.

— A culpa já se foi, Angie. E apesar de tudo, o amor sempre foi maior. E ainda é. Eu te amo, Angeles.

Fechei meus olhos por um instante e respirei fundo.

— Eu não posso ouvir isso, German... Não diga que me ama, por favor.

Ouvir que ele me amava só tornava tudo mais doloroso. Fazia com que eu protelasse sobre a decisão de me manter afastada.

Me levantei e German fez o mesmo.

— Eu não vou desistir de você. — Ele olhou em meus olhos e depois encostou sua testa na minha.

— Eu preciso ir, German… — Eu não podia ouvir mais nada, não sem desabar emocionalmente.

— Fique. Não vá, por favor. — Ele implorou.

— Eu não posso… Me desculpe.

Me afastei dele e mesmo com o coração doendo, fui embora sem nem ao menos olhar pra trás. Eu precisava de tempo. Tempo para curar meu coração partido.

(…)

— Angie, o que aconteceu? — Vilu me perguntou com preocupação em suas feições quando entrei na mansão.

— Eu… — Estava prestes a responder minha sobrinha, quando senti um enjoo matinal.

Subi as escadas o mais rápido que pude. Quando cheguei ao banheiro, me debrucei sobre a privada e despejei todo o meu café da manhã.

Senti as mãos delicadas de Vilu segurando meu cabelo.

Quando terminei, lavei meu rosto e escovei meus dentes.

— Vamos para o meu quarto, Angie. Você precisa se sentar.

Concordei com a cabeça. No quarto de Vilu, sentei-me em sua cama.

Minha sobrinha se sentou ao meu lado e pegou minhas mãos nas suas.

— Você está bem, Angie?

— Estou sim, querida. Não se preocupe. — Sorri, tentando tranquilizá-la.

— Ontem você desmaiou e hoje vomitou. Você está doente?

— Não, eu estou bem.

— Me conta o que está acontecendo, por favor. Não gosto de te ver assim. — Vilu parecia muito preocupada.

— É que… — Senti meus olhos se encherem de lágrimas novamente.

— Está tudo bem, Angie. Independente do que for eu vou estar ao seu lado. Não precisa passar por isso sozinha. — Ela apertou levemente as minhas mãos.

Respirei fundo antes de começar a falar. Não queria esconder o que estava acontecendo de minha sobrinha. Vilu merecia saber e seria muito bom tê-la ao meu lado.

— Eu estou grávida.

— É sério? — Ela sorriu.

— Seríssimo. — Sorri de volta.

— Ah, meu Deus! Eu nem consigo acreditar que finalmente vou ser irmã mais velha! Parabéns, Angie! Conta comigo com o que você precisar. — Vilu me abraçou bem apertado.

— Obrigada, Vilu. Você não sabe como é bom ter o seu apoio. — Falei quando nos soltamos do abraço.

— Eu estou tão animada, Angie!

— Dá para perceber. — Sorri.

— O papai já sabe? — Vilu pareceu um pouco receosa em fazer essa pergunta.

— Ainda não. Eu não criei coragem ainda pra conversar com ele sobre esse assunto. Eu estou com tanto medo, Vilu… — Admiti.

— Tudo bem sentir medo, Angie. Esse é um momento muito importante pra você.

— Eu me sinto culpada por estar escondendo isso do seu pai. Ele merece saber que vai ser pai novamente.

— Não se sinta assim, Angie. É importante que você conte do bebê pra ele, mas só quando você estiver pronta.

— Quando foi que você ficou tão sábia, Vilu? — Eu sentia tanto orgulho da mulher que ela estava se tornando.

— Não sei, só posso dizer que aprendi com a melhor. — Ela piscou pra mim.

— Eu queria te pedir um favor.

— Claro, do que se trata?

— Eu marquei a minha primeira consulta pré-natal pra amanhã e queria saber se você quer ir comigo.

— É claro que eu quero. Fico até emocionada de você me pedir isso.

Vilu me abraçou novamente, me puxando com ela pra deitar na cama. Ficamos alternando entre rir e chorar.

— Eu te amo, Angie.

— Também te amo, Vilu.

(…)

NARRADORA

Angeles estava determinada a conversar com German. Ainda não contaria sobre o bebê, sentia-se insegura sobre tratar desse assunto com ele. Mas como sabia que seu bebê merecia um lar harmonioso quando nascesse e faria par com German no casamento de Olga e Ramallo, seria bom que eles tentassem ter uma relação mais amigável. Ainda mais considerando que o clima entre eles, no momento, não era dos melhores.

German saiu de seu escritório antes que Angie pudesse ir até o cômodo.

— Está com pressa? — Ela perguntou ao se aproximar.

— Um pouco. Tenho que ir ao Studio pegar as planilhas de contabilidade desse mês e prefiro ir antes que essa chuva piore. Precisa de algo? — Ele ficou surpreso ao ouvir Angie falar com ele, pensou que depois do que acontecera mais cedo ela não estaria disposta a conversar com ele.

— Não... Quer dizer, sim. — Ela se complicou um pouco com as palavras. — Preciso conversar com você.

— Tudo bem, vamos conversar então. As planilhas podem esperar. — Falou gentilmente.

— Não quero te atrapalhar. Eu posso esperar.

— Você nunca me atrapalharia, Angie. — Ele sorriu. — Sobre o que quer falar?

— Que tal falarmos sobre isso no caminho pro Studio? Você me leva com você e usamos esse tempo pra conversar. Enquanto você pega as planilhas eu mato um pouco a saudade que estou do Studio.

— Claro, como quiser. Com certeza ir ao Studio vai te fazer bem.

Ambos entraram no carro e German começou a dirigir.

Angeles estava um pouco nervosa, ficar perto de German sempre a desestabilizava. Ela tinha que ser firme, mas isso parecia cada vez mais difícil.

— E então, sobre o que quer conversar? — Ele perguntou.

— É que acho que precisamos ter uma relação mais amigável.

— Amigável como?

— Sem brigas. Nós vamos ser padrinhos no casamento da Olga e do Ramalho, precisamos ter uma boa relação.

— Deixa eu ver se entendi. — Ele pareceu pensativo. — Quer que sejamos amigos?

— Não exatamente… Sei que não deu muito certo da última vez, mas que tal tentarmos? — Ela tentou parecer otimista.

— Tudo bem. — Ele sorriu, seria bom ficar mais perto de Angeles.

— Amigos? — Ela estendeu uma mão.

— Amigos. — Ele confirmou e apertou levemente a mão estendida.

— O que foi isso? — Angie perguntou quando ouviu um barulho e o carro deu um tranco pra frente.

— Acho que o pneu furou. — German parou o carro. — Vou ir dar uma olhada.


ANGIE

— Foi o pneu mesmo? — Perguntei um minuto depois, quando German voltou para dentro do carro.

— Foi sim. — Ele parecia um tanto frustrado com o acontecido. — Vou ligar para o meu mecânico.

Concordei com um aceno de cabeça e olhei através da janela do carro. A chuva tinha piorado, agora parecia que o céu estava desabando.

— O que ele disse? — Perguntei após German finalizar a ligação.

— Que vai demorar uns 45 minutos para chegar aqui. Desculpa por isso, Angie. — Ele olhou pra mim.

— Tudo bem, não tem problema. Não foi culpa sua.

Ficamos alguns minutos sem dizer nada. Ainda pairava um clima estranho entre nós.

— Que tal fazermos algo enquanto esperamos? — Falei para quebrar o gelo.

— E o que você sugere? — Ele perguntou com um sorriso de lado.

— Um jogo de perguntas e respostas. Eu te digo algo sobre mim e você me diz algo sobre você. Aceita?

— Claro, quem começa?

— Você pode começar.

— Por que quis se tornar professora de canto? — Ele se virou pra mim.

— Bem, desde pequena a música faz parte da minha vida. Cantar sempre foi o que eu mais gostava de fazer. Quando me tornei adolescente e Antônio me levou para o Studio, eu comecei a ter aulas de canto. Essas aulas me encantavam, eu sempre tentava absorver o máximo de conhecimento que eu podia. E então, um dia eu percebi que aprender sobre música era algo que eu gostava tanto quanto cantar. E foi aí que eu decidi que eu queria ser professora de canto para poder passar tudo o que eu sabia para outras pessoas.

— Você fala com tanto amor da sua profissão.

— Sim, amo o que faço. — Sorri.

— Sua vez. — Ele piscou pra mim.

— Me conte algo que ninguém sabe sobre você.

— Isso não é uma pergunta. — Ele riu.

— Mas você tem que responder do mesmo jeito. — Brinquei.

— Tudo bem. Prepare seu coração pra revelação. — Ele me lançou um olhar travesso. — Eu já estudei música.

— É sério? — Eu não podia acreditar no que meus ouvidos estavam ouvindo.

— Sim, quando eu era adolescente eu estudei música por alguns anos. Lembra do Studio de Sevilha?

— Claro.

— Era lá que eu estudava.

— Uau! Nem dá pra acreditar. Música e engenharia são áreas tão distantes uma da outra.

— Te impressionei?

— Com certeza. — Sorrimos. — Sua vez de novo.

— Eu não sei se devo perguntar o que quero saber. — Ele parecia pensativo.

— Pergunte. — O que ele poderia perguntar que eu não pudesse responder?

— Ainda me ama? — Seus olhos se fixaram nos meus.


NARRADORA

Angie sentiu seu corpo se retesar com a pergunta. De tudo que ele poderia perguntar, perguntou justo isso? As coisas estavam melhorando, mas ele tinha que estragar tudo! Ela não queria falar sobre isso.

— Quando as coisas começam a melhorar, você sempre dá um jeito de estragar tudo, German!

Angeles sentiu a raiva inundando seu ser. Ele precisava ter sido tão inconveniente? Sabia da situação delicada entre os dois e ainda assim tivera a audácia de fazer aquela maldita pergunta.

Não suportando ficar nem mais um segundo sequer dentro do automóvel, Angie abriu a porta, saiu de dentro do carro e fez questão de bater a porta com força.

Ela saiu pisando duro na calçada sem se importar com a chuva torrencial que estava caindo.

— Angie, volta pra dentro do carro. Vai se resfriar. — Ele também saiu de dentro do veículo.

— Não, eu prefiro voltar a pé mesmo. — Ela continuou andando.

— Não seja mesquinha, Angie…

— Mesquinha eu? Mesquinho é você por ter feito a pergunta que não deveria! O que eu tinha na cabeça quando sugeri que fôssemos amigos? Sabia que essa história de amigos estava destinada ao fracasso.

— Não vamos discutir, entra no carro, por favor. Não quero que fique doente.

— Você deveria ter pensado nisso antes. Tchau German, te vejo depois. — Falou e aumentou o ritmo dos passos.

Ela estava quase chegando na rua, quando sentiu seu braço ser segurado com delicadeza. Ela se virou e como esperava, deu de cara com a última pessoa que queria ver no momento.

— O que foi agora? — Sua voz soou impaciente.

— Me desculpe pela pergunta que fiz. Sei que não deveria tê-la feito, mas não pude evitar. Eu preciso saber, ouvir você dizer se ainda me ama. — Seus olhos se fixaram nos dela e vice-versa.

— Olhe dentro dos meus olhos German e saberá a resposta. O que você vê?

— Eu vejo amor. Mas a dor que eu te causei ainda está aí.

— Já tem a sua resposta. — Ela disse com um sorriso triste.

— Não sabe o quanto me arrependo… — Ele acariciou o rosto dela, o que fez que Angie fechasse os olhos.

— Eu sei, só que é mais complicado que isso...

— Você deveria me odiar pelo que eu fiz.

— Eu tentei, mas é impossível odiar alguém que… — Ela se calou antes que dissesse as próximas palavras.

— Alguém que… — Ele a incentivou a continuar.

— É melhor eu não dizer. — Ela abaixou a cabeça.

— Diga, por favor. — Ele pediu e subiu o queixo dela com suavidade.

— Alguém que se ama. — Ela acabou dizendo.

German sentiu o peito se encher de esperança. Se ainda havia amor, talvez com o tempo pudesse haver perdão também.

ANGIE

Meu coração batia forte contra meu peito. Mesmo lutando contra, eu o amava. Não é simples deixar de amar alguém e eu sabia que o que sentia por German sempre faria parte de mim.

Nós estávamos bem próximos e ficamos ainda mais quando German passou seus braços ao meu redor com cautela, esperando a minha reação. Dessa vez, não tive forças o suficiente pra me afastar. Era tão bom estar entre seus braços… Eu podia estar sendo fraca, mas deixaria pra pensar nisso depois.

German passou um dos polegares lenta e delicadamente sobre meus lábios, me fazendo desejar que seus lábios se colassem aos meus. Suspirei com a suave carícia.

Seus olhos se fixaram em mim, da forma especial que só ele me olhava. Que fazia minha respiração se tornar rala e meu corpo arrepiar.

Espalmei uma de minhas mãos em seu peito. Seu coração batia tão loucamente quanto o meu.

German envolveu meu rosto em suas mãos, igual na primeira vez que nos beijamos. Ele se inclinou um pouco e encostou seus lábios nos meus. No início, só um leve toque, como se estivesse relembrando como era quando nos beijavamos.

Eu não queria admitir, mas eu sentira tanta falta do beijo de German, do seu toque em minha pele, da maneira que só ele conseguia fazer eu me sentir…

German começou a mover sua boca sobre a minha. Retribui e passei meus braços em volta de seu pescoço.

Suas mãos passaram pelos meus braços e pararam na minha cintura, deixando nossos corpos mais próximos. Sua boca tomou a minha com mais convicção, intensidade.

A chuva ainda caía, mas eu não sentia frio, pelo contrário, meu corpo estava aquecido por todas as sensações que eu sentia no momento.

Quando a consciência do que estávamos fazendo me alcançou, coloquei uma mão no peito de German e me afastei dele.

— O que foi, Angie?— Ele parecia confuso e preocupado ao mesmo tempo.

— Isso não pode mais acontecer. — Eu não conseguia encará-lo no momento, então entrei de volta no carro. Não demorou nada pra que German fizesse o mesmo.

Passei meus braços ao redor do meu corpo. Agora eu sentia frio, meu corpo tremia.

German pegou um paletó que estava jogado no banco traseiro e entregou para mim. Pensei em recusar, mas eu tremia tanto que resolvi aceitar.

— Obrigada.

— Disponha.

Ficamos em silêncio. Nenhum de nós parecia saber o que falar. Como eu estava muito sentimental ultimamente, eu sabia que se falassemos sobre o que aconteceu, eu choraria.

Uns bons minutos depois, German pareceu querer falar algo, mas foi impedido pelo mecânico, que chegou no mesmo momento. Agradeci aos céus por isso.

(…)

NARRADORA

— O que aconteceu com vocês? — Vilu perguntou quando viu a tia e o pai adentrarem a mansão encharcados.

— É uma longa história. — German disse.

— Surpresa! — Ludmila e Federico, que haviam chegado há poucos minutos adentraram a sala de estar.

— Que bom ver vocês! — Angie se animou ao vê-los. Sentira muita falta de ambos. — Eu adoraria abraçá-los, mas olhem a minha situação.

Angeles sorriu o que fez que os dois sorrissem também.

— Sentimos sua falta. — Ludmila falou, se aproximando.

— A mansão não tem sido a mesma sem você. — O italiano falou, complementando o que a namorada dissera.

— É bom ter vocês de volta. — German sorriu. — Como foi a viagem?

— Foi ótima. Gostei de passar um tempo com meu pai e conhecer a África do Sul.

— Iríamos ficar mais alguns dias, mas soubemos do que aconteceu com o Antônio e sentimos que precisávamos voltar. — Federico falou num tom triste.

O clima pareceu tornar-se melancólico e Angie decidiu ir trocar de roupa. Não queria mais uma crise de choro.

Ela pediu licença e foi tomar um banho na suíte do quarto de hóspedes e trocar de roupa.

— Ela não parece muito bem. — Ludmila comentou com Violetta após Angie subir as escadas.

— É que ela tem passado por muita coisa nos últimos tempos.

— Ela merece tanto ser feliz. Espero que tudo fique bem.

— Eu também.

(…)


TRADUÇÃO:

"Estou pronto para perdoá-lo
Mas esquecer é uma luta mais difícil
Você sabe que eu
Preciso de um pouco mais de tempo"